domingo, 31 de maio de 2015

MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS - Segunda-feira da 9ª Semana do Tempo Comum


Evangelho (Mc 12,1-12): Jesus começou a falar-lhes em parábolas: «Um homem plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, cavou um lagar para pisar as uvas e construiu uma torre de guarda. Ele a alugou a uns lavradores e viajou para longe. Depois mandou um servo para receber dos agricultores a sua parte dos frutos da vinha. Mas os agricultores o agarraram, bateram nele e o mandaram de volta sem nada. O proprietário mandou novamente outro servo. Este foi espancado na cabeça e ainda o insultaram. Mandou ainda um outro, e a esse mataram. E assim diversos outros: em uns bateram e a outros mataram. Agora restava ainda alguém: o filho amado. Por último, então, enviou o filho aos agricultores, pensando: ‘A meu filho respeitarão’. Mas aqueles agricultores disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. Agarraram o filho, mataram e o lançaram fora da vinha. Que fará o dono da vinha? Ele virá e fará perecer os agricultores, e entregará a vinha a outros. Acaso não lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram, esta é que se tornou a pedra angular. Isto foi feito pelo Senhor, e é admirável aos nossos olhos’? » Eles procuravam prender Jesus, pois entenderam que tinha contado a parábola com referência a eles. Mas ficaram com medo da multidão; por isso, deixaram Jesus e foram embora.

Comentário: Fr. Alphonse DIAZ (Nairóbi, Quênia)

Depois mandou um servo para receber dos agricultores a sua parte dos frutos da vinha

Hoje, o Senhor convida-nos a passear por sua vinha: «Um homem plantou uma vinha (...) e ele a alugou a uns lavradores» (Mc 12,1). Todos somos arrendatários dessa vinha. A vinha é o nosso próprio espírito, a Igreja e o mundo inteiro. Deus quer nossos frutos. Primeiro, a nossa santidade pessoal; depois um constante apostolado entre os meus amigos, a quem nosso exemplo e palavras devem animá-los a aproximarem-se cada dia mais a Cristo; finalmente, o mundo, que se converterá num lugar melhor para viver, se santificamos o nosso trabalho profissional, nossas relações sociais e nosso dever para o bem comum.

Que tipo de arrendatários somos? De aqueles que trabalham muito, ou daqueles quem se irritam quando o dono envia seus empregados para cobrar-nos o aluguel? Podemos nos opor aos que têm a responsabilidade de ajudar a proporcionar os frutos que Deus espera de nós. Podemos pôr objeções aos ensinos da Santa Mãe Igreja e do Papa, dos bispos, ou talvez, mais modestamente, dos nossos pais, nosso diretor espiritual, ou daquele bom amigo que está tentando ajudar-nos. Podemos, inclusive, voltarmos agressivos, e tentar feri-los, ou até "matá-los" com nossa crítica e comentários negativos. Deveríamos perguntar-nos os verdadeiros motivos desta postura. Talvez precisamos de um conhecimento mais profundo da nossa fé; quiçá devemos aprender a conhecer-nos melhor; fazer um melhor exame de consciência, para descobrir as razões pelas que não queremos produzir frutos.

Peçamos a nossa Mãe Maria ajuda para que possamos trabalhar com amor, sob a guia do Papa. Todos podemos ser "bons pastores" e "pescadores" de homens. «Então, vamos e peçamos ao Senhor que nos ajude a dar fruto, um fruto que permaneça. Só assim a terra se transforma de vale de lágrimas em jardim de Deus» (Papa Bento XVI). Nós poderíamos aproximar nosso espírito a Jesus Cristo, o espírito de nossos amigos, ou o do mundo inteiro, se apenas lêssemos e meditássemos os ensinos do Papa Bento, e tentássemos pô-los em prática.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* Jesus está em Jerusalém. É a última semana da sua vida. Ele está de volta na praça do Templo (Mc 11,27), onde agora começa o confronto direto com as autoridades. Os capítulos 11 e 12 descrevem os vários aspectos deste confronto:
(1) com os vendedores do Templo (Mc 12,11-26),
(2) com os sacerdotes, anciãos e escribas (Mc 11,27 a 12,12),
(3) com os fariseus e herodianos (Mc 12,13-17)
(4) com os saduceus (Mc 12,18-27), e
(5) novamente, com os escribas (Mc 12,28-40).
No fim, depois da ruptura com todos eles, Jesus comenta o óbolo da viúva (Mc 12,41-44). O evangelho de hoje descreve uma parte do conflito com os sacerdotes, anciãos e escribas (Mc 12,1-12). Através de todos estes confrontos, fica mais claro para os discípulos e para todos nós qual o projeto de Jesus e qual a intenção dos homens do poder.

* Marcos 12,1-9: A parábola da vinha: resposta indireta de Jesus aos homens do poder.
A parábola da vinha é um resumo da história de Israel. Resumo bonito, tirado do profeta Isaías (Is 5,1-7). Por meio dela Jesus dá uma resposta indireta aos sacerdotes, escribas e anciãos que tinham perguntado a ele: "Com que autoridade fazes tais coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?" (Mc 11,28). Nesta parábola, Jesus:
(1) revela qual a origem da sua autoridade: ele é o filho, o herdeiro (Mc 12,6)
(2) Denuncia o abuso da autoridade dos vinhateiros, isto é, dos sacerdotes e anciãos que não cuidavam do povo de Deus (Mc 12,3-8).
(3) Defende a autoridade dos profetas, enviados por Deus, mas massacrados pelos vinhateiros (Mc 12,2-5).
(4) Desmascara as autoridades que manipulam a religião e matam o filho, porque não querem perder a fonte de renda que conseguiram acumular para si, ao longo dos séculos (Mc 12,7).

* Marcos 12,10-12. A decisão dos homens do poder confirma a denúncia feita por Jesus.
Os sacerdotes, escribas e anciãos entenderam muito bem o significado da parábola, mas não se converteram. Pelo contrário! Mantiveram o seu projeto de prender Jesus (Mc 12,12). Rejeitaram “a pedra fundamental” (Mc 12,10), mas não tiveram a coragem de fazê-lo abertamente porque tinham medo do povo. Assim, os discípulos e as discípulas devem saber o que os espera no seguimento de Jesus!

* Os homens do poder no tempo de Jesus
Nos capítulos 11 e 12 de Marcos aparecem alguns dos homens do poder no tempo de Jesus. No evangelho de hoje: os sacerdotes, os anciãos e os escribas (Mc 11,27); no de amanhã: os fariseus e os herodianos (Mc 12,13); no de depois de amanhã: os saduceus (Mc 12,18).

