sexta-feira, 30 de novembro de 2012

TERCEIRO DIA DA NOVENA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA.


CASA DE OURO

ORAÇÃO INICIAL: Santíssima Virgem, eu creio e confesso a vossa santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte, e a graça ... que peço com toda a confiança. Amém.

I. BEM-AVENTURADA és tu, ò Virgem Maria, morada consagrada do Altíssimo...1 Na ladainha lauretana, chamamos a Maria Casa de ouro, recinto de intensíssimo esplendor. Quando uma família mora numa casa e a converte num lar, este reflete as peculiaridades, gostos e preferências dos seus moradores. A casa e os que nela habitam constituem uma  certa unidade, como o corpo e a roupa, comoo conhecimento e a ação. No Antigo Testamento, o primeiro Tabernáculo, e depois o Templo, eram a Casa de Deus, onde tinha lugar o encontro de Javé com o seu Povo. Quando Salomão decidiu construir o Templo, os Profetas especificaram os materiais nobres que se deviam empregar, como a madeira em abundância no seu interior, revestimento de ouro... Deveria empregar-se na construção o melhor que tinham ao seu alcance, e deveriam trabalhar nele os melhores artífices de que dispunham. Quando chegou a plenitude dos tempos e Deus decretou a sua vinda ao mundo, preparou Maria como a criatura adequada em que habitaria durante nove meses, desde a sua Encarnação até o seu nascimento em Belém. Nela, Deus imprimiu a marca do seu poder e do seu amor. Maria, o novo Templo de Deus, foi revestida de uma formosura tão grande que não foi possível outra maior. A sua Imaculada Conceição e todas as graças e dons com que Deus enriqueceu a sua alma estiveram em função da sua Maternidade divina2. Entende-se muito bem que o Arcanjo Gabriel, ao saudar Maria, se tenha mostrado cheio de respeito e veneração, pois compreendeu a imensa excelência da Virgem e a sua intimidade com Deus. A graça inicial de Maria, que a preparava para a sua Maternidade divina, foi superior à de todos os Apóstolos, mártires, confessores e virgens juntos, superior à de todas as almas santas e à de todos os anjos criados desde a origem do mundo3. Deus preparou uma criatura humana de acordo com a dignidade do seu Filho. Quando dizemos que Maria tem uma dignidade "quase infinita", queremos indicar que é a criatura mais próxima da Santíssima Trindade e que goza de uma honra e majestade altíssimas, inteiramente singulares. É a Filha primogênita do Pai, a predileta, como foi chamada tantas vezes na Tradição da Igreja e o Concílio Vaticano II repetiu4. Com Jesus Cristo, Filho de Deus, Nossa Senhora mantém o estreito laço da consanguinidade, que a faz ter com Ele umas relações absolutamente próprias. Maria é Templo e Sacrário do Espírito Santo5. Que alegria podermos ver, especialmente nestes dias da Novena, que temos uma Mãe tão próxima de Deus, tão pura e bela, e tão próxima de nós!"Como gostam os homens de que lhes recordem o seu parentesco com personagens da literatura, da política, do exército, da Igreja!..."- Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-lhe: "Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo... Mais do que tu, só Deus!"6

