domingo, 4 de agosto de 2013

5 de agosto - Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

Depois da proclamação do dogma da Maternidade divina de Maria no Concílio de Éfeso (ano 431), o Papa Sixto III consagrou em Roma uma Basílica em honra da Virgem, chamada posteriormente Santa Maria Maior. É a mais antiga igreja dedicada a Nossa Senhora.

A festa de hoje também é conhecida como de Nossa Senhora das Neves, devido a uma antiga lenda segundo a qual um casal romano, que pedia à Virgem luzes para saber como empregar a sua fortuna, recebeu em sonhos a mensagem de que Santa Maria desejava que lhe fosse erigido um templo precisamente num lugar do monte Esquilino que aparecesse coberto de neve. Isto aconteceu na noite de 4 para 5 de agosto, em pleno verão: no dia seguinte, o terreno onde hoje se ergue a Basílica amanheceu inteiramente nevado.

I. CELEBRAMOS HOJE a Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior de Roma, a mais antiga igreja do Ocidente consagrada à Virgem Maria, onde se deram tantos acontecimentos relacionados com a história da Igreja; especialmente, relaciona-se com essa igreja a definição dogmática da Maternidade divina de Maria, proclamada pelo Concílio de Éfeso. O templo foi construído sob essa invocação no século IV, sobre outro já existente, pouco tempo depois de encerrado o Concílio. O povo da cidade de Éfeso celebrou com grande entusiasmo a declaração dogmática dessa verdade, na qual, aliás, acreditava desde sempre. Essa alegria estendeu-se por toda a Igreja, e foi então que se construiu em Roma a grandiosa Basílica. Esse júbilo chega-nos hoje através desta festa em que louvamos Maria como Mãe de Deus.

Segundo uma piedosa lenda, certo patrício romano chamado João, de comum acordo com a sua esposa, resolveu dedicar os seus bens a honrar a Mãe de Deus, mas não sabia ao certo como fazê-lo. No meio da sua perplexidade, teve um sonho – como também o teve o Papa – pelo qual soube que a Virgem desejava que se construísse um templo em sua honra no monte Esquilino, que apareceu coberto de neve – coisa insólita – no dia 5 de agosto. Embora a lenda seja posterior à edificação da Basílica, deu lugar a que a festa de hoje seja conhecida em muitos lugares como de Nossa Senhora das Neves e a que os alpinistas a tenham por Padroeira.

Em Roma, desde tempos imemoriais, o povo fiel honra a nossa Mãe nesse templo sob a invocação de Salus Populi Romani. Todos acorrem ali para pedir favores e graças, na certeza de estarem num lugar onde sempre são ouvidos. João Paulo II também visitou Nossa Senhora nesse templo romano, pouco depois de ter sido eleito Papa. “Maria – disse o Sumo Pontífice nessa ocasião – tem por missão levar todos os homens ao Redentor e dar testemunho dEle, mesmo sem palavras, apenas mediante o amor, com o qual manifesta a sua índole de mãe. É chamada a aproximar de Deus mesmo os que lhe opõem mais resistência, aqueles para quem é mais difícil crer no amor [...]. É chamada a aproximar todos – quer dizer, cada um – do seu Filho”. E aos seus pés fez a dedicação de toda a sua vida e de todos os seus anseios à Mãe de Deus, com palavras que nós podemos repetir, imitando-o filialmente: “Totus tuus ego sum et omnia mea tua sunt. Accipio Te in me omnia; sou todo teu, e todas as minhas coisas são tuas. Sê o meu guia em tudo”1. Com a proteção da Virgem, caminhamos bem seguros.

II. O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO permitiu que a Igreja penetrasse e esclarecesse cada vez melhor o mistério da Mãe do Verbo encarnado. Nesse processo de aprofundamento, o Concílio de Éfeso desempenhou um papel de particular importância (ano 431)2. Conta São Cirilo que a proclamação deste dogma mariano comoveu todos os cristãos de Éfeso, como hoje nos comove pensar que a Mãe de Deus é também Mãe nossa. Esse Santo Padre descreveu assim aqueles acontecimentos: “Todo o povo da cidade de Éfeso, desde as primeiras horas da manhã até à noite, permaneceu ansioso à espera da resolução [...]. Quando se soube que o autor das blasfêmias (Nestório) tinha sido deposto, todos começaram unanimemente a glorificar a Deus e a aclamar o Sínodo, porque tinha caído o inimigo da fé. Quando saímos da Igreja, fomos acompanhados com tochas até às nossas casas. Era noite: toda a cidade estava alegre e iluminada”3. Como vibravam pela sua fé aqueles cristãos dos primeiros tempos! Como devemos vibrar todos nós!

