EVANGELHO – Mt 5,1-12 - Naquele
tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-no os
discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres
em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os
humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que
choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros
de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que
promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que
sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis,
quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem
todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa
recompensa».
AMBIENTE
Depois de dizer quem é
Jesus (cf. Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai
apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus
propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus
propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.
Uma característica
importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo
evangelista aos “ditos” de Jesus. Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem
cinco longos discursos (cf. Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta
“ditos” e ensinamentos provavelmente proferidos por Jesus em várias ocasiões e
contextos. É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco
discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por
meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.
O primeiro discurso de
Jesus – do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte – é
conhecido como o “sermão da montanha” (cf. Mt 5-7). Agrupa um conjunto de
palavras de Jesus, que Mateus colecionou com a evidente intenção de
proporcionar à sua comunidade uma série de ensinamentos básicos para a vida
cristã. O evangelista procurava, assim, oferecer à comunidade cristã um novo
código ético, uma nova Lei, que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de
Deus.
Mateus situa esta
intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é
inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu
ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo
Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em
aderir ao “Reino”.
As “bem-aventuranças” que,
neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente
diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (cf. Lc 6,20-26). Mateus
tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além
disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto
mateano; outras notas características da versão de Mateus são a
espiritualização (os “pobres” de Lucas são, para Mateus, os “pobres em
espírito”) e a aplicação dos “ditos” originais de Jesus à vida da comunidade e
ao comportamento dos cristãos. É muito provável que o texto de Lucas seja mais
fiel à tradição original e que o texto de Mateus tenha sido mais trabalhado.
As “bem-aventuranças” são
fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer
nos anúncios proféticos de alegria futura (cf. Is 30,18; 32,20; Dn 12,12), quer
nas acções de graças pela alegria presente (cf. Sl 32,1-2; 33,12; 84,5.6.13),
quer nas exortações a uma vida sábia, reflectida e prudente (cf. Prov 3,13;
8,32.34; Sir 14,1-2.20; 25,8-9; Sl 1,1; 2,12; 34,9). Contudo, elas definem
sempre uma alegria oferecida por Deus.
As “bem-aventuranças”
evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o “Reino”. Jesus
proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de
pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes
“pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na
sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração
disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes
oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).
As quatro primeiras
“bem-aventuranças” referidas por Mateus (vers. 3-6) estão relacionadas entre
si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda, terceira e quarta “bem-aventuranças”
são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: “bem-aventurados os
pobres em espírito”). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam
confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles
que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança
nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus;
daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si
próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros.
Os “pobres em espírito”
são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e
auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para
servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.
Os “mansos” não são os
fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as
violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a
violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas
dos abusos e prepotências dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante
torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.
Os “que choram” são
aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça,
pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste
situação se mude em consolação e alegria…
A quarta bem-aventurança
proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça
deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade
total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus
dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai
chegar.
O segundo grupo de
“bem-aventuranças” (vers. 7-11) está mais orientado para definir o
comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações,
neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.
Os “misericordiosos” são
aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se
deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são
capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles
falharam.
Os “puros de coração” são
aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o
engano.
Os “que constroem a paz”
são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte
rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o
risco da própria vida – instrumentos de reconciliação entre os homens.
Os “que são perseguidos
por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são
desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que
praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes:
o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a
vida plena.
Na última
“bem-aventurança” (vers. 11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação,
aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por
causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta
última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava
“bem-aventurança”.
No seu conjunto, as
“bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres
e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a
libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles
vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida
plena.
A reflexão e a partilha
podem fazer-se à volta dos seguintes elementos:
• Jesus diz: “felizes os
pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes vós os que tendes dinheiro – muito
dinheiro – e sabeis usá-lo para comprar influências, comodidade, poder,
segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais
poderosos, mais livres e mais felizes”. Quem é, realmente, feliz?
• Jesus diz: “felizes os
mansos”; o mundo diz: “felizes vós os que respondeis na mesma moeda quando vos
provocam, que respondeis à violência com uma violência ainda maior, pois só a
linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e a injustiça”. Quem tem
razão?
• Jesus diz: “felizes os
que choram”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes motivos para chorar,
porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas altas esferas da
sociedade e tendes tudo para serdes felizes: casa com piscina, carro com
telefone e ar condicionado, amigos poderosos, uma conta bancária interessante e
um bom emprego arranjado pelo vosso amigo ministro”. Onde está a verdadeira
felicidade?
• Jesus diz: “felizes os
que têm ânsia de cumprir a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que
não dependeis de preconceitos ultrapassados e não acreditais num deus que vos
diz o que deveis e não deveis fazer, porque assim sois mais livres”. Onde está
a verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?
