sábado, 30 de junho de 2012


 JULHO, MÊS DA "SENHORA DO LUGAR" 

Queridos irmãos carmelitas:
Iniciamos o mês de julho que, para nós, é o mês mariano por excelência.
Preparando-nos para as solenidades maiores da nossa Ordem: no dia 16 (Nossa Senhora do Carmo) e no dia 20 (Nosso Pai Santo Elias). Por isso, iniciamos, hoje, uma série de meditações sobre o valor e o significado de Nossa Senhora e do Profeta Elias, para cada um de nós.

 I - MARIA E O CARMELO
 Emanuele Boaga, O. Carm.

1. O Monte Carmelo, situado nos confins entre a Samaria e a Galiléia, é considerado no mundo bíblico como um símbolo da graça, da bênção e da beleza por causa de sua rica vegetação (cf. Is 35, 2; Jr 50,19). Nele pode-se ver também o lugar de renovação da aliança e das intervenções divinas por meio do Profeta Elias (1Reis 18, 20-46). Encontramos neste monte rica memória de numerosos gestos e sinais lembrando estes acontecimentos.

2. A presença de um grupo de eremitas latinos neste monte, por volta das Cruzadas, entre os anos de 1192 e 1209, comprovada historicamente, torna-o também, um “lugar de Maria”. Um livro-guia para os peregrinos da Terra Santa, escrito por volta de 1220, testemunha esta verdade: “O flanco do Monte Carmelo é um lugar muito belo e delicioso onde habitam, os eremitas latinos chamados de Freis Carmelitas. Existe lá uma pequena igreja dedicada a Nossa Senhora”.

3. A razão para dedicar sua primeira Igreja a Maria, Nossa Senhora, significava, na concepção feudal reinante naquele tempo, não somente o fato de se colocarem a serviço da Igreja, mas também de estarem completamente à disposição da Senhora, numa consagração pessoal, confirmada com um juramento. Os primeiros carmelitas escolheram, então, Nossa Senhora como Patrona. O próprio nome assumido pelo grupo - Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo - atesta esta verdade.

II - O CARMELO É TODO DE MARIA

4. Este é um título mariano que não se limita apenas a indicar a proteção de Nossa Senhora sobre a Ordem dos Carmelitas, e a dedicação desta à Virgem, Mãe e Patrona, mas quer exprimir também a semelhança evangélica existente entre a vida de Maria e a dos Carmelitas, com base na escolha da virgindade. Assim se exprimiam os autores carmelitanos do século XIII em diante, referindo-se a Nossa Senhora também como Irmã.

5. Desta forma, Maria está presente como Patrona e Irmã, no itinerário interior do Carmelita, que pode afirmar seguramente O Carmelo é todo mariano. Nela, cada membro da Ordem encontra o modelo de escuta filial do Pai por meio de Cristo, no Espírito Santo. Aprende a viver a dimensão contemplativa que devem desenvolver como sentido da própria vida: encontrar Deus presente na realidade, renovando continuamente a aliança com Ele e vivendo à sua luz, em um caminho de fraternidade e de solidariedade para com todos os seres humanos.
Conformidade e imitação

6. No Carmelo, a vida mariana não é manifestada apenas com a prática de exercícios particulares de piedade, que também estão presentes em sua história. Ao invés, expressa-se num modo constante de viver e de pensar, assumindo uma orientação que abraça o ser integralmente, de forma que tudo no indivíduo e na comunidade pertença a Maria.

7. No início do século XIV João Baconthorp, o mais notável dos teólogos carmelitas de sua época, referindo-se às relações de Nossa Senhora com a Ordem usa a expressão do Profeta Isaias Data est ei... decor Carmeli, afirmando foi dada a Maria toda a beleza do Carmelo (Is 35, 2).

8. Então, tudo o que faz o Carmelita deve fazê-lo em honra e glória de Maria, porque - afirma Baconthorp - segundo a Vontade divina, esta é a razão da existência da Ordem. Maria é realmente a Domina Loci, ou seja, a Senhora do Lugar, a verdadeira “dona” do Carmelo. Assim, o Carmelita deve viver de forma autêntica na imitação das virtudes contempladas em Maria, pois a conformidade com ela, neste caso, é a melhor forma de glorificar e de manifestar amor crescente à Senhora.

9. Encontramos na expressão Domina Loci, utilizada por Baconthorp, algo tipicamente medieval: o termo Domina. Dante diria Donna, ou seja a mãe da família e não a rainha. É a Senhora que mesmo sendo gloriosa não recusa nem negligencia seu papel de Mãe. Desta maneira, Maria Virgem assume o cuidado e a proteção pela vida dos Carmelitas, e de outro lado, como destacava Baconthorp, estes com seus gestos honravam a Senhora do Lugar.

10. A idéia da exemplaridade, ainda que não sendo nova na Ordem, visto provém da consideração geral do culto mariano próprio do tempo, é expressa com enorme e significativa força por Baconthorp. Para ele, a prática da vida carmelitana consiste numa imitação de toda a vida de Maria. Com o objetivo de reforçar esta idéia, escreveu um comentário à Regra do Carmo. Ao ler as suas argumentações poderíamos ser tentados a rir, tomando-as por ingênuas. Entretanto, naquele momento, importava mais a tese que a sua defesa.

11. Tal tese se tornou muito estimada no Carmelo: assim como o Carmelita deve imitar Elias, deve também imitar Maria. Isto é recordado numa famosa obra De institutione primorum monachorum, escrita em torno do ano 1370. A relação existente entre o binômio Elias-Maria torna-se fecunda e vital. É esta também uma forma de voltar à tradição da Ordem que atribui ao santo prior geral Brocardo um célebre testamento: Filhos (...) continuai, por conseguinte, constantes no bem, abominai as riquezas, desprezai o mundo e levai uma vida reta, modelada em Maria e Elias.

