sábado, 13 de julho de 2013

XV Domingo do Tempo Comum

«Então vai e faz o mesmo»
Ir. Anabela Silva, fma

O Evangelho que a Igreja nos propõe para este Domingo é uma das páginas mais conhecidas dos textos evangélicos. Crentes e não crentes conhecem bem a parábola do “Bom samaritano”, o texto que narra as atitudes de alguém que, pelo seu modo de ser e de fazer, caracteriza, muito melhor, um verdadeiro hebreu e, para os dias de hoje, um verdadeiro cristão; uma pessoa que se interessada pela vida eterna, procura conquistá-la um pouco cada dia, cumprindo a vontade de Deus.

A passagem bíblica de Lucas pode-se dividir em três partes: a parábola propriamente dita, que podemos considerar como o núcleo central, e os dois momentos de diálogo entre Jesus e o Doutor da Lei. Do diálogo estabelecido, sabemos qual é a estrada para conquistar a vida eterna graças às interrogações do Doutor da Lei e ao modo original de Jesus responder. O texto diz-nos que quem vive o mandamento do amor é como um simples viajante: um homem capaz de inverter os papéis entre necessitado e quem socorre, capaz de ultrapassar os lugares e hábitos comuns que, naquele tempo, impunham que se cuidasse apenas dos que eram da sua condição; uma pessoa que não vai apenas ao encontro do próximo mas ele mesmo se faz próximo, sem se importar de quem é o seu próximo; um homem aberto a um outro, sem se deixar condicionar por cultos e manifestações exteriores; uma pessoa de quem não sabemos quase nada, a não ser que soube parar e que soube cuidar com o seu coração, com as suas mãos, com a sua inteligência e generosidade. Um individuo que se comportou como Jesus, um samaritano da Humanidade.

EVANGELHO - Lc 10, 25-37 - «Naquele tempo, levantou-se um doutor da Lei e perguntou a Jesus para experimentá-lo: “Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?” Jesus disse-lhe: “Que está escrito na Lei? Como lês tu?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe Jesus: “Respondeste bem. Faz isso e viverás”. Mas ele, querendo justificar-se perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus, tomando a palavra, disse: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: “Trata bem dele, e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar”. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?” O doutro da Lei respondeu: “O que teve compaixão dele”. Disse-lhe Jesus: “Então vai e faz o mesmo.»

Naquele tempo, levantou-se um doutor da Lei e perguntou a Jesus para experimentá-lo: “Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?” Jesus disse-lhe: “Que está escrito na Lei? Como lês tu?”

Tudo começa com um diálogo muito sério entre Jesus e um Doutor da Lei, um experiente em Sagrada Escritura, como dizemos hoje. O Doutor da Lei coloca a questão fundamental que cada discípulo faz ao seu mestre: o que fazer para ter a vida eterna. Este é o argumento do diálogo: a vida eterna, a vida do próprio Deus. Não respondendo imediatamente, Jesus inicia o diálogo fazendo com que o Doutor da Lei responda às suas próprias interrogações. Os papéis invertem-se: a partir de agora é Jesus que pergunta e não o contrário. De conhecedor da religião o Doutor da Lei constatará que existe um novo modo de entender o “fazer” que dá salvação.

Aparentemente o empenho das pessoas parece nada ter a ver com o Paraíso, nem o seu modo de pensar parece muito voltado a considerar a vida depois da morte. Questionar-se sobre a eternidade/sobre a felicidade é típico do homem religioso que não vive apenas do imanente mas procura alcançar o transcendente. Neste momento histórico para muitos de nós, é uma canseira obedecer a leis claras e escritas. Pensemos nos juristas e em quem tem a função de “fazer leis”. E, contudo, muitas vezes a comunidade humana parece deambular no caos. Graças a Deus, tudo isto é importante, mas é relativo: a proposta de Jesus é que cada homem, cada um de nós, escute a lei divina inscrita no coração e na consciência de todos. Só essa lei garante o acesso à eternidade/ à felicidade.

Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe Jesus: “Respondeste bem. Faz isso e viverás”.

O mestre judaico sabe responder de modo preciso à questão feita; sabe perfeitamente que a essência da Lei está sintetizada no livro do Deuteronômio e no livro do Levítico e está bem resumida na oração do Shemá Israel (Escuta Israel) que todo o hebreu conhece e recita quotidianamente: é necessário adorar a Deus com autenticidade e amar os outros como a si mesmo. Este duplo movimento, para Deus e para o próximo, constitui um único mandamento: “Amarás…” O amor que corre na vertical é absoluto, envolve todas as nossas faculdades: coração, alma, forças e mente. O amor que olha para a realidade que está à sua volta, no sentido horizontal, leva a uma escolha a que todos os homens são irmãos e cada categoria social é superada. Jesus desarma o Doutor da Lei: o que se sabe é preciso vivê-lo!

