quinta-feira, 31 de maio de 2018

Sexta-feira da 8ª semana do Tempo Comum

Més do Coração de Jesus

1ª Leitura (1Pe 4,7-13): Caríssimos: O fim de todas as coisas está próximo. Sede prudentes e sóbrios, para vos dedicardes à oração. Sobretudo, conservai uma caridade intensa uns para com os outros, porque a caridade cobre a multidão dos pecados. Praticai entre vós a hospitalidade, sem murmuração. Cada um de vós ponha ao serviço dos outros os dons que recebeu, como bons administradores da graça de Deus, tão variada nas suas formas. Se alguém fala, diga palavras de Deus; se alguém exerce um ministério, faça-o como um mandato recebido de Deus, para que em tudo Deus seja glorificado, por Jesus Cristo, a quem é devida a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém. Caríssimos, não vos perturbeis com a labareda que se acendeu no meio de vós para vos provar, como se estivesse a acontecer-vos alguma coisa estranha. Alegrai-vos na medida em que participais nos sofrimentos de Cristo, a fim de que possais também alegrar-vos e exultar no dia em que se manifestar a sua glória.

Salmo Responsorial: 95
R. O Senhor julgará a terra com justiça.
Dizei entre as nações: «O Senhor é Rei». Sustenta o mundo e ele não vacila, governa os povos com equidade.

Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores das florestas.

Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.

Aleluia. Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. Aleluia.

Evangelho (Mc 11,11-25): Jesus entrou em Jerusalém e foi ao templo. Lá observou todas as coisas. Mas, como já era tarde, ele e os Doze foram para Betânia.  No dia seguinte, ao saírem de Betânia, Jesus sentiu fome. Avistando de longe uma figueira coberta de folhas, foi lá ver se encontrava algum fruto. Chegando perto, só encontrou folhas, pois não era tempo de figos. Então reagiu dizendo à figueira: «Nunca mais ninguém coma do teu fruto». Os discípulos ouviram isso. Foram então a Jerusalém. Entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que ali estavam vendendo e comprando. Derrubou as mesas dos que trocavam moedas e as bancas dos vendedores de pombas. Também não permitia que se carregassem objetos passando pelo templo. Pôs-se a ensinar e dizia-lhes: «Não está escrito que a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Vós, porém, fizestes dela um antro de ladrões». Os sumos sacerdotes e os escribas ouviram isso e procuravam um modo de matá-lo. Mas tinham medo de Jesus, pois a multidão estava maravilhada com o ensinamento dele. E quando anoiteceu, Jesus e os discípulos foram saindo da cidade. De manhã cedo, ao passarem, verificaram que a figueira tinha secado desde a raiz. Pedro lembrou-se e disse: «Rabi, olha, a figueira que amaldiçoaste secou”». Jesus lhes observou: «Tende fé em Deus. Em verdade, vos digo: se alguém disser a esta montanha: ‘Arranca-te e joga-te no mar’, sem duvidar no coração, mas acreditando que vai acontecer, então acontecerá. Por isso, vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes, e vos será concedido. E, quando estiverdes de pé para a oração, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai que está nos céus também perdoe os vossos pecados».

«Tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes»

Fra. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)

Hoje fruto e petição são palavras chave no Evangelho. O Senhor aproxima-se a uma figueira e não encontrou frutos: somente folharada, reagiu maldizendo-a. Segundo Santo Isidoro de Sevilha, "Figo" e "fruto" têm a mesma raiz. Ao dia seguinte, os Apóstolos surpresos, lhe dizem: «Rabi, olha, a figueira que amaldiçoaste secou» (Mc 11,21). Em resposta, Jesus Cristo lhes fala de fé e de oração: «Tende fé em Deus» (Mc 11,22).

Há pessoas que quase não rezam, e quando o fazem, procuram que Deus lhes resolva um problema complicado no qual já não veem a solução. E o justificam com as palavras de Jesus que acabamos de ouvir: «Tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes, e vos será concedido» (Mc 11,24). Têm ração e é humano, compreensível, e lícito que, ante os problemas que nos superam, confiemos em Deus, em alguma força superior a nós.

Mas tenho que acrescentar que toda oração é "inútil" («vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais»: Mt 6,8), na medida em que não tem uma utilidade prática direta, como —por exemplo— acender uma luz. Não recebemos nada em troca por rezar, porque tudo o que recebemos de Deus é graça sobre graça.

Então, não é preciso rezar? Ao contrário: já que agora sabemos que é graça, a oração tem mais valor: porque é "inútil" e é "gratuita". Ainda com tudo, existem três benefícios que nos dá a oração de petição: paz interior (encontrar ao amigo Jesus e confiar em Deus relaxa); pensar sobre um problema, racionalizá-lo, e saber traçá-lo é já tê-lo quase resolvido; e em terceiro lugar ajuda-nos a discernir entre aquilo que é bom e aquilo que tal vez por causa do nosso capricho queremos em nossas intenções da oração. Então, a posteriori, entendemos com os olhos da fé o que Jesus diz: «Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho» (Jo 14,13).

Reflexão

São Justino
Depois de uma longa viagem, durante a qual anunciou o Reino e realizou prodígios, que manifestavam a sua presença, Jesus chega a Jerusalém. Entra no templo, examina a situação, e retira-se para Betânia, onde pernoita.

