sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

2 de fevereiro: Apresentação do Senhor

1ª Leitura (Mal 3,1-4):
Assim fala o Senhor Deus: «Vou enviar o meu mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim. Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais. Ele aí vem – diz o Senhor do Universo –. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda, quem resistirá quando Ele aparecer? Ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata, e eles serão para o Senhor os que apresentam a oblação segundo a justiça. Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos de outrora.
 
Salmo Responsorial: 23
R. O Senhor do Universo é o Rei da glória.
 
Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.
 
Quem é esse Rei da glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso nas batalhas.
 
Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.
 
Quem é esse Rei da glória? O Senhor dos Exércitos, é Ele o Rei da glória.
 
2ª Leitura (Hb 2,14-18): Uma vez que os filhos dos homens têm o mesmo sangue e a mesma carne, também Jesus participou igualmente da mesma natureza, para destruir, pela sua morte, aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que estavam a vida inteira sujeitos à servidão, pelo temor da morte. Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos, mas dos descendentes de Abraão. Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, e assim expiar os pecados do povo. De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento, pode socorrer aqueles que sofrem provação.
 
Aleluia. Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,22-40): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma! — e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele».
 
«Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação»
 
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, aguentando o frio do inverno, Simeão aguarda a chegada do Messias. Há quinhentos anos, quando se começava a levantar o Templo, houve uma penúria tão grande que os construtores se desanimaram. Foi então quando Ageu profetizou: «O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira - oráculo do Senhor dos exércitos» (Ag 2,9); e completou que «sacudirei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos e encherei de minha glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos» (Ag 2,7). Frase que admite diversos significados: «o mais apreciado», dirão alguns, «o desejado de todas as nações», afirmará são Jerônimo.
 
A Simeão «Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor» (Lc 2,26), e hoje, «movido pelo Espírito», subiu ao Templo. Ele não é levita, nem escriba, nem doutor da Lei, é somente um homem «Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele» (Lc 2,25) O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito”. (cf. Jo 3,8).
 
Agora comprova com desconcerto que não se tem feito nenhum preparativo, não se veem bandeiras, nem grinaldas, nem escudos em nenhum lugar. José e Maria cruzam a esplanada levando o Menino nos braços. «Levantai, ó portas, os vossos frontões, erguei-vos, portas antigas, para que entre o rei da glória» (Sal 24,7), clama o salmista.
 
Simeão avança para saudar a Mãe com os braços estendidos, recebe ao Menino e abençoa a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação. Que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel» (Lc 2,29-32).
 
Depois diz a Maria: «E uma espada traspassará a tua alma!» (Lc 2,35). Mãe! —digo-lhe— quando chegue o momento de ir à casa do Pai, leva-me nos braços como Jesus, que também eu sou teu filho e menino.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Chegou já aquela luz verdadeira que vindo para este mundo ilumina todo homem. Deixemos, irmãos, que esta luz nos penetre e nos transforme. Nenhum de nós ponha obstáculos para esta luz. Imitemos a alegria de Simeão e, como ele, cantemos um hino de ação de graças» (São Sofrônio)
 
«O anúncio de Simeão parece como um segundo anúncio para Maria, porque lhe indica a concreta dimensão histórica na qual o Filho vai cumprir sua missão, em outras palavras, na incompreensão e na dor» (São João Paulo II)
 
«Os meus olhos viram a vossa salvação»
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
* «Com Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador.
Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, “luz das nações” e “gloria de Israel”, mas é também “sinal de contradição”. A espada de dor predita a Maria anuncia esta outra oblação, perfeita e única, da cruz, que dará a salvação que Deus “preparou diante de todos os povos”» (Catecismo da Igreja Católica, n°529)
 
O texto de hoje, exclusivo de Lucas, é o penúltimo episódio das “narrativas da infância de Jesus”, nas quais o evangelista apresenta Jesus a percorrer as diversas etapas da sua infância segundo as normas da Lei (a Torah).
 
* v. 22. “Ao cumprirem-se os dias”. “A lei de Moisés” (Lv 12,1-8) prescrevia que uma mãe se devia “apresentar” (cf. 1,19; Nm 16,9; Dt 21,5 Jdt 11,13), isto é, subir ao Templo de Jerusalém, à presença de Deus, no 40º dia do nascimento do seu filho, para se “purificar” do contacto com o sangue no parto, oferecendo um sacrifício (v. 24). É o que acontece; mas Maria leva consigo também o Menino Jesus e José (cf. 1Sm 1,24). Entretanto, Lucas evoca neste gesto o cumprimento das setenta semanas da profecia de Daniel (9,24-27): seis meses (6x30=180 dias) da gravidez de Isabel (1,36); nove meses (9x30=270 dias) da gravidez de Maria (2,6) e 40 dias da purificação de Maria (180+270+40) dão 490 dias, ou seja, setenta semanas (70x7).
“Jerusalém”: o evangelista usa a forma grega Hierosolyma (13,22; 19,28; 23,7; At, 25x), provavelmente para ligar a etimologia de “Hierosalem” (hieros, “santa ”+ Salem “paz”: vv. 25.38.41.43.45; Hb 7,2), a hieros, “santa”, (kat)alyma, “sala de hóspedes” (2,7; uma alusão ao cenáculo: 22,11).
 
* v. 23: Além da purificação da mãe, a Lei prescrevia que todo o primogénito do sexo masculino “que rasga o ventre materno” (nascendo de parto natural) “será consagrado ao Senhor” (lit. “será chamado santo para o Senhor”: 1,35!; Ex 13,2.12.15). Segundo a Lei, as primícias de tudo o que se tem são do Senhor. Isto aplica-se em especial aos primogénitos machos, tanto dos homens, como dos animais: eles pertencem a Deus e devem ser “resgatados” (libertados mediante um pagamento), em agradecimento por Deus ter poupado os primogénitos de Israel na noite de Páscoa, quando feriu de morte os primogénitos dos egípcios, tanto dos homens, como dos animais (Ex 13,15s; 22,28; 34,19).
 
* Desta obrigação está isenta a tribo de Levi (Nm 3,12-13.40ss.45), porque, segundo a tradição judaica, todos os primogénitos de Israel tinham sido escolhidos pelo Criador para o sacerdócio por terem sido poupados na última das dez pragas do Egito. No entanto, quando os israelitas pecaram junto ao Sinai, oferecendo sacrifícios ao bezerro de ouro, só os filhos de Levi se juntaram a Moisés para executar a sentença divina (Ex 32,26-29), passando a ser apenas eles a assumir o sacerdócio. Desde então foi instituído “o resgate do primogénito” (he. pidyon ha-ben: Nm 18,16; gr. lytrôsis, “redenção”: v. 38; 1,68), como forma de resgatar o primogénito da obrigação do sacerdócio. Isto deve fazer-se a partir do 30º dia do nascimento dele (um mês civil) e antes de completar o segundo mês (Nm 18,16), o mais tardar até aos cinco anos de idade (Lv 27,6). O filho deve ser resgatado pelo seu pai que se pode dirigir a qualquer sacerdote em qualquer lugar da nação e lhe entrega o filho, dizendo “Este meu primogénito é o primogénito da sua mãe e o Santificado, bendito seja Ele, ordenou-nos que o resgatássemos”, pagando-lhe 5 siclos de prata pura (“segundo o ciclo do Santuário”, 5 x 11,4g: Nm 3,47; 18,16; Mek Ex 13,2, 22b; Mek Ex 22,29, 103a; SNu 18,15 §118, 38a).
 
* Lucas, que gosta de sublinhar a pobreza (6,20; 9,3; 14,13.21; 18,22; At 3,6; 8,20; 20,33), e é avesso ao dinheiro, não refere o pagamento, mas alude aqui ao rito e dá-o como cumprido (v. 39), fazendo-o coincidir com a purificação de Maria (cf. v. 22: “a purificação deles”), por razões de ordem prática. Destaca assim a piedade de Maria e de José, que apresentam Jesus a Deus numa cena que evoca 1Sm 1,24-26 (a apresentação de Samuel a Deus, por Ana, no templo de Silo).
 
