MÊS DO SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS
Primeiro dia
Origem e
estabelecimento da devoção ao Sagrado Coração de Jesus
A
devoção ao Sagrado Coração de Jesus é tão antiga como a Igreja: pois começou na
Cruz, onde este divino Coração, traspassado pelo ferro da lança, desde então
abriu para os fiéis um asilo inviolável. Quem poderá duvidar que os primeiros
cristãos, os mártires, beijando com aquela fé, com aquele amor que os fazia
triunfar dos suplícios e até da morte, as chagas de Jesus crucificado,
aplicando os lábios ao lado ferido do Redentor, meditando sua Paixão, não se
lembrassem de ao mesmo tempo de seu Coração, transbordando de amor, e cujas
chamas parece que se escapam pela ferida?
Assim é que os maiores Santos de todos os
séculos, tais como, por exemplo, Santo Agostinho, São Bernardo, São Boaventura,
Santa Gertrudes, Santa Matilde, Santa Catarina de Sena, penetraram o segredo
desta devoção muito antes que ela fosse revelada de modo especial.
Estava, todavia, reservado ao século XVII ver
tributado culto público ao Sagrado Coração de Jesus, e à França dar-lhe
nascimento. A pessoa de quem se serviu Deus para manifestar os desígnios de sua
misericórdia no estabelecimento desta devoção foi uma simples religiosa da
Visitação, de Paray-le-Monial, de nome Margarida Maria.
Nosso Senhor Jesus Cristo, que já a tinha
favorecido com preciosos dons, aparecendo-lhe um dia, disse-lhe: «Meu
Divino Coração está tão abrasado em amor pelos homens, que não podendo mais
conter em si as chamas de sua ardente caridade, lhe é necessário que as derrame
por qualquer meio, e se lhes manifeste, a fim de enriquecê-los com os tesouros
que em si encerra; tesouros cujo valor são graças de salvação e de
santificação, para tirá-los do abismo da perdição.»
Pouco
tempo depois, os desígnios do divino Salvador foram manifestados a Santa
Margarida Maria de um modo ainda mais claro.
Diz ela: "Estando diante do Santíssimo
Sacramento em um dia de sua oitava, recebi de meu Deus graças inefáveis.
Sentindo-me inflamada em desejos de retribuir-lhe amor com amor, disse-me Ele:
«Tu só poderás provar-me mais amor, fazendo o que tantas vezes te hei pedido».
E, mostrando-me seu divino Coração, disse-me: «Eis aqui o Coração que a tal
ponto amou os homens, que nada poupou, até esgotar-se e consumir-se, para
testemunhar-lhes seu amor; e entretanto só recebo da maior parte deles
ingratidões, pelas irreverências, sacrilégios, desprezo e tibieza com que me
tratam no meu Sacramento de amor. O que me é ainda mais sensível, é serem
corações que me foram consagrados, os que assim me tratam. Por isso te peço que
se dedique a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento a
uma festa particular com o fim de venerar o meu Coração, fazendo-lhe ato de
reparação, comungando-se nesse dia em desagravo pelas indignidades recebidas
durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares.» «Prometo que meu
Coração dilatar-se-á para difundir com
abundância os influxos de seu divino amor sobre todos quantos lhe tributarem
essa homenagem, e fizerem com que outros lha tributem.»
A humilde religiosa respondeu: "Mas,
Senhor, a quem vos dirigis? A tão pobre pecadora, cuja indignidade seria até
capaz de impedir a realização do vosso desígnio. Há tantas almas generosas que
o podem executar!"
Respondeu-lhe Nosso Senhor: «Ignoras
por ventura, que me sirvo do que é fraco para confundir os fortes, e que é
ordinariamente nos pequenos e pobres em espírito que manifesto meu poder com
mais esplendor, a fim de que nada atribuam a si próprios?»
Tornou a Irmã: "Dai-me pois, meios
para executar o que me ordenais". Jesus então acrescentou: «Dirige-te
a meu servo (padre la Colombiére) e dize-lhe da minha parte que faça tudo que
estiver a seu alcance para estabelecer esta devoção, e dar este prazer ao meu
Coração. Ele não desanime com as dificuldades que encontrar, e que por certo
não lhe faltarão; lembre-se antes que é todo-poderoso quem, de si desconfiado,
em mim confia inteiramente.»
O Padre de la Colombiére, que havia
experimentado com grande desvelo a santidade desta religiosa e conhecida por
sinais sensíveis a verdade de suas comunicações com Deus, julgou dever
contribuir para o estabelecimento de tão santa devoção, que nada tinha que a
fizesse suspeita.
Começou
por si, e quis ser o primeiro discípulo do Coração de Jesus e o primeiro
adorador, segundo as regras prescritas à Irmã Margarida Maria. Consagrou-se,
pois, a este Sagrado Coração, e ao amor que lhe é devido dedicou a sexta-feira
escolhida, 21 de junho de 1675, dia em que pôde considerar como o da primeira
conquista do Coração de Jesus.
Desde então, censurada e combatida, esta
devoção, como todas as obras do Senhor, estabeleceu-se afinal no mundo inteiro
com prodigioso êxito, principalmente depois que foi solenemente aprovada pelos
Sumos Pontífices. Assim se justificou a confiança com que Santa Margarida Maria
dizia: "Mesmo que eu visse o mundo em peso desencadeado contra esta
devoção, jamais perderia a esperança de vê-la fundada, visto que da própria
boca de meu Salvador recebi esta certeza".
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