No dia seguinte dá-se o episódio da maldição da figueira, um evento que tem dado azo a muitas discussões e hipóteses entre os exegetas. Não vamos entrar nelas. Mas, encorajados pela liturgia que nos faz ler hoje três episódios do ministério de Jesus em Jerusalém, - a maldição da figueira (vv. 12-14), a expulsão dos profanadores do tempo (vv. 15-19), a exortação à fé (vv. 22-25), - vamos procurar descobrir a ligação que há entre eles. Jesus tem fome, procura figos na figueira e não os encontra. Marcos informa que «não era tempo de figos» (v. 14). Este evento enquadra-se no contexto da revelação que Jesus está a completar. O tempo da fé é salvífico, e não cronológico. Jesus revela que o Pai, n´Ele, tem fome e tem sede, não de alimento ou de bebida, mas de amor, de justiça, de retidão; tem fome e sede de respeito pela sua morada, e não da profanação do templo santo, que somos cada um de nós. Para saciar esta fome e esta sede, todo o tempo e todo o lugar são bons. Israel perdera a sua fecundidade religiosa porque, explorando o povo simples no próprio templo de Deus, não amava a humanidade e não podia, por conseguinte, correr o risco da maravilhosa aventura da oração e da fé.

Jesus, no evangelho de hoje, nos surpreende. Estamos habituados a repetir as suas palavras: «aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29). Hoje, porém, o Senhor parece-nos violento. De fato, o amor de Jesus não é mole. É um amor forte, que em certas ocasiões se manifesta de modo verdadeiramente violento: «Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas» (Mt 11,12). O que o faz atuar é o seu amor pelo Pai e por nós. Quer purificar a casa do Pai que deve tornar-se «casa de oração para todos os povos», e não um «covil de ladrões».

O episódio da figueira que não tem frutos ilumina este amor. A propósito desta árvore que, amaldiçoada por Jesus, seca, - gesto simbólico que mostra a necessidade de produzir frutos abençoados por Deus - Jesus faz o seguinte comentário: «Tende fé em Deus. Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá» (v. 23). Jesus, que está sempre em íntima comunhão com o Pai, conhece a sua generosidade. Por isso, convida-nos a esta oração confiante. E não se esquece do amor fraterno. Por isso, acrescenta: «Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas.» (vv. 24-25). O amor pelo Pai está intimamente unido ao amor pelos homens, os homens que Ele ama. Para estar unidos ao Pai, e crescer nessa união, é preciso abrir o coração aos outros, ainda que pecadores, ainda que nos tenham ofendido, como fez Jesus.
Peçamos ao Senhor uma vida cheia de fé, uma vida assentada no amor, mesmo por aqueles que são contra nós. É assim que imitamos o Pai que está no céu. É assim que seguimos os bons exemplos dos Santos, e deixamos atrás de nós um rasto luminoso de bem.

O seguimento de Jesus, na fidelidade e no amor, garante uma vida cheia de frutos que permanecem.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo


Textos: Ex 24, 3-8; Heb 9, 11-15; Mc 14, 12-16.22-26

Evangelho (Mc 14,12-16.22-26): No primeiro dia dos Pães sem fermento, quando se sacrificava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus: «Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa?» Jesus enviou então dois dos seus discípulos, dizendo-lhes: «Ide à cidade. Um homem carregando uma bilha de água virá ao vosso encontro. Segui-o e dizei ao dono da casa em que ele entrar: ‘O Mestre manda perguntar: Onde está a sala em que posso comer a ceia pascal com os meus discípulos? ’ Ele, então, vos mostrará, no andar de cima, uma grande sala, arrumada. Lá fareis os preparativos para nós!» Os discípulos saíram e foram à cidade. Encontraram tudo como ele tinha dito e prepararam a ceia pascal. Enquanto estavam comendo, Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e lhes deu, dizendo: «Tomai, isto é o meu corpo». Depois, pegou o cálice, deu graças, passou-o a eles, e todos beberam. E disse-lhes: «Este é o meu sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos. Em verdade, não beberei mais do fruto da videira até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus».  Depois de cantarem o salmo, saíram para o Monte das Oliveiras.

«Tomai, isto é o meu corpo. Este é o meu sangue»

Mons. Josep Àngel SAIZ i Meneses Bispo de Terrassa. (Barcelona, Espanha)

Hoje, celebramos solenemente a presença eucarística de Cristo entre nós, o “dom por Excelência”: «Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de benzê-lo, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo. (...). » (Mc 14,22.24). Depois lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos. Disponhamos a suscitar em nossa alma o “assombro eucarístico” (São João Paulo II).

O povo judeu em sua ceia pascal comemorava a história da salvação, as maravilhas de Deus para com seu povo, especialmente a libertação da escravidão de Egito. Nesta comemoração, cada família comia o cordeiro pascal. Jesus Cristo se converte no novo e definitivo cordeiro pascal sacrificado na cruz e comido em Pão Eucarístico.

A Eucaristia é sacrifício: é o sacrifício do corpo imolado de Cristo e de seu sangue derramado por todos nós. Na Última Ceia isto se antecipou. Ao longo da historia se irá atualizando em cada Eucaristia. Nela temos o alimento: é o novo alimento que dá vida e força ao cristão enquanto caminha em direção ao Pai.

