quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

1º de fevereiro

Beata Candelária de São José, Virgem de nossa Ordem.

     Candelaria de São José (Susana Paz Castillo Ramírez), nasceu em  Altagracia de Orituco,  Venezuela, em 11 de agosto de 1863. Distinguiu-se por seu amor aos enfermos e aos pobres. Junto com outras jovens de sua cidade e com o apoio de um grupo de médicos e do padre Sixto Sosa, pároco de Altagracia de Orituco, fundou um hospital para atender a todos os necessitados, começando com isto a fundação da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Altagracia, atualmente denominada Irmãs Terceiras Carmelitas Regulares  também  conhecidas como Carmelitas da Madre Candelaria ou Venezuelanas.  Morreu em 31 de janeiro de 1940. Foi beatificada em 27 de abril de 2008 em Caracas (Venezuela).

Do comum das Virgens ou das Santas Religiosas, exceto:
Oração
Ó Deus que vos alegrais em habitar nos corações puros, concedei-nos, por intercessão da beata Candelária de São José, viver, por vossa graça, de tal maneira que mereçamos ter-vos sempre conosco.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Sexta-feira da 3ª semana do Tempo Comum


Beata Candelária de São José

Evangelho (Mc 4,26-34): Jesus dizia-lhes: «O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra. Quer ele esteja dormindo ou acordado, de dia ou de noite, a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra produz o fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, finalmente, os grãos que enchem a espiga. Ora, logo que o fruto está maduro, mete-se a foice, pois o tempo da colheita chegou».  Jesus dizia-lhes: «Com que ainda podemos comparar o Reino de Deus? Com que parábola podemos apresentá-lo? É como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças, com ramos grandes a tal ponto que os pássaros do céu podem fazer seus ninhos em sua sombra». Jesus lhes anunciava a palavra usando muitas parábolas como estas, de acordo com o que podiam compreender. Nada lhes falava sem usar parábolas. Mas, quando estava a sós com os discípulos, lhes explicava tudo.

Comentário: Rev. D. Jordi PASCUAL i Bancells (Salt, Girona, Espanha)

O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra e a terra produz o fruto por si mesma

Hoje, Jesus fala às pessoas de uma experiência muito próxima das suas vidas: «Um homem lança a semente na terra (…); a semente germina e cresce (…). A terra produz o fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, finalmente, os grãos que enchem a espiga» (Mc 4,26-28). Refere-se, com estas palavras, ao Reino de Deus, que consiste na «santidade e graça, Verdade e Vida, justiça, amor e paz» (Prefácio da Solenidade de Cristo Rei), que Jesus Cristo nos veio trazer. Este Reino tem de ser uma realidade, em primeiro lugar dentro de cada um de nós; depois, no nosso mundo.

Pelo Batismo, Jesus semeou, na alma de cada cristão, a graça, a santidade, a Verdade… Temos de fazer crescer esta semente para que frutifique em abundância de boas obras: de serviço e caridade, de amabilidade e generosidade, de sacrifício para cumprir bem o nosso dever de cada dia e para fazer felizes aqueles que nos rodeiam, de oração constante, de perdão e compreensão, de esforço para crescer em virtudes, de alegria…

Assim, este Reino de Deus – que começa dentro de cada um – se estenderá a nossa família, a nossa cidade, a nossa sociedade, ao nosso mundo. Porque quem vive assim, «que faz senão preparar o caminho do Senhor (…), a fim de que nele penetre a força da graça, que o ilumine a luz da verdade, que faça retos os caminhos que conduzem a Deus?» (São Gregório Magno).

A semente começa pequena, como «um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças» (Mc 4,31-32). Porém, a força de Deus difunde-se e cresce com um vigor surpreendente. Como nos primeiros tempos do Cristianismo, Jesus pede-nos hoje que difundamos o seu Reino por todo o mundo.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Reflexão
* É bonito ver como Jesus, cada vez de novo, buscava na vida e nos acontecimentos elementos e imagens que pudessem ajudar o povo a perceber e experimentar a presença do Reino. No evangelho de hoje ele, novamente, conta duas pequenas histórias que acontecem todos os dias na vida de todos nós: “A história da semente que cresce sozinha” e “A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande”.

