Virgem da nossa Ordem, Doutora da
Igreja
Festa
Laudes
Hino
A infinita caridade
do Senhor
tua glória quis, no
Céu, fosse igualada,
dos apóstolos e dos
mártires à palma,
Virgem que és, de
dons imensos coroada.
Desejando, como
vítima de amor,
por um fogo
virginal, ser abrasada,
pede ao Esposo
consumi-la sem demora,
nos ardores de sua
chama abençoada.
Ao anúncio da
partida suspirada,
vê Teresa a
eternidade gloriosa.
Num gemido – “Eu te
amo” – alegremente,
para o Cristo alça
voo, vitoriosa.
Lá do alto, das
estrelas cintilantes,
se já sorves da
alegria nos caudais,
não te esqueças que
a esta terra prometeste
uma chuva derramar
dos teus rosais.
Vós, ó Rei, que
sempre às almas pequeninas
um espaço reservais
de dileção,
a nós todos que a
Teresa nos unimos,
dai que entremos na
celestial mansão.
Força, honra e
louvor eternamente
a Deus Pai e ao
Unigênito também;
e ao Espírito
Paráclito igualmente
pelos séculos dos
séculos. Amém.
Salmodia
Ant.1 – Minha alma se agarra a Vós; com poder vossa mão me sustenta.
Salmos e Cântico do
Domingo da I Semana
Ant.2 – Vós, santos e humildes de coração, bendizei o Senhor.
Ant. 3 – O Senhor ama o seu povo, coroa os humildes com a vitória.
Cântico Evangélico
Ant. Em verdade eu vos digo: Se não vos converterdes e não vos
tornardes iguais a crianças, no Reino dos Céus não haveis de entrar.
Oração
Deus
de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e
humildes, de
Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à
revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Vésperas
Hino
Do
teu trono de glória fulgente,
já,
o virgem, na Pátria gozando,
tua
chuva de rosas envia
aos
fiéis que te estão suplicando.
Sejam
símbolo, prá nós, tuas rosas,
de
que podes prestar-nos auxílio!
Junto
a Deus, firma a nossa esperança
na
alegria e na dor, neste exílio.
Que
teus rogos inspirem mais fé.
Tuas
rosas maior esperança
possam
dar, aos que lutam na terra,
a
Deus Pai, teu amor de criança.
Dai-nos
isto Deus Pai e Deus Filho
e
o Espírito Santo também,
cuja
glória, na altura dos céus,
sem
cessar cantaremos. Amém.
Salmodia
Ant.1 –
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.
Salmos
e Cântico das II Vésperas do Comum das Virgens.
Ant. 2 –
Por eles, a mim mesmo me consagro para que sejam consagrados na verdade.
Ant. 3 –
Deus escolheu os fracos para confundir os fortes.
Cântico Evangélico
Ant. Alegrai-vos e
exultai, diz o Senhor, pois no Céu estão escritos vossos nomes.
Oração
Deus
de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e
humildes, de
Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à
revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquela
hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-Lhe: «Quem é o maior
no reino dos Céus?». Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e
disse-lhes: «Em verdade vos digo: Se não vos converterdes e não vos tornardes
como as crianças, não entrareis no reino dos Céus. Quem for humilde como esta
criança, esse será o maior no reino dos Céus».
A PEQUENA VIA
Painel da Canonização |
Este texto é um resumo (com
algumas adaptações) do capítulo homônimo do livro "A Doutorinha de Lisieux
ou A Santidade ao Alcance de Todos", de Leão do Norte, edição da Fundação
Santa Terezinha, Taubaté, 1954.
"Tudo o que S. Teresa do
Menino Jesus praticava, declararam sob juramento as suas companheiras de vida
religiosa, ensinava às noviças."
(...) A sua doutrina é a sua
vida. Desta sorte, para se praticar os ensinamentos teresianos força é imitar a
Doutorazinha. Aliás, "não há talvez uma frase de sua obra e um fato da sua
vida, escreve Petitot, que não tenham sido providencialmente destinados a nos
servir de lição e de exemplo."
Bem se percebe porque não
quis ela receber graças extraordinárias (dom dos milagres, visões, êxtases,
etc.): "era necessário que tudo o que ela fizesse as almas pequeninas
pudessem fazer também."
PRINCÍPIOS GERAIS
RELACIONADOS COM O
NOSSO FIM ÚLTIMO
I. DEVO, QUERO E POSSO SER
SANTO.
DEVO: "Ela meditava esta resposta
do Catecismo, dizem as Carmelitas de Lisieux: Deus me criou para conhecê-lo,
amá-lo e servi-lo." Fiel a esta máxima, escrevia a Santa a uma de suas
primas: "Desejas um meio para alcançar a perfeição? Eu só conheço um: o Amor."
QUERO: "...eu sempre aspirei à
santidade": "Não quero ser santa pela metade..."
POSSO: "Nosso Senhor não inspira
desejos irrealizáveis; logo, não obstante a minha pequenez, posso tornar-me
santa."
II. PARA ME SANTIFICAR TEREI
QUE SOFRER MUITO.
"Para ser santa é
necessário sofrer muito, ambicionar o que há de mais perfeito e esquecer-se de
si mesmo."
III. A SANTIDADE A QUE ASPIRO
NÃO É, TODAVIA, A SANTIDADE EMINENTE, MAS A COMUM, ISTO É, AQUELA QUE CONSISTE
EM SUPORTAR-ME A MIM MESMO COM TODAS AS MINHAS IMPERFEIÇÕES.