II. A ALMA DE MARIA foi singularmente enriquecida pelos dons do Espírito Santo, que são como que as joias mais preciosas que Deus pode conceder ao ser humano. Com eles, Deus adornou em grau supremo a morada do seu Filho. Pelo dom do entendimento, que teve num grau superior ao de qualquer criatura, Maria teve conhecimento com uma fé pura, radicada na autoridade divina, de que a sua virgindade era sumamente grata ao Senhor. O seu olhar penetrou com a maior profundidade no sentido oculto das Escrituras, e compreendeu imediatamente que a saudação do Anjo era estritamente messiânica e que a Santíssima Trindade a tinha designado como Mãe do Messias esperado há tanto tempo. Depois teria sucessivas iluminações que confirmariam o cumprimento das promessas divinas de salvação e compreenderia que "deveria viver no sofrimento a sua obediência de fé ao lado do Salvador que sofre, e que a sua maternidade seria obscura e dolorosa"7. O dom do entendimento está intimamente ligado à pureza de alma, e é por isso que se relaciona com a bem-aventurança dos limpos de coração, que verão a Deus8. A alma de Maria, a Puríssima, gozou de especiais iluminações que a levaram a descobrir o querer de Deus em todos os acontecimentos. Ninguém soube melhor do que Ela o que Deus espera de cada homem; por isso, é a nossa melhor aliada nos pedidos que dirigimos a Deus nas nossas necessidades. O dom da ciência ampliou ainda mais o olhar da fé de Maria. Por meio dele, a Virgem contemplava nas realidades cotidianas as marcas de Deus no mundo, como pistas para chegar até o Criador, e julgava retamente a relação de todas as coisas e acontecimentos com a salvação. Influenciada por esse dom, tudo lhe falava de Deus, todas as coisas a levavam a Deus9. Entendeu melhor do que ninguém a terrível realidade do pecado, e por isso sofreu, como nenhuma outra criatura, pelos pecados dos homens. Intimamente associada à dor do seu Filho, padeceu com Ele "quando morria na Cruz, cooperando de forma totalmente singular na restauração da vida sobrenatural das almas"10. O dom da sabedoria aperfeiçoou a sua caridade e levou-a a ter um conhecimento gozoso e experimental do divino e a saborear na sua intimidade os mistérios que sereferiam especialmente ao Messias, seu Filho. A sua sabedoria era amorosa, infinitamente superior à que se pode obter dos mais profundos tratados de Teologia. Via, contemplava, amava e ordenava todas as coisas de acordo com essa experiência divina; julgava-as com a luz poderosa e amorosa que inundava o seu coração. Se lho pedirmos com insistência, Ela no-lo alcançará, pois "entre os dons do Espírito Santo, diria que há um de que todos nós, cristãos, necessitamos especialmente: o dom da sabedoria, que nos faz conhecer e saborear Deus, e nos coloca assimem condições de podermos avaliar com verdade as situações e as coisas desta vida"11.

III. O DOM DE CONSELHO aperfeiçoou a virtude da prudência na Virgem e fez com que sempre descobrisse prontamente a Vontade de Deus nas situações correntes da vida. Agiu como que sob o ditado de Deus12 e deixou-se guiar docilmente, quer nas grandes coisas que Deus lhe pediu, quer nos pormenores corriqueiros do dia-a-dia. O Evangelho mostra-nos como a nossa Mãe Santa Maria se deixou conduzir continuamente por essa luz do Espírito Santo. Viveu a maior parte da sua vida no retiro de Nazaré, mas quando a sua presença se fez necessária junto da sua prima Isabel, foi com pressa13 às montanhas para estar ao lado dela. Ocupa um lugar discreto nos episódios narrados pelo Evangelho, mas está com os discípulos quando eles precisam dela depois da morte de Jesus, e a seguir espera com eles a vinda do Espírito Santo. Permanece ao pé da Cruz, mas não vai ao sepulcro com as outras santas mulheres: na intimidade da sua alma, sabia que elas não encontrariam o corpo amado do seu Filho, porque já tinha ressuscitado. Viveu totalmente entregue aos pequenos afazeres de uma mãe que cuida da família, e percebeu antes que ninguém que ia faltar vinho nas bodas de Caná: a sua vida contemplativa fê-la estar atenta às pequenas coisas que aconteciam à sua volta. Ela é a Mãe do Bom Conselho, que nos ajudará, nos mil pequenos episódios de cada dia, a descobrir e secundar o querer de Deus. O dom da piedade deu à Virgem uma espécie de instinto filial que afetava profundamente todas as suas relações com Jesus: na oração, à hora de pedir, na maneira como enfrentava os diversos acontecimentos, nem sempre agradáveis...Maria sentiu-se sempre Filha de Deus, e esse sentimento profundo foi crescendo continuamente até o fim da sua vida mortal. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se Mãe de Deus e Mãe dos homens. Tanto a sua filiação como a sua Maternidade estavam profundamente saturadas de piedade. Ela sempre nos amará, porque somos seus filhos. E uma mãe está mais perto do filho doente, daquele que mais precisa dela. A graça divina derramou-se sobre Nossa Senhora de modo abundantíssimo, e encontrou nela uma cooperação e docilidade excepcionais: viveu com heroísmo a fidelidade aos pequenos deveres de todos os dias e nas grandes provas. Teve uma vida simples, como a das outras mulheres da sua terra e da sua época, mas também passou pelas maiores amarguras que uma criatura pode experimentar, à exceção do seu Filho, que foi o Varão de dores anunciado pelo profeta Isaías14. Pelo dom da fortaleza, que recebeu em grau máximo, pôde acolher com paciência as contradições diárias, as mudanças de planos... Enfrentou silenciosamente as dificuldades, mas com firmeza e valentia. Por essa fortaleza, esteve de pé junto da Cruz15. A piedade cristã, venerando essa sua atitude de dor e de fortaleza, invoca-a como Rainha dos mártires, Consoladora dos aflitos... Finalmente, o Espírito Santo adornou-a com o santo temor de Deus, que nela foi apenas uma reverência filial de altíssima intimidade com o Senhor, que a levou a uma atitude de adoração contínua perante o Deus infinito, de quem recebera todas as coisas. Por isso chamou-se a si mesma a Escrava do Senhor.