• Jesus diz: “felizes os
que tratam os outros com misericórdia”; o mundo diz: “felizes vós quando
desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela miséria e pelo
sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia acabará por nunca
ser eficaz neste mundo tão competitivo”. Qual é o verdadeiro fundamento de uma
sociedade mais justa e mais fraterna?
• Jesus diz: “felizes os
sinceros de coração”; o mundo diz: “felizes vós quando sabeis mentir e fingir
para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a sinceridade destroem
muitas carreiras e esperanças de sucesso”. Onde está a verdade?
• Jesus diz: “felizes os
que procuram construir a paz entre os homens”; o mundo diz: “felizes vós os que
não tendes medo da guerra, da competição, que sois duros e insensíveis, que não
tendes medo de lutar contra os outros e sois capazes de os vencer, pois só
assim podereis ser homens e mulheres de sucesso”. O que é que torna o mundo
melhor: a paz ou a guerra?
• Jesus diz: “felizes os
que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós
os que já entendestes como é mais seguro e mais fácil fazer o jogo dos
poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida
e ter êxito na vossa carreira”. O que é que nos eleva à vida plena?
ALGUMAS REFLEXÕES À LUZ DO
EVANGELHO
RESSURREIÇÃO
As Bem-aventuranças
revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Batismo. Aos olhos
do mundo, o que os servidores de Deus sofrem, são efetivamente formas de
morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome
e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e
da misericórdia, num mundo de violência e de lucro, tudo isso aparece como não
rentável, votado ao fracasso, consequentemente, à morte.
Mas que pensa Cristo? Ele,
ao contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e
considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus,
introdu-los no Reino e na Terra Prometida.
A Solenidade de Todos os
Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição.
O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados, os nossos
antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a
pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando
chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos,
isso será mais tarde.
REFLEXÃO 2 – O EVANGELHO
NO PRESENTE.
Os membros de uma mesma
família têm traços do rosto comuns…
As pessoas que partilham
toda uma vida juntos acabam por se parecerem…
Esta festa anual de Todos
os Santos reúne inúmeros rostos que trazem em si a imagem e a semelhança de
Deus.
Um rosto de humanidade
transfigurada. Enquanto vivos, os santos não se consideravam como tais, longe
disso! Eles não esculpiam a sua efígie num fundo de auto-satisfação…
Contrariamente àquilo que geralmente aparece nas imagens ditas piedosas e nas
biografias embelezadas, eles não foram perfeitos, nem à primeira, nem
totalmente, nem sobretudo sem esforço. Eles tinham fraquezas e defeitos contra
os quais se bateram toda a vida. Alguns, como S. Agostinho, vieram de longe,
transfigurados pelo amor de Deus que acolheram na sua existência. Quanto mais
se aproximaram da luz de Deus, tanto mais viram e reconheceram as sombras da
sua existência.
Peregrinos do quotidiano,
a maior parte deles não realizaram feitos heróicos nem cumpriram prodígios. É
certo que alguns têm à sua conta realizações espectaculares, no plano
humanitário, no plano espiritual, ou ainda na história da Igreja. Mas muitos outros,
a maioria, são os santos da simplicidade e do quotidiano! Canoniza-se muito
pouco estas pessoas do quotidiano!
Um rosto com traços de
Cristo.
Encontramos em cada um dos
santos e das santas um mesmo perfil. Poderíamos mesmo desenhar o seu retrato-robô
comum. Por muito frequentar Cristo, deixaram-se modelar pelos seus traços.
Como Jesus, os santos
tiveram que viver muitas vezes em sentido contrário às ideias recebidas e aos
comportamentos do seu tempo. Viver as Bem-aventuranças não é evidente: ser pobre
de coração num mundo que glorifica o poder e o ter; ser doce num mundo duro e
violento; ter o coração puro face à corrupção; fazer a paz quando outros
declaram a guerra…
Os santos foram pessoas
“em marcha” (segundo uma tradução hebraizante de “bem-aventurado”), isto é,
pessoas activas, apaixonadas pelo Evangelho… Os santos foram homens e mulheres
corajosos, capazes de reagir e de afirmar a todo o custo aquilo que os fazia
viver. Eles mostram-nos o caminho da verdade e da liberdade.
Aqueles que frequentaram
os santos – aqueles que os frequentam hoje – afirmam que, junto deles, sentimos
que nos tornamos melhores. O seu exemplo ilumina. A sua alegria é o seu
testemunho mais belo. A sua felicidade é contagiosa.
Eram quatro casais amigos
à volta da mesma mesa. Os copos estavam bem cheios e os pratos bem guarnecidos.
No meio da refeição, a conversa centra-se nos acontecimentos da actualidade:
Fala-se dos estrangeiros e imigrantes.
O debate aquece e cada um proclama o
slogan tantas vezes repetido, o cliché veiculado pelos media… Todos parecem em
uníssono.