* A história da semente que cresce sozinha. O agricultor que planta conhece o processo: semente, fiozinho verde, folha, espiga, grão. Ele não mete a foice antes do tempo. Sabe esperar. Mas não sabe como a terra, a chuva, o sol e a semente têm esta força de fazer crescer uma planta do nada até a fruta. Assim é o Reino de Deus. Tem processo, tem etapas e prazos, tem crescimento. Vai acontecendo. Produz fruto no tempo marcado. Mas ninguém sabe explicar a sua força misteriosa. Ninguém é dono. Só Deus!

* A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande. A semente de mostarda é pequena, mas ela cresce e, no fim, os passarinhos vêm para fazer seu ninho nos ramos. Assim é o Reino. Começa bem pequeno, cresce e estende seus ramos para os passarinhos fazerem seus ninhos. Começou com Jesus e uns poucos discípulos e discípulas. Foi perseguido e caluniado, preso e crucificado. Mas cresceu e foi estendendo seus ramos. A parábola deixa uma pergunta no ar que vai ter resposta mais adiante no evangelho: Quem são os passarinhos? O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar na comunidade e ter parte no Reino.

* O motivo que levava Jesus a ensinar por meio de parábolas. Jesus contava muitas parábolas. Tudo tirado da vida do povo! Assim ele ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava o quotidiano transparente. Pois o extraordinário de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus.

Para um confronto pessoal
1) Jesus não explica as parábolas. Ele conta as histórias e provoca em nós a imaginação e a reflexão da descoberta. O que você descobriu nestas duas parábolas?
2) Tornar a vida transparente é o objetivo das parábolas. Ao longo dos anos, sua vida ficou mais transparente ou aconteceu o contrário?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DEI VERBUM III



INSPIRAÇÃO E VERDADE
Pe. Ney Brasil Pereira,
Professor de Exegese Bíblica na Facasc/Itesc
Email: ney.brasil@itesc.org.br

Abordamos, no artigo anterior, vários conceitos fundamentais para entender o ensinamento conciliar sobre a Palavra de Deus. Antes de tudo, procuramos explicar a relação entre Tradição e Escritura, mostrando que esta se insere na corrente daquela. De fato,  a Tradição, isto é, a transmissão oral da divina Revelação, precede a Escritura e a segue, norteando-se por ela e continuando até hoje. Vimos também que a destinatária do “depósito da Fé”, contido na Tradição e na Escritura, é a Igreja, “povo santo de Deus unido a seus pastores”. E que o ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus, “escrita ou transmitida”, não cabe a cada um individualmente, mas ao “Magistério vivo da Igreja”, que o exerce em nome de Jesus Cristo. O “Magistério”, porém, “não está acima da palavra de Deus, mas a seu serviço”, e por isso não deixa de ser também “Igreja discente”. Finalmente, lembramos o “tripé” inseparável, sobre o qual se apoia a interpretação católica do conteúdo da divina Revelação: a Tradição, a Escritura, e o Magistério da Igreja, os quais estão de tal modo entrelaçados e unidos, que um não tem consistência sem os outros.

Chegamos, assim, ao capítulo III da “Dei Verbum”, que aborda o dogma da Inspiração divina da Sagrada Escritura e a sua Interpretação. Ou, como diz o subtítulo, “estabelece-se o fato da Inspiração e da Verdade da Sagrada Escritura”.