Ave Maria
Ó Maria concebida sem pecado,
Rogai por nós que recorremos a vós

Oração final - Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes a Vosso Filho digna habitação, nós Vos rogamos que, como a preservastes de toda a mancha pela previsão da morte de seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que também puros cheguemos até Vós. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.

(1)Cfr. Missas da Virgem Maria, A Virgem, templo do Senhor, Antífona da Comunhão; (2) cfr. São Tomás, Summa theologica, III, q. 27, a. 5 ad 2; (3) cfr. R. Garrigou-Lagrange, A Mãe do Salvador, pág. 411; (4) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumengentium, 53; (5) cfr. João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 9; (6) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 496; (7) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater,16; (8) Mt 5, 8; (9) cfr. J. Polo, Maria y la Santísima Trinidad, Madrid, 1987,MC n. 460, pág. 29; (10) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (11) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 133; (12) cfr. J. Polo, op. cit., pág. 39; (13) Lc 1, 39; (14) Is 53, 3; (15) cfr. Jo 19, 25.

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DO SÁBADO DA 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM

Sábado XXXIV do Tempo Comum



Beato Charles de Foucauld
Evangelho (Lc 21,34-36): Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados por causa dos excessos, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós, pois cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de conseguirdes escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem».

Comentário: Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Ficai atentos e orai a todo momento

   Hoje, último dia do Tempo Comum, Jesus adverte-nos com clareza meridiana sobre a sorte da nossa passagem por esta vida. Se nos empenhamos, obstinadamente, em viver absorvidos pelos afazeres imediatos da vida, chegará o último dia da nossa existência terrena tão de repente que a própria cegueira da nossa gula nos impedirá de reconhecer o mesmíssimo Deus que virá (porque aqui estamos de passagem, sabia?) para levar-nos à intimidade do Seu Amor infinito. Será qualquer coisa como o que ocorre com um menino malcriado: está tão entretido com os seus brinquedos, que no final esquece o carinho dos seus pais e a companhia dos seus amigos. Quando se dá conta, chora desconsolado pela sua inesperada solidão.

   O antídoto que Jesus nos oferece é igualmente claro: «ficai atentos e orai a todo momento» (Lc 21, 36). Vigiar e orar … O mesmo aviso que deu aos seus Apóstolos na noite em que foi traído. A oração tem uma componente admirável de profecia, muitas vezes esquecida na pregação, ou seja de passar de mero “ver” a “observar” o quotidiano na sua mais profunda realidade. Como escreveu Evágrio Pôntico, «a vista é o melhor de todos os sentidos; a oração é a mais divina de todas as virtudes». Os clássicos da espiritualidade chamam-lhe “visão sobrenatural”, olhar com os olhos de Deus. Ou o que é o mesmo, conhecer a Verdade: de Deus, do mundo, de mim próprio. Os profetas foram, não só os que “pregaram o que haveria de vir”, mas também os que sabiam interpretar o presente na sua justa medida, alcance e densidade. Resultado: souberam reconduzir a história, com a ajuda de Deus.

