quinta-feira, 16 de agosto de 2012


 17 DE AGOSTO
PREPARANDO-NOS PARA A SOLENIDADE DA 
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

    O Senhor só esteve três dias no sepulcro, logo ressuscitou e subiu aos Céus.
    A morte da Senhora mais parece também um sono breve. E é por isso que lhe chamam "dormitio", dormição. Antes de a corrupção lhe poder tocar no corpo imaculado, Deus ressuscitou-A e glorificou-A nas Céus. A dormição, ressurreição e assunção da Virgem SS formam o tríplice objeto da festa. Não tendo o pecado penetrado nunca na Sua alma puríssima, era conveniente que o Seu corpo, isento de toda a mancha e do qual o Verbo se dignou incarnar, não chegasse a sofrer a corrupção do túmulo.
     A 1º de Novembro de 1950, o Santo Padre Pio XII definiu o dogma da Assunção as SS Virgem Maria. Proclamava assim solenemente que a crença segundo a qual Maria, ao fim da vida terrestre, foi levada em corpo e alma à glória do Céu, faz realmente parte do depósito da fé, recebido dos Apóstolos. "Bendita entre todas as mulheres", em razão da Sua maternidade divina, a Virgem Imaculada, que desde a Sua Conceição tivera o privilégio de ser isenta do pecado original, não devia conhecer a corrupção do túmulo.
     Para evitar qualquer dado impreciso, o Papa absteve-se inteiramente de determinar o modo e as circunstâncias de tempo e lugar em que a Assunção deveria ter-se realizado: somente o fato da Assunção, em corpo e alma, à glória do Céu, constitui o objeto da definição. Aliás, um dos traços mais marcantes e autênticos do autêntico Catolicismo é este: nele, ainda quando não se têm os instrumentos teológico-filosóficos necessários para elucidar de todo uma questão, um senso especial de prudência impede que se dê o passo derradeiro para o abismo.
     Também a Missa, se contenta em por em evidência a Assunção em si mesma com suas conveniências teológicas. Ela vê Maria glorificada na Mulher descrita no Apocalipse, na Filha do Rei vestida num manto de ouro do Salmo 44, na Mulher que, com seu Filho, será a inimiga vitoriosa do demônio, do Gênesis. Aplica-se os louvores cantados a Judite triunfante, e, sobretudo, vê a Assunção o coroamento de todas as glórias que procedem da maternidade divina e que Maria cantou ela mesma no seu Magnificat. As orações fazem-nos pedir a Deus a graça de podermos, como a SS Virgem, estar continuamente voltados para as coisas do Alto, esperar a ressurreição feliz e partilhar da sua glória no Céu.
     Na liturgia encontra-se o culto da Assunção desde o século VI no Oriente. Em Jerusalém, comportava uma procissão ao túmulo da Virgem. Esta procissão estendeu-se à Constantinopla. Em Roma, do século VII ao XVI constituía uma das "procissões de ladainhas" e tinha lugar na basílica de Santa Maria Maior.
     São Jerônimo afirma que Maria subiu ao Céu no dia 18 das calendas de Setembro [15 de Agosto]: "Se alguns dizem que quem ressuscitou na mesma época que Cristo conheceu a Ressurreição perpétua, e se alguns acreditam que João, o guardião da Virgem, teve sua carne glorificada e desfruta da alegria celeste ao lado do Cristo, por que não acreditar com mais forte razão que o mesmo acontece com a mãe do Salvador? Aquele que disse: "Honre seu pai e sua mãe" (Êxodo 20, 12), e "Não vim destruir a lei, mas cumpri-la" (Mateus 5, 17), certamente honrou Sua mãe acima de todas as coisas, e por isso não duvidamos que o mesmo aconteceu com a bem-aventurada Maria?.