* v. 24. “A Lei do Senhor” prescrevia, no caso de a família ser pobre, que a mulher oferecesse em sacrifício pela sua purificação apenas “um par de rolas ou duas pombinhas”
(Lv 12,6.8). É o caso da família de Jesus, que faz parte dos “pobres de Israel”, o resto fiel a Deus que obedece de coração, com amor, à sua “Lei” (5x aqui). Ao mesmo tempo, Lucas mostra que Jesus é desde o princípio “o Santo” de Deus (v. 23: “consagrado”; 4,34), como o Anjo dissera a Maria (1,35), decorrendo toda a sua vida segundo a Palavra de Deus, que nele se vai realizando.
 
* v. 25. Duas personagens acolhem Jesus no Templo: ambas são idosas, representando o antigo povo de Deus que esperava ardentemente a restauração do reino de Deus e a libertação (resgate, “redenção”) do seu povo. Bem ao estilo de Lucas, são um par: um homem e uma mulher (4,25-28.31-39; 7,1-17.36-50; 23,55-24,35). Ambos “profetizam”, ou seja, agem e falam em nome de Deus, sob moção do Espírito Santo. Lucas expressa deste modo três temas fundamentais da sua obra: a) ambos, homem e mulher, estão juntos na presença de Deus, sendo iguais em honra e graça, tendo os mesmos dons e responsabilidades (Gn 1,27; Gl 3,28); b) em Jesus inauguram-se os tempos messiânicos, marcados pela efusão do Espírito Santo e a irrupção do dom de profecia (Nm 11,27; Jl 2,28), extinto há mais de 400 anos; 3) só é possível encontrar Jesus e (re)conhecê-lo por ação do Espírito Santo.
 
* A primeira personagem é Simeão (he. “Deus ouviu”). “Era um homem justo” (1,6.17; 23,50; At 10,22), que fazia de coração a vontade de Deus (Is 51,7); “e piedoso”, cumprindo os preceitos de Deus humilde e reverentemente (At 2,5; 8,2; 22,12); “que esperava” (há longo tempo: Rt 1,13) a “consolação de Israel” (cf. v. 38) – ou seja, a libertação do cativeiro e a salvação do Povo de Deus, disperso pelo exílio, prometidas pelos profetas (cf. Is 40,1; 49,13; 51,12; 52,9; 61,2; 66,13; Jr 31,9; Zc 1,17) –, vivendo na esperança no cumprimento das promessas de salvação, porque “o Espírito Santo estava sobre ele” (3,22; Nm 11,25.29), animando a sua vida.
 
* v. 26. “Fora-lhe revelado” (cf. Jr 36,2.4; At 10,20) “pelo Espírito Santo”. “Espírito Santo” aparece aqui pela primeira vez em Lucas com o artigo (10,21; 12,10. 12), o que só ocorre três vezes no AT (Sl 51,13; Is 63,10s). “Que não veria a morte”, que não morreria (Sl 89,49; Hb 11,5; Jo 8,51), “sem antes ter visto (9,27) “o Cristo do Senhor” (só em 2,11; 1Sm 24,11), ou seja, o “ungido (he. Messiah) de Deus”, título que no AT designa o Sumo-sacerdote (Lv 21,12) e o rei (1Sm 24,6.10), sagrados com o óleo da unção (cf. Ex 25,6; 30,23-32), bem como o Messias prometido (Sl 2,2).
 
* v. 27. Simeão vai ao Templo “no Espírito”, impelido por Ele (1,17; 4,1; 10,21; Mq 3,8; Zc 4,6; 7,12), no momento em que “os pais trouxeram o Menino Jesus para fazerem segundo o costume da Lei acerca dele”. Ao cumprirem o que a Lei prescrevia, levam a que se cumpra também Ml 3,1: “De repente, virá ao seu Templo o Senhor, a quem buscais, o Anjo da Aliança, a quem desejais”. Lucas chama aqui pela primeira vez “pais” a José e Maria porque foi só na circuncisão que José assumiu a paternidade legal sobre Jesus (vv. 21.33; 3,23), sendo pai legal dele.
 
* v. 28. Impelido pelo Espírito (cf. At 8,29; 10,19; 11,12; 13,2), Simeão reconhece Jesus e intervém com atos e palavras expressivos. Num gesto de amor, ternura e gratidão, “recebe” o Menino nos braços (cf. Mc 9,36; 10,16) como um dom (gr. dékomai: 9,48; 18,17; 22,17; Gn 33,10; Dt 32,11) e bendiz a Deus (1,42.64; 24,53; Sl 16,7; 34,2; 63,5; 96,2; 103,2; 134,2), profetizando.
 
* v. 29. “Agora” (gr. nûn). É o “agora” do tempo da graça, do dia da salvação (22,18.69; 2Cor 6,2). “Senhor” (gr. despótes, “mestre”, “soberano”: At 4,24; Gn 15,2.8; Js 5,14; Dn 9,15-19): é Deus quem dirige tudo. “Podes deixar partir em paz”, ou seja, deixar morrer (Gn 15,15; 46,30; Tb 11,9), livre do medo da morte (Hb 2,14s). “O teu servo” (gr. doulós, “escravo”: 1,38.48; Rm 1,1; 2Co 4,5; Gl 1,10; Fl 1,1; 2,7; Tt 1,1; Tg 1,1; 2Pd 1,1; Jd 1,1; Ap 1,1), ou seja, a mim, sobre quem podes dispor, com direito de vida e de morte. “Segundo a tua Palavra” que me prometeste pelo Espírito Santo (v. 26), e de acordo com o meu desejo (cf. Gn 47,30; Nm 14,20; 1Rs 3,12). O encontro com Jesus ilumina projeta uma nova luz sobre a existência do homem e a sua morte, fazendo dela uma passagem para a eternidade.
v. 30. Depois, declara no Templo de Jerusalém que os seus olhos “viram a salvação” (3,6; Sl 98,3; cf. Jb 42,5; Sl 67,3). O nome “Jesus” em aramaico é Ieshuah (“Deus salva”), a palavra hebraica para “salvação”: ver Jesus é ver a salvação.
 
* v. 31.”Que preparaste diante de todos os povos” (gr. laós: Is 52,10), ou seja, que destinaste, começando pelo teu povo, a toda a humanidade (Is 40,5 LXX).
 
* v. 32. A seguir, Simeão anuncia o objetivo da obra de Jesus: levar a todos os homens a “luz” (Is 9,2; At 26,18) do Evangelho que se deve “revelar às nações”, isto é, aos gentios (Is 42,6; 49,9.6; 51,4; At 13,47) e ser a “glória de Israel”, o povo de Deus (Is 4,2; 46,13; 45,25; 60,1s.19). “Glória” alude à glória divina da ressurreição de Jesus (9,26.31s; 21,27; 24,26), da qual participará o novo Povo de Deus, o novo Israel (Rm 9,6ss; Gl 6,6; Fl 3,3). Jesus é o Servo de Iavé que levará a salvação (através dos seus discípulos) a todos os povos da terra, que nele serão irmanados, sem qualquer distinção, no único povo de Deus, que participará da Sua glória. Emerge aqui, pela primeira vez, de forma explícita, o tema, tão caro a Lucas, da universalidade da salvação (2,14; 24,47; At 1,8).
 
* v. 33. “Seu pai e sua Mãe” (v. 27) ficam “admirados” com o que “se diz” (particípio presente) de Jesus (1,63; 2,18.48). De fato, antes só tinha sido anunciada a missão de Jesus em relação a Israel; agora é-lhes dito que Ele será glorificado e que a sua missão se estenderá a todos os povos.
 
* v. 34. “Simeão abençoou-os”: a Jesus, Maria e José (cf. Dt 18,5 LXX; Nm 6,23-26). Depois anuncia profeticamente a Maria a divisão que Jesus irá provocar em Israel e no mundo (cf. 4,16-30; 12,51), desvelando-lhe o seu destino: o anúncio e a obra da salvação da humanidade passarão pelo sofrimento (“a cruz”: 24,7.44.46), de modo que Jesus será “um sinal de contradição” para todos (7,23; At 28,22; Is 8,14; 28,16): para os que não acreditarem nele e o rejeitarem, será causa de queda e de ruína (como acontecerá a Jerusalém no ano 70 d.C.: Dn 11,41 LXX; Mt 21,42; Rm 9,32; 1Pd 2,7); para os que nele crerem, será fonte de “ressurreição” (gr. anástasis), de vida nova, luz e salvação (At 26,23; Rm 6,5; 1Cor 1,23). É uma alusão aos pontos centrais do querigma: a morte e ressurreição de Cristo e o seu anúncio a todos os povos (9,20.22; 24,26. 46s; At 2,36; 4,10ss; 10,36-42; 17,3), missão esta que será acompanhada de hostilidade e de perseguições por parte do seu próprio povo, não só em Israel, como também no Império Romano.
 