   Tantas vezes nos lamentamos da situação do mundo. – Onde iremos parar? Dizemos. Hoje, que é o último dia do Tempo Comum, é dia também de resoluções definitivas. Quem sabe, já está na hora de mais alguém estar disposto a levantar-se da sua embriaguez do presente e ponha mãos à obra de um futuro melhor. Quer ser você? Pois, ânimo! E que Deus o abençoe.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

NOVENA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM NOSSA SENHORA


ORAÇÃO INICIAL: Santíssima Virgem, eu creio e confesso a vossa santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso Filho a humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte, e a graça ... que peço com toda a confiança. Amém.

ESTRELA DA MANHÃ - Maria, prefigurada e anunciada no Antigo Testamento. - Nossa Senhora, luz que ilumina e orienta .-"Estrela do mar".  O povo cristão, por inspiração do Espírito Santo, sempre soube aproximar-se de Deus através da sua Mãe. Pelas provas constantes das suas graças e favores, chamou-a “Onipotência suplicante”, e soube encontrar nela o atalho que abrevia o caminho para Deus. O amor "inventou" numerosas formas de tratá-la e honrá-la. Procuraremos oferecer todos os dias algo de especial a Nossa Senhora, para preparar a Solenidade da sua Imaculada Conceição.

I. APARECEU UMA ESTRELA no meio da escuridão e anunciou ao mundo em trevas que a Luz estava para chegar. O nascimento da Virgem foi o primeiro sinal de que a Redenção estava próxima. "A aparição de Nossa Senhora no mundo é como a chegada da aurora que precede a luz da salvação, Cristo Jesus; é como o desabrochar sobre a terra da mais bela flor que alguma vez brotou no jardim da humanidade: o nascimento da criatura mais pura, mais inocente, mais perfeita, mais digna da definição que o próprio Deus deu do homem, ao criá-lo: imagem de Deus, semelhança de Deus. Maria restitui-nos a figura da humanidade perfeita"1
  Nunca os anjos tinham contemplado uma criatura tão bela, nunca a humanidade terá nada de parecido.  A Virgem Santa Maria tinha sido anunciada ao longo do Antigo Testamento. Já nos começos da Revelação se fala dela. No anúncio da Redenção, depois da queda dos nossos primeiros pais2, Deus dirige-se à serpente e diz-lhe: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás ciladas ao seu calcanhar. A mulher é em primeiro lugar Eva, que foi tentada e sucumbiu; e, num nível mais profundo, a mulher é Maria, a nova Eva, de quem nascerá Cristo, absoluto vencedor do demônio simbolizado na serpente. Perante o seu poder, o demônio não poderá fazer nada de eficaz. Nela se dará a maior inimizade que se pode conceber na terra entre a graça e o pecado. O profeta Isaías anuncia Maria como a Mãe virginal do Messias3.  São Mateus assinala expressamente o cumprimento desta profecia4.  A Igreja também aplica a Maria o elogio que o povo de Israel dirigiu a Judite, sua salvadora: Tu és a glória de Jerusalém, tu a alegria de Israel, tu a honra do nosso povo; porque procedeste varonilmente e o teu coração esteve cheio de coragem5. Palavras que se cumprem em Maria de modo perfeito. Porventura não colaborou Maria para nos livrar de um inimigo maior que Holofernes, a quem Judite cortou a cabeça? Não cooperou para nos livrar do cativeiro definitivo?6  A Igreja aplica ainda a Maria outros textos que, embora se refiram em primeiro lugar à Sabedoria de Deus, sugerem, no entanto, que, no plano divino da salvação,estabelecido desde a eternidade, está contida a imagem de Nossa Senhora. Ainda não havia os abismos, e eu já estava concebida; ainda as fontes das águas não tinham brotado7. E como se a Escritura se antecipasse, evocando o amor puríssimo que reinaria no seu Coração dulcíssimo, lemos: Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Vinde a mim, todos os que me desejais, e enchei-vos dos meus frutos; porque o meu espírito é mais doce que o mel [...]. Aquele que me ouve não será confundido; e os que se guiam por mim não pecarão8. E, vislumbrando a sua Conceição Imaculada, o Cântico dos cânticos anuncia:  És toda formosa, amiga minha, e não há mancha em ti9.  E o Eclesiástico anuncia de uma maneira profética: Em mim se encontra toda a graça de doutrina e de verdade, toda a esperança de vida e de virtude10. "Com quanta sabedoria a Igreja colocou essas palavras na boca da nossa Mãe, para que nós, os cristãos, não as esqueçamos! Ela é a segurança, o Amor que nunca abandona, o refúgio constantemente aberto, a mão que acaricia e consola sempre"11. Procuremos a sua ajuda e consolo nestes dias, enquanto nos preparamos para celebrar a grande solenidade da sua Imaculada Conceição.

