Orações do Mês de São José estão na pasta de orações e informações.
«Talvez
venha a dar frutos»
Jesus
ensina-nos a ler a vida à luz da Palavra de Deus. Escutar a voz de Deus nos
acontecimentos da história. Viver a vida com a vontade constante de dar. De dar
bons frutos. A videira e a figueira representam na Bíblia, frequentemente, o
povo de Israel. E se o povo de Deus não der bom fruto (ou se não der fruto
nenhum) precisa de se transformar, da mudança, da vida nova. Um povo redimido
por Cristo deve edificar com a sua vida um Reino que dê frutos de verdade, de justiça
e de paz, de liberdade de vida e esperança. Neste tempo de Quaresma o mesmo é
pedido a cada cristão. A cada um de nós. Porque pelos frutos, seremos também
nós reconhecidos.
P. Luciano Miguel, SDB
São José, Patrono da Igreja |
EVANGELHO
SEGUNDO S. LUCAS (Lc 13,1-9) - Naquele tempo, vieram contar a Jesus que
Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das
vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal
castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu
digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E
aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais
que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos
que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus
disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na
sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou.
Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta
figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há de estar ela a ocupar
inutilmente a terra?’ Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar
ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo.
Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano.
SEGUNDA-FEIRA
PALAVRA - Naquele tempo, vieram contar a Jesus que
Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das
vítimas que imolavam.
Trata-se
de um acontecimento histórico-político que sucedera na sua terra e que os
Romanos, cujo império se estendia também à Palestina, praticavam à mínima
suspeita de revolta. Os judeus estavam escandalizados pela matança, mas também,
e sobretudo, pelas circunstâncias em que se dera essa chacina, pois Pilatos
quase animalizara e igualara os homens mortos aos animais que eles ofereciam em
sacrifício.
MEDITAÇÃO
O
Projeto de Deus para a Humanidade é de igualdade para todos. A vida pertença a
Deus e a mais ninguém. Entretanto alguns homens arrogam-se o poder de
escravizar e mesmo de eliminar outros pelo simples fato de não pensarem do
mesmo modo ou de se julgarem superiores a todos. Os mortos eram, para Roma,
politicamente culpados porque revoltosos. Jesus nem os condena nem os
justifica. Hoje algo de semelhante acontece. Que atitude tomo eu diante dessas
situações sejam elas políticas, econômicas, sociais ou religiosas? Como julgo
os extermínios políticos ou étnicos hoje tão frequentes e monstruosos, em
vários países do mundo? Fico indiferente? Quando acontecem em ponto pequeno,
mesmo só a nível pessoal, em mim ou ao redor de mim, tomo uma posição de
cristão convicto defensor do projeto igualitário de Deus?
ORAÇÃO
Senhor,
fazei-me perceber que toda a pessoa que vive a meu lado tem o mesmo direito a
ser feliz como eu, e que em nada e por nada a posso usar como objeto do meu
egoísmo, nem destruí-la social, afetiva e psicologicamente e muito menos
eliminá-la fisicamente. Que esta seja a minha convicção interior e o meu agir,
em casa, na família, no trabalho, na escola, no café, na diversão. Que eu
contagie felicidade e segurança ao redor de mim e não violência.
AÇÃO
Procurarei,
por palavras ou por gestos e atitudes, pôr-me ao lado de alguém que encontre
oprimido, desanimado, amarfanhado, tentando fazer crescer nele a consciência da
sua dignidade de pessoa e de filho muito amado de Deus.
TERÇA-FEIRA
PALAVRA - Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por
terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os
outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis
todos do mesmo modo.
A
resposta de Jesus, pensando sempre na preparação dos discípulos, tenta alcançar
dois objetivos: primeiro eliminar a ideia tradicional de que a desgraça e o
castigo são sempre consequência do pecado e do mal feito. Nesse sentido
recordemos a figura bíblica de Job paradigma para os judeus da relação
pecado-castigo. Jesus desvia as atenções para outro ponto. parte do
acontecimento em si para lhes mostrar o que é fundamental e indispensável na
vida de cada um: a conversão. E que todos, sem exceção, necessitam deste
arrependimento, mesmo aqueles que se têm por justos.
MEDITAÇÃO
Ainda
hoje a associação entre o mal feito e castigo é frequente entre o povo e até
entre os cristãos com certa cultura. Há uma quantidade de refrães populares e
frases feitas que o atestam. E também nós mesmos somos levados pela corrente e
vemos no outro que sofre, é maltratado, castigado, morto, antes de tudo a
hipótese que ele tenha cometido o mal. Jesus, ao contrário, manda-nos olhar
para outro lado: para nós mesmos! Eles não eram mais culpados do que nós, dado
que todos nós necessitamos de nos converter. Uma conversão não apenas exterior,
mas interior, uma metanóia, que nos leve a prensar e a obrar o bem. Em
situações semelhantes qual é a minha primeira reação interior? Estou muito
longe da de Jesus? O que significa para mim converter-me?
ORAÇÃO
Vejo,
Senhor, que para Ti contam mais os acontecimentos internos do que os externos:
as mortes internas, a queda das torres interiores, as transformações internas.