* v. 35.
Tal como o discípulo é associado à cruz (9,23; 14,27), também Maria será intimamente associada à obra do seu Filho de modo singular, único, para a vida e para morte, obra esta que “traspassará” como espada a sua alma (v. 48; Jo 19,25s.37; Hb 4,12; Sl 124,5) de dor (cf. Am 5,17) “para que se revelem os pensamentos de muitos corações” (cf. 5,22; 9,47; 16,15; 24,38; Sb 7,20; Jr 17,9s; Dn 2,22.30; 1Cor 3,13), pró ou contra Jesus, em última análise, pró ou contra Deus.
 
* v. 36. A segunda figura, Ana, é toda ela simbólica. O seu nome, “Ana”, significa “graça”, “ternura”; e o apelido, “Fanuel”, “rosto de Deus” (Gn 32,31): em Jesus, Deus mostra o seu rosto e dá a sua graça. Ela é “profetiza” (cf. v. 25; Ex 15,20; Jz 4,4; 2Rs 22,14; 2Cr 34,22; Is 8,3), patenteando os tempos messiânicos da efusão do Espírito (Jl 3,1; At 2,17s). Ana é de Asser (“feliz”), a tribo menor, afastada e insignificante de Israel (Dt 33,24), no noroeste da Galileia.
 
* v. 37. A idade de Ana também é simbólica: 7x12=84 anos, indicando 7 a perfeição e 12 o Povo de Deus. Ela é “viúva”, figura daquele Israel pobre e sofredor que se manteve sempre fiel a Iavé. Manteve-se viúva após a morte do marido (cf. Is 60,20; 61,3), ansiando, suplicando e esperando o cumprimento das promessas de Deus, “Sem se afastar do Templo” (cf. Sl 26,8; 27,4; 84,11), não porque nele pernoitasse (uma vez que as portas deste se fechavam durante a noite: cf. 21,37; Sl 134,1), mas porque vivia perto dele. “Prestando culto” a Deus (cf. Ex 3,12; 20,5; 23,25; Dt 6,13; 10,20; Js 24,14); ininterruptamente, “noite e dia” (Jt 11,37; At 20,31; 26,7; 1Ts 2,9; 3,10; 2Ts 3,8; 1Tm 5,5; 2Tm 1,3); “com jejuns e orações” (cf. 5,33; At 13,3; 14,23; Ne 1,4; Dn 9,3), uma prática regular dos judeus piedosos (Jt 8,6!), para implorar a vinda do Messias (cf. 5,33; Dn 10,3).
 
* v. 38. Ao ver Jesus, Ana não só reconhece nele o Messias, mas põe-se a louvar a Deus (Sl 79,13; Dn 4,37) e a falar profeticamente dele “a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (cf. v. 25; Sl 111,19; 130,7; Is 43,1; 59,20; 63,4). A palavra “redenção” (gr. lytrosis, “resgate”: cf. v. 23) é a mesma que é usada para falar da libertação de Israel da escravidão do Egito (cf. Ex 6,6; 15,13; Dt 7,8; 2Sm 7,23) e para designar o novo êxodo, o da salvação futura do povo de Deus (Is 41,14; 43,1; 44,6.22ss; 52,3; 62,12; 63,9; Jr 31,11; Os 13,14; Zc 10,8), levado a cabo pelo Messias (Jesus: 9,31). Esta redenção, que se estendia a todo o povo eleito (1,68; 24,21), interessava em primeiro lugar à sua capital, Jerusalém (cf. Is 52,9; 40,2), onde David se instalara como rei de Judá e de Israel (2Sm 5,9) e Salomão construiu o Templo. Ana é figura do Israel pobre e fiel que põe toda a sua esperança em Deus, se deixa guiar pelo seu Espírito e reconhece em Jesus o Messias prometido, que a anuncia a todos os que esperam (receber) a redenção.
 
v. 39. O texto conclui com um sumário da infância de Jesus. Cumpridos todos as prescrições da Lei a respeito do Menino, “voltaram à sua cidade, Nazaré” (1,26; 2,4; Mt 2,23), donde tinham partido.
* v. 40: v. 52; cf. At 7,10. “Entretanto, o Menino crescia” (1Sm 2,21.26) “e fortalecia-se” (cf. 1,80; Sl 80,18; Ef 3,16; 6,10). “Enchendo-se de sabedoria” (cf. 11,31; Is 11,2; 1Cor 1,24.30; Cl 1,9; 2,3; Tg 3,17), “e a graça de Deus estava com Ele” (cf. 4,22; Sl 45,2; Sb 3,9; Jo 1,14.17), dons estes que vêm de Deus (cf. Tg 1,17; 3,15) e que Jesus, diversamente de João Batista, possui como próprios, atestando a sua divindade.
 
MEDITAÇÃO:
1. Como conheci o Senhor? Já me senti conduzido por Ele? Vão ao encontro dele e reconheço‑o na pessoa dos pobres?
2. Deus ocupa o centro da minha vida? Deixo-me guiar pelo Seu Espírito e iluminar pela Sua Palavra? Levo a cabo a missão que Ele me confiou no batismo de ser sua testemunha e de O anunciar a todos?
3. Que contradições devem acabar em mim, porque me afastam de Jesus, e que aspetos devem receber vida nova para dele me aproximar?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Sábado da 3ª semana do Tempo Comum

Bta Candelária de São José, virgem de nossa Ordem
 
1ª Leitura (Hb 11,1-2.8-19):
Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que de um só homem __ um homem que a morte já espreitava __ nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.
 
Salmo Responsorial: Lc 1
R. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo.
 
O Senhor nos deu um Salvador poderoso, na casa de David, seu servo, como prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos;
 
Para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos daqueles que nos odeiam; para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança:
 
O juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: de O servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça na sua presença, todos os dias da nossa vida.
 
Aleluia. Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito; quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 4,35-41): Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos discípulos: «Passemos para a outra margem!”». Eles despediram as multidões e levaram Jesus, do jeito como estava, consigo no barco; e outros barcos o acompanhavam. Veio, então, uma ventania tão forte que as ondas se jogavam dentro do barco; e este se enchia de água. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram-lhe: «Mestre, não te importa que estejamos perecendo?». Ele se levantou e repreendeu o vento e o mar: «Silêncio! Cala-te!» O vento parou, e fez-se uma grande calmaria. Jesus disse-lhes então: «Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?». Eles sentiram grande temor e comentavam uns com os outros: «Quem é este, a quem obedecem até o vento e o mar?».
 
«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?»
 
Rev. D. Joaquim FLURIACH i Domínguez (St. Esteve de P., Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Senhor discute com os discípulos por sua falta de fé: «Ele disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?» (Mc 4,40). Jesus Cristo já havia dado suficientes mostras de ser Ele o Enviado e, mesmo assim, não acreditam. Não notam que, tendo com eles o próprio Senhor, nada devem temer. Jesus faz um paralelismo claro entre “fé” e “valentia”.
 
Em outro lugar do Evangelho, ante uma situação onde os Apóstolos duvidam, se diz que ainda não podiam acreditar porque não haviam recebido o Espírito Santo. O senhor deverá ter muita paciência para continuar ensinando aos primeiros aquilo que eles mesmos nos mostrarão depois, e do que serão firmes e valentes testemunhas.
 
Estaria muito bem que nós também nos sentíssemos “repreendidos”. Com mais motivo ainda! Recebemos o Espírito Santo que nos faz sentir capazes de entender como realmente o Senhor está conosco no caminho da vida, se realmente buscamos fazer sempre a vontade do Pai. Objetivamente, não temos nenhum motivo para a covardia. Ele é o único Senhor do Universo, porque «Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» (Mc 4,41), como afirmam admirados os discípulos.
 