II. DO MESMO MODO que Maria se encontra no alvorecer da Redenção, nos próprios começos da revelação, encontra-se também na origem da nossa conversão a Cristo, na nossa santidade e na nossa salvação. Por Ela chegou-nos Cristo, e por Ela chegaram-nos e continuarão a chegar-nos todas as graças que nos sejam necessárias.  A Santíssima Virgem facilitou-nos o caminho para recomeçarmos tantas vezes e livrou-nos de inumeráveis perigos, que por nós mesmos não teríamos podido vencer. Ela oferece-nos todas as coisas que conservava no seu coração12 e que dizem respeito diretamente a Jesus: "leva-nos pela mão ao encontro do Senhor"13. A humanidade encontrou em Maria o primeiro sinal de esperança, e todos os homens e mulheres encontram nela a luz que ilumina e orienta. "Ela não tem brilho próprio, brilho que brote dela mesma, mas reflete o seu e nosso Redentor, e dá-lhe glória constantemente. Quando surge no meio das trevas, sabemos que Ele está perto, ao alcance da nossa mão"14
  Diz-se que os navegantes recorriam à estrela mais brilhante do firmamento quando se sentiam desorientados no meio do oceano ou quando desejavam verificar ou retificar o rumo. Nós recorremos a Maria quando nos sentimos perdidos, quando queremos retificar a direção da nossa vida e orientá-la em linha reta para Deus: Ela é "a estrela do mar da nossa vida"15
  A Liturgia chama-a "esperança segura de salvação", que brilha "no meio das dificuldades da vida"16, dessas tempestades que aparecem sem sabermos como, ou em que nos metemos por não estarmos perto de Deus.  E é São Bernardo que nos aconselha: "Não afastes os olhos do resplendor dessa Estrela, se não queres ser destruído pelas borrascas"17.De Maria dimana uma luz especial que ilumina o caminho que devemos seguir nas diferentes tarefas e assuntos da nossa vida. De modo especial, Maria ilumina o esplêndido caminho da vocação a que cada um foi chamado. Quando recorremos a Ela com pureza de intenção, sempre acertamos no cumprimento da vontade de Deus.  A claridade especial que encontramos em Maria provém da plenitude de graça que cumulou a sua alma desde o primeiro instante em que foi concebida, bem como da sua missão corredentora. São Tomás assinala que essa graça se derrama sobre todos os homens. "Já é grande para um santo - afirma - ter tanta graça que seja suficiente para a salvação de muitos, e o máximo seria tê-la em medida suficiente para salvar todos os homens do mundo; isto verifica-se em Cristo, bem como na Santíssima Virgem"18, pela sua íntima união corredentora com o seu Filho.Os teólogos distinguem a plenitude absoluta de graça, que é própria de Cristo; a plenitude de suficiência, comum a todos os anjos; e a plenitude de sobreabundância, que é privilégio de Maria, e que se derrama a mãos cheias sobre os seus filhos. 
  A Virgem "é de tal maneira cheia de graça que ultrapassa na sua plenitude os anjos; por isso, com razão, é chamada Maria, que quer dizer iluminada [...], e significa, além disso, iluminadora de outros, por referência ao mundo inteiro"19, diz São Tomás de Aquino.  Hoje, neste dia da Novena da Imaculada, fazemos o propósito de pedir-lhe ajuda sempre que nos encontremos às escuras, sempre que tenhamos de retificar o rumo da nossa vida ou tomar uma decisão importante. E, como sempre estamos recomeçando, recorreremos a Ela para que nos mostre o caminho que devemos seguir, aquele que nos confirma na nossa vocação, e pedir-lhe ajuda para que possamos percorrê-lo com garbo humano e sentido sobrenatural.