12. A idéia da conformidade ou da imitação exerceu grande influxo e tornou-se idéia central que encontramos em muitos escritos sucessivos e, com nuances próprias em cada época, chegou até nós. Com Maria nos caminhos de Deus

13. A este tema da conformidade-imitação de Mãe Patrona, logo se une o da íntima familiaridade com Maria como irmã, que vem retomado e ampliado sobretudo pelos autores belgas, alimentando um sentido de familiaridade com Nossa Senhora e estimulando a sua imitação na disponibilidade e docilidade para com a Palavra do Senhor. Também, a familiaridade de vida com Maria ressoa no título usado na Ordem, onde encontramos a expressão Virgo Purissima (Virgem Puríssima ou Virgem das Virgens), com o qual os autores carmelitas medievais indicam o modelo do próprio ideal contemplativo.

14. Já no século XIV, depois das referências a Maria Patrona, Mãe de Deus e Mãe do Carmelo, encontramos escritores que destacam, sobretudo a virgindade de Maria. Em João Maria e o Carmelo de Chimineto podemos recordar as ligações que ocorrem entre a virgindade de Maria Santíssima, a capa branca e o título dos carmelitas.

15. Pouco depois, Felipe Ribot, recordado em De Institutione, afirma que o Carmelo significa aquele que conhece a virgindade. Para sustentar esta tese, ele se reporta à interpretação já difundida no século V entre os Santos Padres, segundo a qual a visão da pequena nuvem, portadora de abundante e fecunda chuva, teria revelado ao Profeta Elias a fecunda virgindade de Maria. Assim, Elias, o primeiro homem virgem, quer fundar uma Ordem de virgens para honrar a Maria, a primeira mulher virgem. E esta analogia entre a virgindade no Carmelo e a virgindade de Maria o faz exclamar: Por força desta conformidade os religiosos carmelitas chamavam a Virgem de sua Irmã... e pelo mesmo motivo chamavam-se Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria. Encontramos pensamentos semelhantes nos escritores dos séculos XIV-XV, revelando-nos quanto o olhar daquelas gerações de carmelitas estava voltado sobretudo para a Virgem Maria, em seus mistérios da virgindade e da imaculada conceição. A ternura para com a celeste Patrona, a Mãe e a Irmã, nutria uma profunda e rica vida mariana.

16. A capa branca vem bem cedo considerada pelos autores carmelitanos como símbolo da Virgem Maria: no caso, pureza significa não somente uma mera ausência de pecado e menos ainda, não é simplesmente sinônimo de castidade, mas indica uma orientação total da própria existência doada completamente a Deus, sem nada reter para si, mas oferecendo a Deus um coração puro. Mais tarde, S. Maria Madalena de Pazzi (†1607) verá na pureza de Maria a beleza da Virgem que atrai Deus a si, e faz desta pureza uma mensagem para o homem, uma vez que a mesma indica disponibilidade a Deus, fecundidade, testemunho e profecia.

17. O argumento da Virgem puríssima surge ligado à característica carmelitana da vida interior passada na intimidade divina. A devoção mariana conduz a Ordem a considerar que a vida interior em íntima comunhão com Deus se adquire imitando a vida de Maria em sua intimidade com Jesus. O Carmelita vê pois, em Maria, realizado de modo maravilhoso e incomparável, o próprio ideal contemplativo. É comum entre os autores dos séculos XVI e XVII afirmar que a virgindade cria uma excelente disposição para a vida interior e contemplativa. É como Virgem puríssima, portanto, que Nossa Senhora realiza o ideal da vida de intimidade divina.

18. Consequentemente, o Carmelo considera Maria como a sua flor mais bela, como o seu supremo esplendor. Sem dúvida alguma, sob esta influência surgem as ternas e bonitas lendas medievais que narram fatos interessantes: a visita da Virgem durante sua vida, aos eremitas do Monte Carmelo e que afirmam, Maria teria vivido um certo tempo também como Carmelita.

19. Nestas piedosas lendas vamos encontrar um valor de referência real. Elas nos revelam, em linguagem simbólica, a mediação de uma consciência da familiaridade com Maria e, sobretudo, a convicção de que encontramos na simples expressão das primeiras palavras de uma antiga antífona (séc. XV-XVI) “Flos Carmeli”, Maria é a flor do Carmelo; e pouco mais tarde, exprime-se também esta consciência, com a bíblica expressão “Decor Carmeli”, Maria é o decoro do Carmelo.

20. Ao considerar Maria como a Virgem puríssima, os escritores mais antigos da Ordem, como Baconthorp, pensam antes de tudo em suas relações maternais com Jesus e também sublinham a sua virgindade perpétua. Depois de haver contemplado na Virgem a sua maternidade, examinando as ligações existentes entre ela, a Mãe de Jesus, e as criaturas remidas pelo Filho se descobre na Virgem toda pura a sua potente intercessão junto ao trono de Deus e também a própria Mãe espiritual e a própria Irmã. Assim a invocação à Virgem passa a ser “Mãe e decoro Carmelo”, Maria é a Mãe e o esplendor do Carmelo. 

LEIA, ABAIXO, A MEDITAÇÃO PARA A SOENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO.