Só Deus pode ser amado com todo o coração, Ele que é a fonte de cada força de amor; com toda a alma/ vida, dando tudo por Ele; com todas as forças, fazendo tudo por Ele; com toda a inteligência, procurando conhecê-lo, porque, Ele, por primeiro fez isto por mim. Se vivo segundo o mandamento do amor também saberei viver o árduo amor ao próximo, que amarei de modo autêntico, por amor ao Criador, como me amo a mim mesmo. Se olharmos para os dias de hoje, quanta necessidade de autenticidade e de proximidade. O amor à distância não existe nem sobrevive.

Mas ele, querendo justificar-se perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus, tomando a palavra, disse: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto.

A nova proposta feita por Jesus leva o interlocutor a interrogar-se sobre quem seja o seu próximo. Assim, sem se aperceber, entra, concretamente, na parábola que Jesus, o Mestre, conta. Com quem se identificará neste difícil caminho? Com o que foi agredido ou com um dos viajantes? Entre Jerusalém e Jericó vai uma distância de 1000 metros de desnível e cerca de 30 km por uma estrada arenosa e árida que atravessa o deserto de Judá. Um lugar quente, um percurso difícil, um ambiente propício para emboscadas. Este é o contexto da parábola que Jesus narra. É aqui, na estrada que desce e se distancia da cidade santa, que alguém é assaltado, derrubado, fortemente espancado e abandonado. Não se sabe mais nada: era simplesmente um homem a caminho e nem sequer sabemos quem eram os assaltantes.

Muitas vezes sentimo-nos “meios mortos” de medo, de dor, de tristeza, de sofrimento, de cansaço, de não termos nada para fazer… e muitas vezes encontramos pessoas “meio mortas” pelas mesmas razões. Todos, num ou outro momento, precisamos de ajuda para recuperar a vida e a vitalidade. Todos, antes ou depois, fazemos experiência da traição e do abandono. Mas estas situações nem sempre nos levam a questionar-nos se tudo o que acontece não é um apelo a algo ou se não será um chamamento… Temos dificuldade em fazer uma leitura segundo a lógica de Deus e temos muita facilidade em ler segundo a nossa lógica, por vezes muito redutora, pessimista e negativista.

Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão.

O que acontece ao longo da estrada não é um recurso para o homem que continua a insistir em permanecer agarrado às coisas da “terra”: os dois primeiros que passaram pelo homem que estava caído no chão, observam e prosseguem caminho. Só o terceiro viajante socorre o homem assaltado. O homem caído é visto, por ordem de passagem, por um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros representam a religião “oficial”, têm um comportamento idêntico: chegam, observam e continuam o seu caminho de um modo decisivo, passando para o outro lado da estrada. Provavelmente iriam diretos ao Templo e consideraram esse empenho uma prioridade absoluta. O samaritano, por sua vez, não se limita a olhar como eles, mas constata a gravidade da condição do homem, ferido no corpo e na dignidade; pára, aproxima-se e sente compaixão. Tal sentimento leva a um movimento do coração e age.

Se pensarmos nas nossas cidades, apercebemo-nos de um contínuo vai- vem de pessoas: gente que caminha apressada; por vezes desviam-se, outras vezes encontram-se; um borbulhar de existências (de vidas), cada uma com o seu programa e objetivos daquele dia. Talvez essas pessoas manifestem a mesma realidade da parábola: a relação de indiferença/ participação na vida de alguém, é semelhante. Uma boa percentagem da nossa sociedade está presa às suas próprias coisas, uma outra percentagem da sociedade (pequena) talvez ainda pare e aja. São estes que abrem o coração ao encontro, que são capazes de ter calma, serenidade, capazes de partilhar; aqueles que tiram um pouco de tempo à corrida do dia-a-dia para saborear um encontro discreto, que respondem com gentileza e oferecem gestos de hospitalidade. São pessoas que já dão a esta vida uma experiência de eternidade.

Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: “Trata bem dele, e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar”

O samaritano percorrendo a estrada no sentido oposto ao do homem assaltado, de Jericó para Jerusalém, subia a estrada. Portanto, não chega com muitas forças, mas sente-se cansado do percurso já feito, e mesmo assim, pára e não fica ali com as mãos nos bolsos. Jesus descreve minuciosamente os gestos: aproxima-se, medica-o com azeite e vinho para desinfetar as feridas, coloca-o na sua montada, leva-o para uma estalagem para que possa recuperar e compromete-se em pagar tudo o que o estalajadeiro gastar com ele. E não fica por aqui: promete voltar! Não existem palavras entre os dois, os gestos falam por si e falam muito mais.

