sábado, 31 de agosto de 2019

1º de setembro


Sta. Teresa Margarida do Sagrado Coração de Jesus (Redi)
Virgem de nossa Ordem


Nasceu em Arezzo (Toscana) da nobre família Redi, no ano 1747. Entrou para as Carmelitas Descalças de Florença no dia 1º de setembro de 1764. Enriquecida com a singular experiência contemplativa da expressão do Apóstolo S. João «Deus é amor», sentiu o chamamento à vida oculta pelo caminho do amor e da imolação de si mesma. Consumou a sua vocação e confirmou-a com o heroico exercício da caridade fraterna. Entrou na posse plena do amor de Deus no ano 1770 no Carmelo de Florença.

INVITATÓRIO
Ant. Vinde, adoremos o Senhor, Rei das virgens.

LAUDES
Hino
De perfume, ó flor da graça,
do Carmelo encheste as celas;
no Céu, hoje, coroada,
brilhas, joia das mais belas.

Ó Margarida, que fulguras
entre os coros virginais
que vão seguindo o Cordeiro,
entre cantos nupciais.

Concede-nos que andemos
no amor íntimo do Esposo,
para ser, Cristo somente,
nossa vida, paz e gozo.

Faze-nos sempre sentir,
do Pai, a excelsa ternura,
que é primeiro amor e único,
fonte de pura doçura.

Por ti nos infunda o Espírito,
da vida eterna, o caudal;
retribuir desejamos,
o seu amor paternal.

Tu, que sentiste a Trindade,
dá-nos tal graça também,
e, contigo, a sua glória
cantemos para sempre. Amém.

Salmodia do dia corrente.

Leitura breve - Cl 3,1-4
Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus', aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres, pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós também aparecereis com ele, revestidos de glória.

Responsório breve
R. Falou-me o coração, * procurei a vossa face. R. Falou-me.
V. A vossa face eu procuro, Senhor. * Procurei. Glória ao Pai.
R. Falou-me.

Cântico evangélico
Ant. Sou o Caminho, a Verdade e a Vida: ninguém chega ao Pai senão por mim.

Preces
Adoremos a Cristo, chave de todos os segredos do Pai; e digamos com fé:

R. Senhor, mostrai-nos o Pai!

Cristo, que sois o Caminho, a Verdade e a Vida,
- sede o nosso caminho para chegarmos ao Pai. R.

Vós, que sois a Luz do mundo e o Esplendor da glória do Pai,
- iluminai a noite escura da nossa fé, enquanto caminhamos para o Pai. R.

Cristo, Palavra do Pai, que vos fizestes carne, e chamastes Santa Teresa Margarida para imitar pela fé vossa intimidade com o Pai,
- concedei-nos perseverar sempre na vida escondida convosco em Deus. R.

Jesus, espelho e prêmio da humildade, que viestes não para ser servido, mas para servir,
- ensinai-nos hoje a realizar os serviços mais humildes, agradáveis ao Pai, que vê no segredo. R.

Cristo, Palavra de Deus, que vos fizestes passível e paciente no meio de nós,
- fazei que, a exemplo de Santa Teresa Margarida, sigamos a vós crucificado por amor da vossa Igreja, que é o vosso Corpo. R.

Jesus, que tanto amastes a vossa Mãe, companheira fiel na obra da Salvação,
- fazei que, por intercessão de Maria, estejamos prontos a realizar com amor a vontade do Pai. R.
(intenções livres)

Pai Nosso

Oração
Senhor, Nosso Deus, que concedestes a Santa Teresa Margarida encontrar no Coração do Salvador tesouros inestimáveis de humildade e caridade, concedei-nos, por sua intercessão, jamais nos separarmos do amor de Jesus, vosso Filho, que é um só Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

VÉSPERAS
Hino
Ó santa virgindade,
Imagem do Deus incorruptível,
Arvore da vida!

Ó santa virgindade,
Coroa de glória e cetro do Reino,
Espelho do Deus imortal!

Ó santa virgindade,
Harmonia de um mistério admirável,
Como são belas as coroas
E as vitórias dos teus combates!

Ó santa virgindade,
Luz da liberdade e vida celeste,
Templo de Deus e morada do grande Rei!

Ó santa virgindade,
Paraíso do Omnipotente,
Herança da família do Deus imortal!

Ó santa virgindade,
Glória de Deus, fraternidade dos Anjos,
Árvore florescente de perpétua santidade!

