quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Carmelo: Escola de Santidade

P. Rafael María López-Melús, carmelita

O ilustre cardeal Mercier, arcebispo de Malinas, ao regressar de Roma, onde participara da canonização de Santa Joana d’Arc,  parou  no convento carmelita de Dijon. Quando lhe mostraram,  na sala capitular,  um quadro da Beata Elisabeth da Trindade, o prelado perguntou:
 “Quanto tempo ela viveu no Carmelo”?
 “Cinco anos, Eminência”, respondeu-lhe a Madre Priora.
O cardeal, sorrindo, comentou: “Aqui se fazem santas muito rapidamente”.

Quem são os Santos?
“As únicas personagens de utilidade pública”.
 “O mundo prosseguirá existindo graças à oração dos Santos”.
"Jesus Cristo promove a existência dos Santos para aumentar em nós a graça, para assim contribuir para a nossa santificação”.
 “O maior benefício dos Santos é sua própria vida, que nos estimula a imitar seus exemplos”.

Todos somos chamados à santidade
Jesus Cristo disse: “Sede santos como o Pai celestial é santo” (Mt 5,48).
 “Sede misericordiosos como o Pai do Céu é misericordioso" (Lc. 6,36).
E São Paulo: "Esta é a vontade de Deus: vossa santificação” (1 Tes 4,3; Ef 1,4).
O Concílio  Vaticano II lembrou-nos que “somos todos chamados à santidade” (L. G. cap. 5).

É fácil ser santo?
Sim e não.
Um Santo é um homem ou uma mulher que levaram o Evangelho a sério. Isto não é fácil.
O Santo não nasce pronto. Ele se faz santo. A santidade é um caminho longo, que pede muita perseverança. Não consiste em fazer “coisas extraordinárias”, mas em fazer coisas ordinárias “extraordinariamente bem feitas”, como disse o papa Bento XV ao cardeal que tentava travar  a beatificação da futura Santa Teresinha do Menino Jesus.
Na obra “El Divino Impaciente”,  Pemán afirmou belamente: “A santidade é fazer simplesmente o que temos a fazer”.
A Igreja tem como uma de suas quatro notas constitutivas a santidade. Logo,  é absolutamente necessário,  que na Igreja de todos os tempos abundem os santos.

Hoje, mais do que nunca, a Igreja e o mundo precisam de almas santas.
O Carmelo, em seus quase oito séculos de existência, foi sempre escola de santidade.
“Quantos santos no céu usam nosso hábito!  Temos  a esperança de nos fazermos, com a graça de Deus, semelhantes a eles”.  (Sta. Teresa, Fund. 29,33).
A respeito de Teresinha González Quevedo, carmelita morta em 1950, afirmou sua amiga Carmen Aguado: "Sempre disse que se tornara carmelita para ser santa”.
O Carmelo deu à Igreja um acervo riquísimo de doutrina espiritual, mas seria insignificante esta sublime doutrina carmelitana, se não fosse confirmada pela santidade de sua vida, isto é, de seus filhos.

Nos finais do século XV, um beneditino muito sábio, o célebre humanista abade Juan Tritemio (+1516), escreveu uma pequena obra louvando o Carmelo, dirigida à juventude carmelitana como aos detratores da Ordem,  movido pela nobre intenção de tornar conhecidas a quantidade e qualidade de homens ilustres que o Carmelo deu à Igreja. O autor queria incentivar os jovens carmelitas a imitar seus confrades. Era dirigida também aos detratores da Ordem para que se calassem ao saberem que o Carmelo é escola de ciência e virtude.
No livrinho havia esta afirmação hiperbólica: “Se há alguém capaz de contar as estrelas do firmamento, também será capaz de contar os santos do Carmelo”.
Esta afirmação não parecerá tão exagerada se tivermos presente que, não só os religiosos, monjas e religiosas dos diversos ramos carmelitanos são membros do Carmelo, mas também a enorme quantidade de leigos da Terceira Ordem vivem de seu espírito e vestem o escapulário.
A grande doutora Santa Teresa afirma: mais santo será “quem com mais mortificação, humildade e consciência limpa serve a Nossa Senhor”(Moradas  VI, 8). No livro “Fundações diz:  "Para mim a santidade não se encontra nas revelações e visões” (4,8). Em uma de suas Cartas:  "O caminho das coisas extraordinárias não é o caminho de maior santidade” (233,9). E ainda: “Nosso afã não é possuir muitos mosteiros, mas sim que sejam  santas aquelas que neles estiverem”.(Carta, 424, 6)