A Eucaristia é presença de Cristo entre nós. Cristo ressuscitado e glorioso permanece entre nós de uma maneira misteriosa, mas real na Eucaristia. Esta presença implica uma atitude de adoração por nossa parte e uma atitude de comunhão pessoal com Ele. A presença eucarística nos garante que Ele permanece entre nós e opera a obra da salvação.

A Eucaristia é mistério de fé. É o centro e a chave da vida da Igreja. É a fonte e raiz da existência cristã. Sem vivência eucarística a fé cristã se reduziria a uma filosofia.

Jesus nos dá o mandamento do amor de caridade na instituição da Eucaristia. Não se trata da última recomendação do amigo que vai embora para longe ou do pai que vê próxima a morte. É a afirmação do dinamismo que Ele põe em nós. Pelo Batismo começamos uma vida nova, que é alimentada pela Eucaristia. O dinamismo desta vida leva a amar aos outros, e é um dinamismo em crescimento até dar a vida: nisto notarão que somos cristãos.

Cristo nos ama porque recebe a vida do Pai. Nós amaremos recebendo do Pai a vida, especialmente através do alimento eucarístico.

A Eucaristia é para ser celebrada (missa) e prolongada (adoração e culto).

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Esta festa do Corpus Christi nasceu no século XIII. Jesus quis entregar-se a nós como alimento para o caminho, fazendo que nós comungássemos com a sua própria Pessoa, com o seu Corpo e o seu Sangue, sob a forma do pão e vinho.

Em primeiro lugar, um pouco de história desta esplêndida Solenidade do Corpus Christi. No ano 1208, uma jovem de 17 anos, Juan de Retine, religiosa hospitaleira em Mont Cornillon (Liege, Bélgica) teve uma visão de uma lua resplandecente e cheia, mas com uma mancha. Esta visão durou dois anos. Por fim a decifrou: no esplêndido calendário litúrgico faltava uma festa da Eucaristia. Foi a origem do Corpus Christi, cuja primeira procissão se pôs em marcha pelas ruas de Liege no ano de 1245 e pelas ruas de todo o mundo a partir de 1264. A partir da festa do Corpus, a fé e o entusiasmo pela Eucaristia levou os habitantes de Bolzano (Itália) do século XIII a crer nas hóstias profanadas que começaram a sangrar. E os habitantes de Daroca (Zaragoza) do século XIII a crer no milagre dos corporais que, para defendê-las contra a profanação da soldadesca muçulmana, entre as suas dobraduras guardaram seis hóstias, que deixaram seis pegadas redondas. Só desde a fé é possível crer nestas coisas.  

Em segundo lugar, a Eucaristia tem duas dimensões: primeiro, a sua celebração, a missa, ao redor do altar; e depois, a sua prolongação, com a reserva do Pão eucarísticos no Sacrário e a conseguinte veneração e adoração que lhe dedica a comunidade cristã. A finalidade principal da Eucaristia é a sua celebração- a missa-, isto é, para os fieis comungarem o Corpo e o Sangue de Cristo. Porém, desde que, já nos primeiros séculos, a comunidade cristã começou a guardar o Pão eucarístico para os enfermos e para os moribundos, foi nascendo cada vez mais “conatural” que se rodeasse o lugar da reserva (o Sacrário) de sinais de fé e adoração ao Senhor. A Eucaristia na celebração é para ser comida para a saúde das nossas almas e assimilar Cristo, Pão de vida. A Eucaristia na prolongação é para ser adorada, festejada e cantada. Na celebração da Eucaristia entramos em comunhão com Cristo na hora de comungá-lo. Na prolongação da Eucaristia caímos de joelhos para agradecer, adorar, contemplar e abrir o coração diante de quem está ali sacramentalmente presente e sabemos que nos olha e nos ama.  

Finalmente, este culto por Cristo Eucaristia prolongado deve nos levar a cuidá-lo sempre. Daqui a dignidade dos Sacrários: sempre colocados num lugar nobre e destacado, convenientemente adornados, fixados permanentemente sobre um altar, pilar, ou também metidos na parede ou incorporados a um retábulo. O Sacrário deve estar construído de matéria sólida (podem ser metais preciosos como ouro, prata, metal prateado, madeira, cerâmica e similares) e não transparente, fechado com chave, num ambiente que seja fácil à oração pessoal fora do momento da celebração, e portanto melhor numa capela separada (capela sacramental). Daqui que junto ao Sacrário brilhe constantemente uma lâmpada, com a qual se indica e honra a presencia real e silenciosa de Cristo. Daqui, a genuflexão quando passamos diante dele. Daqui, os momentos pessoais de oração ou “visita” diante do Senhor na Eucaristia. Daqui, a organização da “benção com o Santíssimo” com uma “exposição” mais ou menos prolongada e solene para a adoração comunitária. São momentos que deveríamos desejar, ter saudades e buscar, tanto pessoalmente como em comunidade; momentos de oração mais pausada, meditativa e serena diante do Sacrário.