"Não me sendo possível
elevar-me a um alto grau de perfeição, só me resta suportar-me tal qual me
encontro com as minha inúmeras imperfeições."
PRINCÍPIOS
PARTICULARES
AMOR DE DEUS
I. SABIDO QUE "A PERFEIÇÃO
CRISTÃ CONSISTE ESSENCIALMENTE NO AMOR DE DEUS E DO PRÓXIMO", A MINHA
MAIOR PREOCUPAÇÃO HÁ DE SER AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO MEU PRÓXIMO
COMO A MIM MESMO, POR AMOR DE DEUS.
"Não alimento desejo
algum, a não ser amar a Jesus até à loucura."
"Só há uma coisa a fazer
neste mundo: amar a Jesus e salvar-lhe almas, para que Ele seja amado."
"Só conheço um meio para se alcançar a perfeição: é o Amor. Amemos, pois
que o nosso coração só foi feito para isso."
II. PROCURAREI FAZER TODAS AS
MINHAS AÇÕES, AINDA AS MAIS PEQUENAS, POR AMOR.
"Jesus nos ensina que as
menores ações praticadas por amor são as que mais lhe agradam." "A
alma mais fervorosa é a que faz todas as coisas por amor." Até porque
"sem o amor, todas as nossas obras, mesmo as mais brilhantes, não valem
nada." Donde "o menor movimento que se faça por amor é mais útil à
Igreja do que todas as obras feitas sem amor." E a razão é porque "o
Senhor não precisa das nossas obras, senão do nosso amor. Quando, por exemplo,
pedia à samaritana que Lhe desse de beber (Jo 7,4), era o amor de sua pobre
criatura que Ele reclamava, tinha sede de amor!"
III. NÃO FAREI CASO DAS
CONSOLAÇÕES, POIS DEVO AMAR A DEUS PARA CAUSAR PRAZER A ELE E NÃO A MIM.
"Eis uma coisa que eu
nunca faria: pedir consolações!... Isto porque "não desejo o Amor sensível;
basta que Ele seja sensível para Jesus." E justifica-se:
"É tão doce servir a
Deus nas trevas e nas provações! Só temos esta vida para viver da fé!"
Aliás "é um grande amor amar a Jesus sem experimentar nenhuma doçura. É um
martírio..."
"Há momentos em que me
sinto menos consolada; é natural: não desejo a visita de Nosso Senhor para a
minha satisfação, mas unicamente para lhe causar prazer."
“Cumpre-nos consolar a Jesus
e não ser por Ele consoladas."
IV. NAS SECURAS ESPIRITUAIS
TIMBRAREI EM DIZER A JESUS QUE O AMO, MESMO SEM O SENTIR.
"Não tenhas receio de
dizer a Jesus que O amas, mesmo sem o sentir: é um meio de obrigá-lo a vir em
teu socorro." E exemplifica: "Quando estou em aridez, isto é, incapaz
de rezar e praticar a virtude, busco então pequeninas ocasiões de dar prazer a
Jesus; por exemplo: um sorriso, uma palavra amável, num momento em que
desejasse calar, ou mostrar-me aborrecida, etc. Se me faltam essas ocasiões,
procuro ao menos repetir-lhe muitas vezes que O amo."
V. ESFORÇAR-ME-EI POR AMAR A
DEUS COM EXCLUSIVIDADE, ISTO É, NÃO ADMITIR NESTE AMOR MESCLA DE OUTRO AMOR, DE
TAL SORTE QUE A NENHUM OUTRO SER AME A NÃO SER POR AMOR DE DEUS.
"Eu sinto um grande
desejo de amar exclusivamente a Deus, de não procurar nenhuma satisfação fora
dele."
"Jesus era meu único
Amigo, acrescenta, eu só sabia falar com Ele; todas as conversações, mesmo as
que versavam sobre coisas piedosas, me fatigavam a alma."
"Eu não quero que as
criaturas tenham um átomo sequer do meu amor: todo ele pertence a Jesus."
E aconselhava: "Que todos os instantes da nossa vida sejam dedicados só a
Ele; que as criaturas só nos interessem de passagem." "é tão bom
trabalhar só para Ele!"
AMOR AO PRÓXIMO
VI. CONFIANDO NA GRAÇA DIVINA,
LANÇAREI MÃO DE TODOS OS MEIOS AO MEU ALCANCE PARA SUPORTAS OS MEUS
SEMELHANTES, NÃO ME ESPANTAR COM AS SUAS FRAQUEZAS E PROCURAR TIRAR PROVEITO DE
TODOS OS SEUS ATOS DE VIRTUDE.
"A verdadeira caridade
consiste em suportar todos os defeitos do próximo, não estranhar as suas fraquezas
e procurar tirar proveito das suas virtudes, por pequeninas que sejam."
"Querendo aumentar esse amor (do próximo) no meu coração, e percebendo
como o demônio busca pôr diante dos meus olhos os defeitos desta ou daquela
irmã, trato logo de descobrir-lhe as virtudes ou boas intenções. Reflito então
que, se a vi cair em falta uma vez, bem pode ser que tenha alcançado muitas
vitórias, que oculta por humildade; e o que se me afigura uma falta foi talvez
um ato de virtude, pela intenção que a moveu a falar ou a proceder dessa
maneira. Facilmente me persuado disto, por tê-lo experimentado em casos que se
deram comigo."
