segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Pequena Via

No domingo 19 de outubro de 1997, o papa João Paulo II – meses depois do anúncio que fizera em 27 de agosto, em Paris, durante a 12ª Jornada Mundial da Juventude – proclamava Santa Teresa de Lisieux (que nascera em Alençon a 2 de janeiro de 1873 e morrera em Lisieux, com apenas vinte e quatro anos, a 30 de setembro de 1897) doutora da Igreja universal. Com esse título, explicava o Papa naquela ocasião, “o magistério tem em vista indicar a todos os fiéis, e de modo especial a quantos na Igreja prestam o fundamental serviço da pregação ou exercem a delicada tarefa da investigação e do ensino teológico, que a doutrina professada e proclamada por uma determinada pessoa pode ser um ponto de referência, não só porque está em conformidade com a verdade revelada, mas também porque traz nova luz acerca dos mistérios da fé, uma compreensão mais profunda do mistério de Cristo”.
“Entre os ‘doutores da Igreja’, Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face é a mais jovem”, disse ainda o Papa. Num total de trinta e três doutores, Teresa de Lisieux é a terceira mulher a quem foi concedido esse título depois que Paulo VI, em 1970, proclamou doutoras da Igreja Santa Teresa d’Ávila (Ávila, 28 de março de 1515 – Alba de Tormes, 4 de outubro de 1582) e Santa Catarina de Sena (Sena, 25 de março de 1347 – Roma, 29 de abril de 1380).
Nos vinte e sete anos de seu pontificado, João Paulo II proclamou apenas um doutor da Igreja, Teresa de Lisieux.
Dez anos depois daquele ato de magistério do Papa João Paulo II, publicamos nestas páginas um capítulo de uma coletânea de escritos de Céline Martin (1869-1959), uma das quatro irmãs de Santa Teresinha. Céline, que entrou no Carmelo de Lisieux em 1894 assumindo o nome de irmã Genoveva da Sagrada Face, cuidou pessoalmente, em 1951, da sistematização de suas anotações, provenientes de seu diário pessoal – redigido em parte enquanto Teresa ainda vivia – e de seus depoimentos preparados para os processos de beatificação e canonização. O capítulo que publicamos intitula-se “Espírito de infância” e é extraído dos livros Consigli e ricordi (Città Nuova, Roma 1973, pp.47-59); e Conselhos e lembranças, São Paulo, Paulus, 2006, pp. 41-49).

