«Meu Deus, tende compaixão de mim, que
sou pecador»
A
parábola de hoje, do fariseu e do publicano que sobem ao templo para orar,
pretende desautorizar quem se acha suficientemente bom diante de Deus e
despreza os outros. O fariseu recorda a Deus as suas obras meritórias e o
publicano não pode mencionar nada mais que o seu pecado. O fariseu, de pé,
orgulhoso, está diante de Deus, mas ouve-se apenas a ele próprio. Vem falar e
não ouvir. O publicano, pelo contrário, arrependido, sabe-se em dívida para com
Deus e os irmãos e, confiando na bondade do Senhor, descerá justificado a sua
casa. De mãos vazias, sai do templo de coração cheio, disposto a acolher o dom
de Deus. A sua vida, certamente, jamais será a mesma.
Sérgio
Paulo Pinto
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 18,9-14) - Naquele tempo, Jesus disse a seguinte
parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois
homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O
fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros
homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo
duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O
publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu;
mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou
pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não.
Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será
exaltado».
MEDITAÇÃO
Naquele
tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e
desprezavam os outros:
Como
recordamos do evangelho do domingo passado (18,1-8), Jesus falava aos seus
discípulos da necessidade de orar sempre, sem cessar, servindo-se das palavras
da viúva para com certo juiz: “Faz-me justiça com o meu adversário”. Que
justiça posso exercer no meu dia-a-dia se desprezo os outros? Como posso
considerar-me justo se me sirvo da minha piedade com Deus para ser rude com o
irmão? A nossa vida de oração, que exige conhecermos o coração de Deus, não
pode negar o nosso coração ao próximo, ainda que ele não seja tão “bom” como
nós. Não podemos esperar as atenções de Deus sem atender às necessidades do
irmão. Essa atitude não é digna dos discípulos de Jesus.
«Dois
homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano.
Não
poucas vezes os evangelistas apresentam-nos Jesus em momentos de oração,
sobretudo antes de acontecimentos marcantes. Do mesmo modo, a vida dos seus
discípulos fortalece-se na oração. Descuidar a oração, escutar a Deus, será o
primeiro passo para começar a “desprezar os outros”, pois só nos ouviremos a
nós próprios, calando a voz de Deus. Ao apresentar-nos estas duas personagens,
tão extremadas da sociedade de então, Jesus reforça esta necessidade contínua
de orar: o fariseu, observador rigoroso da Lei; e o publicano, um cobrador de
impostos muitas vezes indevidos, rejeitado por isso por todos, um homem
pecador… Assim, qualquer que seja a nossa situação, de justos ou de pecadores,
a oração é o lugar de comunhão com Deus e com o irmão.
O
fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os
outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.
O
fariseu, homem de Deus, era realmente bom. Mas a sua segurança não estava na
bondade de Deus, mas nas suas próprias ações; não esperava apenas a recompensa
de Deus, como a exigia, consciente de ser melhor que os outros. Não poucas
vezes subimos ao templo de Deus para lhe recordar o ‘bom’ que somos e fazemos,
de maneira que Ele nos ‘pague’ pelo nosso esforço… Não vá Ele ‘esquecer-se’ e
permitir que nos aconteçam desgraças! E de pé, orgulhosos, cheios de nós
próprios, esquecemos o sentido da gratuidade de Deus e esquecemos o sentido da
gratuidade do discípulo, que não pode amar o Pai se desprezar os irmãos.
O
publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu;
Mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou
pecador’.
O
publicano, ao contrário de fariseu, ‘ficou à distância’, tão longe de Deus
andava a sua vida; não necessitava aproximar-se mais, Deus podia ver claramente
o seu coração. ‘Nem muito menos se atrevia a erguer os olhos ao céu’, pois as
suas ações não eram do céu, mas da terra, do mundo, onde tinha cravados os
olhos. ‘E batia no peito’, batia no coração, batia no profundo de si mesmo,
como que a despertá-lo para uma nova vida! E arrependido dizia: ‘Meu Deus,
tende compaixão de mim, que sou pecador’; diante de Deus abriu-lhe o coração e
confiou; cheio de humildade e realismo, sabia que só o amor de Deus era capaz
de valer-lhe. Que atitude bela de filho, que pouco tinha amado, diante do Pai,
que muito ama! Que sucederá?
Eu
vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não.
O
publicano, o pecador, regressou a casa em paz com Deus. Reconheceu que a sua
vida não estava à altura do que Deus queria para ele. Não deixou de dizer a
Deus que não era digno d’Ele e o quanto se sentia arrependido. E desceu
justificado a sua casa. Saber que estamos em dívida com Deus, por muito boas
que sejam as nossas ações, saber o quanto nos falta a sua graça, permitir-nos-á
que Deus não nos falte, nem a sua graça. O fariseu enganou-se a si próprio,
comparando-se com o pecado dos outros e não com a bondade de Deus. Também nós
corremos o risco de descer as nossas casas, longe de Deus, se continuarmos a
desprezar o irmão. O caminho de Deus é o caminho do irmão.
Porque
todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
O resultado das nossas atitudes de fariseu ou de publicano, são estas que Jesus acaba de enunciar: “Todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”. O fariseu, que agora se exalta, será humilhado porque pensa comprar a salvação, comprar a Deus com os seus méritos. Não espera nada mais de Deus (aliás, exige!) do que a salvação como prêmio pelo seu bom comportamento… e no fim, será humilhado! Pelo contrário, o pecador, que se humilha, que se apoia unicamente em Deus, na sua graça, no seu perdão, será justificado, será exaltado, porque aceita a salvação como dom, como dom imerecido. Estas palavras são hoje para nós.
O resultado das nossas atitudes de fariseu ou de publicano, são estas que Jesus acaba de enunciar: “Todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”. O fariseu, que agora se exalta, será humilhado porque pensa comprar a salvação, comprar a Deus com os seus méritos. Não espera nada mais de Deus (aliás, exige!) do que a salvação como prêmio pelo seu bom comportamento… e no fim, será humilhado! Pelo contrário, o pecador, que se humilha, que se apoia unicamente em Deus, na sua graça, no seu perdão, será justificado, será exaltado, porque aceita a salvação como dom, como dom imerecido. Estas palavras são hoje para nós.
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