VII. TENDO EM VISTA A FRAQUEZA
HUMANA (DE QUE EU MESMO SOU UM TESTEMUNHO IRREFRAGÁVEL), NÃO JULGAREI NINGUÉM;
POR OUTRO LADO, NÃO DAREI A MÍNIMA IMPORTÂNCIA AOS JUÍZOS QUE DE MIM VENHAM A
FORMULAR OS OUTROS.
"Quando a mim, repito
com São Paulo, pouco se me dá ser julgada por quem quer que seja, pois nem
sequer a mim mesma eu julgo... Quem me julga é o Senhor. Sim, é Jesus quem me
julga! E para que me seja favorável o seu julgamento, ou melhor, para não ser
julgada, pois que Ele mesmo o disse: "Não julgueis e não sereis
julgados", quero pensar sempre dos outros com caridade." "À
opinião das criaturas, mercê de Deus, nunca dei a mínima importância."
VIII. TUDO FAREI PARA TORNAR A
VIDA SUAVE ÀQUELES COM QUEM CONVIVO; PELO QUE, COM A GRAÇA DE DEUS, PROCURAREI
CUMPRIR OS ITENS QUE SEGUEM:
1. Não falar mal de ninguém
(a)
2. Ser obsequioso (b)
3. Fazer bem aos que não
gostam de mim (c)
4. Evitar discussões,
deixando cada um com o seu modo de pensar (a menos que o meu silêncio
significasse uma aprovação tácita do erro) (d)
5. Dar sempre que puder aos
que me pedirem, e quando for obrigado a negar, fazê-lo suavemente (e)
6. A ninguém manifestar as
minhas mágoas (f)
7. Estar sempre de bom humor
(g)
(a) "...não há nada mais
doce do que pensar bem do nosso próximo." [volta]
(b) "Poder-se-ia dizer,
atesta sua irmã Celina, que a caridade de Teresa ia até o sacrifício dos seus
próprios interesses espirituais. Tendo encontrado um livro que lhe era de
grande utilidade, não o acabou de ler, passando-o a outras irmãs, de sorte que
nunca rematou tal leitura, apesar dos seus desejos."
"Eis o que Jesus me
ensina: Dá a todo aquele que te pedir, e ao tomar o que é teu, não lho torneis
a pedir. Não, não me basta dar a quem me pede, seja quem for: devo prevenir os
seus próprios desejos, mostrar-me grandemente penhorada e até honrada com o
ensejo que se me depara de prestar-lhe algum serviço. E se me tomarem algum
objeto do meu uso, devo portar-me de tal maneira que cheguem a pensar até que
me parabenizo por ter ficado livre dele." "...eu gostava de dobrar as
capas esquecidas pelas irmãs e buscava mil outras ocasiões de lhes ser
útil." [volta]
(c) "Uma santa religiosa
desta comunidade tinha outrora a habilidade de me desagradar em tudo; nisto
andava metido o demônio, pois que só ele me podia fazer descobrir nela tantos
pontinhos desagradáveis. E não querendo eu por forma alguma ceder à antipatia
natural que sentia, refleti que a caridade não devia consistir apenas nos
sentimentos, senão também nas obras. Procurei então fazer por esse irmã o que
faria pela pessoa de minha maior estima. Assim, todas as vezes que a encontrava
procurava recomendá-la a Deus, oferecendo-lhe todas as virtudes e merecimentos
da minha desafeta, certa de que, assim procedendo, dava sumo prazer ao meu
Jesus... Não me limitava a rezar muito pela irmã que me proporcionava tantas
ocasiões de combate, ia mais adiante: buscava ensejo de lhe prestar quantos
favores podia; e quando me vinha a tentação de lhe dar uma resposta desabrida,
improvisava imediatamente um amável sorriso, procurando desviar a conversa,
pois diz lá com muito acerto a Imitação de Cristo: "é de muito maior
proveito afastar os olhos do que não te agrada, deixando cada um com o seu
próprio parecer, do que divertir-te com porfias." Outras vezes também (e
foram muitas), quando o demônio me tentava com mais veemência, achando meios de
esquivar-me sem que ela desse pela luta que se travava no meu coração, fugia
como soldado desertor..., tanto assim, que me disse ela certa vez, radiante de
satisfação: "Minha irmão Teresa do Menino Jesus quer dizer-me em confiança
o motivo por que se mostra tão inclinada para mim? Não se dá ocasião de nos
encontrarmos sem que me favoreça com o mais gracioso dos sorrisos!"
[volta]
(d) "Querer persuadir
nossas irmãs de que estão em erro, mesmo que tenhamos razão, não é boa tática
de guerra, porque não somos responsáveis pelo seu procedimento. Ademais, não
convém que sejamos juízes de paz e sim anjos de paz. Não tendes razão em
criticar isto ou aquilo, desejando que todos se curvem à vossa maneira de ver
as coisas. Visto querermos ser criancinhas, devemos imitá-las: elas não sabem o
que é melhor, acham tudo bom." "Outrora, quando eu via uma irmã
transgredir a regra, dizia comigo mesmo: Ah, quem me dera poder admoestá-la e
apontar-lhe as próprias faltas! Hoje, a prática adquirida no ofício, me levou a
mudar de opinião. Assim, quando me acontece presenciar uma falta censurável, suspiro
aliviada, dizendo para mim mesma: Ainda bem que não é noviça; não tenho
obrigação de chamá-la à ordem! E vou logo tratando de escusar a culpada,
julgando que uma boa intenção a moveu a proceder daquela maneira."