Sacerdotes:  eram os encarregados do culto no Templo, onde se recolhiam os dízimos. O sumo sacerdote ocupava um lugar central na vida do povo, sobretudo depois do exílio. Era escolhido entre as famílias, que detinham mais poder e riqueza.

Anciãos ou Chefes do povo:  eram os líderes locais nas aldeias e cidades. Sua origem vinha das chefias das tribos de antigamente.

Escribas ou doutores da lei:  eram os encarregados do ensino. Dedicavam sua vida ao estudo da Lei de Deus e ensinavam ao povo como observar em tudo a Lei de Deus. Nem todos os escribas eram da mesma linha. Uns estavam ligados aos fariseus, outros, aos saduceus.

Fariseus:  Fariseu significa: separado. Eles lutavam para que, através da observância perfeita da lei da pureza, o povo chegasse a ser puro, separado e santo como o exigiam a Lei e a Tradição! Por causa do testemunho exemplar da sua vida dentro das normas da época, eles tinham muita liderança nas aldeias da Galileia.

Herodianos: Era um grupo ligado ao rei Herodes Antipas da Galileia que governou de 4 aC até 39 dC. Os herodianos formavam uma elite que não esperava o Reino de Deus para o futuro, mas o consideravam já presente no reino de Herodes.

Saduceus: Eram a elite leiga aristocrata de ricos comerciantes ou latifundiários. Eram conservadores. Não aceitavam as mudanças defendidas pelos fariseus, como por exemplo, a fé na ressurreição e a existência dos anjos.

Sinédrio: Era o Supremo Tribunal dos judeus com 71 membros entre sumo sacerdote, sacerdotes, anciãos, saduceus, fariseus e escribas. Tinha grande liderança junto ao povo e representava a nação junto às autoridades romanas.

Para um confronto pessoal
1. Alguma vez, como Jesus, você já se sentiu controlado/a indevidamente pelas autoridades do seu país, em casa na sua família, no seu trabalho ou na igreja? Qual foi a sua reação?
2. O que esta parábola nos ensina sobre a maneira de exercer a autoridade? E você, como exerce sua autoridade na família, na comunidade e no trabalho?

sábado, 30 de maio de 2015

MÊS DE MARIA – Solenidade da Santíssima Trindade

Textos: Deut 4, 32-34.39-40; Rm 8, 14-17; Mt 28, 16-20

Evangelho (Mt 28,16-20): Os onze discípulos voltaram à Galileia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. Jesus se aproximou deles e disse: «Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos».

Comentário: Mons. F. Xavier CIURANETA i Aymí Bispo Emérito de Lleida (Lleida, Espanha).

Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Hoje, a liturgia convida-nos adorar a Santíssima Trindade, nosso Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Um só deus em três pessoas, em nome do qual temos sido batizados. Pela graça do Batismo estamos chamados a formar parte na vida da Santíssima Trindade, aqui neste mundo, na escuridão da fé e, após da morte, na vida eterna. Pelo Sacramento do Batismo, temos sido criados para participar da vida divina, chegando a ser até filho do Pai Deus, irmãos em Cristo e templos do Espírito Santo. No Batismo tem começado a nossa vida cristã, recebendo a vocação à santidade. Pelo Batismo, pertencemos a Aquele que é por excelência o Santo o «três vezes Santo». (cf.Is6,3)

O dom da santidade recebido no batismo pede a fidelidade uma tarefa de conversão evangélica que vai dirigir sempre a vida toda dos filhos de Deus: «A vontade de Deus é que sejais santos e que vos afasteis da imoralidade sexual» (1Tes 4,3). É um compromisso que afeta a todos os batizados. «Todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou condição, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade» (Concilio Vaticano II, Lumen Gentium,n.40).

Se nosso batismo foi uma verdadeira entrada na santidade de Deus, não podemos conformarmos com uma vida medíocre, rotineira e superficial. Estamos chamados à perfeição no amor, já que o Batismo introduziu-nos na vida e na intimidade do amor de Deus.

Com agradecimento sincero, pelo desígnio benévolo de nosso Deus, que nos tem chamado a participar de sua vida de amor, o adoremos e o louvemos, hoje e sempre. «Seja abençoado Pai Deus, seu único Filho e o Espírito Santo porque teve misericórdia de nós» (Antífona de entrada da missa).

Deus é um Deus próximo.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Os Padres da Igreja chamavam esta verdade de condescendência divina, um “abaixar-se de Deus”, acomodar-se às capacidades do homem. E tudo por amor.

Neste ciclo B se apresenta para nós um Deus próximo a nossa vida: que por amor gratuito fez de Israel o seu povo eleito, que por amor paterno lhe dirigiu a sua Palavra, que com amor firme o libertou “com mão forte e braço poderoso” da escravidão (1ª leitura), e que aos que estamos batizados no seu Nome nos concedeu ser filhos adotivos seus (2ª leitura) e nos lançou pelo mundo para ensinar esta verdade ensinada por Cristo (Evangelho).

Em primeiro lugar, esse abaixar-se de Deus até nós foi progressivo. São Gregório Nazianzeno diz: “No Antigo Testamento se revelou claramente o Pai e começou a se revelar, de forma ainda velada e escura, o Filho. No Novo Testamento, se revelou claramente o Filho e começou a fazer-se luz o Espírito Santo. Agora (na Igreja), o Espírito habita entre nós e se revela abertamente. Desse modo, por sucessivas conquistas e ascensões, passando de claridade em claridade, era necessário que a luz da Trindade brilhasse diante dos olhos já iniciados na luz” (Oratio, 31,26). Santo Agostinho viu com mais clareza este mistério: esse Deus que se aproxima e condescende com o homem é Amor, é uma Trindade de Amor na qual o Pai é o amante, o Filho, o amado, e o Espírito Santo, a amor (cf. De Trinitate, VIII, 10,14; IX, 2,2). A primeira leitura nos dá gestos de amor desse Deus: nos fala através dos patriarcas, profetas; salva-nos da escravidão. Ele será a alegria para nós, com tal de guardarmos a sua Palavra e os seus mandamentos.

Em segundo lugar, na segunda leitura de hoje este Deus tão próximo dá um passo mais: é Pai amoroso e nós somos filhos no Filho. A analogia nos permite distinguir claramente entre a nossa filiação e a do Senhor Jesus: Ele é Filho por natureza, nós somos por incorporação. A mesma analogia, embora imperfeita, não é uma filiação fictícia, mas “uma participação real na vida do Filho único” (Catecismo da Igreja Católica, 460), “por quem podemos invocar Deus Pai com o mesmo nome familiar que usava Jesus: Abba” (Juan Pablo II, Catequese do dia 16 de dezembro, 1998). Por que é uma filiação autêntica? Porque se realizou em nós uma profunda mudança na nossa natureza, uma transformação ontológica que nos configura com o Senhor Jesus e nos incorpora no seu Corpo místico, que é a Igreja (Catecismo da Igreja Católica, 1121; 1272-1273). Por um Dom do Pai os que cremos no Filho único chegamos a ser verdadeiramente filhos no Filho único (Jo 1,12), segundo a comovida expressão do apóstolo João: “Vede com que amor o Pai nos amou para nos chamar filhos de Deus, e de fato, o somos!” (1 Jo 3,1).   

