Meditações sobre a via dolorosa, caminho da cruz, força do cristão
Dom Florian Kolfhaus
Durante
o tempo da quaresma, a Igreja nos convida a meditar de maneira especial sobre a
Paixão do Senhor. Não se trata simplesmente de uma lembrança de acontecimentos
históricos, mas de entrar na realidade da salvação.
Cristo
não salvou uma coletividade anônima, mas sim cada indivíduo, dando a vida
livremente para que todos fôssemos resgatados. Quando ele foi flagelado, ele me
contemplava. Quando sofreu na cruz, era em mim que ele pensava.
Ao
rezar a via-crúcis com afeto, eu realmente acompanho Jesus, respondendo ao seu
apelo. Cada estação do seu caminho doloroso é um passo meu ao encontro do seu
amor.
Julgado
por Pôncio Pilatos, Cristo me diz: "Julgarei quem condena o amor. Mas o
meu tribunal é diferente do tribunal de Pilatos, porque eu me coloco no lugar
do culpado. Eu me curvo ao julgamento iníquo do governador romano para que tu
sejas absolvido. Entendes o quanto é grande o meu amor por ti?".
Quando
o Senhor aceita a cruz sobre os ombros, ele assume, na verdade, o peso de todos
nós, pecadores: "Não carrego lenha aos ombros para atiçar o fogo. Carrego
o mundo. Carrego todos os seus pecados. Como um animal de carga, eu carrego
todos os homens, um por um. Eu te carrego".
"Todo
pecado, toda má ação, é um golpe duro contra mim; é uma ferida que dói e que me
empurra para avançar. O meu amor te carrega. Nada é pesado demais para mim,
porque eu te amo. Trilha comigo esta estrada! Ajuda-me a carregar o mundo. Eu
sei que temes a cruz e acreditas que o seu peso te esmagará, mas nada será
difícil demais para ti, porque eu te amo".
E
se eu aceito a cruz na minha vida, seja ela feita de pequenas dores ou de
grandes sofrimentos que excedem as minhas forças, ajudo a Jesus como o Cireneu,
cooperando com ele para a salvação do mundo: "Carregarias a minha cruz se
não fosses forçado? Não estarias tão perto de mim se a brutal violência não
tivesse te ligado ao mesmo jugo. Acredita em mim: eu não quero te fazer sofrer,
mas assim alivias o meu fardo".
"Eu
preciso da tua ajuda e clamo pelo teu amor. Não vês que nunca estiveste tão
perto de mim quanto agora? Eu sei que é difícil. Se ao menos entendesses que
não és vítima de um destino cego, mas és, sim, predestinado e amado. Tem fé em
mim: se no fim da jornada olhares para trás, entenderás tudo".
Cristo
me ama. Por isso é que ele sofre por mim. Sim, se eu fosse o único homem na
face da terra, ainda assim ele daria a vida por mim. Da cruz ele sussurra
palavras de amor: "Eu poderia me livrar da minha cruz e descer. Estes
pregos não podem me prender. Tu, sim. É por ti. Até o último instante os meus
olhos descansarão em ti, e, porque te vejo, consigo suportar tudo isto. Se toda
essa dor, essas feridas e sofrimento, se toda esta amargura e vergonha é o
preço que eu tenho de pagar por ti, tu vales toda a pena. Por favor, não te
afastes! Deixa as minhas feridas serem tuas, assim como as tuas já são minhas
há tempo".
A
onipotência de Deus não pode forçar a minha liberdade humana a amá-lo, mas,
ainda assim, faz de tudo para que eu experimente a sua bondade. É na via
dolorosa que se encontra o amor e o Senhor, que sofre pelas suas criaturas,
pedindo, quase mendigando, o seu amor. Quem nos mostra um amor maior?
Caminhemos com Jesus, passo a passo, e que, com cada pequeno ato de afeto
sincero, esta via dolorosa se transforme num caminho amoroso que nos leve até a
felicidade verdadeira.
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