Ó santa virgindade,
Em ti se completa a vitória de Cristo,
Em ti resplandece o poder do Omnipotente,
Em ti repousa o Espírito de Deus.

Leitura breve - 1Jo 4,16b
Deus é Amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele.

Responsório breve
R. Águas torrenciais'* jamais apagarão o amor! R. Águas.
V. Nem os rios poderão afogá-lo! * Jamais. Glória ao Pai.
R. Águas.

Cântico evangélico
Ant. Assim como o Pai me amou também eu vos amei: permanecei no meu amor.

Preces
Louvemos a Cristo, que no amor de Deus e do próximo nos legou o seu mandamento supremo; confiantes supliquemos:

R. Concedei-nos, Senhor, o vosso amor.

Cristo, que no vosso Coração nos revelastes o amor eterno do Pai,
- fazei-nos testemunhas vivas do Divino Amor. R.

Cristo, que viestes trazer o fogo à terra,
-inflamai-nos na fogueira deste amor, que abrasava o coração de Santa Teresa Margarida. R

Vós, que sempre fizestes o que agrada ao Pai,
- fazei que a nossa vida seja em tudo uma homenagem de amor filial ao Amor do Pai. R.

Vós, que fizestes do nosso próximo o sacramento da vossa presença,
- concedei que vos sirvamos com amor em todos os irmãos e irmãs, e vos descubramos em cada um deles. R.

(intenções livres)

Vós, que vos apressastes em chamar na flor da idade Santa Teresa Margarida abrasada no vosso amor,
_ apressai-vos em receber quanto antes no Reino eterno do Amor os nossos irmãos e irmãs falecidos. R.

Pai Nosso

Oração
Senhor, Nosso Deus, que concedestes a Santa Teresa Margarida encontrar no Coração do Salvador tesouros inestimáveis de humildade e caridade, concedei-nos, por sua intercessão, jamais nos separarmos do amor de Jesus, vosso Filho, que é um só Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Domingo XXII do Tempo Comum


1ª Leitura (Si 3,17-18.20.28-29): Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.

Salmo Responsorial: 67
R. Na vossa bondade, Senhor, preparastes uma casa para o pobre.

Os justos alegram-se na presença de Deus, exultam e transbordam de alegria. Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome; o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.

Pai dos órfãos e defensor das viúvas, é Deus na sua morada santa. Aos abandonados Deus prepara uma casa, conduz os cativos à liberdade.

Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos, restaurastes a vossa herança enfraquecida. A vossa grei estabeleceu-se numa terra que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.

2ª Leitura (Heb 12,18-19.22-24a): Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.

Aleluia. Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração. Aleluia.

Evangelho (Lc 14,1.7-14): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor!’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». E disse também a quem o tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos! Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos».

«Os convidados escolhiam os primeiros lugares»

Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)

S Teresa Margarida do Coração de Jesus
Virgem de nossa Ordem
Hoje, Jesus nos dá uma lição magistral: Não busqueis o primeiro lugar. «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar» (Lc 14,8). Jesus Cristo sabe que gostamos de situar-nos no primeiro lugar: nos atos públicos, nas reuniões, em casa, na mesa… Ele conhece da nossa tendência a sobrevalorizar-nos por vaidade e, ainda pior, por orgulho mal dissimulado. Estejamos prevenidos com as honrarias, Já que «o coração fica encadeado aí onde encontra possibilidade de fruição» (São Leão Magno).

Quem nos disse que, não existem colegas com mais méritos ou categoria pessoal? Não se trata, pois, de algo esporádico, mas de uma atitude assumida de nos sentir melhores, mais importantes, com mais méritos, os que sempre temos razão; isso é uma pretensão que supõe uma visão estreita sobre nós e sobre o que nos rodeia. De fato, Jesus convida-nos a praticar uma humildade perfeita, que consiste em não nos julgar nem julgar aos outros e, de conscientizar-nos sobre a nossa insignificância individual respeito ao cosmos e à vida.

Então, o Senhor, propõe que, por precaução, escolhamos o último lugar, porque se bem desconhecemos a realidade íntima dos outros, sabemos que nós somos irrelevantes se comparados com o espetáculo do universo. Por conseguinte, situar-nos no último lugar, é atuar com certeza. Não seja que o Senhor, que nos conhece a todos desde nossa intimidade, deva dizer-nos: «‘Cede o lugar a ele’. ‘Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar´» (Lc 14,9).