O próprio São Cirilo, numa homilia pronunciada naquele Concílio, louvou a Maternidade de Nossa Senhora com estas palavras: “Ave, Maria, Mãe de Deus, Virgem Mãe, Estrela da manhã... Ave, Maria, a Joia mais preciosa de todo o orbe...”4 Por “ser Mãe de Deus, a Virgem tem uma dignidade de certo modo infinita, devido ao bem infinito que é Deus. E nessa linha não se pode imaginar uma dignidade maior, como não se pode imaginar nada maior que Deus”5, afirma São Tomás de Aquino. Maria está por cima de todos os anjos e de todos os santos. Depois da Santíssima Humanidade do seu Filho, é o reflexo mais puro da glória de Deus. Nela brilha como em nenhuma outra criatura a participação nos dons divinos: a Sabedoria, a Beleza, a Bondade... Não se pode encontrar nela a menor impureza, porque Ela é o clarão da luz eterna, o espelho sem mácula da majestade de Deus e a imagem da sua bondade6.

Não deixemos hoje de recordar-lhe muitas vezes a sua Maternidade divina, da qual procedem todas as graças, virtudes e perfeições que a adornam e embelezam: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós... Não largueis a nossa mão, cuidai de nós como as mães cuidam dos seus filhos mais fracos e necessitados.

III. SÃO BERNARDO AFIRMA que Santa Maria é para nós o aqueduto por onde nos chegam todas as graças de que necessitamos diariamente. Devemos procurar constantemente o seu auxílio, “porque esta é a vontade do Senhor, que quis que recebêssemos tudo por Maria”7, especialmente quando nos sentimos mais fracos, nas dificuldades, nas tentações..., e tanto nas necessidades da alma como nas do corpo.

No Calvário, junto do seu Filho, a maternidade espiritual de Maria atingiu o seu cume. Quando todos desertaram, a Virgem permaneceu junto à cruz de Jesus8, em perfeita união com a vontade divina, sofrendo e padecendo com o seu Filho, corredimindo. “Deus não se serviu de Maria como de um instrumento meramente passivo. Ela cooperou para a salvação humana com livre fé e obediência”9. Esta maternidade da Virgem perdura sem cessar, e agora, no Céu, “não abandonou esta missão salvífica, mas pela sua múltipla intercessão continua a obter-nos os dons da salvação eterna”10.

Temos de agradecer muito a Deus que tenha querido dar-nos uma Mãe a quem recorrer na Vida da graça; e que essa Mãe tenha sido a sua própria Mãe. Maria é nossa Mãe não só porque nos ama como uma mãe ou porque faz as suas vezes; a sua maternidade espiritual é muito superior e mais efetiva que qualquer maternidade legal ou baseada no afeto. É Mãe porque realmente nos gerou na ordem sobrenatural. Se recebemos o poder de chegarmos a ser filhos de Deus, de participarmos da natureza divina11, foi graças à ação redentora de Cristo, que nos tornou semelhantes a Ele. Mas esse influxo passa por Maria. E assim, do mesmo modo que Deus Pai tem um só Filho segundo a natureza, e inúmeros segundo a graça, por Maria, Mãe de Cristo, chegamos a ser filhos de Deus. Das mãos de Maria recebemos todo o alimento espiritual, a defesa contra os inimigos, o consolo no meio das aflições.

Para a nossa Mãe do Céu, “jamais deixamos de ser pequenos, porque Ela nos abre o caminho para o Reino dos Céus, que será dado aos que se fazem crianças (cfr. Mt 19, 14). De Nossa Senhora não devemos separar-nos nunca. Como a honraremos? Procurando a sua intimidade, falando-lhe, manifestando-lhe o nosso carinho, ponderando no coração as cenas da sua vida na terra, contando-lhe as nossas lutas, os nossos êxitos e os nossos fracassos.

“Descobrimos assim – como se as recitássemos pela primeira vez – o sentido das orações marianas, que sempre se rezaram na Igreja. Que são a Ave-Maria e o Angelus senão louvores ardentes à Maternidade divina? E no Santo Rosário [...] passam pela nossa cabeça e pelo nosso coração os mistérios da conduta admirável de Maria, que são os mesmos mistérios fundamentais da fé [...].

“Nas festas de Nossa Senhora, não andemos regateando as manifestações de carinho. Levantemos com mais frequência o coração, pedindo-lhe aquilo de que precisamos, agradecendo-lhe a sua solicitude maternal e constante, recomendando-lhe as pessoas que estimamos. Mas, se pretendemos comportar-nos como filhos, todos os dias serão ocasião propícia de amor a Maria, como todos os dias o são para os que se querem de verdade”12.

Dizemos-lhe hoje com um antigo hino da Igreja: Monstra te esse matrem!, “mostra que és Mãe, e que por ti nos atenda Aquele que tomou o sangue das tuas veias para nos redimir”13.


(1) João Paulo II, Homilia em Santa Maria Maior, 8-XII-1978; (2) idem, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, n. 4; (3) São Cirilo de Alexandria, Epistolas, 24; (4) idem, Louvor a Santa Maria Mãe de Deus; (5) São Tomás, Suma Teológica, I, q. 25, a. 6, ad 3; (6) cfr. Sab 7, 25-26; (7) São Bernardo, Sermão na Natividade de Santa Maria, 4-7; (8) Jo 19, 25; (9) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 56; (10) cfr. ib., 62 ; (11) cfr. 2 Pe 1, 4; (12) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, Quadrante, São Paulo, 1978, ns. 290-291; (13) Hino Ave Maris Stella.

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