1. O conceito de “Inspiração”

Primeiro, entendamos o próprio conceito de “Inspiração”, que é o ato de inspirar, insuflar, normalmente atribuído ao “espírito”: se com maiúscula, “Inspiração” é a ação do Espírito Santo. Como tal, como “ação do Espírito Santo”, podemos entendê-la de modo amplo. Nesse caso, é sua ação na criação e na história, desde o princípio do mundo, como o indica o livro do Gênesis: “O espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2). Na própria Bíblia encontramos também muitas referências à ação do Espírito nos Juízes e nos Profetas e, de modo especial, no Senhor Jesus e na sua Igreja. Essa ação do Espírito é às vezes chamada de “unção”, como em Is 61,1 e Lc 4,18: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu…” Mas a “inspiração” que focalizamos aqui, em relação à Bíblia, mesmo se precedida da inspiração profética, é a inspiração escriturística, isto é, a inspiração dos livros bíblicos que constituem o cânon. E este, por sua vez, é a lista daqueles livros que a Igreja reconhece como inspirados. Mas então, só os livros da Bíblia são “inspirados”? Que dizer de tantos outros escritos religiosos, não só cristãos mas também de outras religiões, de tantos escritos cheios de valores humanos, se não explicitamente religiosos, nas várias línguas e culturas do mundo ao longo dos séculos, desde que a humanidade começou a expressar-se por escrito?

Nada disso é inspirado? Ou tudo isso é também inspirado?

A resposta se encontra na distinção feita acima: escritos reconhecidos como inspirados, dogmaticamente, são só os escritos canônicos, isto é, incluídos no “cânon” bíblico, num total de 46 livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, que constituem a Bíblia, livro sagrado para judeus e cristãos. A propósito, a palavra “Bíblia” vem do grego e significa literalmente   “ livros”, correspondendo ao fato de que é “um” livro constituído de muitos, uma pequena biblioteca. Os inúmeros outros livros, quer cristãos, quer judeus, quer de outras religiões e culturas, cujo conteúdo o senso comum reconhece como bom e verdadeiro, são também, a seu modo, “inspirados”, isto é, produzidos sob a ação do Espírito de Deus que renova todas as coisas (Sl 104,30) e que, “abrangendo todo o universo, tem conhecimento de cada som” (Sb 1,7). E o documento conciliar Nostra Aetate, sobre o diálogo interreligioso, reconhece que, as doutrinas e ritos de outras religiões  – portanto, também, seus livros sacros – “não raro refletem lampejos daquela Verdade que ilumina todos os homens” (NA 2).

2. O fato da Inspiração

Depois de relembrar que “as coisas divinamente reveladas” que estão na Bíblia “foram consignadas sob a inspiração do Espírito Santo”, a Dei Verbum explica: “Pois a Santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos, tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor e, nesta sua qualidade, foram confiados à mesma Igreja” (DV 11, 1ª alínea). Por que é que o Concílio fala em “livros completos”, “com todas as suas partes”? É porque desde a Reforma, no século XVI, os protestantes passaram a excluir 7 livros do Antigo Testamento, os chamados “dêutero-canônicos”, que não se encontram na Bíblia judaica, assim como “partes” de Daniel e de Ester, pelo mesmo motivo. Os mencionados 7 livros são os seguintes: Tobias, Judite, 1º e 2º Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc. Entretanto, esses livros haviam sido reconhecidos pela cristandade inteira, até a Reforma, porque faziam parte do texto integral da Bíblia grega. Ora, foi esta o texto reconhecido pelos autores do Novo Testamento, todo ele escrito em grego.

3. Deus, “autor”; homens, “autores”

Se Deus é o “autor” da Bíblia, como é que seres humanos são, também, “autores”? Responde-nos o Concílio: “Na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo Ele próprio neles e por eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele próprio quisesse” (DV 11, 1ª alínea). A afirmação de que Deus é o “autor” da Bíblia não implica, porém, que ela tenha sido ditada por ele, como os muçulmanos creem a respeito da sua “Bíblia”, o Alcorão, nem muito menos que ela tenha sido trazida do céu, como o livro dos mórmons. Deus é o “autor” no sentido de que foi Ele quem escolheu e inspirou os autores humanos, verdadeiros autores literários, como que acomodando-se às “faculdades e capacidades” de cada um deles. Além disso, esses autores não eram “ilhas”, mas membros de uma comunidade, inseridos em determinado ambiente cultural e linguístico, sendo de certo modo portavozes desse ambiente e dessa comunidade. Assim inseridos é que eles escreveram, “tudo e só aquilo” que Deus quis que escrevessem.