     S. Agostinho não só afirma a mesma coisa, como também dá três provas disto.
     A primeira é que a carne de Cristo e a da Virgem são apenas uma: "Já que a natureza humana está condenada à podridão e aos vermes, e que Jesus foi poupado desse ultraje, a natureza de Maria também está imune a isso, pois foi nela que Jesus assumiu a sua natureza". A Segunda razão é a dignidade de seu corpo: "O trono de Deus, o leito nupcial do Senhor, o tabernáculo de Cristo, deve estar onde Ele próprio está, pois é mais digno conservar este tesouro no Céu do que na Terra?". A terceira razão é a perfeita integridade de sua carne virginal. Ele diz a propósito:
     "Alegre-se, Maria, de uma alegria indizível em seu corpo e em sua alma, em seu próprio filho Cristo, com se próprio filho e por seu próprio filho, pois a pena da corrupção não deve ser conhecida por aquela que não teve sua integridade corrompida quando gerou seu filho. Será sempre incorrupta aquela que foi cumulada de tantas graças, que viveu íntegra, que gerou vida em total e perfeita integridade, que deve ficar junto daquele a quem carregou em seu útero, a quem gerou, aqueceu, nutriu à Maria, mãe de Deus, nutriz escrava de Deus.
     Por tudo isso não ouso pensar de outra maneira, seria presunção dizer diferente.Ela foi levada ao Céu alegremente, como diz o bispo e mártir S. Geraldo em suas homilias: "Neste dia os Céus receberam a Bem-Aventurada Virgem alegremente com os Anjos regozijando, os Arcanjos jubilando, os Tronos animando-se, as Dominações celebrando-A em cânticos, os Principados unindo suas vozes, as Potências acompanhando com seus instrumentos musicais, os Querubins e os Serafins entoando hinos, e todos conduzindo até o elevado trono da divina Majestade (Lucas I, 67).
     Ela foi levada ao Céu honrosamente, pois o próprio Jesus e toda a milícia celeste foram ao encontro dela. Diz S. Jerônimo: "Quem pode imaginar a glória de que a rainha do mundo foi cercada quando de sua passagem? Que afeto devoto dedicaram-lhe a multidão de legiões celestes que foram ao seu encontro! Como eram belos os cânticos que a acompanhavam até o seu trono! Que fisionomia tranqüila, que rosto sereno, que olhar elevado quando do braço de seu divino filho que a exaltava acima de todas as criaturas!
     Acredito que neste dia a milícia dos Céus foi festivamente encontrar a mãe de Deus cercando-a de imensa luz e conduzindo-a com loas e cânticos até o trono de Deus. A milícia da Jerusalém celeste estremeceu de inefável alegria, de indizível prazer, de imensa júbilo. Essa festa, que acontece apenas uma vez ao ano para nós, é ininterrupta nos Céus, com o próprio Salvador estando com ela durante toda a festa e colocando-a com alegria junto dele no trono. Se fosse diferente, não teria cumprido sua própria lei que diz: "Honre seu pai e sua mãe".
   O bem-aventurado S. Geraldo mostra em sua homilias o quanto ela foi celebrada na glória celeste: "Somente o Senhor Jesus Cristo poderia engrandecê-la com o fez, para que ela recebesse da própria majestade louvor e honra  s, rodeada pelos coros angélicos, cercada pelas tropas arcangélicas, acompanhada pelo júbilo dos Tronos, no meio do entusiasmo das Dominações, cercada pela deferência dos Principados, aclamada pelas Potências, honrada pelas Virtudes, cantada pelos hinos dos Querubins e pelos cânticos indescritíveis dos Serafins. A própria e inefável e eterna Trindade alegra-se com ela, aplaude, cobre-a com a sua graça que excede a todos.
     O ilustríssimo grupo dos apóstolos louva e exalta a Virgem de forma inefável, toda a multidão dos mártires dirige súplicas a tão grande senhora, o inumerável exército dos confessores dirige-lhe magníficos cantos?.
     O Senhor disse a Pedro: Sepulte o corpo de minha mãe com o maior respeito, e guarde-o cuidadosamente durante três dias, pois então virei e o transportarei para o lugar onde não existe corrupção e o revestirei de claridade semelhante à minha pois é conveniente que haja acordo entre o que foi recebido e o que recebeu.
