Bto. Carlo Acutis, leigo
I Leitura
(Est 5,1b-2; 7,2b-3): Ester revestiu-se com vestes de rainha e foi
colocar-se no vestíbulo interno do palácio real, frente à residência do rei. O
rei estava sentado no trono real, na sala do trono, frente à entrada. Ao ver a
rainha Ester parada no vestíbulo, olhou para ela com agrado e estendeu-lhe o
cetro de ouro que tinha na mão, e Ester aproximou-se para tocar a ponta do
cetro. Então, o rei lhe disse: "O que me pedes, Ester; o que queres que eu
faça? Ainda que me pedisses a metade do meu reino, ela te seria
concedida". Ester respondeu-lhe: "Se ganhei as tuas boas graças, ó
rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida - eis o meu pedido! - e a vida
do meu povo - eis o meu desejo!"
Salmo
responsorial
R. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza!
Escutai, minha filha, olhai, ouvi
isto: * "Esquecei vosso povo e a casa paterna!
Que o Rei se encante com vossa beleza! * Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
O povo de Tiro vos traz seus
presentes, * os grandes do povo vos pedem favores.
Majestosa, a princesa real vem chegando, * vestida de ricos brocados de ouro.
Em vestes vistosas ao Rei se
dirige, * e as virgens amigas lhe formam cortejo;
entre cantos de Festa e com grande alegria, * ingressam, então, no palácio real".
II
Leitura (Ap 12,1.5.13a.15-16ª): Apareceu no céu um grande sinal: uma
mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa
de doze estrelas. E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas
as nações com cetro de ferro. Mas o filho foi levado para junto de Deus e do
seu trono. Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o dragão começou a
perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. A serpente, então, vomitou
como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. A terra, porém, veio
em socorro da mulher.
Evangelho (Jo 2,1-11): Naquele tempo, três dias
depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de
Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus
discípulos. Como
viesse a faltar vinho, a mãe
de Jesus disse-lhe: "Eles já
não têm vinho". Respondeu-lhe
Jesus: "Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou". Disse, então, sua mãe
aos serventes: "Fazei o que ele vos disser". Ora, achavam-se ali seis
talhas de pedra para as purificações
dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: "Enchei as talhas de água". Eles encheram-nas até em cima. "Tirai agora",
disse-lhes Jesus, "e levai ao chefe dos serventes". E levaram. Logo
que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes,
pois tinham tirado a água),
chamou o noivo e disse-lhe: "É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os
convidados já estão quase embriagados, servir o
menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora". Este foi o primeiro
milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia.
Manifestou a sua glória,
e os seus discípulos
creram nele.
* O Evangelho desta Solenidade
coloca à nossa consideração as bodas de Caná, acontecidas na Galileia.
Tanto naquele tempo como agora, as festas são apreciadas por todos, quer seja
um casamento, um batizado, um aniversário, a festa do santo padroeiro ou da
padroeira da igreja, fim de ano... festas e mais festas... Há algumas festas
que ficam gravadas na nossa memória e que com o passar do tempo adquirem um
significado cada vez mais profundo, assim como há outras que caem no mais
profundo esquecimento porque perderam o seu significado. A festa das bodas de
Caná, tal como é descrita no Evangelho de São João (Jo 2, 1-12), ficou gravada
na memória do povo cristão e para alguns revela um sentido profundo.
* Para entender esta
descoberta progressiva do significado das bodas de Caná, devemos recordar que o
Evangelho de João é diferente dos outros Evangelhos. João narra os factos
da vida de Jesus de tal modo que os leitores sejam conduzidos a descobrir neles
uma dimensão mais profunda que somente a fé pode perceber. João faz, ao mesmo
tempo, uma fotografia e um “Raio-X”. Durante a leitura, é bom prestar muita
atenção aos pormenores do texto, sobretudo a duas coisas: 1) – as atitudes e comportamentos das pessoas
e 2) – a falta e abundância que
aparecem na festa das bodas de Caná.
* Quando dizemos “fotografia”,
indicamos os factos em si, tal como aparecem diante dos nossos olhos.
Quando dizemos “Raio-X”, referimo-nos à dimensão mais profunda, invisível aos
olhos, que se encontra nos factos que só a fé nos faz perceber e no-la revela.