4. A Bíblia não erra?

Se Deus é o “autor” da Bíblia, segue-se, logicamente, que a Bíblia é um livro “verdadeiro”, ou mesmo, “inerrante”, “infalível”. Acontece que seus autores, como seres humanos, mesmo inspirados, não são “infalíveis”… Ou são? De que maneira? Respondem-nos os Padres conciliares: “Já que tudo, o que os autores inspirados afirmam, deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus em vista da nossa salvação quis que fosse consignada nas Sagradas Escrituras”. E, logo a seguir, citam a palavra de Paulo a seu discípulo Timóteo: “Toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para instruir na justiça…” (2Tm 3,16; DV 11, 2ª alínea). Portanto, sendo “divinamente inspirada”,  a Bíblia é, sim, segundo a constante fé da Igreja, “infalível” ou “inerrante”. Segundo o Concílio, porém, não o é em cada afirmação isolada. Ela nos ensina “sem erro” a “verdade de salvação”, isto é, aquela verdade “que Deus quis que fosse consignada na Escritura em vista da nossa salvação”. Aqui, então, cabe a pergunta: Qual é essa “verdade”? Como identificá-la?

5. A verdade da Bíblia

Nesse ponto da “verdade da Bíblia”, ou seja, a “verdade salvífica”, o Concílio deu um passo de enorme importância, e que custou muitos debates, acesas discussões, chegando ao consenso apenas na última sessão. Superou-se o conceito da “inerrância absoluta”, que tanta dificuldade causava, e causa ainda, diante das inexatidões históricas e científicas, e das narrativas violentas que permeiam o texto bíblico. Percebeu-se que a “inspiração” não preserva a linguagem humana das suas limitações, mas estas fazem parte da encarnação da Palavra (cf Jo 1,14), que se fez semelhante a nós em tudo, menos no pecado. É a humildade da palavra de Deus que se fez palavra humana, marcada pelas nossas inexatidões, menos pela falsidade. Mas esse assunto será retomado no próximo artigo, quando comentarmos DV 12, sobre a interpretação da Escritura.

Para refletir:
1. O que é a “inspiração”, num sentido amplo? E a inspiração escriturística?
2. Que é o “cânon” bíblico? Quantos livros o compõem?
3. Como entender que Deus é o “autor” da Bíblia, se os seus autores históricos, os escritores bíblicos, são seres humanos?
4. Segundo o Concílio, em que é que a Bíblia “não erra”?
5. A “inspiração” preserva a linguagem humana das suas limitações?

Quinta-feira da 3ª semana do Tempo Comum



Evangelho (Mc 4,21-25): Jesus dizia-lhes: «Será que a lâmpada vem para ficar debaixo de uma caixa ou debaixo da cama? Pelo contrário, não é ela posta no candelabro? De fato, nada há de escondido que não venha a ser descoberto; e nada acontece em segredo que não venha a se tornar público. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!»  Jesus dizia-lhes: «Considerai bem o que ouvis! A medida que usardes para os outros, servirá também para vós, e vos será acrescentado ainda mais. A quem tem, será dado; e a quem não tem, será tirado até o que tem».

Comentário: Rev. D. Àngel CALDAS i Bosch (Salt, Girona, Espanha)

Será que a lâmpada vem para ficar debaixo de uma caixa ou debaixo da cama?

Hoje, Jesus nos explica o segredo do Reino do Céu. Inclusive utiliza uma certa ironia para mostrar-nos que a “energia” interna que tem a Palavra de Deus —a própria Dele—, a força expansiva que se deve estender por todo o mundo, é como uma luz, e que esta luz não pode ficar embaixo do alqueire «Dizia-lhes ainda: Traz-se porventura a candeia para ser colocada debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser posta no candeeiro?» (Mc 4,21).