III. A VIRGEM é bendita entre as mulheres porque esteve isenta do pecado e das marcas que o mal deixa na alma: "Apenas Ela conjurou a maldição, trouxe a bênção e abriu a porta do Paraíso. É por isso que lhe convém o nome de Maria, que significa Estrela do mar; assim como a estrela do mar orienta os navegantes até o porto, Maria dirige os cristãos para a glória"20.  A Liturgia da Igreja honra-a assim: Ave, maris stella!... Salve, estrela do mar!, Mãe excelsa de Deus...21 
   Neste dia da Novena, fazemos o firme propósito - tão grato à Virgem! -de recorrer à sua intercessão em qualquer necessidade em que nos encontremos, seguindo o conselho de um Padre da Igreja: "Se se levantarem os ventos das tentações, se tropeçares com os escolhos da tentação, olha para a Estrela, chama por Maria. Se te agitarem as ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, chama por Maria. Se a ira, a avareza ou a impureza impelirem violentamente a nave da tua alma, olha para Maria. Se, perturbado com a lembrança dos teus pecados, confuso ante a fealdade da tua consciência, temeroso ante a ideia do juízo, começares a afundar-te no poço sem fundo da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria dos teus lábios, não se afaste do teu coração; e,para conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se a chamas, não te perderás se nela pensas. Se Ela segurar as tuas mãos, não cairás; se te proteger, não terás nada que temer; não te cansarás, se Ela for o teu guia; chegarás felizmente ao porto, se Ela te amparar"22. Pomos todos os dias da nossa vida sob o seu amparo. Ela nos levará por um caminho seguro. Coração dulcíssimo de Maria, preparai-nos um caminho seguro.

(1) Paulo VI, Homilia, 8-IX-1964; (2) Gên 3, 15; (3) Is 7, 14; (4) Mt 1, 22-23;(5) Jud 15, 9-10; (6) cfr. C. Pozo, María en la Escritura y en la fe de la Iglesia, págs. 32 e segs.; (7) Prov 8, 24; (8) Eclo 24, 24-30; (9) Cânt 4, 7; (10) Eclo 24, 25; (11) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 279; (12) Lc 2, 51; (13) cfr. João Paulo II, Homilia, 20-X-1979; (14) Card. J. H. Newman, Rosa mística, Palabra, Madrid, 1982, pág. 137; (15) João Paulo II, Homilia, 4-VI-1979; (16) cfr.Liturgia das Horas, Hino de laudes no dia 15 de agosto; (17) São Bernardo, Homilias sobre a Virgem Mãe, 2; (18) São Tomás, Sobre a Ave-Maria; (19) ib.; (20) ib.; (21) Hino Ave, maris stella; (22) São Bernardo, op. cit.

Ave Maria
Ó Maria concebida sem pecado,
Rogai por nós que recorremos a vós

Oração final - Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes a Vosso Filho digna habitação, nós Vos rogamos que, como a preservastes de toda a mancha pela previsão da morte de seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que também puros cheguemos até Vós. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA PARA O DIA 30 DE NOVEMBRO