Era assim que procedia a
jovem mestra de noviças. Entretanto, quando em consciência devia advertir ou
censurar alguém, fosse quem fosse, não vacilava em fazê-lo, muito embora
"preferisse receber mil repreensões a fazer uma só". "Custe o
que custar hei de cumprir o meu dever." "é meu dever dizer a verdade
às almas que me são confiadas e eu lhas digo."
Relata Petitot que "certa vez em que ela
era de certo modo encarregada da direção das noviças, censurou publicamente,
diante de quinze religiosas, a madre Maria de Gonzaga, dizendo: "Madre
Maria de Gonzaga não tem absolutamente nenhuma razão. É um abuso evidente do
poder proceder como ela tem procedido. E o que me causa maior pesar é ver nisso
uma ofensa a Deus." [volta]
(e) Ver letra (b).
"...há maneiras tão delicadas de recusar o que não se pode dar que a mesma
recusa causa tanto prazer como o bom despacho do pedido." [volta]
(f) "Para atrairmos as
luzes e o socorro divino sobre as almas que nos foram confiadas, força é nos
abstermos de lhes contar as nossas mágoas, sob pretexto de alívio. Aliás, desta
maneira, nenhum alívio alcançamos, antes sofremos mais."
"...com a graça de Deus
esforço-me por não fazer sofrer aos outros com as provações que Nosso Senhor se
digna enviar-me." Por outro lado, "envidava todo o esforço possível
por causar prazer aos outros." [volta]
(g) "A fisionomia é o
reflexo da alma, por isso deveis conservar o rosto sempre calmo e sereno, como
as criancinhas. E mesmo que estejais só, procedei assim, pois que estais
constantemente na presença dos Anjos."
ABANDONO
IX. CONFORMAR A MINHA VONTADE
COM A DE DEUS PARA SÓ QUERER O QUE ELE QUER E DA MANEIRA COMO QUER, HÁ DE SER O
MEU MAIOR EMPENHO.
"O total abandono - eis
a minha única lei." "O meu desejo é fazer sempre a vontade de Jesus.
Deixêmo-lo fazer tudo o que quiser; a perfeição consiste em fazer a sua
vontade, entregando-se inteiramente a Ele."
"Eu não quereria entrar
no céu um minuto mais cedo por minha própria vontade."
"Sofrer em paz não quer
dizer experimentar sempre consolação ou alegria nos sofrimentos: para sofrer em
paz basta querer só o que Nosso Senhor quer."
X. HEI DE FAZER TODO O ESFORÇO
POSSÍVEL POR CONSERVAR-ME EM ESTADO DE INDIFERENÇA, TANTO NA DOR QUANTO NA
ALEGRIA, DE TAL MANEIRA QUE JÁ NÃO DESEJE O PRAZER NEM O SOFRIMENTO, A VIDA NEM
A MORTE, ACEITANDO O BEM OU O MAL COMO DÁDIVAS CELESTES.
"Não desejo mais morrer
nem viver; se o Senhor me facultasse a escolha entre a vida e a morte, eu nada
escolheria, porque só quero o que Ele quer."
"Meu Deus, eu só temo
uma coisa: é fazer a minha vontade. Tomai-a, porque eu escolho tudo o que vós
quereis."
"Já não desejo o sofrimento
nem a morte, entretanto os prezo a ambos!... É só o abandono que me guia; não
tenho outra bússola. Não sei pedir mais nada com ardor a não ser o perfeito
cumprimento da vontade de Deus sobre minha alma."
"O caminho em que estou
não me proporciona nenhuma consolação, mas foi Jesus que o escolheu, e é a Ele
e só a Ele que eu desejo contentar."
CONFIANÇA
XI. A MEDIDA DA MINHA CONFIANÇA
EM DEUS SERÁ CONFIAR NELE SEM MEDIDA.
"Não é por ter sido
preservada do pecado mortal que me elevo a Deus pela confiança e pelo amor. Ah,
não. Sinto que ainda mesmo que tivesse consciência de haver cometido todos os
crimes que se podem cometer, nada perderia da minha confiança; com o coração
despedaçado pelo arrependimento iria lançar-me nos braços do meu Salvador. Bem
sei que Ele ama o filho pródigo, ouvi as palavras que dirigiu a S. Madalena, à
mulher adúltera, à samaritana..." "O Senhor leva em conta as nossas
fraquezas, pois que conhece perfeitamente a nossa fragilidade.
Portanto, de que havemos de temer?"
"Sim, não tenho dúvida que o Senhor é mais terno que uma mãe! E eu conheço
a fundo mais de um coração materno! Sei que uma mãe está sempre disposta a
perdoar as pequeninas indelicadezas involuntárias de seu filho."
"Confio em Jesus,
conto-lhe todas as minhas infidelidades, pensando com temerário abandono
adquirir, assim, maior império sobre o seu coração; atiro-me com maior
confiança ainda ao amor daquele que 'não veio chamar os justos, mas os
pecadores.' Jesus é onipotente; a confiança faz milagres."
"O que o ofende, o que
lhe fere o Coração é a falta de confiança."
"O meu Caminhozinho é
todo ele de amor e confiança, e não compreendo as almas que têm medo de um tão
terno Amigo. Nunca se confia demais em um Deus tão poderoso e tão bom. Obtém-se
dele tanto quanto se espera."
"Há de ser a confiança e
só a confiança que nos levará ao amor."
DESAPEGO
XII. CONTANDO COM A GRAÇA
DIVINA, PROCURAREI VIVER SEM NENHUM APEGO AOS BENS DESTE MUNDO, PARTICULARMENTE
ÀS CRIATURAS.
