quinta-feira, 30 de abril de 2015

MÊS DE MARIA - Sexta-feira da 4ª semana da Páscoa


Evangelho (Jo 14,1-6): «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós. E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também. E para onde eu vou, conheceis o caminho». Tomé disse: «Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho? ». Jesus respondeu: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim».

Comentário: Rev. D. Josep Mª MANRESA Lamarca (Les Fonts del Vallès, Barcelona, Espanha)

Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim

Hoje, nesta sexta-feira da IV semana da Páscoa, Jesus nos convida à calma. A serenidade e a alegria fluem como um rio de paz, desde o seu Coração ressuscitado até o nosso, agitado e inquieto, muitas vezes sacudido por um ativismo tão febril como estéril.

São os nossos tempos de agitação, nervosismo e estresse. Tempos nos quais o pai da mentira infectou as inteligências dos homens, fazendo-os chamar bem ao mal e mal ao bem, tomando luz por obscuridade e obscuridade por luz, semeando em suas almas a dúvida e o ceticismo que nelas queimam todo broto de esperança em um horizonte de plenitude que o mundo, com suas adulações, não sabe nem pode dar.

Os frutos de tão diabólica empresa ou atividade são evidentes: a falta de sentido e a perda de transcendência que se apoderaram de tantos homens e mulheres que não apenas se esqueceram, mas também se extraviaram do Caminho, porque o desprezaram antes. Guerras, violências de todo gênero, intransigência e egoísmo diante da vida (anticoncepção, aborto, eutanásia…), famílias destruídas, juventude “desnorteada”, e um grande etcétera, constituem a grande mentira sobre a qual se sustenta boa parte do triste andaime da sociedade de tão alardeado “progresso”.

No meio de tudo, Jesus, o Príncipe da Paz, repete aos homens de boa vontade, com sua mansidão infinita: «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim» (Jo 14, 1). À direita do Pai, ele acalenta, como um benévolo sonho de sua misericórdia, o momento de ter-nos junto a ele, «a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também» (Jo 14, 3). Não podemos nos escusar como Tomé. Nós sabemos o caminho. Nós, por pura graça, conhecemos, sim, a senda que conduz ao Pai, em cuja casa há muitas moradas. No céu nos espera um lugar que ficará para sempre vazio se não o ocuparmos. Aproximemo-nos, pois, sem temor, com ilimitada confiança daquele que é o único Caminho, a irrenunciável Verdade e a Vida em plenitude.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

São José Operário
* Estes cinco capítulos (Jo 13 a 17) são um exemplo bonito de como as comunidades do Discípulo Amado do fim do primeiro século lá na Ásia Menor, atual Turquia, faziam catequese. Por exemplo, neste capítulo 14, as perguntas dos três discípulos, Tomé (Jo 14,5), Filipe (Jo 14,8) e Judas Tadeu (Jo 14,22), eram também as perguntas e os problemas das Comunidades. Assim, as respostas de Jesus para os três eram um espelho em que as comunidades encontravam uma resposta para as suas próprias dúvidas e dificuldades.  Para sentir melhor o ambiente em que se fazia a catequese, você pode fazer o seguinte. Durante ou depois da leitura do texto, feche os olhos e faça de conta que você está lá na sala no meio dos discípulos e discípulas, participando do encontro com Jesus. Enquanto vai escutando, procure prestar atenção na maneira como Jesus prepara seus amigos para a separação e lhes revela sua amizade, transmitindo segurança e apoio.

* João 14,1-2: Nada te perturbe.  
O texto começa com uma exortação: "Não se perturbe o coração de vocês!" Em seguida, diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" A insistência em conservar palavras de ânimo que ajudam a superar a perturbação e as divergências, é um sinal de que havia muita polêmica e divergências entre as comunidades. Uma dizia para a outra: "Nossa maneira de viver a fé é melhor do que a de vocês. Nós estamos salvos! Vocês estão erradas! Se quiserem ir para o céu, têm que se converter e viver como nós vivemos!" Jesus diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" Não é necessário que todos pensem do mesmo jeito. O importante é que todos aceitem Jesus como revelação do Pai e que, por amor a ele, tenham atitudes de compreensão, de serviço e de amor. Amor e serviço são o cimento que liga entre si os tijolos e faz as várias comunidades serem uma igreja de irmãos e de irmãs.

* João 14,3-4: Jesus se despede. 
Jesus diz que vai preparar um lugar e depois retornará para levar-nos com ele para a casa do Pai. Ele quer que estejamos todos com ele para sempre. O retorno de que Jesus fala é a vinda do Espírito que ele manda e que trabalha em nós, para que possamos viver como ele viveu (Jo 14,16-17.26; 16,13-14). Jesus termina dizendo: "Para onde eu vou, vocês conhecem o caminho!" Quem conhece Jesus conhece o caminho, pois o caminho é a vida que ele viveu e que o levou através da morte para junto do Pai.

* João 14,5-6: Tomé pergunta pelo caminho.
Tomé diz: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte! Jesus explica o sentido. Ele é o caminho, porque "ninguém vem ao Pai senão por mim!" Pois, ele é a porteira, por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque olhando para ele, estamos vendo a imagem do Pai. "Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai!" Jesus é a vida, porque caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós!

Para um confronto pessoal
1) Que encontros bons do passado você guarda na memória e que são força na sua caminhada?
2) Jesus disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas". O que significa esta afirmação para nós hoje?

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Quinta-feira da 4ª semana da Páscoa

Evangelho (Jo 13,16-20): «Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior do que seu senhor, e o enviado não é maior do que aquele que o enviou. Já que sabeis disso, sereis felizes se o puserdes em prática. Eu não falo de todos vós. Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é preciso que se cumpra o que está na Escritura: ‘Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar’. Desde já, antes que aconteça, eu vo-lo digo, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou. Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou».

Comentário: Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)

Depois de lavar os pés dos discípulos...

Hoje, como naqueles filmes que começam lembrando um fato passado, a liturgia faz memória de um gesto que pertence à Quinta-feira Santa: Jesus lava os pés dos discípulos (cf. Jo 13,12). Assim, esse gesto — lido desde a perspectiva da Páscoa — recobra uma vigência perene. Observemos, somente, três ideias.

Em primeiro lugar, a centralidade da pessoa. Na nossa sociedade parece que fazer é o termômetro do valor de uma pessoa. Dentro dessa dinâmica é fácil que as pessoas sejam tratadas como instrumentos; facilmente utilizamo-nos uns aos outros. Hoje, o Evangelho nos urge a transformar essa dinâmica em uma dinâmica de serviço: o outro nunca é um puro instrumento. Se tentaria de viver uma espiritualidade de comunhão, onde o outro —em expressão de João Paulo II— chega a ser “alguém que me pertence” e um “dom para mim”, a quem temos de “dar espaço”. A nossa língua o tem apanhado felizmente com a expressão: “estar pelos demais” Estamos pelos demais? Escutamos-lhes quando nos falam?

