A
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Pe. Vilmar Adelino Vicente
A
Constituição pastoral Gaudium et Spes – GS, logo no 1º capítulo assume seu
posicionamento em defesa da dignidade da pessoa humana. Movido pela fé e pelas
moções do Espírito Santo, o Povo de Deus esforça-se em fazer o discernimento
dos acontecimentos históricos, bem como das aspirações e necessidades humanas,
perscrutando os verdadeiros desígnios de Deus. A fé e o Espírito manifestam a
vocação integral do ser humano (GS 232).
O
Concílio deseja identificar os valores humanos de maior significado para a
realização da pessoa humana, em consonância com os valores da fonte evangélica.
Os valores humanos, decorrentes da inteligência humana, são intrinsecamente
bons, mas, sujeitos à corrupção do pecado, precisam de uma evangélica
purificação. Deste modo, o Povo de Deus e a humanidade inteira prestam-se
serviços mútuos (GS 233/234).
Toda
realidade terrestre está ordenada ao homem como centro e ponto culminante. A
Igreja, instruída pela revelação divina, pode oferecer à humanidade o
verdadeiro sentido da condição humana, capaz de responder às expectativas e
angústias, fraquezas e valores do ser humano, que busca discernir sua autêntica
vocação (GS 235/236).
As
Sagradas Escrituras ensinam que o ser humano, criado à imagem de Deus,
constitui-se em senhor da criação, não
para destruí-la mas para preservá-la em favor do homem e da glória de Deus.
Igualmente, Deus criou a pessoa humana não para a solidão mas para a comunhão.
Por isso, homem e mulher os criou, decorrendo daí a natureza social da condição
humana (GS 237/238).
Criado
em seu estado de perfeição, o ser humano extrapolou sua própria liberdade,
negando Deus como ser supremo, invertendo a relação criador/criatura. Essa fragmentação
original tornou-se originante das falhas e limites que marcam a natureza
humana, inclinada para o mal, comprometendo o fim último da humanidade e a
relação harmônica com Deus, consigo mesma e com a natureza (GS 239).
Decorre
daí a luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e trevas, que comprometem
o posicionamento humano e a verdadeira liberdade. Deste modo, o pecado impede o
ser humano de atingir sua plenitude. Por isso, Deus vem em socorro para
libertar o homem pela graça salvífica de Jesus Cristo. Eis a razão última da
vida humana que encontra, na revelação, sua vocação mais sublime e, ao mesmo
tempo, a consciência de sua profunda fragilidade (GS 240).
Constituído
de corpo e alma indissolúveis, o ser humano é chamado a defender radicalmente o
valor da vida, material e espiritual, e como tal os valores do corpo e do
espírito. Afinal, o ser humano é destinado à ressurreição final no último dia.
Decorre daí que a pessoa humana deve superar as más inclinações do coração e as
revoltas do corpo para atingir a verdadeira harmonia de corpo e alma. Por sua
espiritualidade o ser humano aperfeiçoa o seu espírito e dignifica o seu corpo,
templo vivo do Espírito Santo. Nesta intimidade profunda entre Deus e o homem
se dá o discernimento humano sobre a vida e a história. O homem não é fruto de
uma criação imaginária, mas sonho de Deus, que o plasmou para a imortalidade
(GS 242/243).
De
fato, pela inteligência humana, o homem se manifesta como ser superior a todas
as coisas criadas, revelando nas ciências e nas artes a riqueza de sua criação
e a verdade mais profunda de sua existência. É verdade que, em consequência do
pecado, o saber humano é limitado e por vezes equivocado, mas sempre superado
pela sabedoria do Espírito. Quanto mais sábios forem os seres humanos, mais
profundamente humanos serão os destinos da humanidade, num rico intercâmbio
entre as nações mais ricas economicamente e outras nações pobres na economia e
ricas nos bens culturais (GS 244/247).
Neste
prisma conceitual, a Constituição Pastoral Gaudium et Spes situa a importância
capital da consciência moral da pessoa humana. Na verdade, o ser humano tem uma
lei gravada em seu coração, que é constituinte de sua própria dignidade,
levando-o a amar e fazer o bem e evitando o mal. A consciência é o núcleo
secretíssimo e o sacrário do ser humano onde ele está sozinho diante de Deus. A
consciência moral se manifesta no exercício do amor a Deus e ao próximo como a
si mesmo. Na fidelidade da consciência, cristãos e não cristãos hão de
encontrar as soluções para os inúmeros problemas da humanidade, em nível
pessoal e social (GS 248).
É
pela consciência moral que o homem será julgado pelo Juiz divino quando se
torna prisioneiro da consciência errônea ou quando se busca ardorosamente a
verdade e a justiça. A reta consciência moral é sempre uma busca difícil, mas
que assegura a verdadeira dignidade humana, na medida em que investiga sempre
mais o sentido do bem e da verdade, na busca de soluções justas para o convívio
humano (GS 248).
A
liberdade essencial da condição humana é o fundamento da dignidade humana. A
liberdade, todavia, não é a exaltação do livre fazer, seja do bem ou do mal,
mas. antes, o direito de decidir segundo sua consciência moral, orientada pelos
valores da fé cristã ou os valores mais nobres das expressões culturais e
religiosas dos povos. Quando a liberdade humana está em sintonia com o desígnio
divino, a pessoa humana experimenta a perfeição plena e feliz. A liberdade
verdadeira é um antídoto ao impulso interno cego, ou à severa coação externa,
libertando homens e mulheres do cativeiro das paixões e das dominações
históricas. Com o auxílio da graça de Deus, pelo impulso do Espírito Santo,
seremos verdadeiramente livres para o bem e a verdade (GS 249).
Diante
da dignidade humana, a morte se revela um enigma acompanhado de dor e
esperança. Dor pela dissolução do corpo, e esperança pela certeza da vida
eterna. A imortalidade é o sentido maior da dignidade humana, revelando-se
resposta definitiva à angústia do homem. Por maior que seja o progresso
científico e tecnológico, o ser humano tem sede de imortalidade pois, por
natureza é semente de eternidade. A ressurreição é o desejo mais profundo que,
vencendo os limites do pecado, restitui a plenitude de vida, pela graça e
misericórdia de Deus salvador (GS 250).
LEIA,
ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA QUARTA-FEIRA DA II SEMANA DO TEMPO COMUM
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