Para refletir e rezar: meditemos a sequencia deste dia intitulada: “Lauda Sion”:

1. Canta, ó Sião, com voz solene,
O que para te redimir vem,
O teu Rei, e o teu Pastor,

2. Louva quanto possas,
Que o teu louvor excede,
Pois pouco é o seu louvor.

3. De louvores sem medida,
O pão vivo e que dá vida,
Alto objeto é hoje onde for.

4. Que o colégio dos Doze,
Nossa Igreja reconhece,
Dado na ceia derradeira.

5. Ao cantar pleno e sonoro,
Com transporte, com decoro,
Acompanhe o coração.

6. Pois a festa hoje se repete,
Que recorda o convite,
A primeira instituição.

7. Nova Páscoa é nova lei,
O novo Rei ao mundo leva,
E à antiga dá seu fim.

8. Luz sucede à noite escura,
A verdade à figura,
O novo ao velho festim.

9. O que realizou na ceia,
Repetir Cristo ordena,
Em memória do seu amor.

10. E no holocausto divino
Consagramos pão e vinho,
O exemplo do Senhor.

11. Sendo dogma, o fiel não duvida.
Que o vinho em sangue muda
E a hóstia em carne divina.

12. O que não vês nem compreendes
Com fé valente defendes
Por ser preternatural.

13. Sob espécies diferentes
Só signos e acidentes,
Grande portento oculto está.

14. Sangue, o vinho é, do Cordeiro;
Carne o pão; mas Cristo inteiro
Sob cada espécie está.

15. Não em pedaços dividido,
Nem incompleto, nem partido,
Mas inteiro se nos dá.

16. Um ou mil o seu corpo comem,
Todos inteiro o comem,
E nem comido perde o ser.

17. Recebe-o tanto mau como o bom:
Para este é de vida cheio,
Para o outro manjar mortal.

18. Vida ao bom, morte ao mau,
Dá este manjar presenteado.
Ó que efeito desigual!

19. Dividido o Sacramento,
Não vaciles um momento,
Que fechado num fragmento
Como no total está.

20. Na coisa não há fratura,
Há só na figura,
Nem no seu estado e estatura
Detrimento ao corpo dá.

21. Pão do Anjo, pão divino,
Nutre o homem peregrino;
Pão de filhos, dom tão fino,
Não se pode jogar aos cães!

22. Por figuras anunciado,
Em Isaac é imolado,
Maná descido do céu,
Cordeiro sobre o altar,

23. Bom Pastor, Jesus clemente!
Teu manjar de graça fonte,
Nos proteja e apascente,
E na alta região vivente,
Faze-nos ver a tua gloria, ó Deus!

24. Tu, que sabes e podes,
E que o mortal sustentas;
Por comensais perenes,
Ao festim de eternos bens
Com teus Santos, chama-nos.
Amém-Aleluia!

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

terça-feira, 29 de maio de 2018

Quarta-feira da 8ª semana do Tempo Comum


1ª Leitura (1Pe 1,18-25): Caríssimos: Lembrai-vos que não foi por coisas corruptíveis, como prata e ouro, que fostes resgatados da vã maneira de viver, herdada dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem defeito e sem mancha, predestinado antes da criação do mundo e manifestado nos últimos tempos por vossa causa. Por Ele acreditais em Deus, que O ressuscitou dos mortos e Lhe deu a glória, para que a vossa fé e a vossa esperança estejam em Deus. Obedecendo à verdade, purificastes as vossas almas para vos amardes sinceramente como irmãos. Amai-vos intensamente uns aos outros de todo o coração, porque vós renascestes, não de uma semente corruptível, mas incorruptível, que é a palavra de Deus, viva e eterna. Na verdade, «todo o ser mortal é como a erva e todo o seu esplendor como a flor da erva. A erva seca e a flor cai; mas a palavra do Senhor permanece eternamente». Esta é a palavra que vos foi anunciada.

Salmo Responsorial: 147
R. Jerusalém, louva o teu Senhor.
Glorifica, Jerusalém, o Senhor, louva, Sião, o teu Deus. Ele reforçou as tuas portas e abençoou os teus filhos.

Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras e saciou-te com a flor da farinha. Envia à terra a sua palavra, corre veloz a sua mensagem.

Revelou a sua palavra a Jacob, suas leis e preceitos a Israel. Não fez assim com nenhum outro povo, a nenhum outro manifestou os seus juízos.

Aleluia. O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção de todos. Aleluia.

Evangelho (Mc 10,32-45): Estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia à frente, e eles, assombrados, seguiam com medo. Jesus, outra vez, chamou os doze de lado e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: «Estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão zombar dele, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo, mas três dias depois, ele ressuscitará». Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: «Mestre, queremos que faças por nós o que te vamos pedir». Ele perguntou: «Que quereis que eu vos faça?». Responderam: «Permite que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o outro à tua esquerda!». Jesus lhes disse: «Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber? Ou ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?». Responderam: «Podemos». Jesus então lhes disse: «Sim, do cálice que eu vou beber, bebereis, com o batismo com que eu vou ser batizado, sereis batizados. Mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de mim; é para aqueles para quem foi preparado».  Quando os outros dez ouviram isso, começaram a ficar zangados com Tiago e João. Jesus então os chamou e disse: «Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos».

«Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos».

Rev. D. René PARADA Menéndez (San Salvador, El Salvador)

Hoje, o Senhor nos ensina qual deve ser nossa atitude ante a Cruz. O amor ardente à vontade de seu Pai, para consumar a salvação do gênero humano — de cada homem e mulher— lhe move ir depressa a Jerusalém, onde «Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus. “Não penseis que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz, mas sim, a espada» (cf. Mt 10,33-34). Mesmo que às vezes não entendamos ou, inclusive, tenhamos medo ante a dor, o sofrimento ou as contradições de cada jornada, procuremos unir-nos - por amor à vontade salvadora de Deus — com o oferecimento da cruz de cada dia.