"Aqui na terra não nos devemos apegar a
coisa alguma, nem mesmo às mais inocentes, porque elas nos faltarão no momento
em que bem o não esperarmos; só o que é eterno nos pode contentar."
"Oh Jesus, fazei que eu não procure nem encontre nada além de vós! Que as
criaturas não valham nada para mim, nem eu para elas! Que nenhum bem terreno
perturbe a minha paz." "...fazei o que puderdes por desapegar o
coração das coisas terrenas, sobretudo das criaturas, e podeis ter certeza que
Jesus fará o resto." "Se soubésseis até que ponto eu desejo ser indiferente
às coisas deste mundo! Que me importam todas as belezas criadas? Eu seria
infeliz, se as possuísse. Ah, como o meu coração me parece grande quando o
considero com relação aos bens terrenos (os quais, reunidos, não poderiam
contentá-lo)!" "Só há um meio de se forçar Nosso Senhor a não
julgar-nos: é apresentar-se diante dele com as mãos vazias." - Como assim?
lhe perguntaram. "é simples: não façais nenhuma reserva; dai os vossos
bens à medida que os fordes ganhando. Quanto a mim, se vivesse até os 80 anos,
seria sempre pobre; não sei fazer economias: tudo o que tenho gasto logo
comprando almas." "Escrever livros de piedade, compor as mais
sublimes poesias, etc., tudo isso não vale o menor ato de renúncia."
Escrevendo a um missionário, poucos dias antes de morrer, acentuava: "No
momento de comparecer diante de Deus, compreendo mais do que nunca que só há
uma coisa necessária: É trabalhar unicamente para Ele, nada fazendo para nós
mesmos, nem tampouco para as criaturas."
A FÉ
XIII. CONTENTAR-ME-EI EM VIVER
DA MINHA FÉ, NÃO ASPIRANDO A GRAÇAS EXTRAORDINÁRIAS, COMO POR EXEMPLO VISÕES,
ÊXTASES, DOM DOS MILAGRES, ETC.
"Deus e os anjos não podem ser vistos com
os olhos do corpo. É por isso que eu nunca desejei graças extraordinárias.
Prefiro aguardar a visão eterna."
"Oh Jesus, para Te ver
Eu
aguardo a aurora,
Pois não é meu desejo
Lembra-Te?"
"Só temos esta vida para viver da
fé." No dia em que se despediu de suas três irmãs (Paulina, Celina e
Maria), 4.6.1897, assim lhes falou: "Não se admirem se eu não lhes
aparecer depois da minha morte, e se não virem nenhum sinal que denote a minha
felicidade. Lembrem-se de que não é do espírito do nosso Caminhozinho ter
revelações."
FIDELIDADE NAS COISAS
PEQUENINAS
XVI. SABIDO QUE "AQUELE
QUE É FIEL NO POUCO, SE-LO-Á NO MUITO", ESFORÇAR-ME-EI POR SER SEMPRE FIEL
NAS COISAS PEQUENINAS.
"Se fores fiel em
causar-lhe (a Jesus) prazer nas pequeninas ocasiões, Ele se verá obrigado a te
ajudar nas grandes."
Uma tarde foi vista colocando à porta de sua
cela um canivete de que se tinha servido durante o dia. Na manhã seguinte,
interrogada sobre a razão desse ato, respondeu com simplicidade: "Eu não
tinha podido ir colocá-lo no seu lugar, e como não é objeto de cela, não quis
conservá-lo durante a noite."
Quando apontava seu lápis, apanhava as mínimas
parcelas de madeira que se desprendiam a fim de queimá-las.
"Certa noite, depois de Completas,
procurei em vão o nosso candeeiro na estante onde o costumava colocar, e sendo
já tempo do grande silêncio, não o podia reclamar. Refleti então (e com razão)
que alguma das irmãs o havia tirado por engano, tomando-o pelo seu. Mas havia
eu de ficar uma hora inteira às escuras por causa desta distração, e logo
naquela noite em que esperava trabalhar bastante? Faltasse-me nessa
circunstância a luz interior da graça e me teria certissimamente lastimado; com
ela, pelo contrário, não me agastei, antes fiquei até satisfeita, lembrando-me
de que a pobreza consiste na privação não apenas das coisas agradáveis, mas
também do indispensável."
"No meu Caminhozinho, só há coisas muito
ordinárias: importa que tudo o que eu faço as almas pequeninas possam fazer
igualmente."
"Uma só coisa nos cumpre
fazer neste mundo: atirar a Jesus as flores dos pequeninos sacrifícios."
E que sacrifícios são esses?
"Conservar sempre o semblante calmo e sereno"; "tomar parte numa
conversa ou recreação não por prazer, mas para causá-lo aos outros";
"atender prontamente a quem quer que nos chame"; "praticar
pequeninos atos de caridade sem que ninguém o saiba"; "nunca nos
queixarmos"; "não nos desculparmos quando nos acusarem
injustamente"; "evitar discussões"; "reprimir uma palavra
de réplica", e "mil outras coisas deste gênero".
HUMILDADE
XV. PROCURAREI VIVER OCULTO,
ESQUECIDO DE TODOS E DE MIM MESMO, FUGINDO À ESTIMA E ÀS HONRAS DO MUNDO.
"Eu quero viver oculta
sobre a terra, sem em tudo a última." "Que felicidade viveres tão
oculta, que ninguém pense em ti! Seres desconhecida até daqueles com quem
convives!" "...a verdadeira e única glória é a que dura sempre; para
consegui-la, não é necessário praticar obrar brilhantes: basta ocultar-se aos
outros e a si mesmo." "Não esqueçamos de que Jesus é um tesouro
oculto: poucas almas logram descobri-lo, porque, em geral, só se ama o que brilha...