Então, o que é o que me dá medo? São motivos tão graves como para pôr em dúvida o poder infinitamente grande como é o do Amor que o Senhor nos tem? Esta é a pergunta que nossos irmãos mártires souberam responder, não com palavras, mas com sua própria vida. Como tantos irmãos nossos que, com a graça de Deus, cada dia fazem de cada contradição um passo mais no crescimento da fé e da esperança. Nós, por que não? É que não sentimos dentro de nós o desejo de amar ao Senhor com todo o pensamento, com todas as forças, com toda a alma?
 
Um dos grandes exemplos de valentia e de fé, temos em Maria, Auxílio dos cristãos, Rainha dos confessores. Ao pé da Cruz soube manter em pé a luz da fé... que se fez resplandecente no dia da Ressurreição!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Na oração feita devidamente, se fundem as penas como a neve na presencia do sol» (São João Mª Vianney)
 
«Os Apóstolos não devem temer as ameaças: Cristo —mesmo que silencioso— está na barca e, por isso, nunca se tem afundado» (Bento XVI)
 
«A referência, primeira e última, desta catequese será sempre o próprio Jesus Cristo, que é ‘o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6). De olhos postos n'Ele com fé, os cristãos podem esperar que Ele próprio realize neles as suas promessas e, amando-O com o amor com que Ele os amou, podem fazer as obras correspondentes à sua dignidade» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.698)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de hoje descreve a tempestade no lago e Jesus dormindo no barco.
Nossas comunidades, muitas vezes, se sentem como um barquinho perdido no mar da vida, sem muita esperança de poder chegar no porto. Jesus parece estar dormindo no nosso barco, pois não aparece nenhum poder divino para salvar-nos das dificuldades e da perseguição. Em vista desta situação de desespero, Marcos recolhe vários episódios que revelam como Jesus presente no meio da comunidade. Nas parábolas revelou o mistério do Reino presente nas coisas da vida (Mc 4,1-34). Agora começa a revelar o mistério do Reino presente no poder que Jesus exerce a favor dos discípulos, a favor do povo e, sobretudo, a favor dos excluídos e marginalizados. Jesus vence o mar, símbolo do caos (Mc 4,35-41). Nele atua um poder criador! Jesus vence e expulsa o demônio (Mc 5,1-20). Nele atua um poder libertador! Jesus vence a impureza e a morte (Mc 5,21-43). Nele atua o poder de vida! É o Jesus vencedor! Não há motivo para as comunidades terem medo. Este é o motivo do relato da tempestade acalmada que meditamos no evangelho de hoje.
 
* Marcos 4,35-36: O ponto de partida: “Vamos para o outro lado”. Foi um dia pesado de muito trabalho. Terminado o discurso das parábolas (Mc 4,1-34), Jesus diz: “Vamos para o outro lado!” Do jeito que Jesus estava, eles o levam no barco, de onde tinha feito o discurso das parábolas. De tão cansado, Jesus se deita e dorme em cima de um travesseiro. Este é o quadro inicial que Marcos pinta. Quadro bonito, bem humano.
 
* Marcos 4,37-38: A situação desesperadora: “Não te importa que pereçamos?” O lago da Galileia é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas das rochas, o vento cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento forte, mar agitado, barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores experimentados. Se eles acham que vão afundar, então a situação é perigosa mesmo! Jesus nem sequer acorda e continua dormindo. Este sono profundo não é só sinal do grande cansaço. É também expressão da confiança tranquila que ele tem em Deus. O contraste entre a atitude de Jesus e a dos discípulos é grande!
 
* Marcos 4,39-40: A reação de Jesus: “Vocês ainda não têm fé?” Jesus acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos discípulos. Primeiro, ele se dirige ao mar e diz: “Fique quieto!” E logo o mar se acalma. Em seguida, se dirige aos discípulos e diz: “Por que vocês têm medo? Ainda não têm fé?” A impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar, pois não havia nenhum perigo. É como quando você chega numa casa e o cachorro, ao lado do dono, late muito. Aí não precisa ter medo, pois o dono está aí e controla a situação. O episódio do mar acalmado evoca o êxodo, quando o povo, sem medo, passava pelo meio das águas do mar (Ex 14,22). Evoca o profeta Isaías que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2) Jesus refaz o êxodo e realiza a profecia anunciada pelo Salmo 107(106),25-30.
 
* Marcos 4,41: O não saber dos discípulos: “Quem é este homem?” Jesus acalmou o mar e disse: “Então, vocês não têm fé?” Os discípulos não sabem o que responder e se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento obedecem?” Jesus parece um estranho para eles! Apesar da longa convivência, não sabem direito quem ele é. Quem é este homem? Com esta pergunta na cabeça, as comunidades continuavam a leitura do evangelho. E até hoje, é esta mesma pergunta que nos leva a continuar a leitura dos Evangelhos. É o desejo de conhecer sempre melhor o significado de Jesus para a nossa vida.
 
* Quem é Jesus? Marcos começa o seu evangelho dizendo: “Início da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). No fim, na hora da morte de Jesus, um soldado pagão declara: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15,39) No começo e no fim do Evangelho, Jesus é chamado Filho de Deus. Entre o começo e o fim, aparecem muitos outros nomes de Jesus. Eis a lista: Messias ou Cristo (Mc 1,1; 8,29; 14,61; 15,32); Senhor (Mc 1,3; 5,19; 11,3); Filho amado (Mc 1,11; 9,7); Santo de Deus (Mc 1,24); Nazareno (Mc 1,24; 10,47; 14,67; 16,6); Filho do Homem (Mc 2,10.28; 8,31.38; 9,9.12.31; 10,33.45; 13,26; 14,21.21.41.62); Noivo (Mc 2,19); Filho de Deus (Mc 3,11); Filho do Deus altíssimo (Mc 5,7); Carpinteiro (Mc 6,3); Filho de Maria (Mc 6,3); Profeta (Mc 6,4.15; 8,28); Mestre (frequente); Filho de Davi (Mc 10,47.48; 12,35-37); Bendito (Mc 11,9); Filho (Mc 13,32); Pastor (Mc 14,27); Filho do Deus bendito (Mc 14, 61); Rei dos judeus (Mc 15,2.9.18.26); Rei de Israel (Mc 15,32),
 
Cada nome, título ou atributo é uma tentativa de expressar o que Jesus significava para as pessoas. Mas um nome, por mais bonito que seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de Jesus. Além disso, alguns destes nomes dados a Jesus, inclusive os mais importantes e os mais tradicionais, são questionados e colocados em dúvida pelo próprio Evangelho de Marcos. Assim, na medida em que avançamos na leitura do evangelho, Marcos nos obriga a rever nossas ideias e a nos perguntar, cada vez de novo: “Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?” Quanto mais se avança na leitura do evangelho de Marcos, tanto mais se quebram os títulos e os critérios. Jesus não cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum título. Ele é maior! Aos poucos, o leitor, a leitora, vai se entregando e desiste de querer enquadrar Jesus em algum conceito conhecido ou ideia já pronta, e o aceita do jeito que ele mesmo se apresenta. O amor capta, a cabeça, não!
 
Para um confronto pessoal
1. As águas do mar da vida, alguma vez, já ameaçaram afogar você? O que o salvou?
2. Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o mar agitado na época em que Marcos escreveu o seu evangelho? Qual é, hoje, o mar agitado para nós?
3. Leia Isaías 43,2 e também Salmo 107(106),25-30, e compare-os com o episódio da tempestade acalmada. Qual a conclusão que você tira?