Finalmente, no evangelho se dá o terceiro passo desta bela revelação de Deus. Deus é Trindade. O Deus uno e simples, vive em três Pessoas: o Pai, o Filho, que assumiu carne em Cristo, e o Espírito Santo. A Trindade significa que Deus não é um Deus solitário, mas é uma comunidade de amor. Deus é um amor feito vida: amor como pessoa. O resto do que sabemos ou podemos saber de Deus vem como consequência. E neste evangelho, Cristo nos anuncia a missão que encomendou à Igreja. É uma triple missão: evangelizadora (“Ide e fazei discípulos”), celebrativa (“batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”) e vivencial (“ensinando-os a guardar tudo que eu vos mandei”). 

Para refletir: Como experimento na minha vida o amor da Santíssima Trindade? Como trato cada dia a Trindade Santa? Com qual Pessoa divina tenho mais intimidade: com o Pai, com o Filho, com o Espírito Santo? Com quem mais me assemelho: com o Pai na sua ternura, com o Filho na sua sabedoria, como Espírito Santo no seu bálsamo consolador?

Para rezar: Rezemos com a beata Isabel da Trindade: “Ó meu Deus, trindade adorável, ajudai-me a esquecer-me de mim por inteiro para me estabelecer em Vós! Ó meu Cristo amado, crucificado por amor! Sinto a minha impotência e vos peço que me revistais de Vós mesmo, que identifiqueis a minha alma com todos os movimentos da vossa alma; que me substituais, para que a minha vida não seja mais que uma irradiação da vossa própria vida. Vinde a mim como adorador, como reparador e como salvador... Ó fogo consumidor, Espírito de amor! Vinde a mim, para se faça em minha alma uma como encarnação do Verbo: que eu seja para ele uma humanidade sobre acrescentada na que ele renove todo o seu mistério. E Vós, Ó Pai, inclinai-vos sobre a vossa criatura; não vejais nela mais que o vossa amado no qual pusestes todas as vossas complacências. Ó meus três, meu tudo, minha felicidade, solidão infinita, imensidão na qual me perco! Entrego-me a Vós como uma presa; sepultai-vos em mim para que me sepultar em Vós, na espera de ir para contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas”.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Santa Teresa: monja de clausura pelos caminhos de Espanha

Frei Patrício Sciadini

O V Centenário do nascimento de Santa Teresa d Ávila, fundadora das carmelitas descalças e dos carmelitas descalços, coloca em discussão tanto nossa maneira de pensar como de viver. Hoje gostaria de evidenciar um aspecto   do momento atual, onde a Igreja, mãe e mestra, se encontra com uma certa dificuldade e que Teresa pode oferecer uma luz e um caminho novo e corajoso: a clausura.  O que nós entendemos quando falamos de monjas de clausura ou de Carmelitas Descalças, fundadas por Santa Teresa d’Ávila, naquela manhã quente e esplendida do 14 de agosto de 1562? A fundação de São José foi preparada no silêncio, às escondidas. O povo de Ávila acordou com as badaladas do sino do pequenino mosteiro e ficou assustado, preocupado por ter que manter economicamente um outro mosteiro e outras monjas.  Tentou-se todo o possível para fechar o mosteiro, mas não teve jeito. O bispo Dom Álvaro estava de acordo e especialmente Teresa era uma “cabeça dura”, que não desanimava diante de coisas deste tipo. 

Quando nós falamos hoje de clausura entendemos monjas contemplativas que decidem separarem-se do mundo, para viver uma maior intimidade com Deus, e que querem abraçar, com a oração, todas as necessidades da Igreja e serem uma presença   viva, atuante, dentro da comunidade, não pelas formas de apostolado, nem pelas obras, mas sim pela oração e uma intensa vida espiritual. Se fala de clausura papal. Não podem sair a não ser por determinados motivos e normas. E se obrigam a uma vida de sacrifício, de distância do mundo e etc. dos eteceteras. Tudo bem. Nada contra isto. Mas como Teresa soube “administrar tudo isto”, como ela e suas monjas souberam viver a clausura naquele tempo? E como deveria ser vivida hoje?

Não é caso de perder-nos em estéreis discussões sobre isto, tanto mais que eu não sou monja de clausura, mas sim ver como Teresa   amou intensamente a clausura como “recanto de solidão” para estar na escuta de Deus e viver, como dizia o seu filho e mestre espiritual João da Cruz, “a solidão sonora e música silenciosa”. Mas ao mesmo tempo o seu zelo pela missionaridade a levou muitíssima vezes a “sair da clausura” para levar a presença de Cristo e do Carmelo no coração das cidades. Isto podemos comprová-lo   olhando “o entusiasmo e uma certa ânsia de fundar mosteiros a toque de caixa”, em 20 anos, isto é, de 1562 ao 1582.  Teresa fundou quase 20 mosteiros de monjas e 13 de frades... Um ritmo impressionante, uma atividade que poderíamos chamar “frenética”, e projetou um Carmelo em Madri, mesmo que nunca conseguiu realizar.

As vezes Teresa tinha que sair da clausura para consolar princesas depressivas ou jovens princesas como a de Alba de Tormes, que estava prestes a dar à luz, que queria a presença da madre Teresa. Ela chegará mais tarde para morrer em Alba de Tormes. Foi convidada a sair da clausura pelos Superiores sem motivos sérios, e hoje diríamos inúteis, mas Teresa é obediente e se coloca em caminho, com dificuldades e vai. Sabe como se relacionar com bispos e convencê-los a aceitar e apoiar as fundações, como a de Burgos e de Sevilha.

 A clausura de Teresa foi muitas vezes as ruas e as viagens, ou o seu “Carmelo itinerante”, em carruagem, onde nunca faltava o famoso sino, para chamar e marcar os horários das orações, do silêncio, da recreação. E convidava aos cocheiros a fazer silêncio e, se obedeciam, dava para eles uma boa porção de comida. Viveu a clausura com uma certa “elasticidade e liberdade interior” e se sentiu bem. Mais tarde, depois de sua morte, vieram superiores, como o Padre Doria, que amará mais a lei que a pessoa humana. A clausura para Teresa não é mais importante que a missão, e nem a pessoa humana. Ela era uma mulher livre e a sua liberdade a viveu a com uma atenção às leis, à obediência à Igreja, mas também às necessidades do seu tempo.

