LETIO DIVINA PARA A
VI SEMANA DO TEMPO COMUM
«Fica Curado»
Sérgio Paulo Pinto
Narrando
a primeira etapa da atividade pública de Jesus, Marcos apresenta-nos o encontro
de Jesus com um leproso, um excluído, sem nome. A sua terrível doença tinha-o
convertido num marginalizado social e religioso. Afastado do convívio dos seus
e de Deus, estava condenado a viver isolado. Esta situação desesperada, sem
esperança, levou-o a Jesus: “Se quiseres, podes curar-me”. E este leproso soube
aproveitá-la para sua salvação. Jesus olhou-o compadecido, estendeu-lhe a mão,
tocou-lhe… e o milagre aconteceu: “Quero, fica limpo”. Seria uma pena se nós
não aproveitássemos este caminho de acesso a Jesus, como fez este leproso. Este
está disposto a oferecer-nos muito mais do que podemos imaginar.
Evangelho segundo S. Marcos (1, 40-45)
Naquele tempo, veio ter com Jesus um
leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-lhe: «Se quiseres, podes curar-me».
Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No
mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente,
despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao
sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de
testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que
acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade.
Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte.
PALAVRA
- Naquele tempo, veio ter com Jesus um
leproso.
Um
leproso só poderia ser um “grande pecador”… carregando tão horrível fardo por
castigo de Deus, segundo a mentalidade de então. O leproso é um impuro por
excelência, excluído da convivência dos seus, deveria andar em lugares
solitários, não poderia entrar na cidade e muito menos no templo; até o acesso
a Deus lhe estava vedado. É um “morto” civil e religioso, que não se podia
relacionar com ninguém. Ele deveria guardar distâncias e gritar “impuro,
impuro”, como ensina Lv 13,45, alertando, deste modo, quem andava por perto.
MEDITAÇÃO
Mas,
naquele dia, este leproso, vencendo a barreira da lei e da exclusão, não
respeitou a distância para as pessoas sãs, correu o risco de ser denunciado e…
veio ter com Jesus. Impensável para um “impuro”. O desespero impeliu-o a
tamanha loucura. Mas que tem ele a perder, se já nada lhe resta? E assim,
naquele dia, o impuro está diante do puro por excelência… e sem mediadores! Que
sucederá? Que fará Jesus? Nós já o sabemos; mas, porque tardo eu a ir ter com
Jesus? Por mais horrenda que seja a nossa “lepra”, que nos rouba o convívio com
os mais queridos e com o próprio Deus… nunca, nunca é tarde para ir ter com
Jesus. E o milagre acontecerá!
ORAÇÃO
Senhor
Jesus, tu conheces a minha miséria, conheces a “lepra” que me consome, que me
mantém afastado de ti e dos que mais amo. Mas hoje venho até ti, assim como
sou, assim como estou, talvez irreconhecível, desfiguradas as minhas mãos,
porque não constroem o teu reino, desfigurado o meu rosto, porque não reflete o
teu brilho, desfigurado o meu coração, porque se tornou mais frio, longe de ti
e dos irmãos… Mas, hoje, Senhor, venho até ti para reencontrar a pureza do meu
corpo e do meu coração. Perdoa a minha impureza e o meu atrevimento, mas hoje é
um dia especial: hoje estou contigo. É a minha grande oportunidade.
AÇÃO
Existem
hoje cada vez mais “leprosos”, que nós, legalmente correto, excluímos da nossa
sociedade, das nossas relações. Hoje não vou permitir que à minha volta se
alimentem sinais de exclusão.
PALAVRA
- Prostrou-se de joelhos e suplicou-lhe:
«Se quiseres, podes curar-me».
Curar
a lepra é uma ação exclusiva de Deus: “Serei eu Deus para dar a morte e a
vida?” (2Re 5,7), disse Eliseu a quem pretendia que libertasse Naamã da lepra.
O querer de Deus é dar a vida. O leproso quer ser purificado, mas como não
pode, confia a sua cura à vontade de Jesus.
MEDITAÇÃO
Este
leproso não se limitou a ir ter com Jesus. Certamente ouvira falar dele e
depositou nele toda a sua confiança, a sua vida, a sua razão de existir. Jesus
era a sua última esperança. Aquela era a sua grande oportunidade. Prostrou-se
de joelhos em terra, aceitando a decisão de Jesus, e depois, cheio de fé,
suplicou-lhe que o purificasse, que o retirasse do reino dos “mortos” e o
restituísse ao convívio dos vivos… “se quiseres, podes curar-me”. Este homem
soube depositar a sua sorte nas mãos de Jesus… e não saiu defraudado! Não será
isto que Jesus “quer”? Se ainda não conseguimos libertar-nos da nossa “lepra” é
porque, talvez, só nos preocupemos com o que “eu quero” e não nos atrevemos a
dizer: “Senhor, se quiseres…”. Depois, o resto já o sabemos!