      “No processo, quando o promotor da fé me perguntou por que eu desejava a beatificação de irmã Teresa do Menino Jesus, eu lhe respondi que era apenas para que a “pequena via” se tornasse conhecida. Era assim que ela chamava sua espiritualidade, isto é, seus meios de ir a Deus.
Ele replicou: “Se a senhora fala de ‘via’, a causa inevitavelmente fracassará, como já aconteceu em diversas circunstâncias como esta”.
“Isto não me importa”, respondi; “o medo de perder a causa de irmã Teresa certamente não me impedirá de valorizar o único ponto que me interessa: fazer que, de certa forma, canonizem a ‘pequena via’”.
Mantive-me firme e a causa não naufragou. Por isso, fiquei mais alegre ao ouvir Bento XV exaltar em seu discurso a “infância espiritual” do que durante a beatificação e a canonização de nossa santa. Minha finalidade havia sido alcançada naquele dia, 14 de agosto de 1921.
Por outro lado, o Summarium registrou esta resposta que eu dei a propósito dos “dons sobrenaturais”:
“Eles foram muito raros na vida da serva de Deus. Por mim, eu preferiria que não fosse beatificada, a ter de apresentar um retrato dela diferente daquele que, em consciência, eu creio ser verdadeiro... A vida dela tinha de ser simples, para servir de modelo às ‘pequenas almas’”1.
É incontestável que em qualquer circunstância nossa querida mestra indicava-nos sua “pequena via”.
“Para caminhar na pequena via”, declarava, “é preciso ser humilde, pobre de espírito e simples”.
Como apreciaria ela esta oração de Bossuet2, se a tivesse conhecido: “Meu Deus!... Não permitais que certos espíritos que se classificam, uns entre os sábios, outros entre os espirituais, possam um dia ser acusados em vosso temível tribunal de terem contribuído de algum modo para vos fechar a entrada de não sei quantos corações, porque quereis aí entrar de uma maneira cuja simplicidade os choca, e por uma porta que, embora bem aberta pelos santos, desde os primeiros séculos da Igreja, não lhes era talvez ainda bastante conhecida; fazei antes que tornando-nos todos tão pequenos como as crianças, conforme ordena Jesus Cristo, possamos entrar um dia por essa portazinha, a fim de poder em seguida mostrá-la aos outros mais segura e eficazmente. Assim seja”.
Não é nada estranho que, em sua última hora, esse grande homem tenha pronunciado estas palavras comoventes: “Se eu pudesse começar a vida outra vez, não gostaria de ser outra coisa que não fosse uma criança pequena que sempre dá a mão ao Menino Jesus”.
Teresa soube maravilhosamente, à luz revelada aos pequenos, descobrir essa porta de salvação, e indicá-la aos outros. A sabedoria divina e a sabedoria humana não definiram, nesse espírito de infância, a “verdadeira grandeza de alma”?
Assim, estes dois grandes filósofos chineses, anteriores à era cristã, o sintetizaram nestas fortes definições:
“A virtude madura termina no estado de infância” (Lao-tsé, século VII a.C.).
“Um grande homem é aquele que não perdeu seu coração de criança” (Meng-tsé; século IV a.C.)3.
E ainda: “Conhecer a virtude viril significa progredir sempre no caminho do bem e retornar à infância” (Tao Ta-Ching)4.
Para nossa santa, essa “pequena via” consistia praticamente na humildade, como já afirmei. Mas traduzia-se ainda por um espírito de infância muito pronunciado.
Assim, gostava muito de entreter-me com estas palavras que haurira no Evangelho: “Deixar vir a mim os pequeninos, porque deles é o reino dos céus... Seus anjos vêem continuamente a face de meu Pai celeste... Quem se fizer pequeno como uma criança será o maior no reino dos céus... Jesus abraçava as crianças depois de tê-las abençoado”5.
Ela as copiara tais como as reproduzimos no verso de uma estampa onde estavam colocadas as fotografias de nossos quatro irmãozinhos e irmãzinhas que voaram ao céu, em tenra idade. Deu-ma de presente, guardando uma semelhante em seu breviário. As fotografias estão agora, em parte, apagadas pelo tempo.
Em seguida a esses textos evangélicos acrescentara outros, tirados da Escritura Sagrada, sempre relacionados com o espírito de infância, e que a encantavam: “Bem-aventurados aqueles a quem Deus atribui justiça sem obras, pois, àqueles que fazem obras, a recompensa não é dada como uma graça, mas como coisa devida... É pois gratuitamente que os que não fazem obras são justificados pela graça em virtude da redenção de que Jesus Cristo é o autor”.
“O Senhor conduzirá seu rebanho às pastagens. Ele reunirá os cordeirinhos e os levará em seu seio”6.
No verso de outra estampa grande, copiara citações da Escritura, algumas das quais repetem as precedentes. Mas é interessante ver a que ponto esclarecem sua via.
Ela gostava também, muito particularmente, de uma escultura que representava uma criança sentada nos joelhos de Nosso Senhor e fazendo esforço para atingir seu divino rosto e beijá-lo. Mostrei-lhe uma lembrança de luto com o retrato de uma criança falecida em tenra idade; ela colocou seu dedo sobre o rosto do bebê, dizendo com ternura e convicção: “Eles estão todos sob meu domínio!”, como se previsse já seu título de “Rainha dos Pequeninos”.
Irmã Teresa do Menino Jesus era alta, media um metro e sessenta e dois, enquanto Madre Inês de Jesus era bem mais baixa. Disse-lhe um dia: “Se lhe deixassem escolher, que teria preferido: ser alta ou baixa?”. Ela respondeu sem hesitar: “Escolheria ser baixa para ser pequena em tudo”.
A Igreja sempre viu em Teresa do Menino Jesus a santa da infância espiritual. São muitos os testemunhos dos papas nesse sentido. Eu me limitarei a citar dois testemunhos de sua santidade Pio XII; o primeiro é de quando era legado a latere de Pio XI, por ocasião da inauguração da Basílica de Lisieux, em 11 de julho de 1937; e o outro é de 17 anos mais tarde: “Santa Teresa do Menino Jesus tem uma missão e uma doutrina. Mas sua doutrina, como toda a sua pessoa, é humilde e simples; encerra-se em duas palavras: infância espiritual, ou nas outras duas equivalentes: pequena via”.
“É o próprio Evangelho, é o coração do Evangelho que ela redescobriu; mas com que graça e frescor: ‘Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus’ (Mt 18, 3)”7.