     S. João Damasceno, de origem grega, conta coisas maravilhosas a respeito da santíssima Assunção. Em um de seus sermões ele diz: "Mas como a morte poderia se impor  aquela que é verdadeiramente bem-aventurada, que ouviu a voz de Deus, que carregou a misericórdia do Pai em seu útero, que concebeu sem contato com homem, que deu a luz sem dor? Como a corrupção ousaria alguma coisa sobre um corpo que carregou a própria vida"
     O Damasceno diz ainda em outro sermão: "O seio da terra não podia reter o santuário de Deus, a fonte inviolada. Era adequado que a Mãe fosse elevada pelo Filho, que subisse para ele como ele descera nela, de que a Mãe usufruísse do que pertence ao Filho".
     S. Agostinho também trata em um sermão, com muitos argumentos, da santíssima assunção: "Antes de falar do santíssimo corpo da perpétua virgem e da Assunção de sua alma sagrada, digamos primeiro que a Escritura não se refere a ela depois que o Senhor na cruz recomendou-a ao discípulo, a não ser aquilo que Lucas relata nos Atos Dos Apóstolos: "Todos perseveraram, unanimemente, na prece com Maria, mãe de Jesus". Que dizer então de sua morte? Que dizer de sua Assunção? Já que a Escritura se cala, deve-se pedir razão que nos guie para a verdade.
     Portanto, que a verdade seja a nossa autoridade , pois sem ela não há autoridade. Baseados no conhecimento da condição humana é que não hesitamos em dizer que ela sofreu morte temporal, mas se dizemos que ela foi alimento da podridão, dos vermes e da cinza, devemos considerar se esse estado convém à sua santidade e as prerrogativas desta casa de Deus. Sabemos que foi dito ao nosso primeiro pai: "Você é pó e ao pó voltará". A carne de Cristo escapou dessa condição pois não foi submetida ``a corrupção, foi poupada da sentença geral que foi tomada da Virgem. O Senhor disse também à mulher: "Multiplicarei suas misérias e você dará à luz com dor". Maria teve sofrimentos, uma espada transpassou sua alma, contudo deu à luz sem dor.
     Assim, partilhando as tribulações de Eva, Maria não partilhou as do parto com dor. Ela foi uma exceção da regra geral, gozou de grande prerrogativa, sofreu da morte sem ser aprisionada pôr ela.. Não seria uma impiedade dizer que Deus não tenha querido poupar o corpo de sua mãe da podridão, da mesma forma que quis conservar intacto o pudor de sua virgindade? Não cabia à bondade do Senhor conservar a honra de sua mãe, pois ele viera não para destruir a lei, mas para cumpri-la? Se Ele a honrou durante sua vida mais que a qualquer outra pessoa, pela graça que lhe fez de o conceber, é ato piedoso crer que a honrou também em sua morte com a preservação particular e uma graça especial.
     A podridão e os vermes são a vergonha da condição humana, e se Jesus esteve isente deste opróbio, Maria também, já que Jesus nasceu dela. A carne de Jesus é carne de Maria, que Ele elevou acima dos astros, honrando com isso toda a natureza humana, mas sobretudo a de sua mãe. Se o filho tem a natureza da mãe, é conveniente que a mãe possua a natureza do filho, não quanto unidade da pessoa, mas quanto à natureza corporal. Se a graça pode fazer que haja unidade sem que haja comunidade de natureza, com mais razão quando há unidade na graça e no nascimento corporal. Há unidade de graça, como as dos discípulos com Cristo. Ele mesmo diz: "Afim de que eles sejam um como nós somos um", ou, em outro lugar: "Meu Pai, quero que eles estejam comigo em todo o lugar que eu estiver".