Na sociedade da imagem e da comunicação, isto não é uma mensagem a transmitir, senão uma tarefa a cumprir, a viver cada dia: «sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13,17). Talvez por isso, o Mestre não se limita a uma explicação: imprime o gesto de serviço na memória daqueles discípulos, passando logo à memória da Igreja; uma memória chamada constantemente a ser uma vez mais gesto: na vida de tantas famílias, de tantas pessoas.

Finalmente, um sinal de alerta: «Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar» (Jo 13,18). Na Eucaristia, Jesus ressuscitado se faz o nosso servidor, nos lava os pés. Mas não é suficiente com a presença física. Temos que aprender na Eucaristia e tirar as forças para fazer realidade que «tendo recebido o dom do amor, morramos ao pecado e vivamos para Deus» (São Fulgêncio de Ruspe).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

São Pio V, Papa
* Nos próximos dias, com exceção das festas, o evangelho diário é tirado da longa conversa de Jesus com os discípulos durante a Última Ceia (Jo 13 a 17). Nestes cinco capítulos que descrevem a despedida de Jesus, percebe-se a presença daqueles três fios de que falamos anteriormente e que tecem e compõem o evangelho de João: a palavra de Jesus, a palavra das comunidades e a palavra do evangelista que fez a última redação do Quarto Evangelho. Nestes cinco capítulos, os três fios estão de tal maneira entrelaçados que o todo se apresenta como uma peça única de rara beleza e inspiração, onde é difícil distinguir o que é de um e o que é do outro, mas onde tudo é Palavra de Deus para nós. 

* Estes cinco capítulos trazem a conversa que Jesus teve com os seus amigos, na véspera de ser preso e morto. Era uma conversa amiga, que ficou na memória do Discípulo Amado. Jesus, assim parece, queria prolongar ao máximo esse último encontro, momento de muita intimidade. O mesmo acontece hoje. Há conversa e conversa. Há conversa superficial que gasta palavras à toa e revela o vazio das pessoas. E há conversa que vai fundo no coração e fica na memória. Todos nós, de vez em quando, temos esses momentos de convivência amiga, que dilatam o coração e vão ser força na hora das dificuldades. Ajudam a ter confiança e a vencer o medo.

* Os cinco versículos do Evangelho de hoje tiram duas conclusões do lava-pés (Jo 13,1-15). Falam:
(1) do serviço como característica principal dos seguidores e seguidoras de Jesus, e
(2) da identidade de Jesus como revelação do Pai.

S. José Bento Cottolengo, presbítero
* João 13,16-17: O servo não é maior que o seu senhor. 
Jesus acabou de lavar os pés dos discípulos. Pedro levou susto e não quis que Jesus lhe lavasse os pés. “Se eu não te lavar os pés, não terás parte comigo” (Jo 13,8). E basta lavar os pés; o resto não precisa (Jo 13,10). O valor simbólico do gesto do lava-pés consistia em aceitar Jesus como o Messias Servidor que se entrega a si mesmo pelos outros, e recusar um messias rei glorioso. Esta entrega de si mesmo como servo de todos é a chave para entender o gesto do lava-pés. Entender isto é a raiz da felicidade de uma pessoa: “Se vocês compreenderam isso, serão felizes se o puserem em prática". Mas havia pessoas, mesmo entre os discípulos, que não aceitavam Jesus como Messias Servo. Não queriam ser servidores dos outros. Provavelmente, queriam um messias glorioso como Rei e Juiz, de acordo com a ideologia oficial. Jesus diz: "Eu não falo de todos vocês. Eu conheço aqueles que escolhi, mas é preciso que se cumpra o que está na Escritura: Aquele que come pão comigo, é o primeiro a me trair!” João se refere a Judas, cuja traição vai ser anunciada logo em seguida (Jo 13,21-30).

* João 13,18-20: Digo isto agora, para que creiais que EU SOU. 
Foi por ocasião da libertação do Egito ao pé do Monte Sinai, que Deus revelou o seu nome a Moisés: “Estou com você!” (Ex 3,12), “Estou que Estou” (Ex 3,14), “Estou” ou “Eu sou” me mandou até vocês!” (Ex 3,14), O nome Javé (Ex 3,15) expressa a certeza absoluta da presença libertadora de Deus junto do seu povo. De muitas maneiras e em muitas ocasiões esta mesma expressão EU SOU ou SOU EU é usada por Jesus (Jo 8,24; 8,28; 8,58; Jo 6,20; 18,5.8; Mc 14,62; Lc 22,70). Jesus é a presença do rosto libertador de Deus no meio de nós.

Para um confronto pessoal
1) O servo não é maior que o seu senhor. Como faço da minha vida um serviço permanente aos outros?
2) Jesus soube conviver com pessoas que não o aceitavam. E eu consigo?

terça-feira, 28 de abril de 2015

Quarta-feira da 4ª semana da Páscoa

Evangelho (Jo 12,44-50): Jesus exclamou: «Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Se alguém ouve as minhas palavras e não as observa, não sou eu que o julgo, porque vim não para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me rejeita e não acolhe as minhas palavras já tem quem o julgue: a palavra que eu falei o julgará no último dia. Porque eu não falei por conta própria, mas o Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que devo dizer e falar. E eu sei: o que ele ordena é vida eterna. Portanto, o que eu falo, eu o falo de acordo com o que o Pai me disse».

Comentário: P. Julio César RAMOS González SDB (Mendoza, Argentina)

Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas naquele que me enviou.

Hoje, Jesus grita; grita como alguém que precisa que suas palavras sejam ouvidas por todos. Seu grito sintetiza sua missão salvadora, pois tem vindo «não para julgar o mundo, mas para salvá-lo» (Jo 12,47), não por si mesmo, mas em nome do «Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que devo dizer e falar» (Jo 12,49).

Ainda não faz um mês que celebramos o Tríduo Pascal: o Pai estava tão presente na hora extrema, na hora da Cruz! Como escreveu João Paulo II, «Jesus, aflito pela previsão da prova que o esperava, ante Deus, o invoca com sua habitual e carinhosa expressão de confiança: ‘Abba, Pai’ ». Nas horas seguintes, se faz evidente o diálogo estreito do Filho com o Pai: «Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34); «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46).