Devoção ao mistério da Encarnação e do presépio
Festejava todos os anos, com a maior piedade, o dia 25 de março, porque, dizia ela, “é o dia em que Jesus, no seio de Maria, foi mais pequenino”.
Mas amava de modo todo particular o mistério do presépio. Foi aí que o Menino Jesus lhe revelou os segredos sobre a simplicidade e o abandono.
Em oposição ao heresiarca Marcion, que dizia com desdém: “Tirai estes panos e esta manjedoura indignos de um Deus”, Teresa sentia-se atraída pelos aniquilamentos de Nosso Senhor, que se fez pequenino por nosso amor.
Escrevia com prazer, nos santinhos de Natal que pintava, este texto de São Bernardo: “Jesus, quem vos fez tão pequeno? O Amor!”
O nome de Teresa do Menino Jesus, que lhe deram desde a idade de nove anos, quando manifestara seu desejo de tornar-se carmelita, permaneceu sempre para ela uma atualidade e esforçou-se por merecê-lo constantemente. Repetia esta oração: “Ó Menino Jesus, meu único tesouro, eu me abandono a teus divinos caprichos, não quero outra alegria que a de te fazer sorrir. Imprime em mim tua graça e tuas virtudes infantis, a fim de que no dia de meu nascimento para o céu os anjos e os santos reconheçam em mim tua esposazinha: Teresa do Menino Jesus”.
Essas virtudes infantis que desejava, já muito antes dela fizeram a admiração do austero São Jerônimo, que nem por isso é acusado de puerilidade.

Ladrões do céu
“Meus protetores no céu e meus preferidos são aqueles que o roubaram como os Santos Inocentes e o bom ladrão.
Os grandes santos ganharam-no por suas obras: quero imitar os ladrões, quero conquistá-lo por astúcia, por um ardil de amor que me abrirá sua entrada, para mim e para os pobres pecadores. O Espírito Santo encoraja-me, pois que diz nos Provérbios: “Ó pequenino! Vinde, aprende de mim a astúcia”8.

A morada das criancinhas
Falando-lhe das mortificações dos santos, respondeu-me: “Como Nosso Senhor fez bem em nos prevenir de que há muitas moradas na casa de seu Pai9! Do contrário, Ele no-lo teria dito...
Sim, se todas as almas chamadas à perfeição devessem, para entrar no céu, praticar essas macerações, ter-nos-ia prevenido e nós as teríamos abraçado de boa vontade. Mas Ele nos anuncia que há muitas moradas em sua casa. Se há para as grandes almas, para os Padres do deserto e para os mártires da penitência, deve haver também para as criancinhas.
Nosso lugar está guardado lá, se o amarmos muito, a Ele, a nosso Pai celeste e ao Espírito de Amor”.
Irmã Teresa do Menino Jesus era, vê-se, uma alma muito simples que se santificou com meios ordinários.
Compreende-se que a frequência de dons extraordinários em sua vida seria contrária ao que diz serem os desígnios de Deus sobre ela. Sua vida devia ser simples para servir de modelo às pequenas almas.

As criancinhas não se condenam
“Que faríeis”, dizia-lhe eu, “se pudésseis recomeçar vossa vida religiosa?”
“Parece-me”, replicou, “que faria o que fiz”.
“Não tendes, pois, os sentimentos daquele solitário que afirmava: ‘Mesmo que eu tivesse vivido longos anos na penitência, enquanto me restasse um quarto de hora, um sopro de vida, temeria a condenação?’”.
“Não, não posso compartilhar esse temor, sou muito pequena para me condenar; as criancinhas não se condenam”.