Talvez eu precise de que algo sério aconteça dentro de mim para romper com a
anestesia em que vivo. Sou bom de mais para perceber que, precisamente por
isso, estou longe de Ti. Não me inquietas, não me perturbas, não me interpelas.
Eu vivo e Tu vives. Lado a lado. Sem nos chocarmos. Sem nos comunicarmos. Quase
sem nos conhecermos… Porque Tu tens pouco peso ao longo do meu dia, chego à
noite sem remorsos. Será que estou mesmo anestesiado e não me dou conta que
preciso realmente de conversão, de fazer penitência? Abana-me, Senhor, Mesmo
que faças doer.
AÇÃO
Farei
um sério exame de consciência sobre a minha instalação interior, e escolherei
um ponto concreto de conversão que o Senhor me pede nesta Quaresma. Será nele
que trabalharei durante o dia.
QUARTA-FEIRA
PALAVRA - E aqueles dezoito homens, que a torre de
Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os
outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos
arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante.
Jesus
repete o mesmo raciocínio quanto a esta catástrofe natural como já fizera em
relação à chacina feita por mãos humanas. Também aqui secundariza o
acontecimento físico e volta-se para a situação interior das pessoas presentes.
Nunca condena os que morreram e muito menos os apresenta como pecadores merecedores
daquele castigo.
MEDITAÇÃO
Ó
Deus, Tu disseste aos primeiros homens: “Multiplicai-vos, enchei a terra”. E
assim fizemos. Porém vivemos no meio das incertezas da natureza que nem sempre
controlamos e por vezes até criamos uma civilização que acaba por nos destruir.
É nesses momentos que nos interrogamos: quem somos nós perante a criação e
perante Ti? Tomamos consciência de que toda a nossa vida está montada sobre um
risco permanente? Damo-nos conta da precariedade da nossa vida sobre a terra?
Por isso Tu voltas a repetir-nos: “Se não vos arrependerdes...” É que se o mal
nos domina e não nos convertemos, então, sim, tudo ficará perdido com a morte.
Necessitamos de conversão, de virar a integridade da nossa vida para o bem. E o
bem, és tu, Senhor!
ORAÇÃO
Estamos
a meio da Quaresma, tempo forte de conversão e penitência. Envolvem-nos os
constantes convites ao arrependimento, à mudança, à “metanóia”. São todas
palavras que ouvimos dominicalmente e por vezes ao longo da semana. Senhor, que
eu vença o mal pondo-me ao serviço do bem, ao serviço dos que precisam, dos que
não Te conhecem. Que eu sinta que algo em mim se está a transformar nesta
Quaresma, nos sentimentos, nos desejos, nos pensamentos, nas atitudes. Que o
arrependimento esteja bem dentro de mim e não apenas nas minhas palavras.
AÇÃO
Na
Quaresma falamos muito em: oração, jejum e esmola… Hoje farei uma ou duas
renúncias concretas que vão beneficiar os outros, procurando realizá-las sem
ostentação e com a alegria que toda a penitência deve trazer.
QUINTA-FEIRA
PALAVRA - Jesus disse então a seguinte parábola:
«Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos
que nela houvesse, mas não os encontrou.
Esta
seria a segunda parte em que está dividido o texto do Evangelho de hoje. Jesus
conta-lhes uma parábola. E escolhe a figueira como árvore típica, dado que já
os profetas dela se tinham servido para exprimir a infidelidade do povo de
Israel. À figueira costumam os profetas e Jesus juntar a vinha como as duas
imagens agrícolas mais usadas para retratar Israel - o povo escolhido - quando
ele se desvia e não corresponde (não dá frutos) à Aliança feita com Deus.
MEDITAÇÃO
No
tempo de Jesus quase todo o Israelita remediado tinha uma figueira, e por isso
os ouvintes de Jesus entendiam bem o que Ele estava a contar. A desilusão aqui
é que a figueira da parábola não dava frutos. Ocupava um espaço no campo do
lavrador, tinha certamente os cuidados deste mas, mesmo assim, não produzia os
figos tão desejados. Como se sentiriam interiormente os ouvintes de Jesus ao
escutar esta parábola? Igualmente eu me interrogo a mim mesmo. Neste imenso
planeta de milhões e milhões de quilômetros quadrados, eu tenho também um
espaço que chamo meu. Como o estou a ocupar? Inutilmente? Que frutos estou a
dar? Que tipo de frutos Deus e os outros esperam de mim? Será que todos os que
me procuram saem de junto de mim desiludidos e com fome? Fome de quê? De um
Deus que eu devia testemunhar?
ORAÇÃO
À
figueira apenas se lhe pedia o que podia e era seu dever dar: figos! O mesmo me
pedis a mim, Senhor: que cumpra com esmero o meu dever diariamente de tal modo
que Tu e os meus irmãos encontrem em mim os frutos que esperam e que eu posso
dar. Apenas isto Te peço hoje, Senhor, pois sei que se não Te desiludir neste
campo, Tu continuarás a cuidar de mim, a tratar-me com carinho. Ajuda-me,
Senhor, e obrigado porque me cuidas com um amor ilimitado.