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

1º de fevereiro

 Beata Candelária de São José
Virgem de nossa Ordem
 

Candelária de São José (Susana Paz Castillo Ramírez), nasceu em Altagracia de Orituco, Venezuela, em 11 de agosto de 1863. Distinguiu-se por seu amor aos enfermos e aos pobres. Junto com outras jovens de sua cidade e com o apoio de um grupo de médicos e do padre Sixto Sosa, pároco de Altagracia de Orituco, fundou um hospital para atender a todos os necessitados, começando com isto a fundação da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Altagracia, atualmente denominada Irmãs Terceiras Carmelitas Regulares também conhecidas como Carmelitas da Madre Candelária ou Venezuelanas.  Morreu em 31 de janeiro de 1940. Foi beatificada em 27 de abril de 2008 em Caracas (Venezuela).
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Ó Deus que vos alegrais em habitar nos corações puros, concedei-nos, por intercessão da beata Candelária de São José, viver, por vossa graça, de tal maneira que mereçamos ter-vos sempre conosco.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Sexta-feira da 3ª semana do Tempo Comum

São João Bosco, presbítero
 
1ª Leitura (Hb 10,32-39):
Irmãos: Lembrai-vos dos primeiros dias, em que, depois de terdes sido iluminados, suportastes tão grandes e dolorosos combates, ora expostos publicamente aos insultos e tribulações, ora tornando-vos solidários com os que eram assim tratados. De facto, compartilhastes o sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com alegria a espoliação dos vossos bens, sabendo que possuís riqueza melhor e duradoira. Não queirais, portanto, perder a vossa confiança, que terá uma grande recompensa. Vós tendes necessidade de perseverança, para cumprir a vontade de Deus e alcançar os bens prometidos. Porque «ainda um pouco e bem pouco tempo, e Aquele que há-de vir não tardará». Ora «o meu justo viverá pela fé, mas se retroceder, não agradará à minha alma». Nós não somos daqueles que retrocedem para a sua perdição, mas daqueles que perseveram na fé para salvar a sua alma.
 
Salmo Responsorial: 36
R. A salvação dos justos vem do Senhor.
 
Confia no Senhor e pratica o bem, possuirás a terra e viverás tranquilo. Põe no Senhor as tuas delícias e Ele satisfará os anseios do teu coração.
 
Confia ao Senhor o teu destino e tem confiança, que Ele atuará. Fará brilhar a tua luz como a justiça e como o sol do meio-dia os teus direitos.
 
O Senhor consolida os passos do homem e aprova os seus caminhos. Se cair, não ficará por terra, porque o Senhor o tomará pela mão.
 
A salvação dos justos vem do Senhor, Ele é o seu refúgio no tempo da tribulação. O Senhor os ajuda e defende, porque n’Ele procuraram refúgio.
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 4,26-34): Jesus dizia-lhes: «O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra. Quer ele esteja dormindo ou acordado, de dia ou de noite, a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra produz o fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, finalmente, os grãos que enchem a espiga. Ora, logo que o fruto está maduro, mete-se a foice, pois o tempo da colheita chegou». Jesus dizia-lhes: «Com que ainda podemos comparar o Reino de Deus? Com que parábola podemos apresentá-lo? É como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças, com ramos grandes a tal ponto que os pássaros do céu podem fazer seus ninhos em sua sombra». Jesus lhes anunciava a palavra usando muitas parábolas como estas, de acordo com o que podiam compreender. Nada lhes falava sem usar parábolas. Mas, quando estava a sós com os discípulos, lhes explicava tudo.
 
«O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra e a terra produz o fruto por si mesma»
 
Rev. D. Jordi PASCUAL i Bancells (Salt, Girona, Espanha)
 
Hoje, Jesus fala às pessoas de uma experiência muito próxima das suas vidas: «Um homem lança a semente na terra (…); a semente germina e cresce (…). A terra produz o fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, finalmente, os grãos que enchem a espiga» (Mc 4,26-28). Refere-se, com estas palavras, ao Reino de Deus, que consiste na «santidade e graça, Verdade e Vida, justiça, amor e paz» (Prefácio da Solenidade de Cristo Rei), que Jesus Cristo nos veio trazer. Este Reino tem de ser uma realidade, em primeiro lugar dentro de cada um de nós; depois, no nosso mundo.
 
Pelo Batismo, Jesus semeou, na alma de cada cristão, a graça, a santidade, a Verdade… Temos de fazer crescer esta semente para que frutifique em abundância de boas obras: de serviço e caridade, de amabilidade e generosidade, de sacrifício para cumprir bem o nosso dever de cada dia e para fazer felizes aqueles que nos rodeiam, de oração constante, de perdão e compreensão, de esforço para crescer em virtudes, de alegria…
 
Assim, este Reino de Deus – que começa dentro de cada um – se estenderá a nossa família, a nossa cidade, a nossa sociedade, ao nosso mundo. Porque quem vive assim, «que faz senão preparar o caminho do Senhor (…), a fim de que nele penetre a força da graça, que o ilumine a luz da verdade, que faça retos os caminhos que conduzem a Deus?» (São Gregório Magno).
 
A semente começa pequena, como «um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças» (Mc 4,31-32). Porém, a força de Deus difunde-se e cresce com um vigor surpreendente. Como nos primeiros tempos do Cristianismo, Jesus pede-nos hoje que difundamos o seu Reino por todo o mundo.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Semeia tu também na tua horta a Cristo, na qual faça florescer a beleza das tuas obras e se respire o multiforme olor das diversas virtudes» (Santo Ambrósio de Milão)
 
«A debilidade é a força da semente, ao morrer chega à sua máxima potência. Assim é o reino de Deus: uma realidade humanamente pequena, composta pelos pobres de coração, pelos que não confiam só na sua própria força, senão na do amor de Deus» (Bento XVI)
 
«A vocação própria dos leigos consiste precisamente em procurar o Reino de Deus ocupando-se das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus [...]. Pertence-lhes, de modo particular, iluminar e orientar todas as realidades temporais a que estão estreitamente ligados, de tal modo que elas sejam realizadas e prosperem constantemente segundo Cristo, para glória do Criador e Redentor» (438) (Catecismo da Igreja Católica, nº 898)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
*
É bonito ver como Jesus, cada vez de novo, buscava na vida e nos acontecimentos elementos e imagens que pudessem ajudar o povo a perceber e experimentar a presença do Reino. No evangelho de hoje ele, novamente, conta duas pequenas histórias que acontecem todos os dias na vida de todos nós: “A história da semente que cresce sozinha” e “A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande”.
 
* A história da semente que cresce sozinha. O agricultor que planta conhece o processo: semente, fiozinho verde, folha, espiga, grão. Ele não mete a foice antes do tempo. Sabe esperar. Mas não sabe como a terra, a chuva, o sol e a semente têm esta força de fazer crescer uma planta do nada até a fruta. Assim é o Reino de Deus. Tem processo, tem etapas e prazos, tem crescimento. Vai acontecendo. Produz fruto no tempo marcado. Mas ninguém sabe explicar a sua força misteriosa. Ninguém é dono. Só Deus!
 
* A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande. A semente de mostarda é pequena, mas ela cresce e, no fim, os passarinhos vêm para fazer seu ninho nos ramos. Assim é o Reino. Começa bem pequeno, cresce e estende seus ramos para os passarinhos fazerem seus ninhos. Começou com Jesus e uns poucos discípulos e discípulas. Foi perseguido e caluniado, preso e crucificado. Mas cresceu e foi estendendo seus ramos. A parábola deixa uma pergunta no ar que vai ter resposta mais adiante no evangelho: Quem são os passarinhos? O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar na comunidade e ter parte no Reino.
 
* O motivo que levava Jesus a ensinar por meio de parábolas. Jesus contava muitas parábolas. Tudo tirado da vida do povo! Assim ele ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava o quotidiano transparente. Pois o extraordinário de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus.
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus não explica as parábolas. Ele conta as histórias e provoca em nós a imaginação e a reflexão da descoberta. O que você descobriu nestas duas parábolas?
2) Tornar a vida transparente é o objetivo das parábolas. Ao longo dos anos, sua vida ficou mais transparente ou aconteceu o contrário?

Quinta-feira da 3ª semana do Tempo Comum

Beato Columba (José) Marmion,, abade e presbítero
 
1ª Leitura (Hb 10,19-25):
Tendo nós plena confiança de entrar no santuário por meio do sangue de Jesus, por este caminho novo e vivo que Ele nos inaugurou através do véu, isto é, o caminho da sua carne, e tendo tão grande sacerdote à frente da casa de Deus, aproximemo-nos de coração sincero, na plenitude da fé, tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado na água pura. Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois Aquele que fez a promessa é fiel. Velemos uns pelos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras, sem abandonarmos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas exortando-nos mutuamente, tanto mais quanto vedes que se aproxima o dia do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 23
R. Esta é a geração dos que procuram o Senhor.
 
Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
 
Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
 
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob.
 
Aleluia. A vossa palavra, Senhor, é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 4,21-25): Jesus dizia-lhes: «Será que a lâmpada vem para ficar debaixo de uma caixa ou debaixo da cama? Pelo contrário, não é ela posta no candelabro? De fato, nada há de escondido que não venha a ser descoberto; e nada acontece em segredo que não venha a se tornar público. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!» Jesus dizia-lhes: «Considerai bem o que ouvis! A medida que usardes para os outros, servirá também para vós, e vos será acrescentado ainda mais. A quem tem, será dado; e a quem não tem, será tirado até o que tem».
 
«Será que a lâmpada vem para ficar debaixo de uma caixa ou debaixo da cama?»
 
Rev. D. Àngel CALDAS i Bosch (Salt, Girona, Espanha)
 
Hoje, Jesus nos explica o segredo do Reino do Céu. Inclusive utiliza uma certa ironia para mostrar-nos que a “energia” interna que tem a Palavra de Deus —a própria Dele—, a força expansiva que se deve estender por todo o mundo, é como uma luz, e que esta luz não pode ficar embaixo do alqueire «Dizia-lhes ainda: Traz-se porventura a candeia para ser colocada debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser posta no candeeiro?» (Mc 4,21).
 
Por acaso podemos imaginar a estupidez humana que seria colocar a vela acesa embaixo da cama? Cristãos com a luz apagada ou com a luz acesa com a proibição de iluminar! Isto sucede quando não pomos ao serviço da fé a plenitude de nossos conhecimentos e de nosso amor. Quão antinatural resulta o egoísmo sobre nós mesmos, reduzindo nossa vida ao limite de nossos interesses pessoais! Viver sob a cama! Ridícula e tragicamente imóveis: “ausentes” do espírito.
 
O Evangelho —pelo contrário— é um santo arrebato de Amor apaixonado que quer comunicar-se, que necessita “dizer”, que leva em si uma exigência de crescimento pessoal, de maturidade interior, e de serviço aos outros. «Se dizes: Basta! “Estás morto», diz Santo Agostinho. E São Josemaria: «Senhor: que tenha peso e medida em tudo..., menos no Amor».
 
«‘Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.’ Lhes dizia também: ‘Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará.’» (Mc 4,23-24). Mas, que queres dizer com escutar?; Que devemos escutar? É a grande pergunta que devemos fazer. É o ato de sinceridade para com Deus que nos exige saber realmente que queremos fazer. E para saber o que devemos escutar: é necessário estar atento às insinuações de Deus. Devemos nos introduzir no diálogo com Ele. E a conversa põe fim às “matemáticas da medida”: «Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará. Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que tem» (Mc 4,24-25). Os interesses acumulados de Deus nosso Senhor são imprevisíveis e extraordinários. Esta é uma maneira de excitar nossa generosidade.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
« Me concede, Senhor, um amor que nunca diminua, para que com ele brilhe sempre minha luminária e não se apague nunca, e suas chamas sejam para mim fogo ardente e para os demais luz brilhante» (São Columbano, Abade)
 
«Dos obstáculos, que perduram em nosso tempo, nos limitaremos em citar a falta de fervor, tanto mais grave quanto que vem de adentro. Esta falta de fervor se manifesta na fatiga e desilusão, na acomodação no ambiente, e sobretudo na falta de alegria e de esperança» (São Paulo VI)
 
«Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus gestos, sua oração seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na cruz, pela redenção do mundo, sua ressurreição, constituem a atuação de sua palavra e o cumprimento da revelação» (Catecismo da Igreja Católica, n° 561)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* A lâmpada que ilumina.
Naquele tempo, não havia luz elétrica. Imagine o seguinte. A família está em casa. Começa a escurecer. O pai se levanta, pega a lamparina, acende e coloca debaixo de um caixote ou debaixo de uma cama. O que os outros vão dizer? Vão gritar: “Pai! Coloca na mesa!” Esta é a história que Jesus conta. Ele não explica. Apenas diz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! A Palavra de Deus é a lâmpada a ser acesa na escuridão da noite. Enquanto estiver dentro do livro fechado da Bíblia, ela é como a lamparina debaixo do caixote. Quando ligada à vida e vivida em comunidade, ela é colocada na mesa e ilumina!
 
* Prestar atenção aos preconceitos. Jesus pede aos discípulos para tomar consciência dos preconceitos com que escutam o ensinamento que ele oferece. Devemos prestar atenção nas ideias com que olhamos para Jesus! Se a cor dos óculos é verde, tudo aparece verde. Se for azul, tudo será azul! Se a ideia com que eu olho para Jesus for errada, tudo o que penso sobre Jesus estará ameaçado de erro. Se eu acho que o messias deve ser um rei glorioso, não vou entender nada do que Jesus ensina e vou entender tudo errado.
 
* Parábolas: um novo jeito de ensinar e de falar sobre Deus. O jeito de Jesus ensinar era, sobretudo, através de parábolas. Ele tinha uma capacidade muito grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o povo conhecia e experimentava na sua luta diária pela sobrevivência. Isto supõe duas coisas: estar por dentro das coisas da vida, e estar por dentro das coisas do Reino de Deus.
 
* O ensino de Jesus era diferente do ensino dos escribas. Era uma Boa Nova para os pobres, porque Jesus revelava um novo rosto de Deus, no qual o povo se reconhecia e se alegrava. “Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado! (Mt 11,25-28)”.
 
Para um confronto pessoal
1) Palavra de Deus, lâmpada que ilumina. Qual o lugar que a Bíblia ocupa em minha vida? Qual a luz que dela recebo?
2) Qual a imagem de Jesus que está em mim? Quem é Jesus para mim, e quem sou eu para Jesus?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Quarta-feira da 3ª semana do Tempo Comum

Beata Arcângela Girlani, Virgem de nossa Ordem
 
1ª Leitura (Hb 10,11-18):
Todo o sacerdote da antiga aliança se apresenta cada dia para exercer o seu ministério e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca poderão perdoar os pecados. Cristo, ao contrário, tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício, sentou-Se para sempre à direita de Deus, esperando desde então que os seus inimigos sejam postos como escabelo dos seus pés. Porque, com uma única oblação, Ele tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica. O Espírito Santo também no-lo confirma, porque, depois de ter declarado: «Esta é a aliança que estabelecerei com eles, depois daqueles dias», o Senhor acrescenta: «Hei de imprimir as minhas leis no seu coração e gravá-las no seu espírito e não Me recordarei mais dos seus pecados e iniquidades». Ora, onde há remissão dos pecados, já não há necessidade de oblação pelo pecado.
 
Salmo Responsorial: 109
R. O Senhor é sacerdote para sempre.
 
Disse o Senhor ao meu Senhor: «Senta-te à minha direita, até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés.
 
O Senhor estenderá de Sião o ceptro do teu poder e tu dominarás no meio dos teus inimigos.
 
A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste nos esplendores da santidade, antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».
 
O Senhor jurou e não Se arrependerá: «Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec».
 
Aleluia. A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo: quem O encontra permanece para sempre. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 4,1-20): Outra vez, à beira-mar, Jesus começou a ensinar, e uma grande multidão se ajuntou ao seu redor. Por isso, entrou num barco e sentou-se, enquanto toda a multidão ficava em terra, à beira-mar. Ele se pôs a ensinar-lhes muitas coisas em parábolas. No seu ensinamento, dizia-lhes: «Escutai! O semeador saiu a semear. Ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e os passarinhos vieram e comeram. Outra parte caiu em terreno cheio de pedras, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, mas quando o sol saiu, a semente se queimou e secou, porque não tinha raízes. Outra parte caiu no meio dos espinhos; estes cresceram e a sufocaram, e por isso não deu fruto. E outras sementes caíram em terra boa; brotaram, cresceram e deram frutos: trinta, sessenta e até cem por um. E acrescentou: «Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!». Quando ficaram a sós, os que estavam com ele junto com os Doze faziam perguntas sobre as parábolas. Ele dizia-lhes: «A vós é confiado o mistério do Reino de Deus. Para aqueles que estão fora tudo é apresentado em parábolas, de modo que, por mais que olhem, não enxergam, por mais que escutem, não entendem, e não se convertem, nem são perdoados». Jesus então perguntou-lhes: «Não compreendeis esta parábola? Como então, compreendereis todas as outras parábolas? O semeador semeia a palavra. Os da beira do caminho onde é semeada a palavra são os que a ouvem, mas logo vem Satanás e arranca a palavra semeada neles. Os do terreno cheio de pedras são aqueles que, ao ouvirem a palavra, imediatamente a recebem com alegria, mas não têm raízes em si mesmos, são de momento; chegando tribulação ou perseguição por causa da palavra, desistem logo. Outros ainda são os que foram semeados entre os espinhos: são os que ouvem a palavra, mas quando surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e os outros desejos, a palavra é sufocada e fica sem fruto. E os que foram semeados em terra boa são os que ouvem a palavra e a acolhem, e produzem frutos: trinta, sessenta e cem por um».
 
