Santo Alberto |
Evangelho (Mt 15,21-28): Naquele tempo, Jesus foi para a região de
Tiro e Sidônia. Uma mulher Cananéia, vinda daquela região, pôs-se a gritar:
«Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente
atormentada por um demônio!». Ele não lhe respondeu palavra alguma. Seus
discípulos aproximaram-se e lhe pediram: «Manda embora essa mulher, pois ela
vem gritando atrás de nós». Ele tomou a palavra: «Eu fui enviado somente às
ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante de
Jesus e começou a implorar: «Senhor, socorre-me!». Ele lhe disse: «Não fica bem
tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos». Ela insistiu: «É
verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa
de seus donos!». Diante disso, Jesus respondeu: «Mulher, grande é tua fé! Como
queres, te seja feito!». E a partir daquela hora, sua filha ficou curada.
Comentário: Rev. D. Jordi
CASTELLET i Sala (Sant Hipòlit de Voltregà, Barcelona, Espanha)
Mulher, grande é tua fé
Hoje, frequentemente, escutamos expressões
como já não existe mais fé!, e o dizem pessoas que pedem às nossas comunidades
o batismo de seus filhos ou a catequese das crianças ou o sacramento do
matrimônio. Essas palavras refletem uma visão negativa do mundo, mostra o
convencimento de que em qualquer tempo passado as coisas eram melhores do que
agora e que estamos no fim de uma etapa em que não há nada novo a dizer, nem
tampouco nada de novo a fazer. Evidentemente são pessoas jovens que, em sua
maioria, vêem com certa tristeza que o mundo mudou muito, desde o tempo de seus
pais, que talvez vivessem uma fé mais popular, a qual eles não se souberam
ajustar. Esta experiência os deixa insatisfeitos e sem capacidade de reação
quando, na verdade, quem sabe, não estão às portas de uma nova etapa que
deveriam aproveitar.
Esta passagem do Evangelho chama a
nossa atenção para aquela mãe Cananéia que pede uma graça para sua filha,
reconhecendo em Jesus o Filho de Davi: «Senhor, filho de Davi, tem compaixão de
mim: minha filha é cruelmente atormentada por um demônio!» (Mt 15,22). O Mestre
é surpreso: «Mulher, grande é tua fé!», e não pode fazer outra coisa senão
atuar em favor daquelas pessoas: «Como queres, te seja feito!» (Mt 15,28),
ainda que isto não pareça estar em seus planos. Apesar da realidade humana, a
graça de Deus sempre se manifesta.
A fé não é patrimônio de uns
quantos, nem tampouco é propriedade dos que se creem bons ou dos que o foram,
ou de quem tem esta etiqueta social ou eclesial. A ação de Deus precede a ação
da Igreja e, o Espírito Santo está atuando já em pessoas que não havíamos
suspeitado que nos trouxessem uma mensagem de parte de Deus, uma solicitação em
favor dos mais necessitados. Diz São Leão: «Amados meus, a virtude e a
sabedoria da fé cristã são o amor a Deus e ao próximo: nada falta a nenhuma
obrigação de piedade a quem procura dar culto a Deus e a ajudar a seu irmão».
Reflexão de Frei Carlos Mesters, OCarm
•
Contexto.
O
pão dos filhos e a grande fé de uma mulher cananeia é a questão apresentada por
esta passagem do capítulo 15 de Mateus, que propõe ao leitor do seu Evangelho
um posterior aprofundamento da fé em Cristo. O episódio é precedido por uma
iniciativa dos escribas e fariseus chegados de Jerusalém, que causam um
encontro de curta duração com Jesus, até que ele se afastou com os seus
discípulos para se retirar à região de Tiro e Sidônia.
Enquanto
ia pelo caminho, é alcançado por uma mulher que vem de lugares pagãos. Mateus
apresenta esta mulher com o nome de "cananeia", que aparece no Antigo
Testamento com toda a sua dureza. No livro do Deuteronômio, os habitantes de
Canaã são vistos como um povo cheio de pecado e por consequência um povo mau e
idólatra.
• Dinâmica da história.
Enquanto
Jesus desenvolvia sua atividade na Galileia e está a caminho de Tiro e de
Sidônia, uma mulher se aproxima dele e começa a incomodá-lo com um pedido de
ajuda para sua filha doente. A mulher aborda Jesus com o título de "filho
de Davi", um título que soa estranho na boca de um pagão e poderia se
justificar pela extrema necessidade em que vivia aquela mulher. Poderia se
pensar que esta mulher já acreditava de em alguma forma na pessoa de Jesus como
o salvador final, mas se exclui visto que só no v. 28 aparece reconhecido seu
ato de fé, precisamente por Jesus.
No
diálogo com a mulher, parece que Jesus mostra a mesma distância e desconfiança
que existia entre o povo de Israel e os pagãos. Por um lado, Jesus manifesta à
mulher a prioridade de Israel em relação à salvação, e diante do insistente
pedido de sua interlocutora, Jesus parece tomar distância, uma atitude
incompreensível para o leitor, mas na intenção de Jesus expressa um alto valor
pedagógico. A primeira súplica "Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de
Davi", Jesus não responde. À segunda intervenção, desta vez pelos
discípulos que o convidam para atender a mulher, apenas expressa uma rejeição
que sublinha a distância secular entre o povo escolhido e os povos pagãos (vv.
23b-24). Mas, devido à insistência da mulher que se prostra ante Jesus, segue
uma resposta difícil e misteriosa: "Não convém jogar aos cachorrinhos o
pão dos filhos" (v. 26). Ela vai além da dureza das palavras de Jesus e
apega a um pequeno sinal de esperança: a mulher reconhece que o plano de Deus
que Jesus realiza inicialmente afeta o povo escolhido e Jesus pede a
observância desta prioridade; a mulher explora esta prioridade, a fim de
apresentar um motivo forte para o milagre: “os cachorrinhos ao menos comem as migalhas
que caem da mesa de seus donos” (v. 27). A mulher superou a prova de fé:
"Ó mulher, grande é tua fé!" (v. 28); na verdade, à humilde
insistência de sua fé, Jesus responde com um gesto de salvação.
Este
episódio dirige a todo leitor do Evangelho um convite para ter uma atitude de
"abertura" para todos, crentes ou não, ou seja, disponibilidade e
aceitação sem reserva para qualquer pessoa.
Para um confronto
pessoal
1. A palavra Deus convida-o a romper
seu fechamento e seus esquemas pequenos. Você é capaz de acolher todos os
irmãos que vêm até você?
2. Você está ciente de sua pobreza
para ser capaz, como a cananeia, de confiar na palavra salvadora de Jesus?
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