O que diria Teresa de Ávila da clausura de hoje? Vamos deixar para um próximo artigo, que o meu espaço terminou. Mas creio que é necessário ter uma visão de clausura, de contemplação, que seja ao mesmo tempo um estilo de vida, com normas jurídicas, mas com uma visão do que diz Jesus: “não é o homem que é feito para o sábado, mas o sábado para o homem”. Nasce sem dúvida uma nova reflexão sobre este tema tão importante ao se colocar em discussão, a clausura. Mas será que se rompe a clausura só saindo do mosteiro? Creio que hoje os meios de comunicação, se não bem usados, são um meio não para conservar o silêncio e solidão, para uma maior intimidade com Deus, mas para fazer entrar o mundo e a “mundanização” nos conventos de clausura e nos corações dos contemplativos e dos consagrados.

Teresa de Ávila teria bem usado os meios de comunicação de hoje, seja a internet, WhatsApp, twiter, como a seu tempo soube bem usar a comunicação mediante livros, cartas e encontros, e como “andarilha de Deus”, pelos caminhos da Espanha e comunicou o evangelho e a oração com todos os meios e forças e capacidade, que Deus lhe deu. Teresa é a cantora da liberdade sadia, forte, divina e humana. Soube voar e bem, de um lado ao outro, para anunciar o seu amor a Jesus e à Igreja, na escuta de Deus e da Igreja. Podemos estar em “clausura” e ter o coração como um aeroporto ou rodoviária, de vai e vem. E podemos ir pelo mundo com o coração cheio de Deus e viver uma “clausura de amor”, onde o mundo não pode perturbar-nos. “Onde está o teu tesouro aí está o teu coração”.

MÊS DE MARIA – Sábado da 8ª Semana do Tempo Comum


Evangelho (Mc 11,27-33): Jesus e os discípulos foram outra vez a Jerusalém. Enquanto andava pelo templo, os sumos sacerdotes, os escribas e os anciãos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: «Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?». Jesus disse: «Vou fazer-vos uma só pergunta. Respondei-me, que eu vos direi com que autoridade faço isso. O batismo de João era do céu ou dos homens? Respondei-me!». Eles discutiam entre si: «Se respondermos: ‘Do céu’, ele dirá: ‘Por que não acreditastes em João?’ Vamos então responder: ‘Dos homens’?». — Eles tinham medo do povo, já que todos diziam que João era realmente um profeta. Responderam então a Jesus: «Não sabemos». E Jesus retrucou-lhes: «Pois eu também não vos digo com que autoridade faço essas coisas!».

Comentário: Mn. Antoni BALLESTER i Díaz (Camarasa, Lleida, Espanha)

Com que autoridade fazes essas coisas?

Hoje, o Evangelho pede-nos que pensemos com que intenção vemos Jesus. Há quem vá sem fé, sem reconhecer sua autoridade: por isso, «os sumos sacerdotes, os escribas e os anciãos, lhe perguntaram: “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” (Mc 11,27-28).

Se não tratamos a Deus na oração, não teremos fé. Mas, como diz São Gregório Magno, «quando insistimos na oração com toda veemência, Deus se detém no nosso coração e recobramos a vista perdida». Se tivermos boa disposição, apesar de estar no erro, vendo que a outra pessoa tem razão, acolheremos suas palavras. Se tivermos boa intenção, apesar de arrastar o peso do pecado, quando façamos oração Deus nos fará compreender nossa miséria, para que nos reconciliemos com Ele, pedindo perdão de todo coração e, por meio do sacramento da penitência.

A fé e a oração vão juntas. Diz-nos Santo Agostinho que, «se a fé falta, a oração é inútil. Depois, quando oremos, criemos e oremos para que não falte a fé. A fé produz a oração e, a oração produz também a firmeza da fé». Se tivermos boa intenção e, acudimos a Jesus, descobriremos quem é e, entenderemos sua palavra, quando nos pergunte: «O batismo de João era do céu ou dos homens?» (Mc 11,30). Pela fé, sabemos que era do céu e, que sua autoridade vem-lhe do seu Pai, que é Deus e, Dele mesmo porque é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Porque sabemos que Jesus é o único salvador do mundo, acudimos a sua Mãe que também é nossa Mãe, para que desejando acolher a palavra e a vida de Jesus, com boa intenção e boa vontade, para ter a paz e a alegria dos filhos de Deus.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, ocarm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* "Com que autoridade?"
A palavra "autoridade" é central nesta passagem. Contém o segredo do caminho de fé e do crescimento espiritual que podemos percorrer, se nos deixamos guiar pela Palavra, na meditação deste Evangelho. A pergunta provocadora dirigida a Jesus por seus adversários leva imediatamente a entender a distância que há entre ele e os outros, por isso não pode haver uma resposta. "Autoridade", nas palavras dos sacerdotes e dos escribas, indica o "poder", "força", "domínio", "capacidade de fazer cumprir as leis e julgar". Para Jesus, no entanto, "autoridade" significa outra coisa, como podemos entender se termos presente que em hebraico esta palavra vem da raiz que significa "fazer-se igual a". Na verdade, Jesus manifesta imediata e claramente em que o horizonte Ele se move, para onde está indo e para onde quer nos conduzir: para ser iguais, para ser como o Pai, para manter uma relação de amor com Ele, como entre Pai e filho. Não é por acaso que Ele imediatamente mencione o batismo de João...

* "O batismo de João...".
Jesus nos leva rapidamente e com clareza ao ponto de partida, à fonte, lá onde podemos reencontrar conosco mesmos, no encontro com Deus. Às margens do rio Jordão, onde ele foi batizado, é preparado um lugar para nós, porque, porque, como Ele, descemos às águas, no fogo do amor e nos deixamos marcar com o selo do Espírito Santo, nos deixamos encontrar, visitar e envolver por estas palavras: "Tu és o meu Filho amado" (Mc 1, 11). Jesus nos ensina que não há nenhuma outra autoridade, outra grandeza ou outra riqueza, mas apenas esta.