Passar por baixo do cavalo
Muito desanimada, o coração ainda pesado por causa de um combate que me parecia insuperável, fui dizer-lhe: “Desta vez é impossível, não posso passar por cima!” “Isto não me admira”, respondeu-me. “Nós somos muito pequenas para nos pormos acima das dificuldades; é preciso que passemos por baixo”. Lembrou-me então esta passagem de nossa infância: achávamo-nos em casa de nossos vizinhos, em Alençon; um cavalo impedia a entrada do jardim. Enquanto os adultos procuravam um meio de passar, nossa amiguinha10 não achou nada de mais fácil do que passar por baixo do animal. Ela foi a primeira a deslizar; estendeu-me a mão, segui-a puxando Teresa e, sem curvar muito nossa pequena estatura, chegamos ao fim.
“Eis o que se ganha em ser pequena”, concluiu ela. “Não há obstáculo para os pequenos, eles se metem por toda parte. As grandes almas podem passar sobre os negócios, rodear as dificuldades, chegar, pelo raciocínio ou pela virtude, a porem-se acima de tudo, mas nós, que somos pequeninas, devemos precaver-nos contra essa tentativa. Passemos por baixo! Passar por baixo dos negócios é não dar a eles demasiada importância, nem pensar demais sobre eles”11.

Orientar a intenção
Durante sua doença, aceitava os remédios mais repugnantes e os tratamentos mais penosos com uma paciência inalterável, embora verificasse que eram inúteis. Não lamentava nunca o cansaço que resultava disso. Confiava-me ter oferecido a Deus todos esses cuidados inúteis, por um missionário que não tivesse tempo, nem meios de se tratar, pedindo que tudo isso lhe fosse proveitoso...
Como eu lhe expusesse meu pesar por não ter tais pensamentos, respondeu-me: “Esta intenção explícita não é necessária para uma alma que se deu toda a Deus. A criancinha, no colo de sua mãe, toma o leite por assim dizer maquinalmente, sem pressentir a utilidade de sua ação; entretanto, ela vive e desenvolve-se. Não tinha contudo essa intenção”. Dizia-me ainda: “Um pintor que trabalha para seu patrão não tem necessidade de repetir a cada pincelada: é para fulano de tal, é para fulano de tal... Basta que se ponha à obra com vontade de trabalhar por seu patrão.
É bom recolher-se muitas vezes e dirigir suas intenções, mas sem constrangimento de espírito. Deus adivinha os belos pensamentos e as intenções engenhosas que desejaríamos ter. Ele é Pai, nós, seus filhinhos”.

“Jesus não pode entristecer-se com nossas acomodações”
Eu lhe dizia: “É preciso que eu trabalhe, senão Jesus fica triste...”.
“Oh, não, vós é que ficareis triste. Ele não pode entristecer-se com nossas acomodações12. Mas, para nós, que pesar não lhe darmos tanto quanto podemos!”.

Ser santa sem crescer...
Sendo profundamente humilde, irmã Teresa do Menino Jesus “sentia-se incapaz de subir a rude escada da perfeição”, por isso procurava tornar-se cada vez menor a fim de que Deus se encarregasse completamente de seus negócios e a carregasse em seus braços, como acontece, nas famílias, com as criancinhas. Ela queria ser santa, mas sem crescer, porque, como as travessuras das crianças não contristam seus pais, assim as imperfeições das almas humildes não podem ofender gravemente a Deus, e suas faltas não são consideradas com rigor, segundo a palavra dos Santos Livros: “Aos pequenos perdoa-se por piedade”13. Por conseguinte, ela não desejava sentir-se perfeita, nem que os outros a cressem tal, porque então cresceria e Deus a deixaria andar sozinha.
“As crianças não trabalham para conseguir uma posição”, dizia ela; “se são ajuizadas é para contentar seus pais; assim, não se deve trabalhar para tornar-se santo, mas para dar prazer ao Senhor.”