A importância da obra do Pai, e do seu enviado, merece a resposta de quem o escuta. Essa resposta é o crer, ou seja, a fé (cf. Jo 12,44); fé que nos dá — por Jesus mesmo — a luz para não continuar na escuridão. Ao contrário, quem rejeita esses dons e manifestações e não acolhe essas palavras «já tem quem o julgue: a Palavra» (Jo 12,48).

Aceitar Jesus, então, é crer, ver, ouvir ao Pai, significa não estar na escuridão, obedecer o mandato da vida eterna. Bem vinda seja a repreensão de São João da Cruz: « [O Pai] tudo nos falou por esta palavra só (...). Por isso, quem quiser perguntar alguma coisa a Deus ou ter uma visão ou revelação, seria não só uma necedade, também estaria ofendendo a Deus, já que não estaria colocando seu olhar em Cristo, evitando querer alguma outra coisa ou novidade».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Sta Catarina de Siena - Virgem e Doutora
* O Evangelho de hoje traz a parte final do Livro do Sinais (1 a 12), na qual o evangelista faz um balanço. Muitos acreditaram em Jesus e tinham a coragem de manifestar sua fé publicamente como discípulos e as discípulas. Outros acreditaram, mas não tiveram a coragem de manifestar publicamente sua fé. Tinham medo de serem expulsos da sinagoga. E muitos não acreditaram: “Apesar de Jesus ter realizado na presença deles tantos sinais, não acreditaram nele. Assim se cumpriu a palavra dita pelo profeta Isaías: "Senhor, quem acreditou em nossa mensagem? Para quem foi revelada a força do Senhor?" (Jo 12,37-38). Depois desta constatação geral, João retoma alguns dos temas centrais do seu evangelho:

* João 12,44-45: Crer em Jesus é crer naquele que o enviou. 
Esta frase é um resumo do evangelho de João. É o tema que aparece e reaparece de muitas maneiras. Jesus está tão unido ao Pai, que ele já não fala em nome próprio, mas sempre em nome do Pai. Quem vê a Jesus vê o Pai. Se quiser conhecer a Deus, olhe para Jesus. Deus é Jesus!

* João 12,46: Jesus é a luz que veio ao mundo.
Aqui João retoma o que já tinha sido dito no prólogo: “O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). “A luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1,5). Aqui ele repete: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que acredita em mim não fique nas trevas”.  Jesus é uma resposta viva às grandes interrogações que movimentam e inspiram a busca do ser humano. Ele é uma luz que clareia o horizonte. Faz descobrir o lado luminoso da escuridão da fé.

* João 12,47-48: Não vim para julgar o mundo.
Chegando no fim de uma etapa, surge a pergunta: “Como vai ser o julgamento? Nestes dois versículos o evangelista esclarece o tema do julgamento. O julgamento não se faz na base da ameaça com maldições. Jesus diz: Eu não condeno quem ouve as minhas palavras e não obedece a elas, porque eu não vim para condenar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeita e não aceita minhas palavras, já tem o seu juiz: a palavra que eu falei será o seu juiz no último dia. O julgamento consiste na maneira como a pessoa se define frente à verdade e frente a sua própria consciência.

* João 13,49-50: O que digo, eu o digo conforme o Pai me disse.
As últimas palavras do Livro dos Sinais são um resumo de tudo que Jesus disse e fez até agora. Ele reafirma o que afirmava desde o começo: “Não falei por mim mesmo. O Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. E eu sei que o mandamento dele é a vida eterna. Portanto, o que digo, eu o digo conforme o Pai me disse”. Jesus é o reflexo fiel do Pai. Por isso mesmo, ele não oferece prova nem argumento aos que o provocam para que se legitime e apresente suas credenciais. É o Pai que o legitima através das obras que ele faz. E dizendo obras, não se refere só aos grandes milagres, mas a tudo que ele disse e fez, até nas mínimas coisas. Jesus, ele mesmo, é o Sinal do Pai. Ele é o milagre ambulante, a transparência total. Ele já não se pertence, mas é todo inteiro propriedade do Pai. As credenciais de um embaixador não vêm dele mesmo, mas vem daquele a quem representa. Vem do Pai.

Para um confronto pessoal
1) João faz um balanço da atividade reveladora de Jesus. Se eu fizer um balanço da minha vida, o que vai sobrar de positivo em mim?
2) Existe algo em mim que me condena?

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Terça-feira da 4ª semana da Páscoa

Evangelho (Jo 10,22-30): Em Jerusalém celebrava-se a festa da
Dedicação. Era inverno. Jesus andava pelo templo, no pórtico de Salomão. Os judeus, então, o rodearam e disseram-lhe: «Até quando nos deixarás em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente! ». Jesus respondeu: «Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu pai dão testemunho de mim. Vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna. Por isso, elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior do que todos, e ninguém pode arrancá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um».

Comentário: Rev. D. Miquel MASATS i Roca (Girona, Espanha)

Eu e o Pai somos um

Hoje, vemos Jesus que «andava pelo Templo, no pórtico de Salomão» (Jo 10,23), durante a festa da Dedicação em Jerusalém. Então, os judeus pedem-lhe: «Se tu és o Cristo, diz-nos abertamente», e Jesus responde-lhes: «Eu já vos disse, mas vós não acreditais» (Jo 10,24.25).

Só a fé dá ao homem a capacidade de reconhecer Jesus Cristo como o Filho de Deus. No ano de 2000, João Paulo II, no encontro com os jovens em Tor Vergata, falava do “laboratório da fé”. Há muitas respostas para a pergunta «Quem dizem as multidões que eu sou? » (Lc 9,18) … Depois, porém, Jesus passa para o plano pessoal: «E vós, quem dizeis que eu sou? » Para responder corretamente a esta pergunta é necessária a “revelação do Pai”. Para responder como Pedro — «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo» (Mt 16,16) — faz falta a graça de Deus.

Contudo, embora Deus queira que todas as pessoas acreditem e se salvem, só os homens humildes têm a capacidade de acolher este dom. «Entre os humildes está a sabedoria», lê-se no livro dos Provérbios (11,2). A verdadeira sabedoria do homem consiste em confiar em Deus.

Santo Tomás de Aquino comenta esta passagem do Evangelho dizendo: «Consigo ver graças à luz do sol, mas se fechar os olhos, não vejo; porém a culpa não é do sol, mas minha».

Jesus diz-lhes que, se não creem, que acreditem, pelo menos, devido às obras que faz, que manifestam o poder de Deus. «As obras que eu faço em nome do meu pai dão testemunho de mim» (Jo 10,25).