* É no modo de descrever os fatos
que João faz os “Raios-X” às palavras e aos gestos de Jesus. Mediante estes
pormenores e alusões, o evangelista põe em relevo a dimensão simbólica e,
fazendo assim, ajuda-nos a penetrar mais profundamente no mistério da pessoa e
da mensagem de Jesus. Nas bodas de Caná, na Galileia, opera-se a transformação
da água das purificações dos judeus em vinho para a festa das bodas. Vejamos de
perto os pormenores com que João descreve a festa de modo que possamos
compreender o significado mais profundo deste belo e tão conhecido episódio.
* João 2, 1-2: Festa das
bodas. Jesus está convidado. No Antigo Testamento a festa das bodas era
símbolo do amor de Deus para com o seu povo. Era o que todos esperavam no
futuro (Os 2, 21-22; Is 62, 4-5). E é precisamente numa festa de bodas, junto a
uma família e a uma comunidade, que Jesus realiza o seu “primeiro sinal” (Jo 2,
11). A Mãe de Jesus encontra-se também na festa. Jesus e os seus discípulos
foram convidados. Ou seja, a Mãe de Jesus fazia parte da festa. Simboliza o
Antigo Testamento. Também Jesus está presente mas com veste de convidado. Ele
não faz parte do Antigo Testamento. Com os seus discípulos ele é o Novo
Testamento que está a chegar. A Mãe de Jesus ajudará a passar do Antigo para o
Novo Testamento.
* João 2, 3-5: Jesus e sua Mãe
perante a falta de vinho. A Mãe de Jesus reconhece os limites do Antigo
Testamento e toma a iniciativa para que se manifeste o Novo Testamento.
Aproxima-se de Jesus e diz-lhe: “Não têm vinho”. Aqui aparece tanto a foto como
o “Raio-X”. A foto representa a Mãe de Jesus como pessoa atenta aos problemas
dos outros de tal modo que se dá conta que a falta de vinho arruinaria a festa.
E não só constata o problema mas toma a iniciativa para o resolver. O Raio-X
revela a dimensão mais profunda da relação entre o Antigo Testamento (a Mãe de
Jesus) e o Novo Testamento (Jesus). A frase: “não têm vinho!”, procede do
Antigo Testamento e desperta em Jesus a ação que fará nascer o Novo. Jesus diz:
“Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo?”. Ou seja, qual é o nexo entre o
Antigo e o Novo Testamento? “Ainda não chegou a minha hora”. Maria não entende
a resposta como uma negação visto que diz aos serventes: “Fazei tudo o que ele
vos disser”. Atuando deste modo, Jesus ensina como se passa do Antigo para o
Novo Testamento. A hora de Jesus, em que se fará a passagem do Antigo para o
Novo Testamento, é a sua paixão, morte e ressurreição. A mudança de água em
vinho é a indicação antecipada do Novo, que nascerá a partir da morte e da
ressurreição de Jesus.
* Pelos fins do século
primeiro discutia-se entre os primeiros cristãos acerca da validade do Antigo
Testamento. Alguns já não queriam saber nada do Antigo Testamento. Na
reunião dos Apóstolos em Jerusalém, São Tiago defendeu a continuidade do uso do
Antigo Testamento (At 15, 13-21). Na verdade, nos princípios do século segundo,
Marcião rejeitou o Antigo Testamento e ficou somente pelos livros do Novo
Testamento. Alguns sustentavam, inclusivamente, que depois da vinda do Espírito
Santo não se devia recordar mais Jesus de Nazaré, mas falar unicamente de Jesus
Ressuscitado. Em nome do Espírito Santo diziam: “Anátema seja Jesus” (1Cor 12,
3).
* João 2, 6: As vasilhas da
purificação estão vazias. Trata-se de um pequeno detalhe mas muito
significativo. As vasilhas costumavam estar sempre cheias, sobretudo durante
uma festa. Aqui estão vazias! Por quê? A observância da lei da pureza,
simbolizada pelas seis vasilhas, esgotou todas as suas possibilidades. A antiga
lei conseguiu já preparar as pessoas para poder estar em união de graça e de
justificação diante de Deus. As vasilhas, a antiga aliança, estão vazias. Já
não podem gerar uma vida nova.