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO
DOM HENRIQUE SOARES DA COSTA
    “Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. – Estas palavras que o missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente o significado de São Pedro e são Paulo. A Igreja chama a ambos de “corifeus”, isto é líderes, chefes, colunas. E eles o são.
     Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram. Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o Imperador Nero. Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez se apóstolo. Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do Império Romano e fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã, separando a Igreja da Sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma, sob o Imperador Nero.
     O que nos encanta nestes gigantes da fé não é somente o fruto de sua obra, tão fecunda. Encanta-nos igualmente a fidelidade à missão. As palavras de Paulo servem também para Pedro: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. Ambos foram perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, como pastores solícitos pelo rebanho, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Não largaram o arado, não olharam para trás, não desanimaram no caminho… Ambos experimentaram também, dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar…”
     Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a vida, tudo dando por Cristo. Pedro disse com acerto: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”; Paulo exclamou com verdade: “Para mim, viver é Cristo. Minha vida presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus Cristo! Em Jesus eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da cruz e da esperança da ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de vida.
     Finalmente, ambos derramaram o Sangue pelo Senhor: “Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. Eis a maior de todas a honras e de todas as glórias de Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos seus sofrimentos, unido a ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de sua glória. Eis por que eles são modelo para todos os cristãos; eis por que celebramos hoje, com alegria e solenidade o seu glorioso martírio junto ao altar de Deus! Que eles intercedam por nós na glória de Cristo, para que sejamos fiéis como eles foram.
     Hoje também, nossos olhos e corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro. Alguns loucos, dizem, deturpando totalmente a Escritura, que ela é a Grande Prostituta, a Babilônia. Nós sabemos que ela é a Esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste. Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o “Cristo, Filho do Deus vivo”. Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em Roma. Hoje, a missão de Pedro é exercida por Bento XVI. Ao Santo Padre, nossa adesão filial, por fidelidade a Jesus, que o constituiu pastor do rebanho. Não esqueçamos: o Papa será sempre, para nós, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé apostólica e na unidade da Igreja de Cristo. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura daquilo que é ou não é conforme o Evangelho.
     Rezemos, hoje, pelo nosso Santo Padre, Bento. Que Deus lhe conceda saúde de alma e de corpo, firmeza na fé, constância na caridade e uma esperança invencível. E a nós, o Senhor, por misericórdia, conceda permanecer fiéis até a morte na profissão da fé católica, a fé de Pedro e de Paulo, pala qual, em nome de Jesus, “Cristo Filho do Deus vivo”, os Santos Apóstolos derramaram o próprio sangue.
     Ao Senhor, que é admirável nos seus santos e nos dá a força para o martírio, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO
Frei Patrício Sciadini, ocd
     Hoje a Igreja celebra a solenidade de dois gigantes que souberam, embora com caráter diferente, anunciar o Evangelho e levar o nome de Jesus a todos os povos. Um deles é o apóstolo Pedro, que foi escolhido pelo próprio Jesus para que fosse seu representante, para que estivesse à frente da comunidade e fortalecesse os irmãos na fé. Pedro, que aprendemos a amar pelos seus gestos espontâneos, pelas suas palavras vivas de amor, mas que, ao mesmo tempo, é tímido, medroso e prefere o silêncio ou a fuga, desmentindo que é amigo de Jesus. Apesar de todas essas fragilidades, Pedro se revela firme, sabe mudar de opinião quando é preciso para que todos os povos aceitem a mensagem de salvação de Cristo. Olhando para Pedro, também nos sentimos reanimados na nossa fé. Ao lado de Pedro, a Igreja festeja outra coluna, que é Paulo. Corajoso e desbravador, ele percorreu os confins mais distantes da Terra para anunciar a Palavra e iniciar novas comunidades reunidas ao redor de Jesus.
     É maravilhoso poder contemplar as viagens de Paulo, ler as suas cartas, perceber sua presença como fermento de vida nova. Nunca amei tanto o Papa como hoje, quando vejo levantar-se contra ele e, portanto, contra mim e meus irmãos, uma nuvem espessa de insultos, calúnias e injustiças. A Igreja, a imitação de Jesus Cristo, não tem medo das ventanias e tempestades. Ela sabe que quando a barca está afundando pode gritar: "Salva-nos, Senhor!" E Cristo, o santo timoneiro, nos estenderá a sua mão para nos salvar. Que neste dia possamos não apenas rezar pelo Papa, mas também nos perguntar como temos recebido as suas orientações e como as temos colocado em prática. 

Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo
     Inúmeras vezes Pedro e Paulo fizeram a experiência da cadeia por amor a Cristo, mas sempre foram libertos. Deus nunca abandona os seus servos. Pedro e Paulo são modelos para todos os que querem seguir ao Senhor. É preciso que assumamos nossa cruz! Todos nós podemos cair pelo peso dos nossos pecados, mas devemos levantar e pedir perdão! 

O testamento de Paulo
     Paulo, embora velho fisicamente, é jovem no Espírito. Ele sente que o seu fim está próximo. Não tem medo da morte; quer dar algumas recomendações ao jovem Timóteo, que, às vezes, se desanima, tem medo e nem sempre consegue ser sinal vivo diante dos outros. Paulo passa a sua experiência; sente-se pronto para ser derramado como perfume agradável diante de Cristo. O missionário jamais se faz de vítima, mas sente-se feliz quando é chamado a sofrer por Cristo. Em muitas ocasiões, Pedro sentiu-se abandonado por aqueles que considerava ser seus amigos; Deus, porém, jamais o abandonou! Reze por aqueles que se diziam seus amigos, mas que, quando você decidiu ser amigo de Cristo, o deixaram sozinho. Não tenha raiva deles, ame-os! 

Uma cabeça, um coração, um corpo
     Ao longo dos séculos, no seio da Igreja, surgiram muitas heresias, divisões, mas grande parte do corpo eclesial permaneceu unida. Foram pequenas as partes que preferiram ir por outros caminhos. Como mãe, a Igreja nunca fechou as portas para ninguém. Ao contrário do que alguns pensam, a Igreja não pune, mas corrige. As portas sempre estarão abertas para os que querem sentar-se à mesa com o Senhor, mas é necessário ter unidade. A missão mais bela da Igreja é lutar para que o Evangelho seja transmitido em sua integridade. Celebrando a festa de" hoje, nós nos sentimos seguros porque não somos rebanho sem pastor, temos em Jesus e no Papa Bento XVI alguém que nos conduz para as fontes de águas refrescantes.

sexta-feira, 29 de junho de 2012


MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Oração preparatória
Senhor Jesus Cristo, unindo-me à divina intenção com que na terra pelo vosso Coração Sacratíssimo rendestes louvores a Deus e ainda agora os rendeis de contínuo e em todo o mundo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia até a consumação dos séculos, eu vos ofereço por este dia inteiro, sem exceção de um instante, à imitação do Sagrado Coração da Bem aventurada Maria sempre Virgem Imaculada, todas as minhas intenções e pensamentos, todos os meus afetos e desejos, todas as minhas obras e palavras. Amém.