Jesus conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas escutam a Sua voz. A fé leva à intimidade com Jesus na oração. O que é a oração senão o trato com Jesus Cristo, que sabemos que nos ama e nos conduz ao Pai? O resultado e o prêmio desta intimidade com Jesus nesta vida, são a vida eterna, como lemos no Evangelho.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

S. Luís Maria G. de Montfort - Presbitero
* Os capítulos 1 a 12 do evangelho de João são chamados “O Livro dos Sinais”. Neles acontece a revelação progressiva do Mistério de Deus em Jesus. Na mesma medida em que Jesus vai fazendo a revelação, crescem a adesão e a oposição a ele de acordo com a visão com que cada um espera a chegada do Messias. Esta maneira de descrever a atividade de Jesus não é só para informar como a adesão a Jesus acontecia naquele tempo, mas também e sobretudo como ela deve acontecer hoje em nós, seus leitores e suas leitoras. Naquele tempo, todos esperavam a chegada do Messias e tinham os seus critérios para poder reconhecê-lo. Queriam que ele fosse do jeito que eles o imaginavam. Mas Jesus não se submete a esta exigência. Ele revela o Pai do jeito que o Pai é e não do jeito que o auditório o gostaria. Ele pede conversão no modo de pensar e de agir.  Hoje também, cada um de nós tem os seus gostos e preferências. Às vezes, lemos o evangelho para ver se encontramos nele a confirmação dos nossos desejos. O evangelho de hoje traz uma luz a este respeito.

* João 10,22-24: Os Judeus interpelam Jesus. 
Era frio. Mês de outubro. Festa da dedicação que celebrava a purificação do templo feita por Judas Macabeu (2Mc 4,36.59). Era uma festa bem popular de muitas luzes. Jesus anda na esplanada do Templo, no Pórtico de Salomão. Os judeus o questionam: "Até quando nos irás deixar em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente". Eles querem que Jesus se defina e que eles possam verificar, a partir dos critérios deles, se Jesus é ou não é o Messias. Querem provas. É a atitude de quem se sente dono da situação. Os novatos devem apresentar suas credenciais. Do contrário não terão direito de falar e de atuar.

* João 10,25-26: Resposta de Jesus: as obras que faço dão testemunho de mim. 
A resposta de Jesus é sempre a mesma: "Eu já disse, mas vocês não acreditam em mim. As obras que eu faço em nome do meu Pai, dão testemunho de mim; vocês, porém, não querem acreditar, porque vocês não são minhas ovelhas”. Não se trata de dar provas. Nem adiantaria. Quando uma pessoa não quer aceitar o testemunho de alguém, não há prova que o leve a pensar diferente. O problema de fundo é a abertura desinteressada da pessoa para Deus e para a verdade. Onde houver esta abertura, Jesus é reconhecido pelas suas ovelhas. “Quem é pela verdade escuta minha voz” dirá Jesus mais adiante a Pilatos (Jo 18,37). Esta abertura estava faltando nos fariseus.

* João 10,27-28: As minhas ovelhas conhecem minha voz. 
Jesus retoma a parábola do Bom Pastor que conhece suas ovelhas e é conhecido por elas. Este mútuo entendimento -  entre Jesus que vem em nome do Pai e as pessoas que se abrem para a verdade -  é fonte de vida eterna. Esta união entre o criador e a criatura através de Jesus supera a ameaça da morte: “Elas jamais perecerão e ninguém as arrebatará de minha mão!” Estão seguras e salvas e, por isso mesmo, em paz e com plena liberdade.

* João 10,29-30: Eu e o Pai somos um. 
Estes dois versículos abordam o mistério da unidade entre Jesus e o Pai: “Meu Pai, que tudo entregou a mim, é maior do que todos. Ninguém pode arrancar coisa alguma da mão do Pai. O Pai e eu somos um”. Esta e várias outras frases nos deixam entrever algo deste mistério maior: “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14,9). “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 10,38). Esta unidade entre Jesus e o Pai não é automática, mas é fruto da obediência: “Eu sempre faço o que o Pai me mostra que é para fazer” (Jo 8,29; 6,38; 17,4). “Meu alimento é fazer a vontade do Pai (Jo 4,34; 5,30). A carta aos hebreus diz que Jesus teve que aprender, através do sofrimento, o que é ser obediente (Hb 5,8). “Ele foi obediente até à morte, e morte de Cruz” (Fl 2,8). A obediência de Jesus não é disciplinar, mas é profética. Ele obedece para ser total transparência e, assim, ser revelação do Pai. Por isso, ele podia dizer: “Eu e o pai somos um!” Foi um longo processo de obediência e de encarnação que durou 33 anos. Começou com o Sim de Maria (Lc 1,38) e terminou com “Tudo está consumado!” (Jo 19,30).

Para um confronto pessoal
1) Minha obediência a Deus é disciplinar ou profética? Revelo algo de Deus ou só me preocupa com a minha própria salvação?
2) Jesus não se submeteu às exigências dos que queriam verificar se ele era mesmo o messias. Existe em mim algo desta atitude dominadora e inquisidora dos adversários de Jesus?

domingo, 26 de abril de 2015

Segunda-feira da 4ª semana da Páscoa

Evangelho (Jo 10,1-10): «Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil onde estão as ovelhas, mas sobe por outro lugar, esse é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas escutam a sua voz, ele chama cada uma pelo nome e as leva para fora. E depois de fazer sair todas as que são suas, ele caminha à sua frente e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. A um estranho, porém, não seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer.  Jesus disse então: «Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância».

Comentário: Rev. D. Francesc PERARNAU i Cañellas (Girona, Espanha)

Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas: as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz

Hoje continuamos a considerar uma das imagens mais belas e mais conhecidas da pregação de Jesus: o bom Pastor, as suas ovelhas e o redil. Todos temos na memória as figuras do bom Pastor que contemplamos desde pequenos. Uma imagem que era muito querida aos primeiros fieis e que forma parte da arte sacra cristã desde o tempo das catacumbas. Quantas coisas nos invoca aquele pastor jovem com a ovelha ferida às suas costas! Muitas vezes vimo-nos, a nós próprios, representados naquele pobre animal.

Ainda há pouco celebramos a festa da Páscoa e uma vez mais, recordamos que Jesus não falava numa linguagem figurada quando nos dizia que o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Realmente fê-lo: a sua vida foi a prenda do nosso resgate, com a sua vida comprou a nossa; graças a esta entrega, nós fomos resgatados: «Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo» (Jo 10,9). Encontramos aqui a manifestação do grande mistério do amor inefável de Deus que chega a estes extremos inimagináveis para salvar a criatura humana. Jesus leva até ao extremo o seu amor, até ao ponto de dar a sua vida. Ressoam ainda aquelas palavras do Evangelho de São João introduzindo-nos nos momentos da Paixão: «Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim» (Jo 13,1).