* João 2, 7-8: Jesus e os
serventes. A recomendação da Mãe de Jesus aos serventes é a última grande
ordem do Antigo Testamento: “Fazei tudo o que ele vos disser!”. O Antigo
Testamento olha já para Jesus. De agora em diante as palavras e os gestos de
Jesus marcarão a vida. Jesus chama os serventes e ordena-lhes que encham as
seis vasilhas. No total, mais de seiscentos litros! De imediato manda levar ao
chefe de mesa. Esta iniciativa de Jesus acontece sem que os donos da festa
intervenham. Nem Jesus, nem a Mãe, nem os serventes eram os donos, obviamente.
Nenhum deles pediu autorização aos donos. A renovação passa pelas pessoas que
não pertencem ao centro do poder.
* João 2, 9-10: Descoberta do
sinal por parte do dono da casa. O chefe de mesa prova a água transformada
em vinho e diz ao esposo: “Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois
de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho
até agora!”. O chefe de mesa, o Antigo Testamento, reconhece publicamente que o
Novo é melhor! Onde antes estava a água para os ritos de purificação dos
judeus, agora há vinho em abundância para a festa. Era muito vinho! Mais de
seiscentos litros, e a festa estava quase no fim. Qual é o sentido desta abundância?
Que se faz com o vinho que sobra? Estamos a bebê-lo hoje!
* João 2, 11-12: Comentário do
evangelista. Este é o primeiro sinal. No quarto Evangelho, o primeiro sinal
acontece para ajudar na reconstrução da família, da comunidade, para sanar as
relações de base entre as pessoas. Seguir-se-ão outros sinais. João não utiliza
a palavra milagre, mas a palavra sinal. A palavra sinal indica que as ações de
Jesus em favor das pessoas têm um valor profundo, que só se descobre com o
“Raio-X” da fé. A pequena comunidade que se formou à volta de Jesus naquela
semana, vendo o sinal, estava já capacitada para perceber o significado mais
profundo e “acreditou n'Ele”.
* Bodas muito esperadas. No
Evangelho de João, o começo da vida pública de Jesus acontece numa festa de
bodas, momento de muita alegria e de muita esperança. Por isso mesmo, as bodas
de Caná têm um significado simbólico muito forte. Na Bíblia, o matrimónio é a
imagem utilizada para significar a realização da perfeita união entre Deus e o
seu povo. Estas bodas entre Deus e o seu povo eram esperadas desde há muito
tempo, mais de oitocentos anos!
* Foi o profeta Oseias (por
volta do ano 750 antes de Cristo) que, pela primeira vez, representou a
esperança destas bodas quando narra a parábola da infidelidade do povo perante
as propostas de Yahvé. A monarquia de Israel abandonou Yahvé e a sua
misericórdia, conduzindo o povo para o culto de falsos deuses. Mas o profeta,
seguro do amor de Deus, diz que o povo será de novo conduzido ao deserto para
escutar da parte de Deus a seguinte promessa: “Far-te-ei minha esposa para
sempre, far-te-ei minha esposa na justiça e no direito, na benevolência e no
amor, e desposar-te-ei na fidelidade e tu reconhecerás o Senhor” (Os 2, 21-22).
Estes esponsais entre Deus e o povo indica que o ideal do êxodo será alcançado
(Os 2, 4-25). Depois de quase cento e cinquenta anos, o profeta Jeremias volta
a tomar as palavras de Oseias para denunciar a monarquia de Judá. E diz que
Judá terá o mesmo destino de Israel por causa da sua infidelidade (Jer 2, 2-5;
3, 11-13). Mas também Jeremias olha para a esperança de uns desposórios
perfeitos com a seguinte novidade: será a mulher que seduzirá o marido (Jer 31,
22). E apesar da crise geral causada pelo desterro na Babilónia, o povo não
perde a esperança de que um dia este desposório realizar-se-á. Yahvé terá
compaixão da sua esposa abandonada (Is 54, 1-8). Com o regresso dos
desterrados, a “Abandonada” voltará a ser a esposa acolhida com muita alegria
(Is 62, 4-5).
* Olhando para a Novidade que
chega, também João Baptista olha para Jesus, o Esposo esperado (Jo 3, 29).
No ensinamento e nos diálogos com as pessoas, Jesus retoma a parábola de
Oseias, o sonho das bodas perfeitas. Ele apresenta-se como o Esposo esperado
(Mc 2, 19). No diálogo com a samaritana, apresenta-se como o verdadeiro Esposo,
o sétimo (Jo 4, 16-17). As comunidades cristãs aceitaram Jesus como o Esposo
esperado (2Cor 11, 2; Ef 5, 25-31). As bodas de Caná querem demonstrar que
Jesus é o verdadeiro Esposo que chega para as tão esperadas bodas, portanto, um
vinho gostoso e abundante. Estas bodas definitivas estão descritas com belas
imagens no livro do Apocalipse (Ap 19, 7-8; 21, 1; 22, 5).