Trigésimo dia

I. NÓS CONHECEMOS E CREMOS no amor que Deus tem por nós. Deus é amor; e quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus nele, podemos ler numa das leituras da Missa1.
            A plenitude da misericórdia de Deus para com os homens manifesta-se pela encarnação do seu Filho Unigênito. Soubemos que Deus nos amava não só por ser esse o contínuo ensinamento de Jesus, mas pela sua presença entre nós, que é a prova máxima desse amor. Ele próprio é a plena revelação de Deus e do seu amor aos homens2. Santo Agostinho ensina que a fonte de todas as graças é o amor de Deus por nós, revelado não só por meio de palavras, mas por atos, isto é, pela sua encarnação3.
            Hoje temos de pedir novas luzes para entendermos de um modo mais profundo o amor de Deus por todos os homens, por cada um. Devemos suplicar ao Espírito Santo que, com a sua graça e a nossa correspondência, possamos dizer pessoalmente e de um modo muito vivo: “Eu conheci o amor de Deus por mim”. Chegaremos a essa sabedoria – a única que verdadeiramente importa – se, com a ajuda da graça, meditarmos muitas vezes na Santíssima Humanidade de Jesus: na sua vida, nas suas obras, nos seus padecimentos para nos redimir da escravidão em que nos encontrávamos e nos elevar a uma amizade com Ele que durará pelos séculos sem fim. O Coração de Jesus, um coração com sentimentos humanos, foi o instrumento unido à Divindade que nos fez chegar o seu amor indizível; o Coração de Jesus é o coração de uma Pessoa divina, quer dizer, do Verbo Encarnado, e “por conseguinte, representa e coloca diante dos nossos olhos todo o amor que Ele teve e tem por nós. E aqui está a razão pela qual, na prática, se considera o culto ao Sagrado Coração como a mais completa profissão de fé cristã. Verdadeiramente, a religião de Jesus Cristo fundamenta-se totalmente no Homem-Deus, Medianeiro; de maneira que não se pode chegar ao Coração de Deus a não ser passando pelo Coração de Cristo, conforme o que Ele mesmo afirmou: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim (Jo 14, 6)”4.
            Não houve um só ato da alma de Cristo ou da sua vontade que não tivesse por fim a nossa redenção, que não se propusesse conseguir-nos todas as ajudas para que jamais nos separássemos dele ou para que voltássemos, se nos extraviamos. Não houve sequer uma só parte do seu corpo que não tivesse padecido pelo nosso amor. Todo o tipo de penas, injúrias e opróbrios, aceitou-os o Senhor alegremente pela nossa salvação. Não restou uma só gota do seu preciosíssimo Sangue que não fosse derramado por nós.
            Deus me ama. Esta é a verdade mais consoladora de todas e a que mais ressonâncias práticas deve ter na minha vida. Quem poderá compreender o infinito abismo da bondade de Jesus, manifestada na chamada que recebemos para compartilhar com Ele a sua própria Vida, a sua amizade…? Uma Vida e uma amizade que nem a morte conseguirá romper, antes as tornará mais fortes e mais seguras.
            “Deus me ama… E o Apóstolo João escreve: Amemos, pois, a Deus, porque Deus nos amou primeiro. – Como se fosse pouco, Jesus dirige-se a cada um de nós, apesar das nossas inegáveis misérias, para nos perguntar como a Pedro: «Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?»…
            “– É o momento de responder: «Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu te amo!», acrescentando com humildade: – Ajuda-me a amar-te mais, aumenta o meu amor!”5

II. NA MISSA DA SOLENIDADE do Sagrado Coração, rezamos: Ó Deus, que no Coração do vosso Filho ferido pelos nossos pecados, depositastes infinitos tesouros de caridade, nós Vos pedimos que, ao prestar-lhe a homenagem do nosso amor, lhe ofereçamos uma generosa reparação”6.
            Ao considerarmos uma vez mais, neste tempo de oração, o amor vivo e atual de Jesus por todos os homens, deve brotar dentro de nós uma imensa alegria. Um Deus com um coração de carne como o nosso! Jesus de Nazaré continua a passar pelas nossas ruas e praças fazendo o bem7, como quando estava em carne mortal entre os homens: ajudando, curando, consolando, perdoando, concedendo a vida eterna por meio dos sacramentos… Os tesouros do seu Coração são infinitos, e Ele continua a derramá-los a mãos cheias.
            São Paulo ensina que o Senhor, subindo às alturas, levou cativo o cativeiro, e derramou os seus dons sobre os homens8. São incomensuráveis as graças, as inspirações, as ajudas, espirituais e materiais, que recebemos diariamente do Coração amantíssimo de Jesus. No entanto, Ele “não se impõe com atitudes de domínio, mas mendiga um pouco de amor, mostrando-nos em silêncio as suas mãos chagadas”9. Quantas vezes não lhe teremos dito não! Quantas vezes não terá Ele esperado de nós um pouco de amor, de fervor, nessa visita ao Santíssimo, naquela Comunhão…!
            Devemos desagravar muito o Coração Sacratíssimo de Jesus: pela nossa vida passada, por tanto tempo perdido, por tantas indelicadezas, por tanta falta de amor… “Peço-te, Senhor – dizemos-lhe com palavras escritas por São Bernardo –, que acolhas a oferenda dos anos que me restam. Não desprezes, meu Deus, este coração contrito e humilhado, por todos os anos que malbaratei”10. Dá-me, Senhor, o dom da contrição por tanta torpeza atual no meu trato e no meu amor por Ti, aumenta-me a aversão por todo o pecado venial deliberado, ensina-me a oferecer-te como expiação as contrariedades físicas e morais de cada dia, o cansaço no trabalho, o esforço por concluir com esmero os trabalhos começados, como Tu desejas.
            Diante de tantos e tantos que parecem fugir da graça, não podemos permanecer indiferentes.
            “Não peças perdão a Jesus apenas das tuas culpas; não o ames com o teu coração somente…
            “Desagrava-o por todas as ofensas que lhe têm feito, que lhe fazem e lhe hão de fazer…; ama-o com toda a força de todos os corações de todos os homens que mais o tenham amado.
            “Sê audaz: diz-lhe que estás mais louco por Ele que Maria Madalena, mais que Teresa e Teresinha…, mais apaixonado que Agostinho e Domingos e Francisco, mais que Inácio e Xavier”11.