* "Do céu ou dos homens?"
Queremos estar com Deus e com os homens, seguir a Ele ou a eles, entrar na luz do céu aberto (Mc 1, 10) ou permanecer nas trevas da nossa solidão?
* "Respondei-me." É belíssima esta palavra de Jesus, repetida com ênfase duas vezes (vv. 29 e 30). Jesus pede uma escolha precisa, uma decisão clara, sincera e autêntica, até o fim. O verbo "responder", em grego, expressa justamente esta atitude, esta capacidade de distinguir e separa bem as coisas. O Senhor quer nos convidar para entra no mais profundo de nós mesmos para nos deixar penetrar por suas palavras e que, dessa forma, aprendemos cada vez mais e melhor, em estreita relação com Ele, a tomar as decisões importantes de nossa vida e até mesmo a todos os dias.
Mas esse verbo simples e bonito indica, todavia algo mais. A raiz hebraica expressa resposta e, ao mesmo tempo, a miséria, a pobreza, tristeza e humildade. Isto é, não pode haver uma verdadeira resposta senão na humildade, no ouvir. Jesus pede aos sacerdotes e escribas, e também a nós, de entrar nesta dimensão da vida, nesta atitude da alma: fazer-se humilde diante dele, reconhecer a nossa pobreza e a necessidade que temos Dele, porque esta é a única possível resposta para suas perguntas.

* "Discutiam entre si".
Estamos diante de outro verbo importante que nos ajuda a compreender melhor o nosso mundo interior. Este discutir, de fato, é um "falar através de", como se deduz da tradução literal do verbo grego usado por Marcos. As pessoas desta passagem estão quebradas por dentro, atravessadas por uma ferida; diante de Jesus, não são de uma peça. Entre eles falam por diversas razões e considerações, ao invés de entrar naquele relacionamento e diálogo com o Pai, que foi inaugurado no batismo de Jesus, continuam de fora, à distância, como o filho da parábola, que se recusa a entrar no banquete do amor (cf. Lc 15, 28). Eles também não acreditam que a Palavra do Pai, que repete mais uma vez: "Tu és o meu Filho muito amado: em ti me comprazo" (Mc 1, 11), por isso continuam procurando e querendo a força da autoridade e do poder em vez da fraqueza do amor.

Para um confronto pessoal
1) O Senhor me ensina que a sua autoridade, também em minha existência, não é domínio nem força de opressão, mas é amor, capacidade de se assemelhar, de se fazer próximo. Eu quero aceitar essa autoridade de Jesus na minha vida, desejo realmente entrar nesta relação de semelhança a Ele? Estou disposto a tomar as medidas que esta escolha comporta? Estou determinado a ir até o fim por este caminho?
2) Ao avizinhar-me desta passagem do Evangelho, talvez não suspeitasse que seria levado à passagem do Batismo e a esta experiência tão fundamental e motora de relacionamento com Deus Pai. No entanto, o Senhor quis revelar mais uma vez seu grande amor, ele não recuar diante de qualquer fadiga ou obstáculo, para me alcançar. Mas e o meu coração como está, neste momento, diante Dele? Consigo escutar a voz do Pai falando comigo e me chama de "filho", pronunciando o meu nome? Consigo acolher esta sua declaração de amor? Confio, creio, me entrego a Ele? Eu escolho o céu ou ainda a terra?
3) Eu acho que deveria acabar com essa meditação, sem dar minha resposta. Jesus me pede especificamente: aquele "Respondei-me" hoje é dirigido a mim. Eu aprendi que não pode haver verdadeira resposta, sem uma verdadeira escuta, e que a verdadeira escuta só pode nascer da humildade... Desejo dar este passo? Desejo, pelo contrário, continuar a responder guiado apenas por minhas convicções, por meus velhos modos de pensar e sentir, por minha presunção e autossuficiência?

* Uma pergunta final. Olhando meu coração por dentro, eu também me vejo um pouco dividido, como os adversários de Jesus? Tenho em mim alguma ferida que me atravessa e não me permite ser um cristão por inteiro, amigo de Cristo, um seguidor seu?

quinta-feira, 28 de maio de 2015

29 de maio

Beata Elia de S. Clemente
Virgem de nossa Ordem


A vida de Ir. Elias nos deixa numa espécie de constrangimento pela sua simplicidade, na qual podemos ver uma profunda experiência de Deus e grande  humanidade. Seu nome era Teodora Fracasso. Ela nasceu em Bari, sul da Itália, filha de José Fracasso e de Páscoa Cianci no dia 17 de janeiro de 1901. Era a terceira dos nove filhos do casal. Viveu em sua família até os dezenove anos, muito animada e inteligente, sincera, sensível às belezas da natureza e fascinada pelo amor de Deus, entrou no Mosteiro das Carmelitas Descalças de S . Joseph, em Bari a 8 de abril de 1920; fez a profissão simples a 4 de dezembro de 1921 e a 11 de fevereiro de 1925 fez a profissão solene. No final de 1926 começa a sofrer uma dor de cabeça contínua e grave, a qual ela chamou de "irmãozinho" amado "Meu irmãozinho - escreve para o sacerdote que dirigia a sua alma - não me permite fazer longos discursos, muito menos ouvir. Como você vê, todas as coisas cooperam para me isolar cada vez mais de tudo e viver somente de Deus. Nada perturba a paz de minha alma. Tudo que eu preciso é uma alavanca para levantar-me a Ele. Não, Padre venerável, não me arrependo de ter consagrada uma vítima do Senhor.” Na verdade, era o começo de encefalite, que a levaria à morte. Sua doença foi quase despercebida, tratada como uma simples gripe.  Faleceu ao meio-dia no Natal, de 1927.

Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.

LAUDES
Cântico evangélico
Ant. Quão suave, Senhor, é teu amor! Perdida em ti, vivo feliz para sempre!

Oração
Deus todo-poderoso e eterno, que aceitastes comprazido a oblação que de si mesma vos fez a Beata Elias de São Clemente, virgem, concedei-nos, por sua intercessão, que, alimentados pelo Pão Eucarístico e iluminados pela luz da Vossa Palavra, cumpramos fielmente a Vossa santa vontade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo. Amém!

VÉSPERAS
Cântico evangélico
Ant. Teu amor, ó Deus, me consumiu como um fogo na fornalha ardente do teu Coração.

MÊS DE MARIA – Sexta-feira da 8ª semana do Tempo Comum


Evangelho (Mc 11,11-25): Jesus entrou em Jerusalém e foi ao templo. Lá observou todas as coisas. Mas, como já era tarde, ele e os Doze foram para Betânia.  No dia seguinte, ao saírem de Betânia, Jesus sentiu fome. Avistando de longe uma figueira coberta de folhas, foi lá ver se encontrava algum fruto. Chegando perto, só encontrou folhas, pois não era tempo de figos. Então reagiu dizendo à figueira: «Nunca mais ninguém coma do teu fruto». Os discípulos ouviram isso.  Foram então a Jerusalém. Entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que ali estavam vendendo e comprando. Derrubou as mesas dos que trocavam moedas e as bancas dos vendedores de pombas. Também não permitia que se carregassem objetos passando pelo templo. Pôs-se a ensinar e dizia-lhes: «Não está escrito que a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Vós, porém, fizestes dela um antro de ladrões». Os sumos sacerdotes e os escribas ouviram isso e procuravam um modo de matá-lo. Mas tinham medo de Jesus, pois a multidão estava maravilhada com o ensinamento dele. E quando anoiteceu, Jesus e os discípulos foram saindo da cidade. De manhã cedo, ao passarem, verificaram que a figueira tinha secado desde a raiz. Pedro lembrou-se e disse: «Rabi, olha, a figueira que amaldiçoaste secou”». Jesus lhes observou: «Tende fé em Deus. Em verdade, vos digo: se alguém disser a esta montanha: ‘Arranca-te e joga-te no mar’, sem duvidar no coração, mas acreditando que vai acontecer, então acontecerá. Por isso, vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes, e vos será concedido. E, quando estiverdes de pé para a oração, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai que está nos céus também perdoe os vossos pecados».