Como beijar seu crucifixo
Durante sua doença, cometi uma imperfeição e, como me arrependi muito, disse-me: “Agora beijai vosso crucifixo”. Eu o beijei nos pés.
“É aí que um filho beija seu pai? Depressa, depressa, beijai-lhe o rosto!” Eu o beijei. “E agora deixai-vos beijar por ele.” Foi preciso que eu colocasse o crucifixo sobre minha face; então ela me disse: “Está bem, desta vez tudo está esquecido!”.

A partilha das criancinhas
“Nosso Senhor respondia outrora à mãe dos filhos de Zebedeu: ‘Quanto ao estar à minha direita ou à minha esquerda, é para aqueles a quem o Pai destinou’14.
Eu imagino que esses lugares de escol, recusados aos grandes santos, aos mártires, serão a partilha das criancinhas... Não o prediz Davi, quando fala que o pequeno Benjamim presidirá à assembleia (dos santos)15?”.
Perguntaram-lhe sob que nome deveríamos invocá-la quando estivesse no Céu. “Chamar-me-eis Teresinha”, respondeu humildemente.

Notas
1 Par. 2.341, p. 799.
2 Bossuet, fim de seu opúsculo sobre a Manière courte et facile pour faire oraison.
3 Citado por John Wu Ching-Hioung, antigo ministro da China junto à Santa Sé, no opúsculo Dom Lou. Sa vie spirituelle; un grand témoignage. Paris-Tournai, Desclée de Brouwer, 1949, p. 41.
4 John Wu Ching-Hioung, La science de l’amour, p. 29.
5 Eis as referências: Mt 19, 14; Mc 10, 14; Lc 18, 16; Mt 18, 10 e 4; Mc 10, 16.
6 Referências completas dos dois textos: Rm 4, 4-6; Is 40, 11.
7 Mensagem de 11 de julho de 1954, durante a consagração solene da Basílica de Lisieux.
8 Pr 1, 4.
9 Jo 14, 2.
10 Thérèse Lehoux, de aproximadamente 7 anos, idade de Céline.
11 A santa dirigia-se a noviças, às quais aconselhava não perderem tempo a analisar inutilmente as dificuldades.
12 Por “nossas acomodações”, Santa Teresa do Menino Jesus fazia alusão ao espírito de infância. Jesus não pode sofrer com as faltas involuntárias que escapam à fraqueza e à fragilidade das almas humildes e amantes que confiam n’Ele.
13 Sb 6, 6.
14 Mt 20, 23; Mc 10, 40.
15 Sal 67, 28.

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA TERÇA FEIRA DA 26 SEMANA DO TEMPO COMUM E A LITURGIA DAS HORAS DA FESTA DE SANTA TERESA DO MENINO JESUS.

1º de outubro

Santa Teresa do Menino Jesus
Virgem de nossa Ordem e Doutora da Igreja



Nasceu em Alençon (França) no dia 2 de janeiro de 1873. Entrou para o Carmelo de Lisieux no dia 9 de abril de 1888. Exercitou-se de modo singular na humildade, simplicidade evangélica e confiança em Deus, virtudes que também procurou inculcar nas suas irmãs, especialmente nas noviças. Oferecendo a sua vida pela salvação das almas e pela edificação da Igreja, morreu num êxtase de amor no dia 30 de setembro de 1897.

Invitatório
R. Vinde, adoremos o Senhor, que se revela aos pequeninos.

Laudes
Hino
A infinita caridade do Senhor
tua glória quis, no Céu, fosse igualada,
dos apóstolos e dos mártires à palma,
Virgem que és, de dons imensos coroada.

Desejando, como vítima de amor,
por um fogo virginal, ser abrasada,
pede ao Esposo consumi-la sem demora,
nos ardores de sua chama abençoada.

Ao anúncio da partida suspirada,
vê Teresa a eternidade gloriosa.
Num gemido – “Eu te amo” – alegremente,
para o Cristo alça voo, vitoriosa.

Lá do alto, das estrelas cintilantes,
se já sorves da alegria nos caudais,
não te esqueças que a esta terra prometeste
uma chuva derramar dos teus rosais.

Vós, ó Rei, que sempre às almas pequeninas
um espaço reservais de dileção,
a nós todos que a Teresa nos unimos,
dai que entremos na celestial mansão.