     Se Ele quer Ter consigo aqueles que, reunidos pela fé, formam com Ele uma mesma pessoa, que dizer em ralação à sua mãe, cujo lugar digno para estar só pode ser em presença de seu filho? Tanto quanto posso crer, a alma de Maria é honrada pôr seu filho com uma prerrogativa ainda superior, já que ela possui um Cristo o corpo desse filho que ela gerou com os caracteres da glória. E pôr que esse corpo não seria o seu, já que ela o concebeu? Se uma autoridade maior não o negar. Creio que foi pôr Ele que ela gerou, pois tão grande santidade é mais digna do Céu do que da Terra. O trono de Deus, o leito do esposo , a casa do Senhor, o tabernáculo de Cristo, tem o direito de estar onde ele próprio está.
     O Céu é mais digno de conservar tão precioso tesouro. Como a incorruptibilidade, a dissolução causada pela podridão é conseqüência direta de tanta integridade, não imagino que esse santíssimo corpo poderia ser abandonado com alimento dos vermes. Mas as graças incomparáveis que lhe foram concedidas permitem-me rejeitar esse pensamento, baseado em várias passagens da Escritura. A Verdade disse a seus ministros: "Onde estou, ali estará também o meu ministro".
     Se essa sentença geral referem-se a todos os que servem a Cristo pôr sua crença ou pôr suas obras, aplica-se especialmente, sem a menor dúvida, a Maria, que o ajudou pôr todas as suas obras: carregou-O , deitou-O na manjedoura, oculto-O na fuga para o Egito, guiou seus passos na infância , seguio-O até a cruz. Ela não podia duvidar de que ele fosse Deus, pois sabia tê-lO concebido não por sêmen viril, mas pela aspiração divina. Ela não duvida que seu filho tem poder de Deus, daí ter-Lhe dito: "Eles não tem vinho", sabendo que Ele poderia, com um milagre, produzi-lo. Portanto, Maria foi, por sua fé e suas obras, servidora de Cristo. Mas se ela não está onde Cristo quer que estejam seus ministros, onde então estaria?
     E se está ali, é com a mesma graça dos outros? E se é com a mesma graça, como fica a igualdade diante de Deus que dá a cada um conforme seus méritos? Se foi por mérito que Maria recebeu em vida tanta graça, esta poderia ser menor quando morta? Certamente não! Se a morte de todos os santos é preciosa, a de Maria é preciosíssima. Assim, penso que Maria, elevada as alegrias da eternidade pela bondade de Cristo, foi ali recebida com mais honras que os outros, e ela não teve de sofrer depois da morte o mesmo que os outros homens, podridão, vermes e pó, pois ela gerou o Salvador de si mesma e de todos os homens.
     Se a divina vontade escolheu manter intactas na meio das chamas as vestes das crianças, por que não preservaria as de sua própria Mãe? A misericórdia que quis manter Jonas vivo no ventre da baleia não concederia a Maria a graça da incorrupção? Daniel foi preservado apesar da grande fome dos leões, e Maria não teria sido conservada pelos méritos que a dignificavam?
     Portanto, reconhecendo que tudo o que dissemos ocorreu contra as leis da natureza, não podemos duvidar de que a integridade de Maria, deveu-se mais à graça que à natureza. Cristo, como filho de Maria, fez com que a alegria dela decorresse da alma e do corpo de seu próprio filho, que não a submeteu ao suplício da corrupção para dar à luz íntegra, sempre incorrupta, cheia de graça, e vivendo integralmente porque gerou aquele que é a vida íntegra de todos.


BEATO ÂNGELO MAZZINGHI, 
presbítero
Memória facultativa: O. Carm.

Nasceu em Florença ou perto desta, em data desconhecida, mas certamente antes de 1386. Foi o primeiro filho da Reforma de Santa Maria das Selvas, da Ordem Carmelita. Foi várias vezes prior em conventos da sua Ordem e distinguiu-se na pregação da palavra de Deus. Morreu em Florença em 1438. O seu culto foi confirmado por Clemente XIII a 7 de Março de 1761.

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