Comentário: Fra. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)

Tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
Hoje fruto e petição são palavras chave no Evangelho. O Senhor aproxima-se a uma figueira e não encontrou frutos: somente folharada, reagiu maldizendo-a. Segundo Santo Isidoro de Sevilha, "Figo" e "fruto" têm a mesma raiz. Ao dia seguinte, os Apóstolos surpresos, lhe dizem: «Rabi, olha, a figueira que amaldiçoaste secou» (Mc 11,21). Em resposta, Jesus Cristo lhes fala de fé e de oração: «Tende fé em Deus» (Mc 11,22).

Há pessoas que quase não rezam, e quando o fazem, procuram que Deus lhes resolva um problema complicado no qual já não veem a solução. E o justificam com as palavras de Jesus que acabamos de ouvir: «Tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes, e vos será concedido» (Mc 11,24). Têm ração e é humano, compreensível, e lícito que, ante os problemas que nos superam, confiemos em Deus, em alguma força superior a nós.

Mas tenho que acrescentar que toda oração é "inútil" («vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais»: Mt 6,8), na medida em que não tem uma utilidade prática direta, como —por exemplo— acender uma luz. Não recebemos nada em troca por rezar, porque todo o que recebemos de Deus é graça sobre graça.

Então, não é preciso rezar? Ao contrário: já que agora sabemos que é graça, a oração tem mais valor: porque é "inútil" e é "gratuita". Ainda com tudo, existem três benefícios que nos dá a oração de petição: paz interior (encontrar ao amigo Jesus e confiar em Deus relaxa); pensar sobre um problema, racionalizá-lo, e saber traçá-lo é já tê-lo quase resolvido; e em terceiro lugar ajuda-nos a discernir entre aquilo que é bom e aquilo que tal vez por causa do nosso capricho queremos em nossas intenções da oração. Então, a posteriori, entendemos com os olhos da fé o que Jesus diz: «Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho» (Jo 14,13).

quarta-feira, 27 de maio de 2015

MÊS DE MARIA – Quinta-feira da 8ª semana do Tempo Comum


Evangelho (Mc 10,46-52): Chegaram a Jericó. Quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. Ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: «Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim». Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: «Filho de Davi, tem compaixão de mim».  Jesus parou e disse: «Chamai-o!». Eles o chamaram, dizendo: «Coragem, levanta-te! Ele te chama!». O cego jogou o manto fora, deu um pulo e se aproximou de Jesus. Este lhe perguntou: «Que queres que eu te faça?». O cego respondeu: «Rabuni, meu Mestre, que eu veja». Jesus disse: «Vai, tua fé te salvou». No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho».

Comentário: P. Ramón LOYOLA Paternina LC (Barcelona, Espanha).

Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim.

Hoje, Cristo sai ao nosso encontro. Todos somos Bartimeu: esse não vidente que Jesus passou bem próximo, e que saltou gritando até que Jesus lhe prestasse atenção. Talvez tenhamos um nome um pouco mais bonito... Mas, a nossa debilidade humana (moral) é semelhante à cegueira que sofria nosso protagonista. Nós, também não chegamos a ver que Cristo vive em nossos irmãos e, assim, tratamos como os tratamos. Quem sabe não chegamos a ver nas injustiças sociais, nas estruturas de pecado, uma chamada humilhante aos nossos olhos para um compromisso social. Talvez não vislumbramos que «Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos» (Jo 15,13). Vemos meio confuso o que é nítido: que as miragens do mundo conduzem à frustração, e que o paradoxo do Evangelho traz a dificuldade, produzem fruto, realização e vida. Somos verdadeiramente débeis visuais, não por eufemismo e sim em realidade: nossa vontade debilitada pelo pecado ofusca a verdade em nossa inteligência e escolhemos o que não nos convém.

Solução: gritar, isto é, orar humildemente «Filho de Davi, tem compaixão de mim» (Mc 10,48). E gritar mais quanto mais te repreendam, te desanimem ou te desanimes: «Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto... » (Mc 10,48). Gritar que é também pedir: «Rabuni, meu Mestre, que eu veja» (Mc 10,51). Solução: dar, como ele, um impulso na fé, crer mais além de nossas certezas, confiar em quem nos amou, nos criou, e veio redimir-nos e ficou conosco, na Eucaristia.

O Papa João Paulo II nos dizia com sua vida: suas longas horas de meditação - tantas que seu Secretário dizia que ele orava “demais”— nos dizem claramente que «aquele que ora muda a historia».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* O evangelho de hoje descreve a cura do cego Bartimeu (Mc 10,46-52) que encerra a longa instrução de Jesus sobre a Cruz. No início da instrução, havia a cura de um cego anônimo (Mc 8,22-26). As duas curas de cegos são símbolo do que se passava entre Jesus e os discípulos.

* Marcos 10,46-47: O grito do cego Bartimeu.
Finalmente, após uma longa travessia, Jesus e os discípulos chegam a Jericó, última parada antes da subida para Jerusalém. O cego Bartimeu está sentado à beira da estrada. Não pode participar da procissão que acompanha Jesus. Mas ele grita, invocando a ajuda de Jesus: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” Ao longo dos séculos, através da prática dos monges do deserto, esta invocação do pobre Bartimeu tornou-se aquilo que costuma ser chamada “A Oração de Jesus”.  Os monges a repetem com a boca, sem parar, e ela desce da boca para o coração. A pessoa, aos poucos, já não reza mais, mas ela mesma se torna oração.