AÇÃO
Esforçar-me-ei
por não desiludir ninguém, criança ou adulto, que hoje venha ter comigo.
Escolherei uma estratégia para não me esquecer (por exemplo: ter sempre perto
de mim um fruto qualquer, uma flor…).
SEXTA-FEIRA
PALAVRA - Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que
venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há
de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’
A
lógica do dono da figueira era evidente. Eram já três anos infrutíferos, tempo
mais que suficiente para devê-la cortar. E por isso dá ordem para o fazer. Não
tem direito a estar a esgotar a terra e não produzir frutos. Toda a criação
deve dar frutos, cumprindo a missão que Deus a cada um destinou.
MEDITAÇÃO
Deus
não mantém ninguém vivo na terra inutilmente. Enquanto aqui estamos todos temos
uma missão a cumprir, frutos a dar. Todos os seres vivos e não apenas os
humanos. Mas a estes Deus exige uma resposta mais consciente, mais livre, mais
alegre, mais amorosa. Se Jesus reage assim com a figueira que dirá da nossa
preguiça e da nossa negligência? Onde está a nossa resposta a tanto cuidado, a
tanto carinho e a tanto amor com que Deus nos trata? Onde está a preocupação
com a conversão do coração, a abertura ao mistério do Reino como dom de amor e
como urgência de arrependimento e de preocupação pela felicidade dos outros?
Durante esta Quaresma seria bom recordarmos frequentemente esta parábola da
figueira.
ORAÇÃO
Tu
sabes bem, Senhor, que o nosso problema principal, a nossa escravatura, está na
dureza do coração. É de lá que sai tudo o que é impuro… E por isso precisamos
da Tua ajuda para vencer a nossa inércia, a nossa malícia, a nossa
infrutuosidade. Daí que hoje Te peça que realizes em nós o que prometeste pela
boca do profeta Ezequiel: “Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um
espírito novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um
coração de carne. Dentro de vós porei o meu espírito, fazendo com que sigais as
minhas leis e obedeçais e pratiqueis os meus preceitos (Ez 36,25-26). Obrigado,
Senhor, por mais esta tua generosa gratuidade.
AÇÃO
Há
muita coisa em mim, a nível físico, intelectual, social, laboral, afetivo,
espiritual, etc., que ocupa o seu espaço na minha vida. Examinarei com cuidado
e em pormenor “o que não dá fruto” e cortá-lo-ei hoje mesmo.
SÁBADO
PALAVRA - Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor,
deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e
deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no
próximo ano.
A
espera parecia ter chegado ao fim. Mas intervém o vinhateiro e o tempo
alonga-se um pouco mais. Pelo menos um ano. Limitado sim, mas a figueira,
simbólica, tem mais uma oportunidade. Se não der fruto, então “o relógio do
tempo chegou ao fim”: será cortada!
MEDITAÇÃO
A
figueira no Evangelho de São Mateus (21,19) tem menos tempo do que esta: fica
logo seca!. São Lucas, o evangelista da misericórdia, concede mais uma
oportunidade. A misericórdia de Deus deixa-nos sempre uma esperança, mesma
quando a nossa vida é só de aparências, com muitas folhas mas sem frutos. Deus
como que quase nos faz sentir que tem necessidade da nossa livre colaboração
para fazer com que a nossa vida não seja inútil mas produza frutos de boas
obras. Deus não tem interesses em que sejamos figueiras estéreis, antes pelo
contrário, a sua glória e a sua felicidade está “em que nós demos muitos frutos”.
(Jo 15,16).
ORAÇÃO
Senhor,
com que ternura e com que paciência tens esperado por mim, para que eu me
converta e Te abra a porta! Hoje vou recordar o soneto de Lope de Vega onde me
vejo bastante bem retratado. Rezo-o e medito a partir dele.
“Que possuo eu, pois minha amizade
procuras?
Que interesse tens, Jesus meu,
que à minha porta, coberto de
orvalho,
passas as noites de Inverno
escuras?
Oh! Quão foram as
minhas entranhas duras,
pois não te abri! Que
estranho desvario
se da minha ingratidão
o gélido frio
secou as chagas dos pés
nas plantas puras!
Quantas vezes o anjo me dizia:
“Alma, assoma-te agora à janela,
verás com quanto amor chamar
porfia!”
E quantas, bondade
soberana e bela:
“Abrir-Lhe-emos amanhã”
eu respondia,
para o mesmo responder
no outro dia!
À semelhança do poema, Senhor, que eu não adie
todos os dias a minha conversão, e não Te recuse abrir a porta, sempre com a
desculpa e a promessa de fazê-lo no dia seguinte: “Amanhã! Amanhã! Amanhã”.
AÇÃO
Hoje
serei sinal de esperança para alguém que encontre já desiludido, recordando-lhe
que Deus nos concede sempre mais uma oportunidade, mas que não a podemos perder
quando ela surge. E esta Quaresma pode ser essa oportunidade de renovação
interior e de salvação que ninguém pode perder.
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