De entre as palavras de Jesus gostaria de aprofundar nestas: «Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-me» (Jo 10,14); mais ainda, «as ovelhas escutam a sua voz (…) e seguem-no, porque conhecem a sua voz» (Jo 10,3-4). É verdade que Jesus nos conhece, mas, poderemos nós dizer que o conhecemos bem, a Ele, que o amamos e que correspondemos como devemos?

A quem estamos ouvindo?

Ana Luíza Medeiros

V Centenário do Nascimento (1515-2025)
O Evangelho de hoje nos leva a pensar em muitas coisas, ele é cheio de informações preciosas e importantes para nossa salvação. Quero, todavia, me ater a um ponto específico: a quem estamos ouvindo.

Jesus é muito claro quando diz que Suas ovelhas, escutam e reconhecem Sua voz, ou seja, toda aquele que prefere escutar as vozes do mundo e pior, as segue, não é ovelha de Cristo. A relação que Jesus tem com suas ovelhas é muito pessoal, Ele as chama pelo nome, alias, em muitos momentos da Sagrada Escritura o nosso nome é bastante valorizado, o próprio Deus diz que nosso nome está gravado na palma de suas mãos, isso mostra o quanto somos únicos e preciosos para Deus e que por isso Ele nos enviou um Bom Pastor para que o sigamos.

Tantas vezes preferimos dá ouvidos ao que mundo diz para nós, preferimos acreditar em críticas que nos menospreza ou em elogios que nos iludem. Quantas vezes escutamos a voz de Jesus nos convidando a entrar pela porta que é Ele, mas "fazemos de conta" que não é conosco. Os ladrões do mundo estão ai, nos roubando a dignidade, a alegria, a pureza, nossa fé...e o que estamos fazendo? Protegemos nossas casas contra assaltantes, mas protegemos nosso coração contra os bandidos que não são de carne e osso?

Hoje, Jesus vem te pedir que escute Sua voz, pois somente ela é digna de atenção. O que precisamos é escutar a voz que nos leva a vida, que nos preenche com a verdadeira felicidade; com a certeza que a porta que iremos passar nos levará para a eternidade e não para morte. Que o Espírito Santo venha sobre cada um de nós e abra nossos ouvidos à voz do Bom Pastor, aquele que deu sua vida por nós e que este mesmo Espírito Santo nos molde e nos faça procurar sempre a vontade de Deus e que sejamos verdadeiramente ovelhas de Cristo. Amém.

sábado, 25 de abril de 2015

Quarto domingo de Páscoa, Domingo do Bom Pastor

Textos: Atos 4, 8-12; 1 Jo 3, 1-2; Jo 10, 11-18

Evangelho (Jo 10,11-18): «Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo chegar e foge; e o lobo as ataca e as dispersa. Por ser apenas mercenário, ele não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil; também a essas devo conduzir, e elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo. Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai».

Comentário: + Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)

Eu sou o bom pastor

Hoje, Jesus nos diz: «Eu sou o bom pastor» (Jo 10,11). Comentando Santo Tomás de Aquino esta afirmação, escreve que «é evidente que o título de “pastor” lhe convém a Cristo, já que da mesma maneira um pastor conduz o rebanho à pastagem, assim também Cristo restaura os fiéis com um alimento espiritual: seu próprio corpo e seu próprio sangue». Tudo começou na Encarnação, e Jesus o cumpriu ao longo de sua vida, levando-o ao fim com sua morte redentora e sua ressurreição. Depois de ter ressuscitado, confiou este pastoreio a Pedro, aos Apóstolos e à Igreja até o fim dos tempos.

Através dos pastores, Cristo dá sua Palavra, reparte sua graça nos sacramentos e conduz o rebanho para o Reino: Ele mesmo se entrega como alimento no sacramento da Eucaristia, e comunica a Palavra de Deus e o seu Magistério, e guia com solicitude o seu Povo. Jesus tem procurado para sua Igreja pastores segundo seu coração, quer dizer, homens que, impessoalizando-o pelo Sacramento da Ordem, doem sua vida pelas ovelhas, com caridade pastoral, –com humilde espírito de serviço, com clemência, paciência e fortaleza. Santo Agostinho falava frequentemente desta exigente responsabilidade do pastor: «Esta honra de ser pastor me tem preocupado (...), mas lá onde me aterra o fato de que sou para vocês, me consola o fato de que estou entre vocês (...). Sou bispo para vocês, sou cristão com vocês».

E cada um de nós, cristãos, trabalhamos apoiando os pastores, rezamos por eles, amamos-lhes e obedecemos-lhes. Também somos pastores para os irmãos, enriquecendo-os com a graça e a doutrina que temos recebido, compartindo preocupações e alegrias, ajudando todo o mundo com o coração. Interessamo-nos por todos aqueles que nos rodeiam no mundo familiar, social e profissional até dar a vida por todos com o mesmo espírito de Cristo, que veio ao mundo «Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos» (Mt, 20,28).

Jesus é o nosso Pastor.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

26 de abril - N Sra do Bom Conselho
Diante da iminente beatificação do Monsenhor Óscar Romero, resumo a mensagem deste domingo com as suas palavras a uns meses de ser assassinado celebrando a santa missa: “Como pastor desta comunidade, estou obrigado a dar a vida pelos que amo, que são todos os salvadorenhos, inclusive por aqueles que vão me assassinar. Se chegarem a cumprir as ameaças de morte, desde agora ofereço a Deus o meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador”.

Em primeiro lugar, quando Jesus se define como o Bom Pastor está dizendo o que Homero dizia de Agamenon e Xenofonte de Ciro: “Eu sou o condutor dos homens, o dirigente das nações, o salvador do mundo”. E quando Jesus acrescenta que todos os demais pastores são uns “assalariados” está dizendo que existem muitos por ai que se dizem pastores, guia de povos e nações, dirigentes de comunidades, tanto políticos como religiosos, e na verdade são uns carreiristas, interesseiros e buscadores de dinheiro, da vaidade e de poder. Agora entendemos melhor algumas duras expressões do papa Francisco quando recorda com bastante frequência ao clero para não sermos mundanos, não buscar honras, nem prestígios. E quando termina Jesus com que, esses tais assalariados, só verem o lobo chegar, deixam as ovelhas e fogem, está dando uma bem dada contra os chefes políticos e religiosos da sua terra, do seu tempo, de todas as terras e tempos da história. Basta ver o panorama mundial: quem se enfrenta com o lobo do relativismo e do consumismo, à hiena da malversação de fundos e corrupção, a raposa da ideologia de gênero e da manipulação genética. Quem se enfrenta com esses governantes sem escrúpulos que prometem até mesmo o impossível, e depois saem com a deles e ficam bem sentadinhos na poltrona, e não cumprem nada do que prometeram!

