A
LUMEN GENTIUM E OS OUTROS DOCUMENTOS CONCILIARES
Pe. Vitor Galdino Feller
Há
quatro grandes constituições publicadas pelo Concílio Vaticano II: duas, sobre
a Igreja: Lumen Gentium e Gaudium et Spes, e duas sobre as
mesas com as quais o cristão se alimenta na fé: Sacrosanctum Concilium e Dei
Verbum.
A
Constituição
Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia foi o primeiro
documento do Concílio. Nos anos anteriores já havia, em diversos mosteiros e
escolas teológicas, muita reflexão e experiências práticas que ajudaram a
apressar a elaboração desse documento, que promoveu a reforma litúrgica da
Igreja, mediante a centralidade no mistério pascal, maior sobriedade e
simplicidade, participação da assembleia dos fiéis, celebração na língua do
povo, uso de símbolos próprios da cultura popular. A Constituição Dogmática Dei Verbum
sobre a revelação divina foi muito debatida, passou por diversas elaborações
até constituir-se no documento final, que pôs a Palavra de Deus em lugar de
destaque na liturgia e na vida do povo, trouxe a Bíblia para a mão dos fiéis,
favoreceu o estudo da Palavra de Deus nas escolas teológicas, seminários,
movimentos e pastorais e abriu pistas para a posterior criação de círculos bíblicos
e grupos bíblicos em família. Assim, o Concílio Vaticano II incentivou que os
fiéis se alimentem abundantemente das mesas da Palavra e da Liturgia.
As
duas constituições sobre a Igreja respondem às perguntas sobre a identidade e a
relevância da Igreja: “Igreja, quem és tu? O que tens a dizer de ti mesma?” E:
“Igreja, qual a tua importância para o mundo? O que tens a dizer ao mundo?”.
A
primeira pergunta – O que tens a dizer de ti mesma? –, sobre a identidade ou
essência ou ser da Igreja, é respondida pela Constituição Dogmática Lumen
Gentium sobre a Igreja. Temos aí a primeira grande reflexão teológica,
em 2000 anos de história, que a Igreja faz sobre si mesma. É a Igreja que se
volta para dentro, num movimento de sístole, em busca de autocompreensão. Além
dos amplos conceitos de mistério e de povo de Deus, ela se autodefine como
sacramento universal de salvação, corpo místico de Cristo, templo do Espírito
Santo, sinal, germe e instrumento do Reino de Deus. É a partir dessas noções
conciliares que, mais tarde, nas exortações apostólicas pós-sinodais de João
Paulo II, vai se cunhar a tríplice expressão sobre a Igreja: mistério, comunhão
e missão.
A
segunda pergunta – O que tens a dizer ao mundo? –, sobre a relevância ou
importância da Igreja, é respondida pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes
sobre a Igreja no mundo de hoje. Temos aí uma portentosa reflexão
doutrinal-pastoral sobre o lugar da Igreja no mundo. É a Igreja que se volta
para fora, num movimento de diástole, para compreender-se não mais como Igreja
separada ou oposta ou superior ao mundo, mas, conforme a parábola evangélica do
fermento na massa, como Igreja inserida nos caminhos da história. Seguindo a
metodologia “ver-julgar-agir”, criada pela Ação Católica, faz-se inicialmente uma
análise das grandes mudanças sociais, psicológicas, morais e religiosas e sobre
as aspirações e interrogações da humanidade; apresenta-se, em seguida, a
verdade cristã sobre o ser humano, sua dignidade, sua índole comunitária, o
valor de sua atividade e a função da Igreja no mundo; e propõe-se, por fim,
linhas de ação nos campos do matrimônio e da família, do progresso cultural, da
vida econômico-social, da comunidade política, da promoção da paz e da
comunidade internacional.
É
ao redor desses dois grandes documentos sobre a Igreja, sobretudo ao redor de Lumen
Gentium, verdadeiro eixo teológico-pastoral, que se desenrolam os
outros documentos do Concílio. Há os que tratam das categorias de fiéis
(bispos, presbíteros, religiosos, leigos e seminaristas) no interior da Igreja:
o Decreto
Christus Dominus sobre o múnus pastoral dos bispos, o Decreto
Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e a vida dos presbíteros; Decreto
Perfectae Caritatis sobre a atualização dos religiosos, o
Decreto Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos e o Decreto
Optatam Totius sobre a formação sacerdotal. Há os que tratam de
situações relacionadas à nova configuração da Igreja como comunhão: o Decreto
Orientalium Ecclesiarum sobre as Igrejas orientais católicas e o
Decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo. Há os que tratam da missão
da Igreja: o Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, o
Decreto Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social e a
Declaração Gravissimum Educacionis sobre a educação cristã. Há, por
fim, dois importantíssimos documentos que mudarão para sempre o modo de a
Igreja posicionar-se no mundo: a Declaração Nostra Aetate sobre as
relações com as religiões não cristãs e a Declaração Dignitatis Humanae sobre
a liberdade religiosa.
Nessas
quatro constituições, nove decretos e três declarações, o Concílio Vaticano II
formulou um novo modo de a Igreja ser e agir. Um novo Pentecostes, que preparou
a Igreja para o advento do novo milênio!
Leia,
abaixo, a Lectio Divina da Quarta-Feira da 1ª Semana do Tempo Comum.
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