A prática constante da oração e os sacramentos, especialmente o da Confissão pessoal dos pecados e o da Eucaristia, acrescentarão em nós o amor a Deus e aos demais por Deus de modo que seremos capazes de dizer «Podemos!» (Mc 10,39), a pesar de nossas misérias, medos e pecados. Sim, poderemos abraçar a cruz de cada dia (cf. Lc 9,23) por amor, com um sorriso; essa cruz que se manifesta no ordinário e cotidiano: a fadiga no trabalho, as dificuldades normais na vida, família e nas relações sociais, etc.

Só se abraçamos a cruz de cada dia, negando nossos gostos para servir aos demais, assim conseguiremos identificar-nos com Cristo, que «Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos» (Mc 10,45). João Paulo II explicava que «o serviço de Jesus chega a sua plenitude com a morte na Cruz, ou seja, com o dom total de si mesmo». Imitemos, pois, a Jesus Cristo, transformando constantemente nosso amor a Ele em atos de serviço a todas as pessoas: ricos ou pobres, com muita ou pouca cultura, jovens o anciãos, sem distinção. Atos de serviço para aproximá-los a Deus e liberá-los do pecado.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Sta Joana D'Arc, virgem
* O evangelho de hoje traz o terceiro anúncio da paixão e, novamente, como nas vezes anteriores, mostra a incoerência dos discípulos (cf. Mc 8,31-33 e Mc 9,30-37). Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação entregando sua vida, eles continuavam discutindo os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono. Ao que tudo indica, os discípulos continuavam cegos! Sinal de que a ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade deles. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles ainda não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus.

* Marcos 10,32-34: O terceiro anúncio da paixão
Eles estão a caminho de Jerusalém. Jesus vai à frente. Ele tem pressa. Sabe que vão matá-lo. O profeta Isaías já o tinha anunciado (Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não é fruto de um destino cego ou de um plano já preestabelecido, mas é consequência do compromisso assumido com a missão que recebeu do Pai junto aos excluídos do seu tempo. Por isso, Jesus alerta os discípulos sobre a tortura e a morte que ele vai enfrentar lá em Jerusalém. Pois o discípulo deve seguir o mestre, mesmo que for para sofrer com ele. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Não entendem o que está acontecendo. O sofrimento não combinava com a ideia que eles tinham do messias.

* Marcos 10,35-37: O pedido pelo primeiro lugar
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro! Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades, no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades. No evangelho de Mateus é a mãe de Tiago e João que faz o pedido pelos filhos (Mt 20,20). Provavelmente, diante da situação difícil de pobreza e desemprego crescente daquela época, a mãe intercede pelos filhos e tenta garantir um emprego para eles na vinda do Reino de que Jesus falava tanto.

* Marcos 10,38-40: A resposta de Jesus
Jesus reage com firmeza: “Vocês não sabem o que estão pedindo!” E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus, vai beber, e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.

* Marcos 10,41-44: Entre vocês não seja assim
Neste final da sua instrução sobre a Cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder no império romano não prestavam conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (Mc 6,17-29). O império romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele diz: “Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!” Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve apresentar uma alternativa para a convivência humana.

* Marcos 10,45: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua missão e a sua vida: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate em favor de muitos”. Jesus é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu de sua mãe que disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor!” (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo. Nesta frase em que ele define sua vida, transparecem os três títulos mais antigos, usados pelos primeiros cristãos para expressar e comunicar aos outros o que Jesus significava para eles: Filho do Homem, Servo de Javé, Resgatador dos excluídos (libertador, salvador). Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos.

Para um confronto pessoal
1. Tiago e João pediram o primeiro lugar no Reino. Hoje, muita gente reza a Deus pedindo dinheiro, promoção, cura, êxito. E eu, o que busco na minha relação com Deus e o que peço a Ele na oração?
2. Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos. É o programa de Jesus, é o nosso programa. Como estou realizando?

segunda-feira, 28 de maio de 2018

29 de maio


Beata Elia de S. Clemente
Virgem de nossa Ordem

A vida de Ir. Elias nos deixa numa espécie de constrangimento pela sua simplicidade, na qual podemos ver uma profunda experiência de Deus e grande humanidade. Seu nome era Teodora Fracasso. Ela nasceu em Bari, sul da Itália, filha de José Fracasso e de Páscoa Cianci no dia 17 de janeiro de 1901. Era a terceira dos nove filhos do casal. Viveu em sua família até os dezenove anos, muito animada e inteligente, sincera, sensível às belezas da natureza e fascinada pelo amor de Deus, entrou no Mosteiro das Carmelitas Descalças de S. Joseph, em Bari a 8 de abril de 1920; fez a profissão simples a 4 de dezembro de 1921 e a 11 de fevereiro de 1925 fez a profissão solene. No final de 1926 começa a sofrer uma dor de cabeça contínua e grave, a qual ela chamou de "irmãozinho" amado "Meu irmãozinho - escreve para o sacerdote que dirigia a sua alma - não me permite fazer longos discursos, muito menos ouvir. Como você vê, todas as coisas cooperam para me isolar cada vez mais de tudo e viver somente de Deus. Nada perturba a paz de minha alma. Tudo que eu preciso é uma alavanca para levantar-me a Ele. Não, Padre venerável, não me arrependo de ter consagrada uma vítima do Senhor. ” Na verdade, era o começo de encefalite, que a levaria à morte. Sua doença foi quase despercebida, tratada como uma simples gripe.  Faleceu ao meio-dia no Natal, de 1927.

Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
LAUDES
Cântico evangélico
Ant. Quão suave, Senhor, é teu amor! Perdida em ti, vivo feliz para sempre!

Oração
Deus todo-poderoso e eterno, que aceitastes comprazido a oblação que de si mesma vos fez a Beata Elias de São Clemente, virgem, concedei-nos, por sua intercessão, que, alimentados pelo Pão Eucarístico e iluminados pela luz da Vossa Palavra, cumpramos fielmente a Vossa santa vontade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo. Amém!

VÉSPERAS
Cântico evangélico
Ant. Teu amor, ó Deus, me consumiu como um fogo na fornalha ardente do teu Coração.

Terça-feira da 8ª semana do Tempo Comum


1ª Leitura (1Pe 1,10-16): Caríssimos: A salvação das almas foi objeto das investigações e meditações dos Profetas que predisseram a graça a vós destinada. Procuravam descobrir a que tempo e circunstâncias se referia o Espírito de Cristo que estava neles, quando predizia os sofrimentos de Cristo e as glórias que se lhes haviam de seguir. Foi-lhes revelado que não era para eles, mas para vós, que no seu ministério transmitiam essa mensagem. É essa mensagem que agora vos anunciam aqueles que, movidos pelo Espírito Santo enviado do Céu, vos pregam o Evangelho, o qual os próprios Anjos desejam contemplar. Por isso, tende o vosso espírito alerta e sede vigilantes; ponde toda a vossa esperança na graça que vos será concedida, quando Jesus Cristo Se manifestar. Como filhos obedientes, não vos conformeis com os desejos de outrora, quando vivíeis na ignorância. Mas, à semelhança do Deus santo que vos chamou, sede santos, vós também, em todas as vossas ações, como está escrito: «Sede santos, porque Eu sou santo».

Salmo Responsorial: 97
R. O Senhor revelou a sua salvação.
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.

O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.

Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.

Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.

Evangelho (Mc 10,28-31): Pedro começou a dizer-lhe: «Olha, nós deixamos tudo e te seguimos». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida — casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, vida eterna. Muitos, porém, que são primeiros, serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros».

«Todo aquele que deixa casa, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida, e, no mundo futuro, vida eterna».

Rev. D. Jordi SOTORRA i Garriga (Sabadell, Barcelona, Espanha)

Hoje, como aquele amo que ia todas as manhãs à praça procurar trabalhadores para a sua vinha, o Senhor procura discípulos, seguidores, amigos. A sua chamada é universal. É uma oferta fascinante! O Senhor dá-nos confiança. Mas põe uma condição para ser seus discípulos, condição essa que nos pode desanimar: temos que deixar «casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do evangelho» (Mc 10,29).

Não há contrapartida? Não haverá recompensa? Isto aporta algum benefício? Pedro, em nome dos Apóstolos, recorda ao Maestro: «Nós deixamos tudo e te seguimos» (Mc 10,28), como querendo dizer: que ganharemos com tudo isto?

A promessa do Senhor é generosa: «recebe cem vezes mais agora, durante esta vida (…); e, no mundo futuro, vida eterna» (Mc 10,30). Ele não se deixa ganhar em generosidade. Mas acrescenta: «com perseguições». Jesus é realista e não quer enganar. Ser seu discípulo, se o formos de verdade, nos trarão dificuldades, problemas. Mas Jesus considera as perseguições e as dificuldades como um prêmio, pois nos fazem crescer, se as soubermos aceitar e vive-las como uma ocasião para ganhar maturidade e responsabilidade. Tudo aquilo que é motivo de sacrifício assemelha-nos a Jesus Cristo que nos salva pela sua morte em Cruz.

Estamos sempre a tempo para revisar a nossa vida e aproximar-nos mais de Jesus Cristo. Estes tempos, todos os tempos permitem-nos - através da oração e dos sacramentos— averiguar se entre os discípulos que Ele procura estamos nós, e veremos também qual deve ser a nossa resposta a esta chamada. Ao lado de respostas radicais (como a dos Apóstolos) há outras. Para muitos, «deixar casa, irmãos, irmãs, mãe…» significará deixar tudo aquilo que nos impeça de viver em profundidade a amizade de Jesus Cristo e, como consequência, ser-lhe seus testemunhos perante o mundo. E isso é urgente, não achas?

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Bta Elia de San Clemente
Virgem de nossa Ordem
* No evangelho de ontem, Jesus falava da conversão que deve ocorrer no relacionamento dos discípulos com os bens materiais: desapegar-se das coisas, vender tudo, dar para os pobres e seguir Jesus. Ou seja, como Jesus, devem viver na total gratuidade, entregando sua vida na mão de Deus e servindo aos irmãos e irmãs (Mc 10,17-27). No evangelho de hoje Jesus explica melhor como deve ser esta vida de gratuidade e de serviço dos que abandonam tudo por causa dele, Jesus, e do Evangelho (Mc 10,28-31).