Em segundo lugar, Cristo sim é o Bom Pastor, o único Pastor autêntico, o único dirigente honesto e de princípios, exemplo para todos os que têm uma missão de pastorear na Igreja, na sociedade e nas comunidades. A todos os dirigentes de ontem de hoje e de amanhã Cristo Pastor está dizendo várias coisas: que vivam para o seu rebanho e não do seu rebanho; que cuidem o seu rebanho e não só a sua parcela familiar e os seus fãs de amigos; que defendam o seu rebanho de todo tipo de lobos ideológicos; que estejam dispostos a dar a vida pelo seu rebanho; se fosse necessário, dando trabalho, saúde, educação para todos, e evitando nas suas vidas a opulência e o esbanjo, os lucros desorbitados, os salários escandalosos de funcionários e parlamentários centrais e autonômicos, os chalés de luxo, as vidas de sultão... Cristo, único Pastor grita para eles que têm que servir e não querer ser servidos.

Finalmente, Cristo Pastor também tem palavras sérias para quem temos uma missão na Igreja como bispos, sacerdotes e diáconos. Que não sejamos funcionários, tipo secretárias que dizem “melhor volte amanhã, hoje não é possível o atendimento”. Que não sejamos burocratas das contas e das montanhas de papéis, administrador mecânico da palavra de Deus e dos sacramentos rotineiros e sempre do “depois, depois, depois”, carreirista e ansioso de subir na vida com muitas regalias, como quem fez carreira eclesiástica e às vezes uma baita duma carreira bem longa e bem rápida. Que conheçamos, amemos, alimentemos, defendamos e demos a vida pelas nossas ovelhas, que não são nossas, que são de Cristo. Que sejamos autênticos sacerdotes pastores, e não sacerdotes secularizados que entendem mais de cinema e esportes do que de Deus, que encabeçam reuniões e greves, mas não se ajoelham nem estudam nem ensinam as suas ovelhas a rezar. Que sejamos pastores cuja autoridade vem até nós desde Cristo para fazer crescer as ovelhas e levá-las até Ele, e não fustigarmos assim as ovelhas com o chicote do autoritarismo. A nossa autoridade é de serviço e não de mando.    

Para refletir: Reflitamos neste poema-soneto de Lope de Vega:

Pastor que com teus assobios amorosos
Despertaste-me do profundo sono,
Tu que fizeste cajado desse lenho,
No qual tendes os braços poderosos,
Volve os olhos a minha fé piedosos,
Pois confesso por meu amor e dono,
E a palavra de te seguir empenho,
Os teus doces assobios e os teus pés formosos.
Ouve, Pastor, pois por amores morres,
Não te espante o rigor dos meus pecados,
Pois Tu tão amigo de rendidos és.
Espera, pois, e escuta os meus cuidados,
Mas, como te digo que me esperes,
Se Tu estás para esperar os pés pregados?

Para rezar: Senhor Jesus, Pastor, revesti o meu coração das virtudes que adornaram a vossa vida de pastor: mansidão, bondade, ternura, desprendimento, sacrifício, fortaleza, firmeza para poder levar o vosso rebanho até o céu.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

sexta-feira, 24 de abril de 2015

25 de abril: São Marcos, evangelista.

Evangelho (Mc 16,15-20): Naquele tempo, Jesus apareceu-se aos onze e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados». Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam».

Comentário: Mons. Agustí CORTÉS i Soriano Bispo de Sant Feliu de Llobregat (Barcelona, Espanha).

Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura

Hoje haveria muito do que falar sobre por que não se ouve com firmeza e convicção a palavra do Evangelho? Porque nós os cristãos, guardamos um silêncio suspeitoso sobre o que acreditamos, apesar da chamada à “nova evangelização”. Cada um fará sua própria análise e mostrará sua interpretação particular.

No entanto, na festa de São Marcos, ouvindo o Evangelho e olhando para o evangelizador, só podemos proclamar com segurança e agradecimento onde está a fonte e em que consiste a força de nossa palavra.

O evangelizador não fala porque assim o recomenda um estudo sociológico do momento, nem porque o manda a “prudência” política, nem porque “ele tem vontade de dizer o que pensa”. A ele lhe foi imposto uma presença e um mandato, desde fora, sem coação, mas com a autoridade de quem é digno de toda credibilidade: «E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura». (cf. Mc 16,15). Quer dizer, que evangelizamos por obediência gozosa e confiadamente.

Nossa palavra, por outro lado, não se apresenta como uma mais no mercado das ideias ou das opiniões, mas que tem todo o peso das mensagens fortes e definitivas. De sua aceitação ou rejeição dependem a vida ou a morte; e sua verdade, sua capacidade de convicção, vem pela via testemunhal, isto é, aparece acreditada pelos signos de poder em favor dos necessitados. Razão pela qual, é propriamente, uma “proclamação”, uma declaração pública, feliz, entusiasmada, de um fato decisivo e salvador.

Por que, então nosso silêncio? Medo, timidez? Dizia São Justino que «aqueles ignorantes e incapazes de eloquência, persuadiram pela virtude a todo o gênero humano». O signo o milagre da virtude é nossa eloquência. Deixemos pelo menos que o Senhor no meio de nós e conosco realize sua obra: estava «Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.» (Mc 16,20).

Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* O Evangelho de hoje faz parte do apêndice do Evangelho de Marcos (Mc 16,9-20) que traz a lista de algumas aparições de Jesus: a Madalena (Mc 16,9-11), a dois discípulos a caminho do campo (Mc 16,12-13) e aos doze apóstolos (Mc 16,14-18). Esta última aparição junto com a descrição da ascensão ao céu (Mc 16,19-20) constitui o evangelho de hoje.

* Marcos 16,14: Os sinais que acompanham o anúncio da Boa Nova. 
Jesus aparece aos onze discípulos e os repreende por não terem acreditado nas pessoas que o tinham visto ressuscitado. Não acreditaram em Madalena (Mc 16,11), nem nos dois a caminho do campo (Mc 16,13). Várias vezes, Marcos se refere à resistência dos discípulos em crer no testemunho daqueles e daquelas que experimentaram a ressurreição de Jesus. Por que será que Marcos insiste tanto na falta de fé dos discípulos? Provavelmente, para ensinar duas coisas. Primeiro, que a fé em Jesus passa pela fé nas pessoas que dão testemunho dele. Segundo, que ninguém deve desanimar quando a descrença nasce no coração. Até os onze discípulos tiveram dúvidas!