ORAÇÃO
Senhor,
aqui me tens, de joelhos por terra, mãos estendidas para ti e olhos fixos nos
teus: “Se quiseres, podes curar-me”. Purifica-me, Senhor, restitui-me à vida,
restitui força aos meus braços, para me juntar aos teus, restitui amor ao meu
coração, para que a minha vida seja uma explosão desse amor, restitui-me à vida
dos irmãos, para que possa ser, entre eles, sinal de ti. Aqui me tens, Senhor:
“Se quiseres, podes curar-me”. Em ti deposito a minha esperança, a minha vida.
Senhor, “se quiseres…”.
AÇÃO
Dificilmente
poderemos ser grandes apóstolos, se não experimentarmos um verdadeiro encontro
com Jesus. Hoje vou ter com Jesus, prostrar-me diante dele e suplicar-lhe
humildemente que nos livre das nossas misérias: “Senhor, se quiseres podes
curar-me”. Podemos repetir ao longo do dia esta magnífica oração do leproso.
QUARTA FEIRA
PALAVRA
- Jesus, compadecido, estendeu a mão,
tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo».
Existe
uma relação estreita neste milagre, entre a palavra e o toque. O homem foi
transformado pela palavra que lhe toca o coração. A mão estendida indica a
intervenção de Deus para salvar o homem (Cfr. Ex 3,20). O Senhor toca o
intocável. Deus é Deus, essencialmente, pela sua misericórdia, que toca a nossa
miséria. “Fica limpo”: com a sua palavra, Deus criou o universo (Gn 1ss). Agora
recria-o igual a si.
MEDITAÇÃO
Se
antes o leproso havia transgredido a lei, agora é Jesus a fazê-lo: toca o
impuro, tornando-se Ele mesmo “impuro” aos olhos da lei. Aqui está a grande
novidade que Jesus veio trazer: nenhuma lei está acima do irmão, nenhuma lei é
de Deus se exclui o irmão da convivência com os seus e com o próprio Deus. Esta
é a lógica de Deus. Jesus não podia ficar indiferente a tão grande fé.
Toca-lhe. O tacto é o sentido que revela maior proximidade com a pessoa. Tocar
é o gesto fundamental de conhecimento recíproco. A fé é sermos tocados por
Jesus. E o que nos toca dentro, transforma decididamente a nossa existência,
como a daquele leproso. E Jesus diz: “quero”; o Senhor quer sempre; apenas
espera que também nós queiramos. Os milagres mostram que Deus quer dar-nos o
que nem sequer esperamos: a nossa dignidade de filhos seus.
ORAÇÃO
Obrigado,
Senhor, sempre que me olhas, compadecido, para me compreender. Obrigado,
Senhor, quando me estendes a tua mão, para me transformar. Obrigado, Senhor,
quando me tocas, para me confortar. Obrigado, Senhor, quando me dizes: “Quero,
fica limpo”, para começar tudo de novo, como no primeiro amanhecer. Quanta
ternura de um pai, quanta humanidade de um Deus. Toca-nos, Senhor, toca-nos e
transforma-nos, toca-nos com o teu dedo criador e recria-nos igual a ti, para
que possamos olhar para tantos outros, rejeitados, com o mesmo olhar
compadecido com que nos olhas. Toca-nos, Senhor.
AÇÃO
Só
tocamos quem nos é próximo, conhecido. Certamente conheço alguém, próximo, que
seja motivo de exclusão. Somos convidados, por Jesus, a olhá-lo compadecido, a
estender-lhe a mão, a tocar-lhe e dizer-lhe: ‘quero’!
QUINTA FEIRA
PALAVRA
- No mesmo instante o deixou a lepra e ele
ficou limpo.
Jesus,
com esta ação, regenera a vida, é Deus, é o Senhor. O leproso curado é a figura
de todos os homens que recorrem a Jesus para receberem o dom da vida, livre da
morte.
MEDITAÇÃO
E
a lepra deixou-o e ele ficou limpo. A “lepra”, de qualquer tipo, já não exclui
da vida, porque é comunhão com Jesus, fonte de vida. O toque interior da sua
palavra purifica-nos e transforma-nos em filhos. O estado de “lepra” não será a
última palavra de Deus. Antes, aquele homem, com um misto de desespero e fé,
cai de joelhos em terra, sem saber que sorte lhe esperava; e agora, ergue-se da
terra como homem novo, ergue-se não um excluído, um solitário, mas um
discípulo. O deserto já não será a sua morada, mas sim o templo, as praças,
para anunciar Jesus; arredado da convivência com os seus, agora será o fermento
do Reino entre eles, o suporte da sua fé.
