São
João XXIII, papa
1ª
Leitura (Gal 3:7-14): Irmãos: Procurai compreender: Os verdadeiros
filhos de Abraão são os que vivem segundo a fé. Tendo a Escritura previsto que
Deus havia de justificar os gentios pela fé, anunciou previamente a Abraão esta
boa nova: «Em ti serão abençoadas todas as nações». Assim, os que vivem segundo
a fé são abençoados com Abraão, que acreditou. Na verdade, os que dependem das
obras da Lei de Moisés estão sob a maldição, porque está escrito: «Maldito
aquele que não cumpre tudo o que está escrito no Livro da Lei». Além disso, é
evidente que diante de Deus, ninguém é justificado pela Lei, porque a Escritura
diz: «O justo viverá pela fé». A Lei, porém, não se baseia na fé, porque diz:
«Quem cumprir aqueles preceitos viverá por eles». Mas Cristo resgatou-nos da
maldição da Lei de Moisés, tornando-Se maldição por amor de nós, como está
escrito: «Maldito aquele que é suspenso do madeiro». Assim, por meio de Jesus
Cristo, a bênção de Abraão se estendeu-se aos gentios e nós recebemos, pela fé,
o Espírito prometido.
Salmo
Responsorial: 110
R. O Senhor recorda a sua
aliança para sempre.
Louvarei o Senhor de todo o
coração no conselho dos justos e na assembleia. São grandes as obras do Senhor,
admiráveis para os que nelas meditam.
A sua obra é esplendor e
majestade e a sua justiça permanece eternamente. Instituiu um memorial das suas
maravilhas: o Senhor é misericordioso e compassivo.
Deu sustento àqueles que O temem
e jamais se esquecerá da sua aliança. Fez ver ao seu povo a força das suas
obras, para lhe dar a herança das nações.
Aleluia. Chegou a hora em que
vai ser expulso o príncipe deste mundo, diz o Senhor; e quando Eu for levantado
da terra, atrairei todos a Mim. Aleluia.
Evangelho
(Lc 11,15-26): Naquele tempo, depois de que Jesus expulsou um demônio,
alguns disseram: É pelo poder de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele
expulsa os demônios. Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. Mas,
conhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: Todo reino dividido internamente
será destruído; cairá uma casa sobre a outra. Ora, se até Satanás está dividido
internamente, como poderá manter-se o seu reino? Pois dizeis que é pelo poder
de Beelzebu que eu expulso os demônios. Se é pelo poder de Beelzebu que eu
expulso os demônios, pelo poder de quem então vossos discípulos os expulsam?
Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pelo dedo de Deus que eu
expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já chegou até vós. Quando um
homem forte e bem armado guarda o próprio terreno, seus bens estão seguros.
Mas, quando chega um mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura em
que confiava e distribui os despojos. Quem não está comigo é contra mim; e quem
não recolhe comigo, espalha. Quando o espírito impuro sai de alguém, fica
vagando por lugares áridos, à procura de repouso. Não o encontrando, diz: Vou
voltar para minha casa de onde saí. Chegando aí, encontra a casa varrida e
arrumada. Então ele vai e traz outros sete espíritos piores do que ele, que
entram e se instalam aí. No fim, o estado dessa pessoa fica pior do que antes.
«Alguns disseram: É pelo poder
de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios»
Rev. D. Josep PAUSAS i Mas (Sant
Feliu de Llobregat, Espanha)
Hoje, contemplamos comovidos como
Jesus é ridiculamente culpado de expulsar demônios: É pelo poder de Belzebu, o
chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios (Lc 11,15). É difícil imaginar
um bem maior, expulsar, afastar das almas ao diabo, o instigador do mal e, ao
mesmo tempo, escutar a acusação mais grave fazê-lo, precisamente, pelo poder do
próprio diabo. É realmente uma incriminação gratuita, que manifesta muita
cegueira e inveja por parte dos acusadores do Senhor. Hoje em dia, também, sem
perceber, eliminamos de raiz o direito que os outros têm a discrepar, a serem
diferentes e, a terem suas próprias posições contrárias e, incluso, opostas às
nossas.
Quem o vive fechado em um
dogmatismo político, cultural ou ideológico, facilmente menospreza ao que
discrepa, desqualificando todo seu projeto e negando-lhe competência e,
inclusive honestidade. Em tal caso, o adversário político ou ideológico
transforma-se no inimigo pessoal. O confronto degenera em insulto e
agressividade. O clima de intolerância e mútua exclusão violenta pode, então,
nos conduzir à tentação de eliminar de alguma maneira a quem se nos apresenta
como inimigo.
Nesse clima é fácil justificar
qualquer atentado contra pessoas, inclusive, os assassinatos, se o morto não é
dos nossos. Quantas pessoas sofrem hoje com esse ambiente de intolerância e
rechaço mútuo que frequentemente se respira nas instituições públicas, nos
locais de trabalho, nas assembleias e confrontos políticos!
Entre todos devemos criar as
condições e um clima de tolerância, respeito mútuo e confronto leal no qual
seja possível ir achando caminhos de diálogo. Os cristãos, longe de endurecer e
sacralizar falsamente nossas posições manipulando a Deus e identificando-o com
nossas próprias posturas, devemos seguir a este Jesus que quando seus
discípulos pretendiam que impedisse que outros expulsaram demônios em nome
dele, os corrigiu dizendo-lhes: Não o proibais, pois quem não é contra vós,
está a vosso favor(Lc 9,50). Todo o inumerável coro de pastores reduz-se ao
Corpo de um só Pastor (Santo Agostinho).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Já que Cristo, com a sua vinda,
expulsou o diabo dos nossos corações para preparar em nós um templo, façamos
todos os esforços com a sua ajuda para que Cristo não seja desonrado em nós
pelas nossas más obras» (São Cesário de Arles)
«O Diabo está sempre a tentar
arruinar a obra de Deus, semeando a divisão no coração humano, entre o corpo e
a alma, entre o homem e Deus, nas relações sociais, internacionais... O mal
semeia a guerra; Deus cria a paz» (Bento XVI)
«(…) O poder de Satanás não é
infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro
espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação
do Reino de Deus. (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 395)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz
uma longa discussão em torno da expulsão de um demônio mudo que Jesus acabava
de realizar diante do povo.