* Marcos 16,15-18: A missão de anunciar a Boa Nova a toda criatura.
Depois de ter criticado a falta de fé dos discípulos, Jesus lhes confere a missão: "Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado”. Aos que tiverem a coragem de crer na Boa Nova e que são batizados, Jesus promete os seguintes sinais: expulsarão demônios, falarão línguas novas, pegarão em serpentes e não serão molestados pelo veneno, imporão as mãos aos doentes e eles ficarão curados. Isto acontece até hoje:
* expulsar os demônios: é combater o poder do mal que estraga a vida. A vida de muitas pessoas ficou melhor pelo fato de terem entrado na comunidade e de terem começado a viver a Boa Nova da presença de Deus em sua vida.
* falar línguas novas: é começar a comunicar-se com os outros de maneira nova. Às vezes, encontramos uma pessoa que nunca vimos antes, mas parece que já a conhecemos há muito tempo. É porque falamos a mesma língua, a linguagem do amor.
* vencer o veneno: há muita coisa que envenena a convivência. Muita fofoca que estraga o relacionamento entre as pessoas. Quem vive a presença de Deus dá a volta por cima e consegue não ser molestado por este veneno terrível.
* curar doentes: em todo canto, onde aparece uma consciência mais clara e mais viva da presença de Deus, aparece também um cuidado especial para com as pessoas excluídas e marginalizadas, sobretudo para com os doentes. Aquilo que mais favorece a cura é a pessoa sentir-se acolhida e amada.

* Marcos 16,19-20: Através da comunidade Jesus continua a sua missão.
 O mesmo Jesus que viveu na Palestina, e acolhia os pobres do seu tempo, revelando assim o amor do Pai, este mesmo Jesus continua vivo no meio de nós, nas nossas comunidades. É através de nós, que ele quer continuar a sua missão para revelar a Boa Nova do amor de Deus aos pobres. Até hoje, a ressurreição acontece. Ela nos leva a cantar: "Quem nos separará, quem vai nos separar, do amor de Cristo, quem nos separará?" Poder nenhum deste mundo é capaz de neutralizar a força que vem da fé na ressurreição (Rm 8,35-39). Uma comunidade que quiser ser testemunha da Ressurreição deve ser sinal de vida, deve lutar contra as forças da morte, para que o mundo seja um lugar favorável à vida, deve crer que outro mundo é possível. Sobretudo aqui na América Latina, onde a vida do povo corre perigo por causa do sistema de morte que nos foi imposto, as comunidades devem ser uma prova viva da esperança que vence o mundo, sem medo de ser feliz!

Para confronto pessoal
1. Como estes sinais da presença de Jesus acontecem na minha vida?
2. Quais são, hoje, os sinais que mais convencem as pessoas da presença de Jesus no nosso meio?

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Sexta-feira da 3ª semana da Páscoa

Evangelho (Jo 15,1-8): Os judeus discutiam entre si: «Como é que ele pode dar a sua carne a comer?». Jesus disse: «Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem consome a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem consome a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que me consome viverá por meio de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram — e no entanto morreram. Quem consome este pão viverá para sempre». Jesus falou estas coisas ensinando na sinagoga, em Cafarnaum.

Comentário: Rev. D. Àngel CALDAS i Bosch (Salt, Girona, Espanha)

Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.

Hoje, Jesus faz três afirmações capitais como são: que se deve comer a carne do Filho do homem e beber o seu sangue, que se não se comunga não se pode ter vida; e que esta vida é a vida eterna e é a condição para a ressurreição (cf. Jo 6,53.58). Não há nada no Evangelho tão claro, tão rotundo e tão definitivo como estas afirmações de Jesus.

Não sempre os católicos estamos à altura do que merece a Eucaristia: às vezes se pretende “viver” sem as condições de vida assinaladas por Jesus e, contudo, como tem escrito João Paulo II, «a Eucaristia é um dom demasiado grande para admitir ambigüidades e reduções».

“Comer para viver”: comer a carne do Filho do homem para viver como o Filho do homem. Este comer se chama “comunhão”. É um “comer”, e dizemos “comer” para que fique clara a necessidade de assimilação, da identificação com Jesus. Comunga-se para manter a união: para pensar como Ele, para falar como Ele, para amar como Ele. Aos cristãos fazia-nos falta a encíclica eucarística de João Paulo II, A Igreja vive da Eucaristia. É uma encíclica apaixonada: é “fogo” porque a Eucaristia é ardente.

«Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer» (Lc 22,15), dizia Jesus ao entardecer da Quarta-feira Santa. Temos de recuperar o fervor eucarístico. Nenhuma outra religião tem uma iniciativa semelhante. É Deus que entra no coração do homem para estabelecer aí uma relação misteriosa de amor. E desde aí se constrói a Igreja e se faz parte no dinamismo apostólico e eclesiástico da Eucaristia.

Estamos tocando a entranha mesma do mistério, como Tomás, que apalpava as feridas de Cristo ressuscitado. Nós cristãos teremos de revisar a nossa fidelidade ao fato eucarístico, tal como Cristo o tem revelado e a Igreja nos o propõe. E temos de voltar a viver a “ternura” para a Eucaristia: genuflexões pausadas e bem feitas, incremento do número de comunhões espirituais... E, a partir da Eucaristia, os homens nos aparecerão sagrados, tal como são. E lhes serviremos com uma renovada ternura.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
*  Estamos chegando quase ao fim do Discurso do Pão da Vida. Aqui começa a parte mais polêmica. Os judeus se fecham e começam a questionar as afirmações de Jesus.

*  João 6,52-55: Carne e sangue: expressão da vida e da doação total. 
Os judeus reagem: "Como esse homem pode dar-nos a sua carne para comer?" Era perto da festa da Páscoa. Dentro de poucos dias, todos iam comer a carne do cordeiro pascal na celebração da noite de páscoa. Eles não entenderam as palavras de Jesus, porque tomaram tudo ao pé da letra. Mas Jesus não diminui as exigências, não retira nada do que disse, e insiste: "Eu garanto a vocês: se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida em vocês. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele”.  
(1) Comer a carne de Jesus significa aceitar Jesus como o novo Cordeiro Pascal, cujo sangue nos liberta da escravidão. A lei do Antigo Testamento, por respeito à vida, proibia comer sangue (Dt 12,16.23; At 15.29). Sangue era o sinal da vida.
(2) Beber o sangue de Jesus significa assimilar a mesma maneira de viver que marcou a vida de Jesus.
O que traz vida não é celebrar o maná do passado, mas sim comer este novo pão que é Jesus, a sua carne e o seu sangue. Participando da Ceia Eucarística, assimilamos a sua vida, a sua doação e entrega.  “Se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue não terão vida em vocês”. Devem aceitar Jesus como messias crucificado, cujo sangue vai ser derramado.

