quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

M E D I T A Ç Õ E S     Q U A R E S M A I S

O SERVO SOFREDOR - A história da paixão de Cristo III

Todos vós vos escandalizareis

      E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.  Então, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia. Disse-lhe Pedro: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo (Mateus 26.30-35).

     Tendo cantado um hino, saíram. Com este hino Jesus encerrou a cerimônia do comer o cordeiro pascal, conforme a lei de Moisés. Neste momento também havia instituiu o jantar do Novo Testamento, a Santa Ceia. Então orou fervorosamente por seus discípulos, conforme o lemos na oração sumo-sacerdotal, no evangelho de João capítulo 17. Os hinos cantados nesta ocasião eram, provavelmente, os Salmos 115 a 118. Leia-os com atenção. Então saíram. Era noite. Noite iluminada pela lua cheia.

     Jesus dirigiu-se com seus discípulos, como de costume, para o Monte das Oliveiras. Lugar onde, já durante toda a semana, orou antes de seguir para a casa de Lázaro, onde pousavam.

     Caminharam pensativos. Jesus estava preocupado com seus discípulos, que ainda nada compreenderam o que estava por acontecer. Será também essa nossa principal preocupação nestes dias da quaresma: a salvação da humanidade?

     Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas (Zc 13.7). Uma severa advertência. Os discípulos estavam há três anos em companhia de Jesus, mesmo assim, iriam fraquejar. Seria possível? O mestre o disse. Eles sabiam que a palavra do Mestre não falha. Mesmo assim, não a aceitam.

     O que fazem os discípulos? Fazem o que nós muitas vezes também fazemos. Revidaram a advertência. Os que há pouco se assustaram com a palavra de Jesus: Um de vós me trairá, cônscios de suas fraquezas, perguntando: Mestre sou eu? Agora não aceitam a advertência. Pedro olha para seus colegas e conclui: Estes são fracos, deles de fato nada se pode esperar, e diz a Jesus: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim. Pobre Pedro! Jesus olhou para ele e lhe disse sob juramento: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Em sua autoconfiança Pedro respondeu resoluto: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo (Mateus 26.32-35). Eles o disseram na sinceridade de seus corações, pois amavam o Salvador. Pobres discípulos.

     Como é necessário vigiar, para que nosso próprio coração não nos engane. Pensamentos e sentimentos são preza fácil de nossa natureza carnal, de onde procede a autoconfiança, o egoísta e a não aceitação da palavra de Deus, quer seja a advertência ou o consolo. Precisamos estar atentos à palavra de Deus escrita e pedir ao Espírito Santo que nos guie.

     Satanás por sua astúcia conseguiu enganar os discípulos. Firmaram-se em seus próprios pensamentos e suas próprias forças. A queda era inevitável. Por vezes o entusiasmo nos afasta de Jesus, outras vezes é o desânimo. Importa sempre examinar a razão de nosso proceder. Jesus orou por eles ao Pai, para que não permitisse que Satanás tivesse domínio sobre eles. Nesta oração também nós estamos incluídos.


DO OFÍCIO DE LEITURAS:
Das Homílias do Pseudo-Crisóstomo
(Séc. IV)

A oração é a luz da alma     A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por sua luz inefável. Falo da oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem interrupção.
     Com efeito, não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à oração; também no meio das mais variadas tarefas - como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo - é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus. E assim, todas as nossas obras, temperadas com o sal do amor de Deus, se tornarão um alimento dulcíssimo para o Senhor do universo. Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível.
     A oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e os homens. Pela oração a alma se eleva até aos céus e une-se ao Senhor num abraço inefável; como uma criança que, chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível.
     A oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Não penses que essa oração se reduza a palavras. Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: Nós não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis (Rm 8,26).
     Semelhante oração, quando o Senhor a concede a alguém, é uma riqueza que não lhe pode ser tirada e um alimento celeste que sacia a alma. Quem a experimentou inflama-se do desejo eterno de Deus, como que de um fogo devorador quê abrasa o coração.
     Praticando-a em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça. Enfeita-se com boas obras, quais plaquetas de ouro, ornamenta-se de fé e de magnanimidade em vez de paredes e mosaicos. Como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplêndido palácio real para o receber, e poderás tê-lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.

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