Para se encontrar uma coisa oculta, força é ocultar-se também a si
mesmo..." "Estas palavras de Isaías: 'Ele não tinha beleza nem
formosura... o seu rosto estava como que velado e desprezível; vimo-lo e não O
reconhecemos" (LIII, 2-3), tais palavras constituem o fundamento da minha
devoção à Santa Face, ou melhor, a base de toda a minha piedade. Também eu
quisera ser como Jesus; sem beleza e desconhecida de todas as criaturas."
"Eu desejo sofrer muito e viver desprezada neste mundo." "Oh
Jesus, fazei que ninguém se importe comigo; de tal maneira que eu seja pisada
aos pés, como um grãozinho de areia." "...só aspiro ao
esquecimento...; o desprezo e as injúrias ainda seriam muita glória para um
grãozinho de areia; porque, quando se despreza um grão de areia, sinal é de que
ele existe e se pensa nele... Eu quero ser esquecida não apenas das criaturas,
senão também de mim mesma, a fim de não alimentar nenhum outro desejo além do
de amar a Deus."
XVI. FAREI TODO O POSSÍVEL POR
QUEBRANTAR A MINHA VONTADE, PROCURANDO ANTES SATISFAZER OS DESEJOS DOS OUTROS
QUE OS MEUS.
"Toda a minha penitência consistia em
quebrantar a vontade, represar uma palavra de réplica, prestar modestos
serviços aos que me rodeavam, sem todavia os fazer valer, e a mil outras
coisinhas deste gênero." "Quando uma pessoa é verdadeiramente
humilde, submete-se a todos." "Considerai-vos não apenas como uma
criadinha, mas como uma escrava inútil, a quem todos tivessem o direito de dar
ordens e ela nenhuma razão para se queixar."
XVII. QUANDO TIVER OUTROS SOB
MINHA JURISDIÇÃO, NÃO LHES MANDAREI FAZER COISA ALGUMA ORDENANDO, SENÃO
PEDINDO.
"Suplico-vos, meu Jesus, que me envieis
uma humilhação cada vez que eu começar por considerar-me superior aos
outros." "Devemos pedir as coisas de que necessitamos com humildade,
como os pobres, que, quando são repelidos por aqueles a quem estendem a mão,
não se zangam, pois que ninguém lhes deve nada."
XVIII. CONSIDERAR-ME-EI SEMPRE
UM GRANDE PECADOR, AINDA QUE DE NADA ME ACUSE A CONSCIÊNCIA.
"Bem sabeis, Senhor, que
eu vos amo, mas tende compaixão de mim, que sou uma grande pecadora!"
"Se eu estivesse em
lugar de N., há muito tempo que me teria perdido na vasta floresta deste
mundo."
"Jesus me perdoou
antecipadamente os pecados que eu teria de cometer."
XIX. ESFORÇAR-ME-EI POR NÃO ME
ABORRECER NEM IMPRESSIONAR QUANDO OS OUTROS DISSEREM OU PENSAREM MAL DE MIM.
"A humildade não
consiste apenas em dizeres que estás cheio de defeitos, mas em gostares que os
outros o digam e pensem."
XX. QUANDO ME ASSALTAR TENTAÇÃO
DE VANGLÓRIA PROVENIENTE DE ELOGIOS OU COISA EQUIVALENTE, LEMBRAR-ME-EI DAS
MINHAS MISÉRIAS PASSADAS E PRESENTES.
"...os elogios não me
envaidecem porque penso constantemente nas minhas misérias."
"Eu vos peço, ó meu
Deus, que o óleo dos louvores, tão doce à natureza, não me amoleça a cabeça,
quero dizer, o meu espírito, persuadindo-me que já possuo virtudes que apenas
pratiquei algumas vezes. (salmo CXL)
XXI. NÃO ATRIBUIREI AS MINHAS
FALTAS A CAUSAS FÍSICAS - ENFERMIDADES, INTEMPÉRIES, ETC. -, SENÃO ÀS PRÓPRIAS
IMPERFEIÇÕES, SEM CONTUDO DESANIMAR.
"Quando cometermos uma
falta, não a atribuamos a uma causa física qualquer, como, por exemplo, a uma
doença ou ao mau tempo, mas às nossas imperfeições, sem entretanto nos
desencorajar nem entristecer."
"...humilhar-se e
suportar com doçura as imperfeições, eis a verdadeira santidade."
XXII. POR AMOR DE DEUS
PREFERIREI SEMPRE O ÚLTIMO LUGAR AO PRIMEIRO.
"Por ti, Jesus, eu quero
viver sempre oculta sobre a terra, ser em tudo a última."
"Desde que Ele nos veja
convencidos de que somos nada, estende-nos a mão. Se, porém, procurarmos fazer
algo de grandioso, mesmo sob pretexto de zelo, deixa-nos a sós." "A
única coisa que não é passível de inveja é o último lugar; tudo o mais está
sujeito às vaidades e ao desassossego."
MORTIFICAÇÕES
XXIII. FAREI CONSISTIR AS
MINHAS PENITÊNCIAS OU MORTIFICAÇÕES ORDINÁRIAS NÃO EM MACERAÇÕES, JEJUNS,
VIGÍLIAS, ETC., MAS EM COISAS PEQUENINAS, COMO, POR EXEMPLO, REPRIMIR O AMOR
PRÓPRIO, REPRESA UMA PALAVRA ÁSPERA, NÃO ME QUEIXAR, OBSEQUIAR INDISTINTAMENTE
A QUEM QUER QUE ME PROCURE, ETC.