Força, honra e louvor eternamente
a Deus Pai e ao Unigênito também;
e ao Espírito Paráclito igualmente
pelos séculos dos séculos.  Amém.

Ant.1  Minha alma se agarra a Vós; com poder vossa mão me sustenta.

Salmos e Cântico do Domingo da I Semana

Ant.2 Vós, santos e humildes de coração, bendizei o Senhor.

Ant. 3 O Senhor ama o seu povo, coroa os humildes com a vitória.

Leitura breve - Rm 8,14-17
Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Não recebestes um espírito de escravos para recairdes no medo, mas recebestes um Espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: "Abbá! Ó Pai!" O próprio Espírito Santo se une ao nosso espírito, para atestar que somos filhos. E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se realmente sofremos com Ele, é para sermos também glorificados com Ele.

Responsório breve
R. Farei correr sobre ela a paz * como um rio. R. Farei correr.
V. E a riqueza das nações como uma torrente a transbordar.
* Como um rio. Glória ao Pai. R. Farei correr.

Cântico Evangélico
Ant. Em verdade eu vos digo: Se não vos converterdes e não vos tornardes iguais a crianças, no Reino dos Céus não haveis de entrar.

Preces
Louvemos o Senhor, que nos dá em Santa Teresa do Menino Jesus um modelo exemplar de vida evangélica. E roguemos:

R. Ouvi-nos, Senhor!

Senhor, que dissestes: "Se alguém tem sede venha até mim e beba quem tem fé em mim",
- fazei-nos sedentos do vosso Amor. R

Senhor, que dissestes: "Se não vos transformardes em crianças, não entrareis no Reino do Céu",
- concedei-nos a simplicidade de coração e a confiança no vosso amor. R.

Senhor, que dissestes: "Só entrará no Reino do Céu quem faz a vontade do meu Pai, que está no Céu",
- ensinai-nos guardar os vossos mandamentos com espírito de fé e obediência. R

Senhor, que dissestes: "Tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes",
- fazei que hoje vos reconheçamos e amemos em cada um dos nossos irmãos. R.

Senhor, que dissestes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos",
- criai em nós o espírito missionário tão vigoroso do coração de Santa Teresa do Menino Jesus, que a levou a oferecer-se pela salvação das almas. R.

(intenções livres)
 Pai Nosso
Oração
Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Vésperas
Hino
Do teu trono de glória fulgente,
já, ó virgem, na Pátria gozando,
tua chuva de rosas envia
aos fiéis que te estão suplicando.

Sejam símbolo, prá nós, tuas rosas,
de que podes prestar-nos auxílio!
Junto a Deus, firma a nossa esperança
na alegria e na dor, neste exílio.

Que teus rogos inspirem mais fé.
Tuas rosas maior esperança
possam dar, aos que lutam na terra,
a Deus Pai, teu amor de criança.

Dai-nos isto Deus Pai e Deus Filho
e o Espírito Santo também,
cuja glória, na altura dos céus,
sem cessar cantaremos.  Amém.

Ant.1 Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.

Salmos e Cântico das II Vésperas do Comum das Virgens.

Ant. 2 Por eles, a mim mesmo me consagro para que sejam consagrados na verdade.

Ant. 3 Deus escolheu os fracos para confundir os fortes.

Leitura breve - 1 Tm 2, 1.3
Caríssimo, antes de tudo recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças por todos os homens. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador. Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade, pois há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos.

Responsório breve
R. Anunciarei o vosso nome aos meus irmãos * e no meio
da assembleia hei de louvar-vos! R. Anunciarei.
V. Porque não desprezastes o pobre na sua angústia. * E no meio.
Glória ao Pai. R. Anunciarei.

Cântico Evangélico
Ant. Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor, pois no Céu estão escritos vossos nomes.

Preces
Oremos a Deus Pai Onipotente pela Igreja estendida por toda a terra. E digamos:

R. Lembrai-vos, Senhor, da vossa Aliança.

Para que a Igreja se entregue ao vosso amor
_ e descubra aos contemplativos a sua vocação ao amor. R.