«O semeador semeia a palavra»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje escutamos dos lábios do Senhor a “Parábola do semeador”. A cena é totalmente atual. O Senhor não deixa de “semear”. Também nos nossos dias é uma multidão a que escuta a Jesus pela boca de seu Vigário — o Papa—, de seus ministros e... de seus fieis laicos: a todos os batizados Cristo nos outorgou uma participação em sua missão sacerdotal. Há “fome” de Jesus. Nunca como agora a Igreja tem sido tão católica, já que sob suas “asas” abriga homens e mulheres dos cinco continentes e de todas as raças. Ele nos enviou ao mundo inteiro (cf. Mc 16,15) e, apesar das sombras do panorama, se fez realidade o mandato apostólico de Jesus Cristo.
 
O mar, a barca e as praias são substituídos por estádios, telas e modernos meios de comunicação e de transporte. Mas Jesus é hoje o mesmo de ontem. O homem não mudou, nem a sua necessidade de ensinar a amar. Também hoje há quem — por graça e gratuita escolha divina: é um mistério!— recebe e entende mais diretamente a Palavra. Como também há muitas almas que necessitam uma explicação mais descritiva e mais pausada da Revelação.
 
Em todo caso, a uns e outros, Deus nos pede frutos de santidade. O Espírito Santo nos ajuda a isso, mas não prescinde de nossa colaboração. Em primeiro lugar, é necessária a diligência. Se nós respondemos a meias, quer dizer, se nós mantemos na “fronteira” do caminho sem entrar plenamente nele, seremos vítima fácil de Satanás.
 
Segundo, a constância na oração — o diálogo—, para aprofundar no conhecimento e amor a Jesus Cristo: «Santo sem oração...? — “Não acredito nessa santidade» (São Josémaria).
 
Finalmente, o espírito de pobreza e desprendimento evitará que nos “afoguemos” pelo caminho. As coisas esclarecidas: «Ninguém pode servir a dois senhores... » (Mt 6,24).
 
Em Santa Maria encontramos o melhor modelo de correspondência à chamada de Deus.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O cuidado da nossa alma é muito semelhante ao cultivo da terra: arrancar o que é mau e plantar o que é bom; desarraigar o orgulho e plantar a humildade; deitar fora a avareza e guardar a misericórdia; desprezar a impureza e cuidar a castidade» (São Cesário de Aries)
 
«Semear é um gesto de confiança e de esperança; é necessário o trabalho do homem, mas, depois, entra-se no período de gestação sabendo bem que muitos fatores determinarão o êxito da colheita e que sempre se corre o risco do fracasso. Não obstante isto, o camponês, ano após ano, lança as suas sementes» (Bento XVI)
 
«(…) Um cristão deve querer meditar com regularidade; doutro modo, torna-se semelhante aos três primeiros terrenos da parábola do semeador. Mas um método não passa de um guia; o importante é avançar, com o Espírito Santo, no caminho único da oração: Cristo Jesus» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.707)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Sentado num barco, Jesus ensina o povo.
Nestes versos, Marcos descreve o jeito que Jesus tinha de ensinar o povo: na praia, sentado no barco, muita gente ao redor para escutar. Jesus não era uma pessoa estudada (Jo 7,15). Não tinha freqüentado a escola superior de Jerusalém. Vinha do interior, da roça, de Nazaré. Era um desconhecido, meio camponês, meio artesão. Sem pedir licença às autoridades, começou a ensinar o povo. Falava tudo diferente. O povo gostava de ouvi-lo.
 
* Por meio das parábolas, Jesus ajudava o povo a perceber a presença misteriosa do Reino nas coisas da vida. Uma parábola é uma comparação. Ela usa as coisas conhecidas e visíveis da vida para explicar as coisas invisíveis e desconhecidas do Reino de Deus. Por exemplo, o povo da Galileia entendia de semente, de terreno, chuva, sol, sal, flores, colheita, pescaria, etc. Ora, são exatamente estas coisas conhecidas do povo que Jesus usa nas parábolas para explicar o mistério do Reino.
 
* A parábola da semente retrata a vida do camponês. Naquele tempo, não era fácil viver da agricultura. O terreno tinha muita pedra. Muito mato. Pouca chuva, muito sol. Além disso, muitas vezes, o povo encurtava estrada e, passando no meio do campo, pisava nas plantas (Mc 2,23). Mesmo assim, apesar de tudo isso, todo ano, o agricultor semeava e plantava, confiando na força da semente, na generosidade da natureza.
 
* Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Jesus começou a parábola dizendo: “Escutem!” (Mc 4,3). Agora, no fim, ele termina dizendo: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” O caminho para chegar ao entendimento da parábola é a busca: “Tratem de entender!” A parábola não entrega tudo pronto, mas leva a pensar e faz descobrir a partir da própria experiência que os ouvintes têm da semente. Provoca a criatividade e a participação. Não é uma doutrina que já vem pronta para ser ensinada e decorada. A Parábola não dá água engarrafada, mas entrega a fonte. O agricultor que escutou, diz: “Semente no terreno, eu sei o que é! Mas Jesus diz que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que seria?” E aí você pode imaginar as longas conversas do povo! A parábola mexe com o povo e leva a escutar a natureza e a pensar na vida.
 
* Jesus explica a parábola aos discípulos. Em casa, a sós com Jesus, os discípulos querem saber o significado da parábola. Eles não entenderam. Jesus estranhou a ignorância deles (Mc 4,13) e respondeu por meio de uma frase difícil e misteriosa. Ele diz aos discípulos: “A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus. Aos de fora, porém, tudo acontece em parábolas, para que vendo não vejam, ouvindo não ouçam e para que não se convertam e não sejam salvos!”. Esta frase faz a gente se perguntar: Afinal, a parábola serve para que? Para esclarecer ou para esconder? Será que Jesus usa parábolas, para que o povo continue na ignorância e não chegue a se converter? Certamente que não! Pois em outro lugar Marcos diz que Jesus usava parábolas “conforme a capacidade dos ouvintes” (Mc 4,33)
 
* Parábola revela e esconde ao mesmo tempo! Revela para “os de dentro”, que aceitam Jesus como Messias Servidor. Esconde para os que insistem em ver nele o Messias, Rei grandioso. Estes entendem as imagens da parábola, mas não chegam a entender o seu significado.
 
* A explicação da parábola, parte por parte. Uma por uma, Jesus explica as partes da parábola, desde a semente e o terreno até a colheita. Alguns estudiosos acham que esta explicação foi acrescentada depois. Ela seria de alguma comunidade. É bem possível. Pois dentro do botão da parábola está a flor da explicação. Botão e flor, ambos têm a mesma origem que é Jesus. Por isso, nós também podemos continuar a reflexão e descobrir outras coisas bonitas dentro da parábola. Certa vez, alguém perguntou numa comunidade: “Jesus falou que devemos ser sal. Para que serve o sal?” Discutiram e, no fim, encontraram mais de dez finalidades diferentes para o sal! Aí foram aplicar tudo isto à vida da comunidade e descobriram que ser sal é difícil e exigente. A parábola funcionou! O mesmo vale para a semente. Todo mundo tem alguma experiência de semente.
 
Para um confronto pessoal
1) Qual a experiência que você tem de semente? Como ela te ajuda a entender melhor a Boa Nova
2) Que terreno eu sou?