* A Mãe de Jesus no Evangelho
de João. Ainda que não seja chamada com o nome de Maria, a Mãe de Jesus
aparece duas vezes no Evangelho de João: no princípio, nas bodas de Caná (Jo 2,
1-5) e, no final, aos pés da Cruz (Jo 19, 25-27). Nos dois casos representa o
Antigo Testamento que espera a chegada do Novo, e nos dois casos, contribuiu
para a chegada do Novo. Maria é o laço entre o que havia antes e o que virá
depois. Em Caná, a Mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, é aquela que se
dá conta dos limites do Antigo Testamento e dá os passos para que possa
aparecer o Novo. Aos pés da Cruz, está junto ao “discípulo amado”. O discípulo
amado é a comunidade que cresce à volta de Jesus, é o filho que nasce do Antigo
Testamento. À petição de Jesus, o filho, o Novo Testamento, recebe a Mãe, o
Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Na verdade, o
Novo não se entende sem o Antigo. O Novo não terá base, fundamento. E o Antigo
sem o Novo seria incompleto: uma árvore sem frutos.
* Os sete dias da nova criação.
O texto começa: “Ao terceiro dia” (Jo 2, 1). No capítulo anterior, João
repetiu já por três vezes a expressão “No dia seguinte” (Jo 1, 29.35.43).
Fazendo os cálculos, isto apresenta o seguinte esquema: o testemunho de João
Baptista acerca de Jesus (Jo 1, 29) acontece no primeiro dia. “No dia seguinte”
(Jo 1, 29), ou seja, o segundo dia, acontece o batismo de Jesus (Jo 1, 29-34).
No terceiro dia ocorre o chamamento dos discípulos e de Pedro (Jo 1, 35-42). No
quarto dia, Jesus chama Filipe e Natanael (Jo 1, 43-51). Finalmente, “três dias
depois”, isto é, no sétimo dia, ou seja em pleno sábado, acontece o primeiro
sinal das bodas de Caná (Jo 2, 1). Ao longo do Evangelho de João Jesus
realizará sete sinais.
* João utiliza o esquema da
semana para apresentar o começo da atividade de Jesus. O Antigo Testamento
serve-se do mesmo esquema para apresentar a criação. Nos primeiros seis dias
Deus criou todas as coisas chamando-as pelo seu nome. No sétimo dia descansou e
não trabalhou mais (Gen 1, 1-2, 4). Igualmente Jesus nos seis primeiros dias de
atividade chama as pessoas e cria a comunidade, a nova humanidade. No sétimo
dia, ou seja, no sábado, Jesus não repousa, mas realiza o seu primeiro sinal.
Ao longo dos capítulos seguintes, de 2 a 19 inclusive, realizará seis sinais,
sempre ao sábado (Jo 5, 16; 9, 14). Na manhã da ressurreição, quando Maria
Madalena vai ao sepulcro, diz-se: “No primeiro dia da semana” (Jo 20, 1): é o
primeiro dia da nova criação, depois daquele sábado prolongado em que Jesus faz
os sete sinais.
Acusado de trabalhar ao sábado,
Jesus responde: “Meu Pai sempre trabalha, e também eu trabalho” (Jo 5, 17).
Através da atividade de Jesus entre Caná e a Cruz, o Pai completa o que falta
na velha criação, de modo que possa aparecer a nova criação na ressurreição de
Jesus.
* Jesus veio revelar-nos Deus
como um Pai bondoso e terno, que fica feliz quando pode amar os seus filhos.
É esse o “vinho” que Jesus veio trazer para alegrar a “aliança”: o “vinho” do
amor de Deus, que produz alegria e que nos leva à festa do encontro com o Pai e
com os irmãos. A nossa “religião” é isto mesmo – o encontro com o Jesus que nos
dá o vinho do amor?