Por acaso podemos imaginar a estupidez humana que seria colocar a vela acesa embaixo da cama? Cristãos com a luz apagada ou com a luz acesa com a proibição de iluminar! Isto sucede quando não pomos ao serviço da fé a plenitude de nossos conhecimentos e de nosso amor. Quão antinatural resulta o egoísmo sobre nós mesmos, reduzindo nossa vida ao limite de nossos interesses pessoais! Viver sob a cama! Ridícula e tragicamente imóveis: “autistas” do espírito.

O Evangelho —pelo contrário— é um santo arrebato de Amor apaixonado que quer comunicar-se, que necessita “dizer”, que leva em si uma exigência de crescimento pessoal, de maturidade interior, e de serviço aos outros. «Se dizes: Basta! “Estás morto», diz Santo Agostinho. E São Josémaria: «Senhor: que tenha peso e medida em tudo..., menos no Amor».

«‘Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.’ Lhes dizia também: ‘Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará.’» (Mc 4,23-24). Mas, que queres dizer com escutar?; Que devemos escutar? É a grande pergunta que devemos fazer. É o ato de sinceridade para com Deus que nos exige saber realmente que queremos fazer. E para saber o que devemos escutar: é necessário estar atento às insinuações de Deus. Devemos nos introduzir no diálogo com Ele. E a conversa põe fim às “matemáticas da medida”: «Ele prosseguiu: Atendei ao que ouvis: com a medida com que medirdes, vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará. Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que tem» (Mc 4,24-25). Os interesses acumulados de Deus nosso Senhor são imprevisíveis e extraordinários. Esta é uma maneira de excitar nossa generosidade.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Reflexão
* A lâmpada que ilumina. Naquele tempo, não havia luz elétrica. Imagine o seguinte. A família está em casa. Começa a escurecer. O pai levanta, pega a lamparina, acende e coloca debaixo de um caixote ou debaixo de uma cama. O que os outros vão dizer? Vão gritar: “Pai! Coloca na mesa!” Esta é a história que Jesus conta. Ele não explica. Apenas diz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! A Palavra de Deus é a lâmpada a ser acesa na escuridão da noite. Enquanto estiver dentro do livro fechado da Bíblia, ela é como a lamparina debaixo do caixote. Quando ligada à vida e vivida em comunidade, ela é colocada na mesa e ilumina!

* Prestar atenção aos preconceitos. Jesus pede aos discípulos para tomar consciência dos preconceitos com que escutam o ensinamento que ele oferece. Devemos prestar atenção nas idéias com que olhamos para Jesus! Se a cor dos óculos é verde, tudo aparece verde. Se for azul, tudo será azul! Se a idéia com que eu olho para Jesus for errada, tudo o que penso sobre Jesus estará ameaçado de erro. Se eu acho que o messias deve ser um rei glorioso, não vou entender nada do que Jesus ensina e vou entender tudo errado.

* Parábolas: um novo jeito de ensinar e de falar sobre Deus. O jeito de Jesus ensinar era, sobretudo, através de parábolas. Ele tinha uma capacidade muito grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o povo conhecia e experimentava na sua luta diária pela sobrevivência. Isto supõe duas coisas: estar por dentro das coisas da vida, e estar por dentro das coisas do Reino de Deus.

* O ensino de Jesus era diferente do ensino dos escribas. Era uma Boa Nova para os pobres, porque Jesus revelava um novo rosto de Deus, no qual o povo se re-conhecia e se alegrava. “Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado! (Mt 11,25-28)”.

Para um confronto pessoal
1) Palavra de Deus, lâmpada que ilumina. Qual o lugar que a Bíblia ocupa em minha vida? Qual a luz que dela recebo?
2) Qual a imagem de Jesus que está em mim? Quem é Jesus para mim, e quem sou eu para Jesus?