* Marcos 10,48-51: Jesus escuta o grito do cego
O grito do pobre incomoda. Os que vão na procissão tentam abafa-lo. Mas “ele gritava mais ainda!” E Jesus, o que faz? Ele escuta o grito do pobre, pára e manda chamá-lo! Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a levar o pobre até Jesus: “Coragem, levante-se, porque Jesus está chamando você". Bartimeu larga tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Jesus pergunta: “O que você quer que eu faça?” Não basta gritar. Tem que saber por que grita!  -“Rabuni” Meu Mestre! Que eu possa ver novamente!”Bartimeu tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título “Filho de Davi” não era muito bom. O próprio Jesus o tinha criticado (Mc 12,35-37). Mas Bartimeu teve mais fé em Jesus, do que nas suas ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como Pedro. Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições, e o milagre aconteceu.

* Marcos 10,52: Tua fé te curou
Jesus lhe disse: "Pode ir, a sua fé curou você." No mesmo instante Bartimeu começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho. Sua cura é fruto da sua fé em Jesus. Curado, ele larga tudo, segue Jesus no caminho e sobe com ele para o Calvário em Jerusalém. Bartimeu tornou-se discípulo modelo para todos nós que queremos “seguir Jesus no caminho” em direção a Jerusalém. Nesta decisão de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do compromisso assumido com Deus de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.

* A fé é uma força que transforma as pessoas
A cura do cego Bartimeu esclarece um aspecto muito importante de como deve ser a fé em Jesus. Pedro tinha dito a Jesus: “Tu és o Cristo!” (Mc 8,29). Ele tinha a doutrina correta, pois Jesus é o Cristo, o Messias. Mas quando Jesus disse que o Messias devia sofrer, Pedro reagiu e não aceitou. Pedro tinha a doutrina correta, mas sua fé em Jesus não era lá muito correta. Bartimeu, ao contrário, tinha invocado Jesus com o título “Filho de Davi!” (Mc 10,47). Jesus não gostava muito deste título (Mc 12,35-37). Porém, mesmo invocando Jesus com uma doutrina não inteiramente correta, Bartimeu teve fé correta e foi curado! Diferentemente de Pedro (Mc 8,32-33), acreditou mais em Jesus, do que nas ideias que ele tinha sobre Jesus. Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário! (Mc 10,52). A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço e da gratuidade, desde a Galileia até Jerusalém. Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a “entrega de si” (Mc 8,35), aceitar “ser o último” (Mc 9,35), “beber o cálice e carregar sua cruz” (Mc 10,38), este, como Bartimeu, mesmo tendo ideias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e “seguirá Jesus no caminho” (Mc 10,52). Nesta certeza de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz.

Para um confronto pessoal
1) Uma pergunta indiscreta: “Eu, na minha maneira de viver a fé, sou como Pedro ou como Bartimeu?
2) Hoje, na igreja, a maioria do povo é como Pedro ou como Bartimeu?

terça-feira, 26 de maio de 2015

MÊS DE MARIA – Quarta-feira da 8ª semana do Tempo Comum


Evangelho (Mc 10,32-45): Estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia à frente, e eles, assombrados, seguiam com medo. Jesus, outra vez, chamou os doze de lado e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: «Estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão zombar dele, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo, mas três dias depois, ele ressuscitará». Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: «Mestre, queremos que faças por nós o que te vamos pedir». Ele perguntou: «Que quereis que eu vos faça?». Responderam: «Permite que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o outro à tua esquerda!». Jesus lhes disse: «Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber? Ou ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?». Responderam: «Podemos». Jesus então lhes disse: «Sim, do cálice que eu vou beber, bebereis, com o batismo com que eu vou ser batizado, sereis batizados. Mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de mim; é para aqueles para quem foi preparado». Quando os outros dez ouviram isso, começaram a ficar zangados com Tiago e João. Jesus então os chamou e disse: «Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos».

Comentário: Rev. D. René PARADA Menéndez (San Salvador, El Salvador)

Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos.

Hoje, o Senhor nos ensina qual deve ser nossa atitude ante a Cruz. O amor ardente à vontade de seu Pai, para consumar a salvação do gênero humano — de cada homem e mulher— lhe move ir depressa a Jerusalém, onde «Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus. “Não penseis que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz, mas sim, a espada» (cf. Mt 10,33-34). Mesmo que às vezes não entendamos ou, inclusive, tenhamos medo ante a dor, o sofrimento ou as contradições de cada jornada, procuremos unir-nos — por amor à vontade salvadora de Deus — com o oferecimento da cruz de cada dia.

A prática constante da oração e os sacramentos, especialmente o da Confissão pessoal dos pecados e o da Eucaristia, acrescentarão em nós o amor a Deus e aos demais por Deus de modo que seremos capazes de dizer «Podemos!» (Mc 10,39), a pesar de nossas misérias, medos e pecados. Sim, poderemos abraçar a cruz de cada dia (cf. Lc 9,23) por amor, com um sorriso; essa cruz que se manifesta no ordinário e cotidiano: a fadiga no trabalho, as dificuldades normais na vida, família e nas relações sociais, etc.

Só se abraçamos a cruz de cada dia, negando nossos gostos para servir aos demais, assim conseguiremos identificar-nos com Cristo, que «Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos» (Mc 10,45). João Paulo II explicava que «o serviço de Jesus chega a sua plenitude com a morte na Cruz, ou seja, com o dom total de si mesmo». Imitemos, pois, a Jesus Cristo, transformando constantemente nosso amor a Ele em atos de serviço a todas as pessoas: ricos ou pobres, com muita ou pouca cultura, jovens o anciãos, sem distinção. Atos de serviço para aproximá-los a Deus e liberá-los do pecado.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* O evangelho de hoje traz o terceiro anúncio da paixão e, novamente, como nas vezes anteriores, mostra a incoerência dos discípulos (cf. Mc 8,31-33 e Mc 9,30-37). Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação entregando sua vida, eles continuavam discutindo os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono. Ao que tudo indica, os discípulos continuavam cegos! Sinal de que a ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade deles. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles ainda não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus.

* Marcos 10,32-34: O terceiro anúncio da paixão
Eles estão a caminho de Jerusalém. Jesus vai à frente. Ele tem pressa. Sabe que vão matá-lo. O profeta Isaías já o tinha anunciado (Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não é fruto de um destino cego ou de um plano já preestabelecido, mas é consequência do compromisso assumido com a missão que recebeu do Pai junto aos excluídos do seu tempo. Por isso, Jesus alerta os discípulos sobre a tortura e a morte que ele vai enfrentar lá em Jerusalém. Pois o discípulo deve seguir o mestre, mesmo que for para sofrer com ele. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Não entendem o que está acontecendo. O sofrimento não combinava com a ideia que eles tinham do messias.

* Marcos 10,35-37: O pedido pelo primeiro lugar
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro! Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades, no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades. No evangelho de Mateus é a mãe de Tiago e João que faz o pedido pelos filhos (Mt 20,20). Provavelmente, diante da situação difícil de pobreza e desemprego crescente daquela época, a mãe intercede pelos filhos e tenta garantir um emprego para eles na vinda do Reino de que Jesus falava tanto.