Para que o mundo acredite em vós,
_ fazei que as almas consagradas sejam testemunhas fiéis da vossa bondade. R.

Para que os fiéis sejam um reflexo da vossa face e imitem o vosso Filho,
- ajudai-os a levar mutuamente a sua cruz, apoiados na caridade fraterna. R.

Para que, segundo a vossa vontade, todos os homens conheçam a Cristo, que é a Verdade,
- infundi em todos nós um ardente espírito missionário. R.

(intenções livres)

Para que onde Cristo reina se encontrem aqueles que lhe destes,
- concedei aos fiéis defuntos a alegria de contemplarem a vossa face. R.

Pai Nosso ...

Oração
Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Terça-feira da 26ª semana do Tempo Comum

Santa Teresa do Menino Jesus
Evangelho (Lc 9,51-56): Quando ia se completando o tempo para ser elevado ao céu, Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém. Enviou então mensageiros à sua frente, que se puseram a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para lhe preparar hospedagem. Mas os samaritanos não o queriam receber, porque mostrava estar indo para Jerusalém. Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua?». Ele, porém, voltou-se e os repreendeu. E partiram para outro povoado».

Comentário: Rev. D. Llucià POU i Sabater (Vic, Barcelona, Espanha)

Voltou-se e os repreendeu

Hoje no Evangelho contemplamos como «Tiago e João disseram: ‘Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua?’. Ele, porém, voltou-se e os repreendeu. E partirem para outro povoado» (Lc 9,54-55). São defeitos dos Apóstolos, que o Senhor corrige.

Conta a história de um homem que transportava água da Índia, carregava dois cântaros um a cada lado pendurado no extremo de um pau que se apoiava em seus ombros: Um era perfeito, e o outro tinha uma rachadura e perdia água. Este –triste- observava o outro tão perfeito e com vergonha e sentindo-se miserável, disse um dia ao seu amo: sinto muito, que por causa do meu defeito perca metade do meu conteúdo. Ele lhe respondeu: Quando voltarmos para casa repara nas flores que crescem no lado do caminho. E reparou: eram belíssimas flores, mas vendo que continuava a perder água, repetiu: Não sirvo, faço tudo mal. O senhor lhe respondeu: —reparaste que as flores só crescem no teu lado do caminho? Isto porque eu sempre soube que em ti havia uma rachadura, então plantei sementes do teu lado e a cada dia que fazia este trajeto tu regavas as sementes e assim pude recolher estas flores para o altar da Virgem Maria. Sem ti e a tua maneira de ser, não seria possível esta beleza.

Todos, de alguma maneira somos cântaros rachados, mas Deus conhece bem os seus filhos e dá-nos a possibilidade de aproveitar as rachaduras-defeitos para alguma coisa boa. Assim o apóstolo João —que hoje quere destruir—, com a correção do Senhor converte-se no apóstolo do amor nas suas cartas. Não se desanimou com as correções, senão que aproveitou o lado positivo do seu caráter impulsivo —a paixão— para o serviço do amor. Que nós, também sejamos capazes de aproveitar as correções, as contrariedades —sofrimento, fracasso, limitações— para “começar e recomeçar”, tal como São Josemaria definia a santidade: dóceis ao Espírito Santo para convertermos a Deus e sermos seus instrumentos.

Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje conta como Jesus decide ir para Jerusalém. Descreve também as primeiras dificuldades que ele encontra nesta caminhada. Traz o começo da longa e dura caminhada da periferia para a capital. Jesus deixa a Galiléia e segue para Jerusalém. Nem todos o compreendem. Muitos o abandonam, pois as exigências são grandes. Hoje acontece o mesmo. Na caminhada das nossas comunidades também há incompreensão e abandono.