*  João 6,56-58: Quem me receber como alimento viverá por mim. 
As últimas frases do Discurso do Pão da Vida são de grande profundidade e tentam resumir tudo que foi dito. Elas evocam a dimensão mística que envolve a participação na eucaristia. Expressam o que Paulo diz na carta aos Gálatas: “Vivo, mas já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). E o que diz o Apocalipse de João: “Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, ele comigo” (Ap 3,20). E o próprio João no Evangelho: “Se alguém me ama guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). E termina com a promessa da vida que marca a diferença com o antigo êxodo: “Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que os pais de vocês comeram e depois morreram. Quem come deste pão viverá para sempre."

*  João 6,59: Termina o discurso na sinagoga.
Até aqui foi a conversa entre Jesus e o povo e os judeus na sinagoga de Cafarnaum. Como aludimos anteriormente, o Discurso do Pão da Vida nos oferece uma imagem de como era a catequese naquele fim do primeiro séculos nas comunidades cristãs da Ásia Menor. As perguntas do povo e dos judeus refletem as dificuldades dos membros das comunidades. E as resposta de Jesus representam os esclarecimentos para ajuda-los a superar as dificuldades, aprofundar sua fé e viver mais intensamente a eucaristia que era celebrada sobretudo nas noites de sábado para o domingo, o Dia do Senhor.

Para um confronto pessoal
1) A partir do Discurso do Pão da Vida, a celebração da Eucaristia recebe uma luz muito forte e um aprofundamento enorme. Qual a luz eu estou percebendo que me ajuda a dar um passo?
2) Comer a carne e o sangue de Jesus, é o mandamento que ele nos dá. Como vivo a eucaristia na minha vida? Mesmo não podendo ir à missa todos os dias ou todos os domingos, minha vida deve ser eucarística. Como tento realizar este objetivo?

quarta-feira, 22 de abril de 2015

23 de abril

B. Teresa Maria da Cruz Manetti
Virgem de nossa Ordem.

“Sofrer, sofrer, sempre sofrer. Fazei de mim o que quiserdes. Basta-me que Vos faça salvar mais almas”. Assim rezava Teresa Maria da Cruz ou Teresa Adelaide Manetti, que veio ao mundo a 2 de março de 1846, no lugar de S. Martinho de Campi Bisenzio, na Arquidiocese de Florença, Itália. Muito nova, perdeu o pai, Salvador Manetti. Sua piedosa mãe, Rosa Bigali, educou-a com disciplina na vida cristã, inculcando-lhe amor aos pobres e humildes. A menina entendeu bem os ensinamentos maternos. Aos 19 anos recusou o matrimônio para se consagrar totalmente a Deus. Com duas companheiras, que reuniu a princípio em sua casa, partiu para o oratório de S. Justo, nas margens do rio Bisêncio, por conselho do Padre Ernesto Iacopozzi. A 16 de julho de 1874, foram admitidas na Terceira Ordem das Carmelitas Descalças, tomando ela o nome de Teresa Maria da Cruz. Naquele humilde lugar, a pequena grei, indo à frente a Serva de Deus, passou os primeiros anos em suma pobreza, orações e penitências, aguardando a manifestação da vontade divina. Entrementes, Teresa Maria, anelando a união com Deus, ardia no fogo da caridade divina que se alimentava no sacramento da Eucaristia. Pouco a pouco, o seu nome passou a ser citado com elogios por toda a região de Bisêncio. Homens e senhoras de qualquer condição social batiam-lhe à porta a pedir conselhos e orações. Em 1877, impelida pela virtude da caridade, abriu o coração e a casa às meninas órfãs e abandonadas, a quem, chamava o seu tesouro. Como o seu número fosse crescendo, viu-se obrigada a alugar e, depois, comprar e ampliar uma casa, confiando unicamente em Deus, que foi ao seu encontro por meio de generosos benfeitores. Juntaram-se-lhe outras jovens piedosas, que ela formou na vida religiosa, encarreirando-as pela senda da disciplina. O pequeno grupo converteu-se numa grande família e a casa, aumentada com outros edifícios, tornou-se um verdadeiro convento, que Teresa Maria, como mãe amantíssima, guiava com palavras e sobretudo com exemplos, inculcando a todas a virtude da caridade. Em 1885 foram agregadas à Ordem dos Carmelitas Descalços e, três anos depois, a 12 de julho de 1888, vestiram o hábito da família Teresiana e fizeram a profissão. Abriram-se novas casas. Era o grão de mostarda que crescia e se tornava planta frondosa. Com a aprovação do Arcebispo de Florença o novo Instituto, irmãs Oblatas de Santa Teresa, em 1891, mereceu o decreto de louvor e, em 1904, tornou-se de direito pontifício reconhecido por S. Pio X. Esta aprovação da santa Sé abriu novos rumos à obra da Serva de Deus, satisfazendo o seu antigo desejo, levantou um convento em Florença, onde suas Filhas adorassem dia e noite o santíssimo Sacramento. Ao mesmo tempo, inflamada na ânsia de salvar almas, enviou o primeiro grupo de companheiras para o Líbano e abriu uma casa na Terra Santa, junto do Monte Carmelo, para receber crianças pobres e abandonadas. Ninguém se aproximava da Serva de Deus que não saísse mais cheio de fé e mais disposto a unir-se a Deus. Maria Teresa participou em subido grau no mistério da cruz de Cristo. Não lhe faltaram sofrimentos e até calúnias. Teve de superar não poucas dificuldades, coisa comum a todos os fundadores de Institutos religiosos. Nos três últimos anos de vida experimentou a chamada “noite do espírito” e padeceu atrozes dores físicas. Aceitou as provações com paciência, heroica, oferecendo tudo ao Senhor pela Igreja e salvação das almas. Assim preparada, partiu para o Pai no dia 23 de abril de 1910. Na homilia da missa da beatificação, a 19 de outubro de 1986, celebrada no Estádio Municipal de Florença, falou o Santo Padre João Paulo II: «Característica particularmente evidente de Teresa Maria era a alegria (...) Mas a alegria de Teresa Maria não era a alegria ilusória deste mundo. Aquela alegria era fruto de um alto preço, que aliás ela pagava de bom grado, porque movida pelo amor a Cristo e às almas».

Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.

ORAÇÃO
Senhor, que amparaste no caminho da cruz a virgem bem-aventurada Teresa Maria da Cruz, fortalecida por um ardente amor à Eucaristia, e a cumulastes de ternura materna para com as crianças e os pobres, concedei-nos, por sua intercessão, que, fortalecidos com o pão dos anjos, nos alegremos com a participação na paixão de Cristo e colaboremos com obras de caridade para o advento do vosso Reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.