* Marcos 10,28-31: Cem vezes mais desde agora, mas com perseguições.
Pedro observa: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos". É como se dissesse: “Fizemos o que o senhor pediu ao jovem rico. Deixamos tudo e te seguimos. Explica para nós como deve ser esta nossa vida?” Pedro quer que Jesus explicite um pouco mais o novo modo de viver no serviço e na gratuidade. A resposta de Jesus é bonita, profunda e simbólica: "Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna”. O tipo de vida que resulta da entrega de tudo é a amostra do Reino que Jesus quer realizar:
(1) Alarga a família e cria comunidade, pois aumenta cem vezes o número de irmãos e irmãs.
(2) Provoca a partilha dos bens, pois todos terão cem vezes mais casas e campos. A providência divina se encarna e passa pela organização fraterna, onde tudo é de todos e já não haverá mais necessitados. Eles realizam a lei de Deus que pede “entre vocês não pode haver pobres” (Dt 15,4-11). Foi o que fizeram os primeiros cristãos (At 2,42-45). É a vivência perfeita do serviço e da gratuidade.
(3) Não devem esperar nenhuma vantagem em troca, nem segurança, nem promoção de nada. Pelo contrário, nesta vida terão tudo isto, mas com perseguições. Pois os que, neste nosso mundo organizado a partir do egoísmo e dos interesses de grupos e pessoas, vivem a partir do amor gratuito e da entrega de si, estes, como Jesus, serão crucificados.
(4) Serão perseguidos neste mundo, mas, no mundo futuro terão a vida eterna de que falava o jovem rico.

Jesus e a opção pelos pobres
Um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a comunidade, estava sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade. Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro. Muitos dos fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas, consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mc 10,21) A pobreza, que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podiam levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Deviam confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso fossem acolhidos pelo povo, deviam trabalhar como todo mundo e viver do que receberiam em troca (Lc 10,7-8). Além disso, deviam tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podiam dizer ao povo: “O Reino chegou!” (Lc 10,9).

Para um confronto pessoal
1) Como você, na sua vida, realiza a proposta de Pedro: “Deixamos tudo e te seguimos”?
2) Partilha, gratuidade, serviço, acolhida aos excluídos são sinais do Reino. Como as vivo hoje?

domingo, 27 de maio de 2018

Segunda-feira da 8ª semana do Tempo Comum


1ª Leitura (1Pe 1,3-9): Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos Céus para vós, que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas.

Salmo Responsorial: 110
R. O Senhor jamais esquecerá a sua aliança.
Louvarei o Senhor de todo o coração, no conselho dos justos e na assembleia. Grandes são as obras do Senhor, admiráveis para os que nelas meditam.

Deu sustento àqueles que O temem e jamais esquecerá a sua aliança. Fez ver ao seu povo as suas obras, para lhe dar a herança das nações.

Enviou a redenção ao seu povo, firmou com ele uma aliança eterna. Santo e venerável é o seu nome; o louvor do Senhor permanece eternamente.

Aleluia. Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza. Aleluia.

Evangelho (Mc 10,17-27): Jesus saiu caminhando, quando veio alguém correndo, caiu de joelhos diante dele e perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?». Disse Jesus: «Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Conheces os mandamentos: não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe!». Ele então respondeu: «Mestre, tudo isso eu tenho observado desde a minha juventude». Jesus, olhando bem para ele, com amor lhe disse: «Só te falta uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me». Ao ouvir isso, ele ficou pesaroso por causa desta palavra e foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens.  Olhando em volta, Jesus disse aos seus discípulos: «Como é difícil, para os que possuem riquezas, entrar no Reino de Deus». Os discípulos ficaram espantados com estas palavras. E Jesus tornou a falar: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!» Eles ficaram mais admirados e diziam uns aos outros: «Quem então poderá salvar-se?» Olhando bem para eles, Jesus lhes disse: «Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível!»

«Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres;(…) vem e segue-me»

P. Joaquim PETIT Llimona, L.C. (Barcelona, Espanha)

Hoje a liturgia apresenta-nos um evangelho, onde é difícil ficar indiferente se o encaramos com sinceridade de coração.

Ninguém pode duvidar das boas intenções daquele jovem que se aproximou diante de Jesus para fazer-lhe uma pergunta: «Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?» (Mc 10,17). Segundo o que nos expressa São Marcos, é claro que nesse coração havia uma necessidade de algo mais, pois é fácil supor que —como bom israelita— conhecia bem o que dizia a Lei ao respeito, mas no seu interior havia uma inquietação, uma necessidade de ir mais além, e por isso, interpela a Jesus.

Na nossa vida cristã temos que apreender a superar essa visão que reduz a fé a uma questão de mero cumprimento. Nossa fé é mais que isso. É uma adesão a Alguém, que é Deus. Quando pomos o coração em algo, pomos também a vida, e no caso da fé, superamos o conformismo que hoje parece sufocar a existência de tantos crentes. Quem ama não se conforma com dar qualquer coisa. Quem ama busca uma relação pessoal, próxima, leva em conta os detalhes e sabe descobrir em tudo uma ocasião para crescer no amor. Quem ama se entrega.