III. AQUELES DOIS DISCÍPULOS que Jesus acompanhou enquanto iam a caminho de Emaús reconheceram-no por fim ao partir o pão, depois de umas horas de caminhada. E disseram um para o outro: Não ardia o nosso coração dentro de nós enquanto nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?12 Os seus corações, que pouco antes estavam apagados, desalentados, tristes, agora estão cheios de fervor e de alegria. Isto teria sido motivo suficiente para reconhecerem que Cristo os acompanhava, pois esse é o efeito produzido por Jesus naqueles que estão perto do seu Coração amabilíssimo. Foi o que aconteceu naquela ocasião e é o que acontece todos os dias.
            Nessa “arca preciosíssima” que é o Coração de Jesus, encontra-se a plenitude de toda a caridade. Dom por excelência do Coração de Cristo e do seu Espírito, “foi a caridade que deu aos Apóstolos e aos mártires a fortaleza necessária para anunciarem e testemunharem a verdade evangélica, até derramarem o seu sangue por ela”13. Pela caridade teremos a firmeza necessária para dar a conhecer Cristo, pois é no trato com Cristo que se ateia o verdadeiro zelo apostólico, capaz de perdurar por cima dos aparentes fracassos, dos obstáculos de um ambiente que às vezes parece fugir de Jesus.
            O amigo faz chegar ao amigo aquilo que tem de melhor, e é por isso que temos que dar a conhecer Jesus aos nossos parentes, amigos e colegas de profissão. Não possuímos nada que se possa comparar ao fato de termos conhecido Jesus, e nele encontramos uma fogueira acesa de caridade pelas almas, como rezamos na Ladainha do Sagrado Coração.
            “A fogueira arde – comentava o Papa João Paulo II –, e, ao arder, queima todo o material, quer seja lenha ou outra substância facilmente combustível. Pois bem, o Coração de Jesus, o Coração humano de Jesus, queima com o amor que possui, o amor ao Pai Eterno e o amor aos homens, aos seus filhos e filhas adotivos.
            “A fogueira, queimando, apaga-se pouco a pouco, mas o Coração de Jesus é fogo inextinguível. Nisto se parece com a sarça ardente do livro do Êxodo, no meio da qual Deus se revelou a Moisés: com essa sarça que ardia com o fogo…, mas não se consumia (Ex 3, 2).
            “Efetivamente, o amor que arde no Coração de Jesus é sobretudo o Espírito Santo, em quem Deus-Filho se une eternamente ao Pai. O Coração de Jesus, o Coração humano de Deus-Homem, está abrasado pela chama viva do Amor trinitário que jamais se extingue.
            “Coração de Jesus, fogueira ardente de caridade. A fogueira, enquanto arde, ilumina as trevas da noite e aquece os corpos dos viajantes que tiritam de frio.
            “Hoje, queremos dirigir-nos à Mãe do Verbo Eterno e suplicar-lhe que, no horizonte da vida de cada um de nós, jamais cesse de arder o Coração de Jesus, fogueira ardente de caridade; que Ele nos revele o Amor que não se extingue nem dormita, o Amor eterno; que ilumine as trevas da noite terrena e aqueça os corações.
            “Agradecidos pelo único amor capaz de transformar o mundo e a vida humana, dirigimo-nos com a Virgem Imaculada, no momento da Anunciação, ao Coração Divino que não cessa de ser fogueira ardente de caridade. Ardente: como a sarça que Moisés viu no monte Horeb”14.

(1) 1 Jo 4, 16; Segunda leitura da Missa da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, ciclo A; (2) cfr. Jo 1, 18; Hebr 1, 1; (3) cfr. Santo Agostinho, Tratado sobre a Trindade, 9, 10; (4) Pio XII, Enc. Haurietis aquas, 15-V-1956; (5) Josemaría Escrivá, Forja, n. 497; (6) Oração coleta, ib.; (7) cfr. At 10, 38; (8) Ef 4, 8; (9) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 179; (10) São Bernardo, Sermão 20, 1; (11) Josemaría Escrivá Caminho, n. 402; (12) Lc 24, 32; (13) Pio XII, op. cit., 23; (14) João Paulo II, Angelus, 23-VI-1985.

LADAINHA DO SAGRADO CORAÇÃO
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus Pai dos Céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno,
tende piedade de nós.
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe,
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus,
Coração de Jesus, de majestade infinita,
Coração de Jesus, templo santo de Deus,
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo,
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu,
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor,
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes,
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor,
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações,
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência,
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade,
Coração de Jesus, no qual o Pai celeste põe as suas complacências,
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos,
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas,
Coração de Jesus, paciente e misericordioso,
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam,
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,
Coração de Jesus, propiciação para os nossos pecados,
Coração de Jesus, saturado de sofrimentos,
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes,
Coração de Jesus, feito obediente até a morte,
Coração de Jesus, atravessado pela lança,
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação,
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição,
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação,
Coração de Jesus, vítima dos pecadores,
Coração de Jesus, salvação dos que em vós esperam,
Coração de Jesus, esperança dos que em vós expiram,
Coração de Jesus, delícia de todos os Santos,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.
V. — Jesus, manso e humilde de coração,
R. — Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.

ORAÇÃO
Onipotente e eterno Deus, olhai para o Coração de vosso diletíssimo Filho e para os louvores e satisfações que ele vos tributa em nome dos pecadores, e àqueles que invocam vossa misericórdia, concedei benigno o perdão, em nome do mesmo Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina juntamente com o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos. Amém.