"Longe de imitar as
belas almas que desde a sua infância praticam toda sorte de macerações, eu
fazia consistir as minhas unicamente em quebrantar a vontade, reter uma palavra
de réplica, prestar pequeninos obséquios sem os fazer valer e mil outras coisas
deste gênero." "é necessário encontrar em tudo abnegação e
sacrifício; assim, me parece que uma carta escrita sem certa repugnância e pelo
único motivo de obedecer não produzirá fruto algum. Sempre que trato com uma
noviça, procuro mortificar-me, evitando, por exemplo, dirigir-lhe perguntas que
viriam satisfazer a minha curiosidade. Dando-se o caso de ela cortar um assunto
interessante e passar a outro enfadonho, sem esgotar o primeiro, tomo cuidado
por não a fazer reparar nesta interrupção, porque, a meu ver, nenhum bem pode
fazer quem se busca a si mesmo."
Ver outras mortificações nos textos em abono do princípio XXV.
XXIV. ESFORÇAR-ME-EI POR
DISFARÇAR, ATRAVÉS DE UM CONSTANTE BOM HUMOR, OS MEUS SOFRIMENTOS E
MORTIFICAÇÕES.
"Jesus ama os corações
alegres. Quando aprendereis a ocultar-lhe as vossas penas, ou a dizer-lhe
cantando que vos sentis feliz por sofrer por Ele?" "O rosto é o
reflexo da alma; portanto, deveis conservar o semblante calmo e sereno como uma
criancinha, que está sempre contente. Quando estiverdes só, procedei do mesmo
modo, visto que estais continuamente na presença dos anjos." "Eu me esforçava
por sorrir em meio aos sofrimentos, a fim de que Nosso Senhor, como que
enganado pela expressão do meu rosto, não soubesse que eu estava
sofrendo."
Esteada na Escritura, assim justificava o seu proceder: "'Conheço
uma fonte onde depois que a gente bebe, ainda tem sede' (Eclo 24,20): é o
sofrimento conhecido só por Jesus."
"No tempo em que minha
irmã Maria do Sagrado Coração era provedora, punha todo o empenho em tratar-me
com ternura maternal, a tal ponto que me podiam julgar muito mimada.
Entretanto, quantas mortificações não me obrigou a fazer, pois me servia de
acordo com os seus gostos pessoais, que eram inteiramente opostos aos
meus." O seu estômago delicado (narram as suas companheiras) dificilmente
se acomodava com a alimentação frugal do Carmelo, e certos manjares lhe
causavam até enjôo e repugnância; ela, porém, o disfarçava com tanta
habilidade, que nunca houve quem desse por isso.
XXV. OBEDECEREI AOS MEUS
SUPERIORES COMO UM ESCRAVO, SEM ME QUEIXAR NEM DISCUTIR O PORQUÊ DAS SUAS
ORDENS.
"Tomei a resolução de
nunca considerar se as ordens que me davam eram úteis ou não." "Vós
vos devíeis considerar não apenas como uma simples criadinha dos doentes (dizia
ela a uma enfermeira), mas como uma verdadeira escrava, a quem todos tivessem o
direito de dar ordens e ela nenhum direito de se queixar." "Só pela
humildade se pode atingir esse grau de obediência. Quando somos humildes,
facilmente nos deixamos governar por todos."
ORAÇÃO
XXVI. NÃO PODENDO FAZER NADA
SOZINHO (CF. JO 15,5) FAREI DA PRECE O PÃO COTIDIANO DO MEU ESPÍRITO.
"Constituem a prece e o
sacrifício toda a minha força; são armas invencíveis que, mais do que as
palavras - eu o sei por experiência - podem tocar os corações." "Quão
grande é o poder da oração! Dir-se-ia uma rainha que tem sempre livre acesso
junto ao rei, podendo obter dele tudo o que pedir." "Não é
necessário, para sermos ouvidos, ler num livro belas fórmulas compostas
conforme as circunstâncias; se assim fosse, ai de mim! Costuma fazer como as
criancinhas, que não sabem ler; digo simplesmente a Nosso Senhor tudo o que
desejo, e Ele sempre me compreende." "A prece é, a meu ver, um ímpeto
do coração, um simples olhar para o céu, um grito de reconhecimento e de amor,
assim na prova como na alegria! É enfim alguma coisa de sublime e sobrenatural
que dilata a alma e a une a Deus. Por vezes, quando me encontro em grande
secura espiritual, e não posso conceber nenhum pensamento bom, digo apenas um
Pater e uma Ave Maria; essas duas preces me arrebatam, nutrem divinamente a
minha alma e a satisfazem."
Vantagens da oração, segundo
ela: "Não foi na oração que São Paulo, Santo Agostinho, São Tomás de
Aquino, São João da Cruz, Santa Teresa e tantos outros servos de Deus foram
buscar essa prodigiosa ciência, que arrebata os mais atilados dos gênios? Disse
um sábio que 'se lhe dessem um ponto de apoio, ele levantaria o mundo.' Pois
bem, o que não conseguiu Arquimedes, alcançaram-no plenamente os santos. O
Todo-Poderoso deu-lhe um ponto de apoio, que é Ele mesmo e só Ele! Deu-lhes por
alavanca a oração, que tem a virtude de abrasar em incêndios de amor; e desta
sorte lograram levantar o mundo."