O samaritano age a partir da sua humanidade, não por motivos religiosos, não está preocupado com os seus projetos. Ele, ao contrário dos dois homens religiosos, torna-se na figura a imitar. O samaritano sentiu-se interpelado e atuou com um verdadeiro projeto de assistência e reabilitação de pessoas.

Nos dias de hoje, e mais do que nunca, é preciso estar disposto a ir ao encontro. Sabemos que é empenhativo mas é urgente, sair do nosso buraquinho, do nosso cantinho e fazer-se próximo. Deste modo manifesta-se e vive-se um sentido de fraternidade universal que passa pelo concreto, pela ação: hoje posso dar uma mão, amanhã poderei ser eu a necessitar de ser socorrido. A verdadeira novidade do Cristianismo é a compaixão: sentir com o outro, e ajudá-lo estando próximo.

Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?”O doutro da Lei respondeu: “O que teve compaixão dele”. Disse-lhe Jesus: “Então vai e faz o mesmo.»

Jesus através desta parábola não responde à pergunta inicial: Quem é o meu próximo? Mas à interrogação: “Como devo comportar-me?” Jesus faz um caminho com o doutor da lei: uma passagem da teoria à prática: amar o próximo significa sentir-se interpelado, de modo pessoal e gratuito, pelas situações que o rodeiam, sem “ses” nem “mas”. É discernir as necessidades dos outros e fazer como o samaritano. Ora, o doutor da lei sabe que o problema não é tanto a distância ou a proximidade, mas com que disponibilidade de coração se pretende viver.

Jesus diz-nos que cada pessoa que encontramos durante a vida é “próximo”, porque vive no mesmo lado da nossa estrada e que cada um de nós é responsável de ser próximo dos que mais necessitam. Trata-se de pôr em prática ações concretas que dignifiquem as pessoas, que as façam felizes, que se sintam amadas. “Vai e faz o mesmo”: ser samaritanos com os outros, ser Jesus para cada pessoa que passa por nós. Para que isto possa acontecer é preciso que eu viva o encontro com Jesus e tenha bem dentro de mim os seus mesmos sentimentos.

Comentário: Rev. D. Llucià POU i Sabater (Vic, Barcelona, Espanha)

Mas um samaritano moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas e colocou-o em seu próprio animal

Hoje perguntamo-nos: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10,29). Relatam que alguns judeus sentiam curiosidade ao ver seu rabino desaparecer na vigília do dia sábado. Suspeitavam que ele estivesse se encontrando em segredo, talvez com Deus, então um deles o seguiu... E o fez assim, cheio de emoção, até uns bairros miseráveis, onde viu o rabino cuidando e varrendo a casa de uma mulher: ela era paralitica, e a servia e lhe preparava uma comida especial para a festa. Ao voltar, todos perguntaram: «Onde o rabino foi? Subiu ao céu?». E respondeu: «Não, ele subiu ainda mais alto».

O que existe de melhor é amar ao próximo realizando boas obras; aí se manifesta o amor. Sem ignorar quem precisa de nós! «É Cristo quem eleva sua voz nos pobres para chamar à caridade nos seus discípulos» afirma o Concilio Vaticano II num documento.

Ser como o bom samaritano, é mudar os planos («chegou perto dele»), dedicar tempo («cuidou dele»)... Isso nos leva a contemplar também, a figura do anfitrião como disse João Paulo II: «O que teria feito sem ele? O anfitrião, permanecendo anônimo, realizou as tarefas mais importantes. Todos podem atuar como ele, cumprindo as próprias tarefas com espírito de serviço. Toda atividade, oferece a oportunidade, mais ou menos direta, de ajudar a quem precisar (...). Cumprir fielmente com os deveres próprios da profissão é praticar o amor pelas pessoas e à sociedade».

Deixar tudo, para acolher a quem precisa de nós (o bom samaritano) e fazer bem o trabalho por amor (o anfitrião), são as duas maneiras de amar que nos correspondem: «qual dos três foi o próximo. `Aquele que usou de misericórdia para com ele´. Jesus lhe disse: `Vai e faz tu a mesma coisa» (Lc 10, 36,37).


Acudimos à Virgem Maria e, Ela — que é modelo — ajude-nos a descobrir as necessidades dos outros, materiais e espirituais.

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