Dois meses antes de sua morte, Santa Teresinha do Menino Jesus nos transmitirá uma clara e dilacerante lição, ao nos dizer: “ (A santidade) Não está nesta ou naquela prática, mas consiste numa disposição do coração, que nos faz humildes e pequeninos nos braços de Deus, conscientes de nossa fraqueza, e audaciosamente confiantes em sua bondade de Pai”.
Este pequeno caminho espiritual de simplicidade e de confiança sem limites na bondade do Pai Celestial,  viveram-no os santos do Carmelo.

Exortação à santidade
Para sermos santos abraçamos a vocação carmelita. Os papas se referiram repetidas vezes ao Carmelo como  Escola de Santidade. Lembramos apenas três frases de Pio XII:
No dia 23.9.1951: "Nós, com o afeto de nosso amor  paternal, elevamos nossas mãos à excelsa  Patrona a Virgem  do  Monte Carmelo e aos  numerosos e grandes santos que este Instituto produz, recomendando-lhes vossas pessoas e vossos empreendimentos”.

No dia  16.7.1952, depois de citar vários santos carmelitas:
"A esta escolha conjunta (dos santos do Carmelo) há que acrescentar outros quase inumeráveis exemplos, que,  se não brilham externamente com tanto fulgor, sem dúvida  podem ser propostos como merecedores de imitação... e confiamos que às coroas de santidade cujo fulgor tanto brilham ao longo tempo, serão multiplicadas por novas flores e novos frutos,  que testemunham,  a cada dia,  a potente virtude de vosso Instituto; para chegar a isto, sirva-vos de guia e mediadora de graças celestiais a Santíssima Virgem Maria sob a invocação do Carmelo”.

No Ano Santo do Escapulário, 1950-1951, diante de muitos milhares de religiosos e seculares carmelitas: "Nós vos exortamos a caminhar sempre avante de uma maneira digna à vossa vocação, seguindo os passos dos grandes santos que o Carmelo tem dado à Igreja”. (6.8.1950).

Santificando os outros
O Carmelo não se contenta em produzir almas santas, mas trabalha para que também outros o sejam, através de sua oração, sacrifício e apostolado. Os grandes santos e escritores do Carmelo contribuem enormemente através de suas vidas e suas maravilhosas obras,  para embelezar e aumentar esta nota de santidade eclesial.
Contribui sobretudo por meio deste  “Canal de graças”  que é o santo Escapulário do Carmo.

Concluímos esta reflexão recordando que "se somos filhos dos santos e esperamos viver sua mesma vida” (Tb 2,18), somos obrigados a cumprir o conselho que nos dá o célebre beato carmelita  Batista Mantuano (+1516): "Estes varões do Carmelo nos foram dados como modelos para que os imitemos, e, conhecedores de suas obras, acordemos de nossa letargia”.
Com outras palavras o mesmo dizia nossa Santa Madre Teresa: "Deixar de conformar nossa vida à  vida  de nossos Santos Pais  é a maior mágoa que podemos causar-lhes”.  (Fund. 14,5)
São Paulo nos recorda:  “Deus nos chamou a uma vocação santa, não por nossos méritos, mas por causa de Jesus Cristo” (Tim 1, 9).

Vale citar aqui  a oração da “coleta” da Missa da Festa de Todos os Santos Carmelitas,  que celebramos no dia 14 de novembro de cada ano:
"... Concedei-nos propício que, por seus exemplos e méritos, vivendo somente para vós, na contínua meditação de vossa Lei e perfeita abnegação, possamos chegar, juntamente com eles, à felicidade da vida eterna. Amém”.

Ou seja: “Que possamos ser santos como eles o foram”.

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