PUREZA
XXVII. NO JARDIM DO MEU CORAÇÃO
A MINHA FLOR PREDILETA HÁ DE SER A PUREZA COMPATÍVEL COM O ESTADO DE VIDA QUE
ABRACEI.
"Façamos do nosso
coração um canteiro de delícias, onde o nosso doce Salvador venha repousar;
plantemos aí belos lírios de pureza..."
"Os corações mais puros
são muitas vezes os mais provados pela tentação; não raro estão nas trevas,
pensam então haver perdido a sua pureza e que os espinhos que os cercam já
dilaceraram a sua corola. Engano: os lírios que estão no meio dos espinhos são
os mais preservados; é neles que Jesus se delicia: 'Bem-aventurado aquele que é
digno de sofrer tentação' (Tg 1,12). "Fazer o que estiver ao vosso alcance
por desapegar o vosso coração das afeições terrenas, particularmente das
criaturas, e podeis ter certeza que Jesus fará o resto."
SIMPLICIDADE
XXVIII. NA PRÁTICA DA VIRTUDE
EVITAREI A TODO CUSTO A SINGULARIDADE, A FIM DE NÃO DESPERTAR A CURIOSIDADE OU
A INVEJA DOS OUTROS.
"É necessário que as
almas pequenas não me possam invejar em nada." "longe de imitar as
belas almas que desde a sua infância praticam toda a sorte de macerações, eu
fazia consistir as minhas em quebrantar a vontade, reprimir uma palavra de
réplica, prestar pequenos obséquios, sem os fazer valer, e mil outras coisas
deste gênero." (Ver o Princípio XXIV) "No meu Caminho tudo é fácil de
suportar, e isso é o bastante." "Às almas simples não se devem impor
meios complicados, e, como eu sou deste gênero, Nosso Senhor me inspirou um
meio muito fácil de cumprir as minhas obrigações." "Ele me fez
compreender esta palavra dos Cânticos, 1,3: 'Nós corremos após de ti ao odor
dos teus perfumes.' " "é preciso ir até aonde possam chegar as próprias
forças sem se queixar."
Uma das religiosas que lhe eram vizinhas à mesa tentou em vão
descobrir quais eram as suas iguarias mais apetecidas. E as irmãs que lidavam
na cozinha, vendo como se satisfazia com qualquer bocado, serviam-lhe
invariavelmente os sobejos.
TENTAÇÕES
XXIX. NAS TENTAÇÕES, LONGE DE
ENFRENTAR O TENTADOR, PREFERIREI COMBATÊ-LO PELO DESPREZO, DANDO-LHE AS COSTAS.
"Sempre que me vejo
salteada ou provocada pelo inimigo, porto-me como soldado valente: sabendo que
o bater-se em duelo é covardia, dou logo as costas ao adversário e corro
pressurosa para Jesus, protestando-lhe estar pronta a derramar até a última gota
o meu sangue para confessar a existência do céu..."
XXX. HEI DE SERVIA A MEU DEUS
SEM LEVAR EM CONTA AS CONSOLAÇÕES OU SECURAS QUE ELE ME ENVIAR.
"É tão doce servir a
Deus nas trevas e nas provações!" "Quando sinto aridez ou secura, e
me julgo incapaz de orar ou praticar atos de virtude, busco então as pequeninas
ocasiões, pequenos nadas, para causar prazer a Jesus; por exemplo: um sorriso
ou uma palavra amável, quando desejava calar ou mostrar-me aborrecida. E se nem
essas ocasiões me é dado encontrar, procuro ao menos dizer-lhe muitas vezes que
o amo..."
"Eu bem poderia atribuir
a minha secura espiritual à falta de fervor e de fidelidade; deveria afligir-me
por dormir freqüentemente durante a meditação e a ação de graças. Mas, pelo
contrário, não me penalizo por isso, porque penso que as criancinhas tanto
agradam a seus pais dormindo como acordadas. Estou que o Senhor conhece a nossa
fragilidade e sabe que somos apenas poeira."
ZELO
XXXI. UM DOS MEUS MAIORES
EMPENHOS SERÁ A CONVERSÃO DOS PECADORES E A FORMAÇÃO DO CLERO.
Interrogada, no exame
canônico, sofre que motivos a levaram a fazer-se carmelita, a Santa respondeu:
"Vim para salvar as almas e sobretudo orar pelos padres."
Em carta ao Pe. Rouland
acentua: "Julgar-me-ei verdadeiramente feliz de trabalhar com V. Rev.ma.
na salvação das almas, foi para isso que me fiz carmelita." Ao mesmo
sacerdote: "Quisera salvar almas e esquecer-me de mim mesma por elas;
quisera salvá
CONCLUSÃO
Nos 31 princípios que aí ficam procuramos encerrar senão toda a
doutrina da Infância Espiritual, segundo a Doutora de Lisieux, pelo menos a
essência desta doutrina. E é o quanto basta, cremos nós, para o fim a que se
destinam tais princípios.
Para não avolumar demais o
nosso trabalho, não citamos todas as sentenças com que a Santa abona os
princípios formulados, senão apenas algumas. Em uma palavra: esforçamo-nos por
dizer muito em poucas páginas. A Doutora de Lisieux ou a Santidade ao alcance
de todos ganhará talvez, assim, em intensidade o que perdeu em quantidade.
Trata-se de um simples vade-mecum, de fácil manuseio, pequenino materialmente
como espiritualmente o deverão ser todos aqueles que desejarem ingressar na
Escola da Infância: "Quem for pequenino, venha a mim." (Prov. 9,4)
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