CONSAGRAÇÃO AO CORAÇÃO DE JESUS (composta por Sta Margarida Maria)
Eu...(Nome), dou e consagro ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo a minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e dores, não querendo servir-me de parte alguma de meu ser, senão para o honrar, amar e glorificar É esta a minha vontade irrevogável - pertencer-lhe e fazer tudo por seu amor, renunciando completamente ao que não for do seu agrado.
Eu vos tomo, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto de meu amor, protetor de minha vida, segurança da minha salvação, remédio da minha fragilidade e inconstância, reparador de todos os meus defeitos e asilo seguro na hora da morte.
Sede, ó Coração de bondade, minha justificação para com Deus, vosso Pai, e afastai de mim os castigos de sua cólera. Ó Coração de amor, ponho em vós toda a minha confiança, pois tudo receio de minha fraqueza e malícia, mas tudo espero da vossa bondade. Destruí em mim tudo o que vos possa desagradar ou resistir. Que o vosso puro amor se grave tão profundamente no meu coração, que eu não possa jamais me esquecer nem me separar de Vós.
Suplico-vos, também, por vossa suma bondade, que o meu nome seja escrito em vós, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e minha glória em viver e morrer convosco, na qualidade de vossa (o) escrava (o). Assim seja.

quinta-feira, 28 de junho de 2012


MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Vigésimo nono dia
Quarto meio de obter a devoção ao Sagrado Coração de Jesus
GRANDE DEVOÇÃO AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

     Pleno poder sobre o Coração de Jesus tem a Virgem Santíssima que é a Mãe do amor perfeito. Por sua intercessão alcançaremos ser dele abrasados.
Muito conformes e unidos entre si são os Sagrados Corações de Jesus e Maria para que um nos conduza infalivelmente ao outro; com a diferença que o Coração de Jesus favorece mais particularmente as almas puras, e o de Maria purifica as que não o são, pelas graças que lhes alcança, e as habilita para serem acolhidas pelo Coração de Jesus.
Os próprios pecadores não devem perder a esperança de obter esta graça por intermédio do Coração de Maria, asilo de todos os miseráveis e recurso do mundo inteiro. Sem terno amor a esta Mãe de misericórdia não se deve esperar ingresso no Coração de Jesus.
Dizendo Santa Gertrudes um dia com muita devoção estas palavras da Salve Rainha: "vossos olhos misericordiosos a nós volvei" apareceu-lhe Nossa Senhora e, mostrando-lhe os olhos do Menino Jesus, que trazia ao colo, disse: «Eis aqui os olhos misericordiosíssimos que eu posso volver à minha vontade para os que me invocam». Tenhamos, pois, terno amor a Maria, e em breve seremos abrasados de ardente amor para com seu Filho. Esta é a recompensa que Nossa Senhora consegue para seus sinceros devotos. Todos os bens nos vieram e virão por Maria.
Não é difícil acercarmo-nos desta terna Mãe, que nos assegura sair ao encontro de todos quantos a procuram, e ser quem primeiro se apresenta. Em verdade, é ela quem nos inspira o desejo de amá-la e servi-la, a fim de poder nos enriquecer com todos os tesouros de que é depositária. Por suas Mãos passam as graças de que o Coração de Jesus deseja nos cumular.
Recorramos a Maria, principalmente a seu Coração, perfeita imagem do de Jesus; supliquemos-lhe pela sua Imaculada Conceição, o mais caro de seus privilégios, e fiquemos certos que não nos recusará coisa alguma. Não separemos nunca em nossa devoção o Coração de Maria do de Jesus: a ambos tributemos reverência e amor; dediquemo-nos e consagremo-nos inteiramente a estes dulcíssimos Corações; enderecemos nossos pedidos a Deus Pai pelo Coração de Maria; tudo alcançaremos do Pai pelo Coração de Jesus, e tudo do Filho pelo Coração da Mãe.
Santa Maria da Encarnação nunca procedia de outro modo, servia-se do Coração de Maria para rogar a Jesus, e do Coração de Jesus para suplicar ao Pai Eterno.
O Beato Herman louvava sempre o Coração de Maria, e todos os dias de sua vida, dele recebia marcantes favores.
Ó Maria, Mãe da Graça, vede nossa miséria, e os dissabores que nos acabrunham neste vale de lágrimas; rogai a Jesus que nos abra Seu Coração; e nos ensine a afogar todas as nossas tristezas e penas em Seu Divino Coração, que na terra foi mar de amarguras.

quarta-feira, 27 de junho de 2012


MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Vigésimo oitavo dia
Terceiro meio de obter a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

