MÊS DO SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS
Vigésimo quarto dia
Quatro obstáculos
aos frutos abundantes da devoção ao Sagrado Coração de Jesus
É o primeiro a tibieza, estado bem triste.
A alma tíbia só faz o que não pode omitir. Sem caridade, sem fervor, a si
própria é pesada, e, em lugar de progredir no caminho da virtude, recua. Tanto
mais deplorável é este estado, quanto menos perigoso o julgamos. Evitamos os pecados
grosseiros, e cremo-nos por isso em segurança; mas é porque esquecemos o que
diz o Senhor no Apocalipse: "Por seres tíbio, lançar-te-ei de minha
boca". Como se quisesse dizer: "Não mereces viver em mim;
não terás acesso até meu Coração, porque me retribuis a ternura com frieza
criminosa." Confissões sem emenda, comunhões sem fruto, são as consequências
comuns de tão desgraçado estado.
O amor próprio é o segundo obstáculo. A
observância do Evangelho encerra-se toda nesta palavra de Jesus Cristo: "Se
alguém quiser seguir-me, renuncie a si próprio, tome sua cruz, e
siga-me"... Nisto, porém, poucos são os que pensam seriamente. Não
gostam senão das virtudes que lhes agradam e combinam com seu humor; como pode,
porém, um coração assim disposto unir-se com o Sagrado Coração de Jesus?
O terceiro obstáculo é alguma paixão
favorita que poupamos e não queremos sacrificar. Por mais que se domem quase
todas, ficando uma só deste gênero, torna-se impossível a união dos corações.
Examinai de boa fé qual é a que reservais, e sacrificai-a generosamente ao
Coração de Jesus. Menos vos custará, acreditai, renunciar a ela, do que satisfazê-la.
O quarto obstáculo é um orgulho secreto.
Vencem-se e enfraquecem-se os outros inimigos pela prática das virtudes, ao
passo que este se fortifica com elas. Pode-se dizer que de todos os vícios
nenhum há que tanto tenha paralisado as almas no caminho da piedade, e da mais
alta perfeição as tenha abismado na tibieza e até na desordem, como o orgulho.
Deste espírito de vaidade procede o
imoderado desejo que temos de aparecer, de sair bem do que empreendemos, e,
também, a tristeza e desânimo em que caímos depois dos reveses; o entusiasmo
que sentimos quando nos dão louvores.
Tal espírito insinua-se até no exercício
das maiores virtudes; somos mortificados, obsequiosos, honestos, delicados,
caridosos, cheios de zelo pela salvação, meditação, etc., mas gostamos também,
(dizemos) para edificação do próximo, que sejam conhecidas estas nossas
qualidades.
É do orgulho que dimanam as susceptibilidades
em pontos de honra, esfriamentos, pesares que tanto se aproximam da inveja, bem
como a pena oculta que nos causam os triunfos dos outros, que buscamos
amesquinhar, e a extrema tristeza e desalento que experimentamos quando resvalamos
em alguma falta semelhante.Em suma, passamos por espirituais, supomo-nos tais,
e só nos conduzimos pela prudência mundana; a superfície espiritual encobre
paixões reais: e na hora da morte, pessoas que julgamos encarre-gadas de
riquezas espirituais, acham-se com as mãos vazias de boas obras; porque certo
amor próprio, ambiçãozinha e orgulho latente, tudo roubaram e corromperam. Eis
o verme que faz secar e tombar os mais altos e frondosos carvalhos.
LEIA, ABAIXO, A MEDITAÇÃO PARA A SOLENIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA
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