* Marcos 10,38-40: A resposta de Jesus
Jesus reage com firmeza: “Vocês não sabem o que estão pedindo!” E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus, vai beber, e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.

* Marcos 10,41-44: Entre vocês não seja assim
Neste final da sua instrução sobre a Cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder no império romano não prestavam conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (Mc 6,17-29). O império romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele diz: “Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!” Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve apresentar uma alternativa para a convivência humana.

* Marcos 10,45: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua missão e a sua vida: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida como resgate em favor de muitos”. Jesus é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu de sua mãe que disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor!” (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo. Nesta frase em que ele define sua vida, transparecem os três títulos mais antigos, usados pelos primeiros cristãos para expressar e comunicar aos outros o que Jesus significava para eles: Filho do Homem, Servo de Javé, Resgatador dos excluídos (libertador, salvador). Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos.

Para um confronto pessoal
1. Tiago e João pediram o primeiro lugar no Reino. Hoje, muita gente reza a Deus pedindo dinheiro, promoção, cura, êxito. E eu, o que busco na minha relação com Deus e o que peço a Ele na oração?
2. Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos. É o programa de Jesus, é o nosso programa. Como estou realizando?

segunda-feira, 25 de maio de 2015

MÊS DE MARIA – Terça-feira da 8ª semana do Tempo Comum


Evangelho (Mc 10,28-31): Pedro começou a dizer-lhe: «Olha, nós deixamos tudo e te seguimos». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida — casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, vida eterna. Muitos, porém, que são primeiros, serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros».

Comentário: Rev. D. Jordi SOTORRA i Garriga (Sabadell, Barcelona, Espanha)

Todo aquele que deixa casa, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida, e, no mundo futuro, vida eterna.

Hoje, como aquele amo que ia todas as manhãs à praça procurar trabalhadores para a sua vinha, o Senhor procura discípulos, seguidores, amigos. A sua chamada é universal. É uma oferta fascinante! O Senhor dá-nos confiança. Mas põe uma condição para ser seus discípulos, condição essa que nos pode desanimar: temos que deixar «casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do evangelho» (Mc 10,29).

Não há contrapartida? Não haverá recompensa? Isto aporta algum benefício? Pedro, em nome dos Apóstolos, recorda ao Maestro: «Nós deixamos tudo e te seguimos» (Mc 10,28), como querendo dizer: que ganharemos com tudo isto?

A promessa do Senhor é generosa: «recebe cem vezes mais agora, durante esta vida (…); e, no mundo futuro, vida eterna» (Mc 10,30). Ele não se deixa ganhar em generosidade. Mas acrescenta: «com perseguições». Jesus é realista e não quer enganar. Ser seu discípulo, se o formos de verdade, nos trarão dificuldades, problemas. Mas Jesus considera as perseguições e as dificuldades como um prêmio, pois nos fazem crescer, se as soubermos aceitar e vive-las como uma ocasião para ganhar maturidade e responsabilidade. Tudo aquilo que é motivo de sacrifício assemelha-nos a Jesus Cristo que nos salva pela sua morte em Cruz.

Estamos sempre a tempo para revisar a nossa vida e aproximar-nos mais de Jesus Cristo. Este tempo, todo o tempo permite-nos - através da oração e dos sacramentos— averiguar se entre os discípulos que Ele procura estamos nós, e veremos também qual deve ser a nossa resposta a esta chamada. Ao lado de respostas radicais (como a dos Apóstolos) há outras. Para muitos, «deixar casa, irmãos, irmãs, mãe…» significará deixar tudo aquilo que nos impeça de viver em profundidade a amizade de Jesus Cristo e, como consequência, ser-lhe seus testemunhos perante o mundo. E isso é urgente, não achas?

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

São Felipe Neri (1515-2015)
V Centenário do Nascimento
* No evangelho de ontem, Jesus falava da conversão que deve ocorrer no relacionamento dos discípulos com os bens materiais: desapegar-se das coisas, vender tudo, dar para os pobres e seguir Jesus. Ou seja, como Jesus, devem viver na total gratuidade, entregando sua vida na mão de Deus e servindo aos irmãos e irmãs (Mc 10,17-27). No evangelho de hoje Jesus explica melhor como deve ser esta vida de gratuidade e de serviço dos que abandonam tudo por causa dele, Jesus, e do Evangelho (Mc 10,28-31).

* Marcos 10,28-31: Cem vezes mais desde agora, mas com perseguições.
Pedro observa: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos". É como se dissesse: “Fizemos o que o senhor pediu ao jovem rico. Deixamos tudo e te seguimos. Explica para nós como deve ser esta nossa vida?” Pedro quer que Jesus explicite um pouco mais o novo modo de viver no serviço e na gratuidade. A resposta de Jesus é bonita, profunda e simbólica: "Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna”. O tipo de vida que resulta da entrega de tudo é a amostra do Reino que Jesus quer realizar:
(1) Alarga a família e cria comunidade, pois aumenta cem vezes o número de irmãos e irmãs.
(2) Provoca a partilha dos bens, pois todos terão cem vezes mais casas e campos. A providência divina se encarna e passa pela organização fraterna, onde tudo é de todos e já não haverá mais necessitados. Eles realizam a lei de Deus que pede “entre vocês não pode haver pobres” (Dt 15,4-11). Foi o que fizeram os primeiros cristãos (At 2,42-45). É a vivência perfeita do serviço e da gratuidade.
(3) Não devem esperar nenhuma vantagem em troca, nem segurança, nem promoção de nada. Pelo contrário, nesta vida terão tudo isto, mas com perseguições. Pois os que, neste nosso mundo organizado a partir do egoísmo e dos interesses de grupos e pessoas, vivem a partir do amor gratuito e da entrega de si, estes, como Jesus, serão crucificados.
(4) Serão perseguidos neste mundo, mas, no mundo futuro terão a vida eterna de que falava o jovem rico.

Jesus e a opção pelos pobres
Um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a comunidade, estava sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade. Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro. Muitos dos fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas, consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mc 10,21) A pobreza, que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podiam levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Deviam confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso fossem acolhidos pelo povo, deviam trabalhar como todo mundo e viver do que receberiam em troca (Lc 10,7-8). Além disso, deviam tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podiam dizer ao povo: “O Reino chegou!” (Lc 10,9).

Para um confronto pessoal
1) Como você, na sua vida, realiza a proposta de Pedro: “Deixamos tudo e te seguimos”?
2) Partilha, gratuidade, serviço, acolhida aos excluídos são sinais do Reino. Como as vivo hoje?