Entretanto, um dos
convivas, que estava em silêncio há alguns minutos, abrindo a boca, disse: “Não
estou de acordo convosco, e vou dizer-vos porquê. Para mim, todo o homem é uma
história sagrada, eu acredito nisso, deixai-me dizê-lo”. Imaginai o tempo de
silêncio que se seguiu, enquanto os olhares e os garfos mergulharam nos pratos.
Naquela noite, ao longo de
uma refeição entre amigos, passou-se qualquer coisa que nos faz ver o que é o
Reino de Deus: um homem só, ousava deixar a multidão para dizer: “Não estou de
acordo!” em nome da sua fé no homem e, no caso preciso, em nome da sua fé em
Deus.
Não foi o que se passou no
cimo de uma montanha da Palestina, há 2000 anos, quando um homem, Jesus de
Nazaré, tendo diante de si os seus discípulos que tinham deixado a multidão
para o seguir, “abrindo a boca”, se pôs a instrui-los e lhes falou de
felicidade, mas de modo nenhum como o mundo fala dela?!
São estes discípulos que
ele declara “bem-aventurados”. São Lucas, no seu Evangelho, será ainda mais
preciso, pois escreverá: “erguendo os olhos para os discípulos…” E que lhes
disse Ele? “Bem-aventurados vós, os pobres de coração, porque vosso é o Reino
de Deus!”.
Eis a força contestatária
de Jesus. E as outras seis bem-aventuranças estão lá para ilustrar a primeira,
a da pobreza do coração. Quanto à última, ela aparece como a conclusão: “Sim,
se vós viveis dessa vida, esperai ser perseguidos, porque isso impedirá as
pessoas de dormir; isso inquietá-las-á, e como as pessoas não gostam de ser
inquietadas, vós sereis perseguidos”.
As bem-aventuranças, se as
queremos tomar a sério e sobretudo vivê-las, colocam-nos em situação de
contestação e fazem-nos assumir riscos. Sim, em certos momentos, fazem-nos
dizer, e sobretudo viver, um “Não estou de acordo” em nome da nossa fé.
Porque é que Jesus declara
“felizes” os seus discípulos? Porque eles são pobres de coração, porque eles
estão libertos de tudo o que poderia entravar a sua liberdade. Com efeito, a
alegria é o fruto da liberdade.
Mas de que pobreza fala
Jesus? Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar.
O
pobre é aquele que “faz crédito” em Deus.
“Fazer crédito” ou dizer
“credo”, é a mesma coisa. Quando se fala de noivos, fala-se de duas pessoas que
confiam entre si, que se fiam uma na outra, que “fazem crédito”. A desconfiança
torna a pessoa infeliz. Confiar é aceitar um certo abandono: aquele que grita
em direcção a Deus no meio do seu sofrimento ou da sua confusão, é aquele que
confia sempre em Deus.
O
pobre é também aquele que espera.
O rico não pode esperar,
está plenamente satisfeito. O pobre, esse, está sempre virado para um futuro
que espera que seja melhor; e, depois, ele procura, porque pensa nunca ter
totalmente encontrado. A sua vida é uma procura, e todos os sinais que ele
encontra enchem-no de alegria e fazem-no avançar. O pobre é aquele que aceita
ser criticado pela Palavra de Deus. Com efeito, pôr-se em questão só é possível
para aquele que espera tornar-se melhor.
O
pobre é aquele que ama.
Por não estar plenamente
satisfeito consigo mesmo, o pobre está disponível para servir os seus irmãos.
Não centrado em si próprio, abre os olhos e vê aqueles que esperam os seus
gestos de amor; ouve os gritos dos seus irmãos e abre as suas mãos vazias para
as estender àquele que tem necessidade. A sua pobreza fá-lo receber e, ao mesmo
tempo, dar o pouco que tem.
Jesus conhecia o coração
do homem, e soube reconhecer no coração dos seus discípulos esta aspiração a
crer, a esperar e a amar; é a razão pela qual ele os escolheu e chamou.
As bem-aventuranças vão,
em tantas situações, contra a corrente, porque um homem, um dia, ousou abrir a
boca para dizer aos seus discípulos: “Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois
do mundo… Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência,
da vingança, do comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de
acordo! É certo que sereis perseguidos ou, pelo menos, rir-se-ão de vós, ou
procurarão fazer-vos calar. Felizes sereis, porque fareis ver onde está a
verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos”.
Festejamos neste dia todos
aqueles que tomam de tal modo a sério as bem-aventuranças que são hoje
plenamente felizes.
Queremos experimentar ser
já felizes? Basta-nos ter um coração de pobre.
LEIA, ABAIXO, A LITURGIA DAS HORAS DO PRÓPRIO DA FESTA DOS SANTOS CARMELITAS
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