  AS VISITAS AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
      A divina Eucaristia não dá proveito só aos que a recebem. Para colherem-se alguns dos frutos de vida que encerra, basta visitar Jesus Cristo nesse adorável Sacramento, basta desejá-lo, basta pensar nele, e voltar-se em espírito para alguma Igreja onde ele descansa.
Esta era a prática de grande número de Santos, entre outros de Santo Afonso de Liguori. Muito contentam ao Coração de Jesus estas frequentes adorações e visitas. Esse dulcíssimo Coração está no Sacramento, qual perene fonte que, correndo dia e noite sem interrupção, anelando derramar-se nos corações para purificá-los e fertilizá-los, convida todos os homens a virem beber nele, e parece chamar do fundo de Seu Santuário, como outrora o fez no meio da multidão dos judeus que acudiam para as suntuosas festividades: "Se alguém tiver sede, venha a Mim e beba”.(Jo 7,37).
A solidão de seus templos nos anuncia que Jesus não é agora mais atendido do que era antes. Também parece que consola-se da insensibilidade de uns, junto ao pequeno número de almas fiéis que à sua voz acodem; porque é normalmente nessas visitas que Jesus se compraz em prodigalizar-lhes copiosas graças; e de todas as que então concede, a mais comum é, podemos dizer, a graça de seu amor; porque se entre os homens a amizade se alimenta e cresce com visitas e conversações frequentes, assim é que também por este meio se amará com maior veemência a Jesus Cristo.
Fala-lhe, alma fiel, nessas visitas, como o filho ao seu pai, como a esposa ao mais amável dos esposos. Ora expondo-lhe tuas necessidades espirituais: "Senhor, aquele a quem amais está doente". Ora agradecendo-Lhe seus benefícios: "Bendiz, minha alma ao Senhor, e tudo quanto em mim existe bendiga Seu Santo Nome". Ora louvando sua bondade: "Como é bom o Deus de Israel". Ora sua Misericórdia: "Vossa misericórdia, Senhor, se sobrepõe a todas as vossas obras!". Ora o seu Amor: "Ó Coração de Jesus, ferido, desfalecido de amor, o que direi dos extremos de Vosso Amor?". Aniquila-te diante dele: "Falarei a meu Senhor, eu que não sou senão pó e cinza?". Entra, enfim, até o tabernáculo, e nele estabelece morada. Aí, lança-te aos pés de Jesus, a exemplo de Madalena, banha-os com tuas lágrimas, beija-lhe as mãos traspassadas de cravos por teu amor, reclina-te sobre seu Coração, com o discípulo amado, e declara-lhe que aí queres descansar para sempre nesta e na outra vida, sem buscar mais, em parte alguma, alegria e consolação.
Não podeis desculpar-vos de vossa pouca assiduidade em visitar Nosso Senhor com a falta de tempo. Acha-se tanto para desperdiçar em conversações inúteis! Só a Jesus não se poderá sacrificar cinco minutos? Sim, cinco minutos, ao menos, todos os dias, de colóquio com Ele, em Seu Sacramento, já satisfazem seu Coração.
Morais talvez debaixo do mesmo teto com Ele, basta-vos dar alguns passos, quando muito, para visitá-lo, e recusais-lhe tão diminuto sinal de reconhecimento que Jesus está pronto a recompensar com os mais assinalados favores. Será civilizado e cortês passar diante da casa do amigo ou morar perto dele sem entrar para cumprimentá-lo?

terça-feira, 26 de junho de 2012


MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Vigésimo sétimo dia
Segundo meio de obter a devoção ao Sagrado Coração de Jesus

A COMUNHÃO FREQUENTE
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é exatamente um exercício de amor. Basta saber o que é comungar para compreender que não há meio mais seguro para de súbito incendiar-se alguém nas chamas do amor de Jesus Cristo do que aproximar-se com frequência deste divino Sacramento. Diz o Sábio: "Não é possível trazer fogo dentro de si sem queimar-se". Este fogo sagrado é a adorável Eucaristia, que, no dizer de São Bernardo, é o amor dos amores.
Vamos, pois, com frequência a esta fonte de todos os bens; aí unidos e incorporados a Jesus Cristo, autor da graça, vê-la-emos fluir todos os dias sobre nós com profusão sempre nova; aí, nossas paixões, insensivelmente amortecidas, desaparecerão afinal; o pendor de todo o mal que nos é inato, converter-se-á em doce atrativo para todas as virtudes, cujo santuário é o Coração de Jesus, que delas exemplo nos dá neste Sacramento. Aí, possuindo, se bem que oculto a nossos olhos, o tesouro do Céu, receberemos o penhor da eterna bem-aventurança, prometida aos que dignamente se aproximam deste Sacramento de amor; porque de nada carece para a sua salvação e perfeição, quem possui a Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento; de forma que, em acabando de comungar, pode a alma fiel dizer, como Santa Madalena de Pazzi: "Tudo está consumado".
Este celeste alimento contém todos os bens e depõe na alma todas as graças, dons, virtudes, de sorte que o fiel que dele goza nada mais tem a desejar.
Quantas graças perdemos, não comungando com mais frequência! Os fiéis da Igreja primitiva comungavam todos os dias, mas também qual não era a fé e o fervor deles!
Oxalá soubéssemos que pena causamos ao Coração de Jesus pela nossa indiferença para com a Santa Eucaristia! Disse um dia o Divino Salvador a Santa Margarida Maria: «Tenho ardente sede de ser adorado pelos homens do Santíssimo Sacramento; e não encontro quase ninguém que se esmere por saciar-me o desejo».
Não sejamos do número destas almas ingratas; cheguemo-nos à Sagrada Comunhão com a disposição de desagravo, é este o meio de compensar Jesus Cristo, e ganhar seu Coração.
Mas se já temos a felicidade de comungar frequentemente, por que não faremos melhor uso de tão precioso meio de perfeição e salvação?
Sempre os mesmos depois de tantas comunhões! Qual o motivo por que, animados de fé e confiança não nos lançamos aos pés de Jesus Cristo, realmente presente em nós, e não lhe dizemos do íntimo do coração: "Não, Senhor, não Vos deixarei ir, antes que me abençoeis; não me levantarei, senão depois que me tiverdes dado a força para dominar as inclinações que tantas vezes de vós me afastam; se não, depois que me houverdes infundido desejo eficaz e insaciável de tudo fazer e tudo sofrer por vosso amor, e cumprir a toda hora e em todas as ocasiões a vossa santa vontade". Digamos, enfim, que a sua glória está empenhada em tornar digno dele um coração que transformou em santuário Seu.
O que pode Jesus recusar-nos, depois de se nos haver dado todo inteiro?