* “Jesus decide ir para Jerusalém”.
Esta decisão vai marcar a longa e dura viagem de Jesus desde a Galiléia até Jerusalém, da periferia até a capital. Esta viagem ocupa mais de uma terça parte de todo o evangelho de Lucas (Lc 9,51 até 19,28). Sinal de que a caminhada até Jerusalém teve uma importância muito grande na vida de Jesus. A longa caminhada simboliza, ao mesmo tempo, a viagem que as comunidades estavam fazendo. Elas procuravam realizar a difícil passagem do mundo judeu para o mundo da cultura grega. Simbolizava também a tensão entre o Novo que continuava avançando e o Antigo que se fechava cada vez mais. E simboliza, ainda, a conversão que cada um de nós tem que fazer, procurando seguir Jesus. Durante a viagem, os discípulos e as discípulas tentam seguir Jesus, sem voltar atrás. Nem sempre o conseguem. Jesus dedica muito tempo à instrução dos que o seguem de perto. Um exemplo concreto desta instrução temos no evangelho de hoje. Logo no início da viagem, Jesus sai da Galiléia e leva seus discípulos para dentro do território dos samaritanos. Ele procura formá-los para que possam entender a abertura para o Novo, para o “outro”, o diferente.

* Lucas 9,51: Jesus decide ir para Jerusalém
O texto grego diz literalmente: "Quando se completaram os dias da sua assunção (ou arrebatamento), Jesus firmou o seu rosto para ir a Jerusalém”. A expressão assunção ou arrebatamento evoca o profeta Elias que foi arrebatado ao céu (2 Rs 2,9-11). A expressão firmar o rosto evoca o Servo de Javé que dizia: “Faço meu rosto duro como pedra, certo de não ser enganado” (Is 50,7). Evoca ainda uma ordem que o profeta Ezequiel recebeu de Deus: "Fixa a teu rosto contra Jerusalém!" (Ez 21,7). Usando tais expressões, Lucas sugere que, com a caminhada em direção a Jerusalém, começa uma oposição mais declarada de Jesus contra o projeto da ideologia oficial do Templo de Jerusalém. A ideologia do Templo queria um Messias glorioso e nacionalista. Jesus quer ser o Messias-Servo. Durante a longa viagem, esta oposição vai crescer e, no fim, vai terminar no arrebatamento ou na assunção de Jesus. A assunção de Jesus é a sua morte na Cruz, seguida da ressurreição.

2. Lucas 9,52-53: Fracassa a missão na Samaria
Durante a viagem, o horizonte da missão se alarga. Logo no início, Jesus ultrapassa as fronteiras do território e da raça. Ele manda seus discípulos preparar a sua vinda numa aldeia da Samaria. Mas a missão junto dos samaritanos fracassou. Lucas diz que os samaritanos não receberam Jesus porque ele estava indo para Jerusalém. Porém, se os discípulos tivessem dito aos samaritanos: “Jesus está indo para Jerusalém para criticar o projeto do Templo e para exigir maior abertura”, Jesus teria sido aceito, pois os samaritanos eram da mesma opinião. O fracasso da missão deve-se, provavelmente, aos discípulos. Eles não entenderam por que Jesus “firmou a cara contra Jerusalém”. A propaganda oficial do Messias glorioso e nacionalista impedia-os de enxergar. Os discípulos não entenderam a abertura de Jesus, e a missão fracassou!

3. Lucas 9,54-55: Jesus recusa o pedido de vingança
Tiago e João não querem levar desaforo para casa. Não aceitam que alguém não concorde com a idéia deles. Querem imitar Elias e usar o fogo para se vingar (2 Rs 1,10). Jesus recusa a proposta. Não quer o fogo. Certas Bíblias acrescentam: "Vocês não sabem de que espírito são movidos!" Significa que a reação dos dois discípulos não era do Espírito de Deus. Quando Pedro sugeriu a Jesus para não seguir pelo caminho do Messias Servo, Jesus chamou Pedro de Satanás (Mc 8,33). Satanás é o mau espírito que quer mudar o rumo da missão de Jesus. Recado de Lucas para as comunidades: os que querem impedir a missão junto dos pagãos são movidos pelo mau espírito!

* Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). Raramente, porém, ele diz por onde Jesus passava. Só aqui no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), você fica sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Isto vale para as comunidades de Lucas e para todos nós. O que é certo é que devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém.

Para um confronto pessoal 
1) Quais os problemas que já apareceram em sua vida como consequência da decisão que você tomou de seguir Jesus?
2) O que aprendemos da pedagogia de Jesus com seus discípulos que queriam vingar-se dos samaritanos?