* Lucas 11,14-16: Três reações
diferentes diante da mesma expulsão. Jesus estava expulsando demônios.
Diante deste fato bem visível, realizado diante de todos, houve três reações
diferentes. O povo ficou admirado, aplaudiu. Outros diziam: "É por
Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios". O evangelho
de Marcos informa que se tratava dos escribas que tinham vindo de Jerusalém
para controlar a atividade de Jesus (Mc 3,22). Outros ainda pediam um sinal do
céu, pois não se convenceram diante do sinal tão evidente da expulsão realizada
diante de todo o povo.
* Lucas 11,17-19: Jesus mostra
a incoerência dos adversários. Jesus usa dois argumentos para rebater a
acusação de estar expulsando demônio em nome de Beelzebu. Em primeiro lugar, se
o demônio expulsa o próprio demônio, ele se divide a si mesmo e não vai
sobreviver. Em segundo lugar, Jesus lhes devolve o argumento: Se eu expulso em
nome de demônio, os filhos de vocês o fazem em nome de quem? Com outras
palavras, eles também estariam fazendo as expulsões em nome de Beelzebu.
* Lucas 11,20-23: Jesus é o
homem mais forte que chegou, sinal da chegada do Reino. Aqui Jesus chega no
ponto central da sua argumentação: “Quando um homem forte e bem armado guarda a
sua casa, os bens dele estão em segurança. Mas, quando chega um homem mais
forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte
o que roubou.”. Na opinião do povo daquele tempo, Satanás dominava o mundo
através de demônios (daimônia). Ele era o homem forte e bem armado que guardava
a sua casa. A grande novidade era o fato de que Jesus conseguia expulsar os
demônios. Sinal de que ele era e é o homem mais forte que chegou. Com a chegada
de Jesus o reino de Beelzebu entrou em declínio: “Se é pelo dedo de Deus que eu
expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês”. Quando os magos
do Faraó viram que Moisés fazia coisas que eles não eram capazes de realizar,
foram mais honestos que os escribas diante de Jesus e disseram: “Aqui tem o
dedo de Deus!” (Ex 8,14-15).
* Lucas 11,24-26: A segunda
queda é pior que a primeira. Na época de Lucas nos anos 80, diante das
perseguições, muitos cristãos voltaram atrás e abandonaram as comunidades.
Voltaram à maneira de viver de antes. Para advertência a eles e a todos nós,
Lucas guardou estas palavras de Jesus sobre a segunda queda que é pior do que a
primeira.
* A expulsão dos demônios. O primeiro
impacto que a ação de Jesus causava no povo era a expulsão dos demônios: “Até
mesmo aos espíritos impuros ele dá ordens e eles lhe obedecem!” (Mc 1,27). Uma
das principais causas da briga de Jesus com os escribas era a expulsão dos
demônios. Eles o caluniavam dizendo: “Ele está possuído por Beelzebu! É pelo
príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios!” O primeiro poder que os
apóstolos receberam quando foram enviados em missão foi o poder de expulsar os
demônios: “Deu-lhes poder sobre os espíritos maus” (Mc 6,7). O primeiro sinal
que acompanha o anúncio da ressurreição é a expulsão dos demônios: “Os sinais
que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios em meu
nome!” (Mc 16,17). A expulsão dos demônios era o que mais chamava a atenção do
povo (Mc 1,27). Ela atingia o centro da Boa Nova do Reino. Por meio dela Jesus
devolvia as pessoas a si mesmas. Devolvia-lhes o juízo, a consciência (Mc
5,15). É sobretudo o evangelho de Marcos, do começo ao fim, com palavras quase
iguais, repete sem parar a mesma mensagem: “E Jesus expulsava os demônios!” (Mc
1,26.34.39; 3,11-12.22.30; 5,1-20; 6,7.13; 7,25-29; 9,25-27.38; 16,17). Parece
um refrão que sempre volta. Hoje, em vez de usar sempre as mesmas palavras
usaríamos palavras diferentes para transmitir a mesma mensagem e diríamos: “O
poder do mal, o Satanás, que mete tanto medo no povo, Jesus o venceu, dominou,
amarrou, destronou, derrotou, expulsou, eliminou, exterminou, aniquilou,
abateu, destruiu e matou!” O que o Evangelho nos quer dizer é isto: “Ao cristão
é proibido ter medo de Satanás!” Pela sua ressurreição e pela sua ação
libertadora, Jesus afasta de nós o medo de Satanás, cria liberdade no coração,
firmeza na ação e esperança no horizonte! Devemos caminhar na Estrada de Jesus
com sabor de vitória sobre o poder do mal!
Para um confronto pessoal
1) Expulsar o poder do
mal. Qual é hoje o poder do mal que massifica o povo e roube dele a consciência
crítica?
2) Você pode dizer de você
mesma que é totalmente livre e liberta? Caso a resposta for negativa, alguma
parte em você está em poder de outras forças. O que você faz para expulsar este
poder que toma conta de você?
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