Comentário:
Rev. D. Joan GUITERAS i Vilanova (Barcelona, Espanha)
Quem
não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo
Hoje
contemplamos Jesus no caminho até Jerusalém. Ai entregará a sua vida para a
salvação do mundo. Grandes multidões acompanhavam Jesus (Lc 14,25): Os
discípulos, ao andar com Jesus que os precede, devem aprender a ser homens
novos. É esta a finalidade das instruções que o Senhor expõe e propõe aos que o
seguem na sua ascensão à Cidade da paz.
Discípulo
significa seguidor. Seguir as pisadas do Mestre, ser como Ele, pensar como Ele,
viver como Ele... O discípulo convive com o Mestre e o acompanha. O Senhor
ensina com atos e com palavras. Viram claramente a atitude de Cristo entre o
Absoluto e o relativo. Ouviram muitas vezes da sua boca que Deus é o primeiro
valor da existência. Admiraram a relação entre Jesus e o Pai celestial. Viram a
dignidade e a confiança com que orava ao pai. Admiraram a sua pobreza radical.
Hoje
o Senhor fala-nos com termos claros. O autêntico discípulo há de amar com todo
o seu coração e toda a sua alma a nosso Senhor Jesus Cristo, por cima de todo o
vínculo, inclusive do mais íntimo: Se alguém vem a mim, mas não me prefere...
até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26-17). Ele ocupa o
primeiro lugar na vida do seguidor. Diz Santo Agostinho: Respondamos ao pai e à
mãe: Eu vos amo em Cristo, não no lugar de Cristo. O seguimento precede
inclusive ao amor pela própria vida. Seguir Jesus, ao fim e ao cabo, implica
abraçar a cruz. Sem cruz não há discípulo.
O
chamamento evangélico exorta à prudência, quer dizer, à virtude que dirige a
atuação adequada. Quem quer construir uma torre deve calcular se a poderá
terminar. O rei que tem que combater decide se vai à guerra ou pede a paz
depois de considerar o número de soldados de que dispõe. Quem quer ser
discípulo do Senhor tem que renunciar a todos os seus bens. A renúncia será a
melhor aposta!
Reflexão de Frei Carlos Mesters,
O.Carm.
*
O evangelho de hoje fala sobre o discipulado e apresenta as condições para
alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus. Jesus está a caminho de
Jerusalém, onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o contexto em que Lucas
coloca as palavras de Jesus sobre o discipulado.
* Lucas 14,25: Exemplo de catequese
O
evangelho de hoje é um exemplo bonito de como Lucas transforma as palavras de
Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões acompanhavam
Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é,
fala para todos, inclusive para o povo das comunidades do tempo de Lucas e
inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as condições para
alguém poder ser discípulo de Jesus.
* Lucas 14,25-26: Primeira condição:
odiar pai e mãe
Alguns
diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência a Jesus acima dos
pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus
manda amar e honrar os pais (Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será
que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e econômica levava
as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do
resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã)
que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt
15,1-18; Lev 25,23-43). Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a
vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que
se rompa a visão estreita da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede
para que as famílias se abram e se unam entre si na grande família, na
comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs.
Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram leva-lo da volta
para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e
alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todo aquele que
faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem
impedir a formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.
* Lucas 14,27: Segunda condição:
carregar a cruz
“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás
de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda
exigência devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus.
Jesus está indo para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e
carregar a cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser
crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a
Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galileia. Muitas outras
mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41).
Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não
me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o
mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo”
(Gl 6,14)
* Lucas 14,28-32: Duas parábolas
As
duas têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma
decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma
torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se
tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será
capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse
homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa
de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de
seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a
decisão de ser discípulo de Jesus.
A
segunda parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que
não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá
enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode,
envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda
está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a precedente. Alguns
perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?” A pergunta é
pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a segunda guerra
mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas! Naquele tempo,
porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as empresas de hoje
que lutam entre si para ter mais lucro.
* Lucas 14,33: Conclusão para o
discipulado
A
conclusão é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita
gente, ser cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples
fenômeno cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce
brasileiro é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já
nasce assim e vai morrer assim. Muita gente é cristã porque nasceu assim e
morre assim, sem nunca ter tido a ideia de optar e de assumir o que já é por
nascimento.
Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa séria. Devo calcular bem minha
maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
2) “Odiar os pais”; Comunidade ou família! Como você
combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonias?
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