ORAÇÃO
Sempre
que me dirijo suplicante a ti, Senhor, encontro a força regeneradora da tua
mão, inunda-me o teu olhar compadecido, sinto esvair-se a minha miséria, e
ergo-me purificado, fortalecido com a tua palavra transformadora: “Quero, fica
limpo”. Como poderei agradecer tão grande dom, Senhor? Que tenho eu para dar?
No entanto, aqui me tens, ofereço-me a ti, Senhor, purificado, disposto a
transformar o impuro à minha volta, em puro, como o fizeste em mim.
AÇÃO
“No
mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo”. Que “lepra” carrego no meu
coração? Quero viver com ela, afastado de Deus e dos meus? Como posso ser
purificado? Vou deixar escapar esta oportunidade única de me encontrar com
Jesus?
PALAVRA - Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho».
Em
Marcos, evangelho do catecúmeno, é dominante o segredo missionário: não se pode
conhecer o Senhor antes da cruz. Daí a recomendação ao leproso que nada diga
(Cfr. Mc 1,34; 5,43; 7,36). Mostrar-se ao sacerdote era a prática da lei (Lv
13,49; 14,2-32; 17,14). Cabia ao sacerdote distinguir o que era santo e
profano, o que era puro e impuro (Cfr. Lv 10,10). Por isso, para que este homem
fosse reabilitado e reintegrado na santa assembleia de Israel, deveria passar
pelo sacerdote, e pelo consequente rito de purificação, prescrito em Levítico
14.
MEDITAÇÃO
Como
podia aquele homem calar semelhante alegria que lhe rebentava o coração? Como
calar a gratidão de ter sido readmitido à dignidade humana, com os seus e com
Deus, no templo? Jesus manda, também, que o leproso purificado cumpra as
práticas da lei, em reconhecimento do dom recebido. Deste modo, o leproso
testemunha aos sacerdotes que existe alguém entre eles que pode dar a vida;
eles compreenderão que Deus está presente no meio do povo, em Jesus. Deste
modo, este “impuro” dá testemunho de Jesus, transforma-se em fermento do amor e
da bondade de Deus. Assim, são os impuros agraciados, os melhores profetas de
Deus.
ORAÇÃO
Perdoa-me,
Senhor, mas que a minha boca não se canse de falar de ti. Quero correr para os
meus, que esperam ansiosos a minha presença, purificada, e correr para os
incrédulos, que duvidam da tua legitimidade, para que saibam que tu és o
Senhor, o Deus misericordioso que olha compadecido para as nossas misérias, que
nos toca bem dentro e nos transforma radicalmente, por muito horrenda que seja
a nossa “lepra”. Perdoa-me, Senhor, mas que a minha boca não se canse de falar
de ti.
AÇÃO
Existem
tantos incrédulos que, agarrados a preconceitos, condenam os irmãos a viverem
excluídos. Vou ter com eles e dar-lhes testemunho da lógica de Deus: também os
“impuros”, os excluídos são filhos de Deus e irmãos nossos.
PALAVRA
- Ele, porém, logo que partiu, começou a
apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar
abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter
com Ele de toda a parte.
MEDITAÇÃO
Quem
encontra a Jesus, quem nele põe toda a sua sorte, transforma-se no seu
testemunho mais eficaz. É impossível calar tamanha graça recebida. E o gesto de
Jesus foi motivo de louvor a Deus. O povo percebeu a mão de Deus presente entre
eles. Uma vez mais Deus dá provas de fidelidade à sua aliança. E, engraçado, os
papéis de Jesus e do leproso inverteram-se: antes o leproso andava só em
lugares desertos e Jesus circulava pelas cidades sem ser identificado; agora o
leproso circula pelas cidades apregoando o gesto de misericórdia de Jesus e
Jesus só pode andar por lugares desertos, pois a sua fama estendeu-se sem
limites. Jesus está agora no lugar de origem do leproso, onde há muitos mais,
como ele, excluídos, esquecidos pelos seus queridos… Jesus está ali onde já não
parece haver esperança… para mais uma vez estender a sua mão e dizer-te:
“Quero, fica limpo”.
ORAÇÃO
Tantas
vezes me olhaste compadecido, Senhor, me tocaste… e a minha vida ganhou outro
sentido. Não é possível calar semelhante alegria, pois se a minha boca se cala,
o meu coração grita agradecido aos quatro cantos… Há tantos outros, que
carregam as suas misérias, e esperam que lhes fale de ti, para que depositem só
em ti as suas esperanças. Transforma-me em teu discípulo eficaz, na cidade, no
templo, em toda a parte, onde existam excluídos, onde existam corações
esmagados pelas suas misérias. Senhor, que eu os olhe sempre, compadecido, e
lhes estenda a minha mão.
AÇÃO
Como
aquele homem, vou apregoar e divulgar quanto Jesus fez em mim, em ti. Vou
dizê-lo com a minha voz, com os meus gestos, com a minha vida.
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