Em realidade, a resposta de Jesus à pergunta do jovem é uma porta aberta a essa entrega total por amor: «Vende tudo o que tens, dá-lhe tudo aos pobres (…); depois, vem e segue-me» (Mc 10,21). Não é um deixar porque sim, esse deixar é um dar-se, e é um dar-se que é expressão genuína do amor. Abramos, pois, o nosso coração a esse amor-doação. Vivamos a nossa relação com Deus nessa chave. Orar, servir, trabalhar, superar-se.... Todos são caminhos de entrega e, por tanto, caminhos de amor. Que o Senhor encontre em nós, não só um coração sincero, também um coração generoso e aberto às exigências do amor. Porque —em palavras de João Paulo II— «O amor que vem de Deus, amor terno e esponsal, é fonte de exigências profundas e radicais»

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) conta a história do homem rico que perguntou pelo caminho da vida eterna (Mc 10,17-22), e (2) Jesus chama a atenção para o perigo das riquezas (Mc 10,23-27). O homem rico não aceitou a proposta de Jesus, pois era muito rico. Uma pessoa rica é protegida pela segurança que a riqueza lhe dá. Ela tem dificuldade em abrir mão desta segurança. Agarrada às vantagens dos seus bens, vive preocupada em defender seus próprios interesses. Uma pessoa pobre não costuma ter esta preocupação. Mas pode haver pobres com cabeça de rico. Então, o desejo de riqueza cria neles uma dependência e faz com que eles também se tornem escravos do consumismo. Ficam devendo prestações em todo canto e já não têm mais tempo para dedicar-se ao serviço do próximo. Com esta problemática na cabeça, tanto das pessoas como dos países, vamos ler e meditar o texto do homem rico.

* Marcos 10,17-19: A observância dos mandamentos e a vida eterna. 
Alguém chega perto de Jesus e pergunta: “Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” O evangelho de Mateus informa que se tratava de um jovem (Mt 19,20.22). Jesus responde bruscamente: “Por que me chamas bom. Ninguém é bom senão só Deus! ” Jesus desvia a atenção de si mesmo e aponta para Deus, pois o que importa é fazer a vontade de Deus, revelar o Projeto do Pai. Em seguida, Jesus afirma: “Você conhece os mandamentos: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não defraudar ninguém, honrar pai e mãe”. É importante olhar bem a resposta de Jesus. O jovem tinha perguntado pela vida eterna. Queria a vida junto de Deus! Mas Jesus não mencionou os três primeiros mandamentos que definem nosso relacionamento com Deus! Ele só lembrou aqueles que dizem respeito à vida junto do próximo! Para Jesus, só conseguimos estar bem com Deus, se soubermos estar bem com o próximo. Não adianta se enganar. A porta para chegar até Deus é o próximo.

* Marcos 10,20: Observar os mandamentos, para que serve? 
O homem responde dizendo que já observava os mandamentos desde a sua juventude. O curioso é o seguinte. Ele tinha perguntado pelo caminho da vida. Ora, o caminho da vida era e continua sendo: fazer a vontade de Deus expressa nos mandamentos. Quer dizer que ele observava os mandamentos sem saber para que serviam. Do contrário, não teria feito a pergunta. É como muitos católicos de hoje: não sabem dizer para que serve ser católico. ”Nasci num país católico, por isso sou católico! ” Coisa de costume!

* Marcos 10,21-22: Partilhar os bens com os pobres e seguir Jesus.
Ouvindo a resposta do jovem, “Jesus olhou para ele, o amou e lhe disse: Só uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu, e em seguida vem e segue-me!” A observância dos mandamentos é apenas o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e mais alto. Jesus pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para ela poder chegar à doação total de si a favor do próximo. Jesus pede muito, mas ele o pede com muito amor. O moço não aceitou a proposta de Jesus e foi embora, “pois era muito rico”.

* Marcos 10,23-27: O camelo e o fundo da agulha.
Depois que o jovem foi embora, Jesus comentou a decisão dele: Como é difícil um rico entrar no Reino de Deus! Os discípulos ficaram admirados. Jesus repete a mesma frase e acrescenta: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino! A expressão “entrar no Reino” diz respeito, não só e nem em primeiro lugar à entrada no céu depois da morte, mas também e sobretudo à entrada na comunidade ao redor de Jesus. A comunidade é e deve ser uma amostra do Reino. A alusão à impossibilidade de um camelo passar pelo buraco de uma agulha vem de um provérbio popular da época usado pelo povo para dizer que uma coisa era humanamente impossível e inviável. Os discípulos ficaram chocados com a afirmação de Jesus e perguntavam uns aos outros: "Então, quem pode ser salvo?" Sinal de que não tinham entendido a resposta de Jesus ao homem rico: “Vai vende tudo, dá para os pobres e vem e segue-me!” O jovem tinha observado os mandamentos desde a sua juventude, mas sem entender o porquê da observância. Algo semelhante estava acontecendo com os discípulos. Eles já tinham abandonado todos os bens conforme o pedido de Jesus ao jovem rico, mas sem entender o porquê do abandono! Se o tivessem entendido, não teriam ficado chocados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo da riqueza ocupa o coração e o olhar, a pessoa já não consegue perceber o sentido do evangelho. Só Deus mesmo para ajudar! Jesus olhou para os discípulos e disse: "Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível."

Para um confronto pessoal
1. Uma pessoa que vive preocupada com a sua riqueza ou que vive querendo adquirir aquelas coisas da propaganda na televisão, pode ela libertar-se de tudo para seguir Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que você acha? Como é que você faz?
2. Conhece alguém que conseguiu largar tudo por causa do Reino? O que significa para nós hoje: “Vai vende tudo, dá aos pobres”? Como entender e praticar hoje os conselhos que Jesus deu ao jovem rico?