segunda-feira, 25 de junho de 2012


MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Vigésimo sexto dia
Meios de obter a devoção ao S. Coração de Jesus
PRIMEIRO MEIO - A ORAÇÃO
      O primeiro meio de conseguir ardente amor a Jesus Cristo, e terna devoção a seu Sagrado Coração é a oração.
Motivo há para nos admirar que onipotentes, por assim dizer, não sejam os cristãos, que têm meio seguro e infalível de alcançar o que desejam, principalmente porque ele não consiste senão em apenas pedir. Jesus Cristo Se tem frequente e solenemente empenhado em atender as nossas súplicas (Croiset).
"Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á". Tudo que almejardes, pedi, e vos será concedido.
A oração é a primeira necessidade que o Espírito Santo sugere às almas que deseja arrancar do abismo da perdição, o primeiro sinal de conversão. Ananias receava ir ter com Saulo a quem o Senhor o enviava: que prova lhe deram que já não era perseguidor, senão fiel de coração e vontade? Esta somente: ora (Atos 9,1).
A oração é também o primeiro exercício que o inimigo das almas lhes faz abandonar, quando quer atraí-las para suas emboscadas. Por isso diz Santa Teresa: "Orai, orai".
Oremos, pois, oremos cheios de confiança e humildade, principalmente com perseverança; não nos cansemos nem desanimemos tampouco. O momento em que cessaremos de importunar a Divina Misericórdia será talvez aquele em que esta vá deixar-se aplacar. Diz São Lourenço Justiniano: "A oração abranda a ira de Deus, que perdoa ao pecador que ora com humildade". Alcança o que pede, triunfa todos os esforços dos inimigos de nossa salvação; purifica, muda os pecadores e fá-los Santos. Diz Salomão: "Apenas recorri a Deus, deu-me a sabedoria". Diz Davi: "Apenas abri a boca para orar, recebi o socorro de Deus".
A Santa Brígida, disse Nosso Senhor que de muito excede sempre as nossas petições e votos, e que a cada instante atender-nos-ia se pedíssemos convenientemente dispostos.
"De todas as orações, nenhuma pode ser mais agradável a Jesus Cristo do que aquela em que lhe solicitamos o amor de Seu Sagrado Coração. Roguemos, supliquemos; é impossível pedi-lo com instância sem obtê-lo. Fácil é o meio, e eficaz; e neste caso não há duvidar, pedir é obter.
Servi-vos deste mesmo Coração para apoiar vossa súplica, e não temais que não seja favoravelmente recebida" (Croiset).
Pouco tempo antes de sua morte, Santa Matilde assegurou que, tendo certo dia pedido a Nosso Senhor uma grande graça que lhe haviam solicitado, respondeu-lhe Jesus: «Filha, dizei à pessoa por quem Me rogais, que em Meu Coração procure tudo quanto desejar, que infalivelmente achará, que tenha grande devoção a este Sagrado Coração; tudo Me peça por meio dele, qual inocente criancinha que não tem outro plano senão o que lhe sugira o amor para do pai conseguir tudo o que quer».

domingo, 24 de junho de 2012


MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Vigésimo quarto dia
Meios de vencer os obstáculos à devoção ao Sagrado Coração de Jesus

A MORTIFICAÇÃO
Quereis conhecer o meio de vencer os obstáculos que o exame particular nos tiver feito descobrir? Adotai corajosamente a mortificação interior e exterior; ambas são absolutamente necessárias para chegar à perfeição, não podendo uma subsistir sem outra.
A mais necessária, porém, é incontestavelmente a interior, da qual ninguém se pode dispensar. Incessante violência convém fazermo-nos para tomarmos o reino dos céus.
Ninguém há que não possa mortificar seu gênio, desejos e inclinações, e calar em ocasião em que a vivacidade o levaria a responder e a vaidade a falar. Eis principalmente em que consiste esta mortificação interior pela qual debilitamos o amor próprio, e nos libertamos de nossas imperfeições.
Debalde nos lisonjeamos de amar a Jesus Cristo, se não formos mortificados; todas as práticas de devoção, e belos sentimentos de piedade tornam-se suspeitos, sem a perfeita mortificação. Quando a Santo Inácio falavam de alguém como de um santo, ele respondia: "Será, se for verdadeiramente mortificado".
Não basta vos mortificardes durante certo tempo, ou em alguma coisa; cumpre fazê-lo sempre e em todas as coisas com prudência e discrição. Uma satisfação desordenada que dais à natureza, torna-a mais altiva, digamos assim, e mais rebelde, do que cem vitórias conseguidas a teriam enfraquecido.
O exercício desta mortificação é conhecido de todos que sinceramente aspiram à perfeição. Em tudo acham eles ocasião de contrariar suas inclinações naturais. Basta que tenham grande desejo de ver ou falar, para obrigá-los a abaixarem os olhos, ou calarem-se; o prurido de notícias ou de saber o que se passa ou o que se diz, é para eles motivo de habitual mortificação, tanto mais meritórias quanto mais frequentes, e de que só Deus é testemunha. Uma palavra dita a propósito, um gracejo feito com espírito, pode grangear estima na conversação; mas pode também ser matéria de belo sacrifício. Sendo cem vezes interrompidos em uma ocasião muito séria, cem vezes respondamos com tanta paciência e doçura como se ocupados não estivéssemos.
Os incômodos próprios de lugar, da estação, das pessoas, etc., eis ainda outras ocasiões para nos mortificarmos, que são de grande merecimento; bem se pode dizer que as maiores graças e a mais sublime santidade ordinariamente dependem da generosidade com que nos mortificamos constantemente nestas pequenas ocasiões que sem cessar se nos apresentam.
Não julgueis que aplicando-vos à mortificação levareis vida melancólica e pesada: o jugo de Jesus Cristo é suave e leve. Não se iludiram os Santos quando exclamavam: "Eu superabundo de alegria no meio das tribulações". Diz São Francisco Xavier: "Estou escrevendo aos jesuítas de Roma, estou em uma terra onde para as comodidades da vida tudo falta; mas tantas consolações interiores sinto aqui que receio perder a vista de tanto chorar de alegria".
Ânimo! Só o primeiro passo custa. Experimentai.
Dizia um grande servo de Deus: "Se no fim de quinze dias de continuada e perfeita mortificação não sentirdes as doçuras que a outros inebriaram, consinto que digam que penosa é a vida daqueles que amam verdadeiramente a Jesus Cristo, e pesado é o Seu jugo".