* A primeira parte do
Quarto Evangelho é comumente chamada “O Livro dos Sinais”, pois, o evangelista
relata uma série de sete sinais que, passo por passo, revelam quem é Jesus, e
qual é a missão d’Ele (embora algumas bíblias traduzam o termo grego por “milagre”,
a tradução mais correta é: “Sinal”). O primeiro desses sinais aconteceu no
contexto das bodas de Caná, o nosso texto de hoje. Como quase todo o Evangelho
de João, o relato está carregado de simbolismos, onde pessoas, números e
eventos funcionam simbolicamente, para nos levar além da superfície das coisas,
em uma caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.
* Um dos temas centrais do
quarto evangelho é o da “hora” de Jesus. A “hora” não se refere à
cronometria, mas à hora de glorificação de Jesus, por sua morte e ressurreição.
Em resposta ao pedido feito por Maria (note que João nunca se refere a Ela pelo
nome, mas pelo título “mulher”), usando de uma maneira um tanto estranha este
termo para a mãe d’Ele, João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera
meramente humana de ação para Maria, para reservar para Ela um papel muito mais
rico, ou seja, o da mãe dos seus discípulos. Maria somente vai aparecer mais
uma vez neste evangelho - ao pé da cruz, onde Ela e o Discípulo Amado assumem
um relacionamento de Filho e Mãe. Devemos lembrar que o Discípulo Amado
simboliza a comunidade dos discípulos/as do Senhor.
* Não devemos reduzir a ação
da Maria no texto à de uma incomparável intercessora. Embora seja comum
esta interpretação na devoção popular, não se sustenta do ponto de vista
exegético. É melhor ver Maria aqui como discípula exemplar, pois embora a
resposta de Jesus indique um distanciamento entre a sua expectativa e a visão
d’Ele, Ela continua com confiança n’Ele e leva outros a acreditar nele: “Façam
tudo o que Ele lhes disser”.
* O simbolismo da água tornada
vinho é também importante. Não era qualquer água - era a água da
purificação dos judeus. Com essa história, João quer mostrar que doravante os
ritos judaicos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação
vem através de Jesus. Podemos entender isso como a mudança de uma prática
religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente
considerada impura, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir
de Jesus. Assim, em Caná Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do
Templo, o que vai continuar ao longo do Evangelho de João.
* A quantia do vinho chama a
atenção - 600 litros! O vinho em abundância era símbolo dos tempos
messiânicos, e na tradição rabínica, a chegada do Messias seria marcada por uma
colheita abundante de uvas. Assim João quer dizer que a expectativa messiânica
se realiza em Jesus. E as talhas transbordantes simbolizam a graça abundante
que Jesus traz.
* A figura do mestre-sala é
também simbólica, bem como a dos serventes. Aquele que devia saber a origem
do vinho da festa, não o sabia, enquanto estes, sabiam. Assim, o mestre-sala
representa os chefes do Templo que não sabiam a origem de Jesus enquanto os
servos representam os discípulos que acreditaram n’Ele.
* Fazendo comparação
entre o vinho antigo e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era
boa, mas a Nova a superou. Os ritos e práticas judaicos, ligados à
purificação e ao sacrifício, não têm mais sentido, pois uma nova era de
relacionamento entre a humanidade e Deus começou em Jesus.
* O ponto culminante do relato
está em v. 11: “Foi em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os seus
discípulo acreditaram n’Ele”. A fé deles não é intelectual ou teórica, mas o
seguimento concreto do Mestre, na formação de novos relacionamentos de amor.
Passo por passo, o autor vai revelando Jesus através de sinais para que nós, os
leitores, possamos “acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para
que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome” (Jo 20, 31).
Para um confronto pessoal
1) Maria diz: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Como estou colocando em prática estas palavras da Mãe de Deus?
2) Percebo os sinais de Deus na vida e no mundo? Sou um sinal de Deus para os outros?
R. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza!
Que o Rei se encante com vossa beleza! * Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
Majestosa, a princesa real vem chegando, * vestida de ricos brocados de ouro.
entre cantos de Festa e com grande alegria, * ingressam, então, no palácio real".
Aleluia. Disse a Mãe de Jesus
aos serventes: “Fazei tudo o que Ele disser!” Aleluia.
“Celebravam-se bodas em Caná
da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus”.
Do site da Ordem do Carmo em
Portugal
Reflexão
1) Maria diz: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Como estou colocando em prática estas palavras da Mãe de Deus?
2) Percebo os sinais de Deus na vida e no mundo? Sou um sinal de Deus para os outros?
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