29 de janeiro

 Beata Arcângela Girlani
Virgem de nossa Ordem
 
Nascida em Trino Vercellese, na Itália Setentrional, em meados do séc. XV, tomou o hábito carmelita em Parma, onde também veio a ser prioresa. Mais tarde exerceu o mesmo cargo no novo Mosteiro de Mântua, por ela fundado, onde morreu no dia 25 de janeiro de 1495. Animada por um vivo sentido da presença do Deus uno e trino, distinguiu-se pela sua especial devoção à SS. Trindade. Em colaboração com o Padre-Geral B. João Soreth, e seguindo as Constituições por ele renovadas, favoreceu uma observância viva do espírito do Carmelo nos mosteiros que lhe tinham sido confiados. O seu culto imemorial foi aprovado a 1 de outubro de 1864 pelo Papa Pio IX.
 
HINO DE LAUDES E VÉSPERAS

Arcângela bem-aventurada,
que chama te conduziu
à celestial morada?
 
Que olhar te atraiu?
Que doce voz te chamou?
Que amor te seduziu?
 
Ao seu amor aspiraste
e pra de todo o ganhar
os bens do mundo deixaste.
 
Vê-te o Carmelo chegar
humilde e fervorosa ...
Quanta luz hás de espalhar!
 
"Como és bela e graciosa!
Os teus olhos me fascinam:
levanta-te e vem, ó formosa!"
 
Dos que no exílio caminham
rumo à eternidade
sê Anjo de Caridade!
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração
Senhor, que fizestes da bem-aventurada Arcângela uma enamorada do mistério da vossa eterna Trindade, concedei-nos, por sua intercessão, que, saboreando na terra a felicidade da vossa glória, Vos contemplemos um dia no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

domingo, 26 de janeiro de 2025

Terça-feira da 3ª semana do Tempo Comum

Sto. Tomás de Aquino, presbítero e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Hb 10,1-10):
Irmãos: A Lei de Moisés contém apenas a sombra dos bens futuros e não a expressão das realidades. Por isso nunca pode levar à perfeição aqueles que se aproximam do altar com os mesmos sacrifícios que indefinidamente se oferecem ano após ano. De outro modo, não teriam deixado de os oferecer, se os que prestam esse culto, purificados de uma vez para sempre, já não tivessem consciência de qualquer pecado? Ao contrário, por tais sacrifícios se evoca anualmente a lembrança dos pecados, porque é impossível que o sangue de touros e cabritos perdoe os pecados. Por isso, ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado». E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei. Depois acrescenta: «Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade». Assim aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre.
 
Salmo Responsorial: 39
R. Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.
 
Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Pôs em meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus.
 
Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos; não pedistes holocaustos nem expiações, então clamei: «Aqui estou».
 
«Proclamei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi a justiça no fundo do coração, proclamei a vossa bondade e fidelidade».
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 3,31-35): Nisso chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram». Ele respondeu: «Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?». E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: «Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe».
 
«Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe»
 
Rev. D. Josep GASSÓ i Lécera (Ripollet, Barcelona, Espanha)
 
Hoje contemplamos Jesus — numa cena muito especial e, também, comprometedora — ao seu redor havia uma multidão de pessoas do povoado. Os familiares mais próximos de Jesus chegaram desde Nazaré a Cafarnaum. Mas, quando viram tanta quantidade de gente, permaneceram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Disseram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram» (Mc 3,32).
 
Na resposta de Jesus, como veremos, não há nenhum motivo para rechaçar os seus familiares. Jesus tinha se afastado deles para seguir o chamado divino e mostra agora que também internamente renunciou a eles: não por frialdade de sentimentos ou por menosprezo dos vínculos familiares, senão porque pertence completamente a Deus Pai. Jesus Cristo o fez, pessoalmente, aquilo que justamente pede aos seus discípulos.
 
Em vez da sua família da terra, Jesus escolheu uma família espiritual. Passando um olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse-lhes: «Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe». (Mc 3, 34-35). São Marcos, em outros lugares do seu Evangelho, refere outro dos olhares de Jesus ao seu redor.
 
Será que Jesus quer nos dizer que só são seus parentes os que escutam com atenção sua palavra? Não! Não são seus parentes aqueles que escutam sua palavra, senão aqueles que escutam e cumprem a vontade de Deus: esses são seu irmão, sua irmã, sua mãe.
 
Jesus faz uma exortação a aqueles que estão ali sentados —e a todos— a entrar em comunhão com Ele através do cumprimento da vontade divina. Mas, vemos, também, na suas palavras uma louvação a sua mãe, Maria, a sempre bem-aventurada por ter acreditado.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«De pouco tivesse servido a Maria a maternidade corporal se não tivesse concebido primeiro a Cristo, da maneira mais feliz, em seu coração, e só depois em seu corpo» (Santo Agostinho)
 
«”Proclama minha alma a grandeza do Senhor” (Lc 1,46). Maria expressa aí todo o programa de sua vida: não se pôr a se mesma no centro, mas deixa espaço a Deus; só então o mundo se faz bom» (Bento XVI)
 
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38). Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus. E aceitando de todo o coração, (...), a vontade divina da salvação, entregou-se totalmente à pessoa e à obra do seu Filho para servir» (Catecismo da Igreja Católica, n° 494)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* A família de Jesus.
Os parentes chegam na casa onde Jesus estava. Provavelmente tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns 40 quilômetros. Sua mãe veio junto. Eles não entram, mas mandam recado: Tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram! A reação de Jesus é firme: Quem é minha mãe, quem são meus irmãos? E ele mesmo responde apontando para a multidão que estava ao redor: Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois todo aquele que faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã, minha mãe! Para entender bem o significado desta resposta convém olhar a situação da família no tempo de Jesus.
 
* No antigo Israel, o clã, isto é, a grande família (a comunidade), era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da tradição, a defesa da identidade. Era a maneira concreta do povo daquela época encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã era o mesmo que defender a Aliança.
 
* Na Galileia do tempo de Jesus, por causa do sistema implantado durante os longos governos de Herodes Magno (37 a.C. a 4 a.C.) e de seu filho Herodes Antipas (4 a.C. a 39 d.C.), o clã (a comunidade) estava enfraquecendo. Os impostos a serem pagos, tanto ao governo como ao templo, o endividamento crescente, a mentalidade individualista da ideologia helenista, as frequentes ameaças de repressão violenta por parte dos romanos, a obrigação de acolher os soldados e dar-lhes hospedagem, os problemas cada vez maiores de sobrevivência, tudo isto levava as famílias a se fecharem dentro das suas próprias necessidades. Este fechamento era reforçado pela religião da época. Por exemplo, quem dedicava sua herança ao Templo podia deixar seus pais sem ajuda. Isto enfraquecia o quarto mandamento que era a espinha dorsal do clã (Mc 7,8-13). Além disso, a observância das normas de pureza era fator de marginalização de muita gente: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros, leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados, paraplégicos.
 
* Assim, a preocupação com os problemas da própria família impedia as pessoas de se unirem em comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham de ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se, novamente, para a grande família, para a Comunidade. Jesus deu o exemplo. Quando sua própria família tentou apoderar-se dele, reagiu e alargou a família: “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos? E ele mesmo deu a resposta apontando para a multidão que estava ao redor: Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois todo aquele que faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã, minha mãe! (Mc 3,33-35). Criou comunidade.
 
* Jesus pedia o mesmo de todos que queriam segui-lo. As famílias não podiam fechar-se. Os excluídos e os marginalizados deviam ser acolhidos dentro da convivência e, assim, sentir-se acolhidos por Deus (cf Lc 14,12-14). Este era o caminho para realizar o objetivo da Lei que dizia: “Entre vocês não pode haver pobres” (Dt 15,4). Como os grandes profetas do passado, Jesus procura reforçar a vida comunitária nas aldeias da Galileia. Ele retoma o sentido profundo do clã, da família, da comunidade, como expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao próximo.
 
Para um confronto pessoal
1) Viver a fé em comunidade. Qual o lugar e a influência da comunidade na minha maneira de viver a fé?
2) Hoje, na cidade grande, a massificação promove o individualismo que é o contrário da vida em comunidade. O que estou fazendo para combater este mal?