Na mesma linha de pensamento, o Mestre convida-nos a colocar-nos com humildade ao lado dos preferidos de Deus: pobres, inválidos, coxos, cegos, e a nos igualar com eles até nos encontrar no meio de aqueles que Deus ama com especial ternura e, a superar toda repugnância e vergonha em compartir a mesa e amizade com eles.

Com esta parábola, contada por ocasião duma refeição, Jesus não se limita a encarecer simplesmente uma atitude a ter no momento de escolher o lugar à mesa de um banquete, mas, acima de tudo, o que pretende com este exemplo é dar uma lição de humildade, válida para sempre, pois «quem se humilha será exaltado» (v. 11), entenda-se, por Deus, de acordo com o costume judaico seguido por Jesus, que evitava deliberadamente pronunciar o nome de Deus, recorrendo a uma forma passiva impessoal, que os gramáticos chamam o passivum divinum.

Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração.

Geraldo Morujão

Setembro - Mês da Bíblia
10 «Aquele que te convidou dirá». Tradução muito livre do original, com o fim de tornar menos chocante a leitura: «para que te diga».
De facto, se o convidado escolhesse o último lugar com a secreta intenção de vir a ser «honrado aos olhos dos outros convidados», não estaria a viver a humildade, mas sim um refinado orgulho. Ora sucede que aqui a intenção expressa no texto não é a do convidado, mas sim a de Jesus que dá o conselho. Sendo assim, a tradução litúrgica facilita uma correta interpretação. Um belo comentário a este ensinamento de Jesus podem ser as palavras da Imitação de Cristo: «Deseja que não te conheçam e te reputem por nada… Não perdes nada, se te consideras inferior a todos, mas prejudicas-te muito, se te considerares superior a um só que seja» (I, 2.7).

12-14 Jesus não quer dizer que se podem convidar só aqueles que não nos possam retribuir.
Esta maneira taxativa de falar, tão característica de Jesus, à maneira semítica, visa produzir impacto e chamar a atenção; o Senhor quer ensinar-nos que não devemos andar atrás de compensações humanas, mas daquilo que merece a aprovação e recompensa de Deus no Céu, aqui designado por «ressurreição dos justos» (que os maus também ressuscitam consta doutras passagens, como Jo 5, 29; At 24, 15…).

Humildade, virtude fundamental
Fernando Silva

• Humildade, virtude fundamental
A humildade é indispensável
A humildade abre-nos os olhos
A humidade torna-nos simpáticos

• O caminho da humildade
O modelo da pessoa humilde
Ser pequeno e aceitar-se como tal
Sejamos verdadeiros sobre nós mesmos

1. Humildade, virtude fundamental
No início do século II antes de Cristo, quando a cultura helénica invadia a Palestina, e começava a minar a cultura e os valores tradicionais do Povo de Deus, muitos judeus incluindo membros de famílias de origem sacerdotal, deixavam-se seduzir pelo brilho desta cultura pagã, com todos os seus erros e corrupção, e abandonavam os valores em que tinham sido educados.
Ben-Sirá, orgulhoso da sua fé, e consciente do perigo que o Povo de Deus enfrentava, escreve o texto proclamado na primeira leitura.
Esta tentação é de sempre. Hoje, como ontem, muitos cristãos são tentados a julgar que a Lei de Deus está antiquada, fora de moda, e afastam-se da fidelidade ao Senhor.
Ser moderno, atual, proceder como os outros, é uma tentação perigosa, inspirada no orgulho. É também uma tentação dos cristãos de hoje. Deixam-se arrastar pela soberba de parecerem modernos..., e ressuscitam vícios antigos da Grécia e da Roma pagã.
Quem é fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo – ensinados pela Igreja – não é um desatualizado.
A arma para combater esta tentação de soberba está na humildade, como indica o autor sagrado.

a) A humildade é indispensável. «Filho, em todas as tuas obras procede com humildade.»
A humildade é a verdade. Leva-nos a aceitarmo-nos como somos e a viver felizes na nossa condição. Somos pequenos e, fundamentalmente, todos iguais. Não há super-pessoas. Todas são iguais em dignidade, responsabilidade e liberdade. Os que receberam mais talentos para administrar terão de dar contas da sua administração.
Tudo o que temos, desde a vida às outras possibilidades que ela nos proporciona, é um puro dom de Deus. Por isso, pergunta-nos S. Paulo: «Que tens que não hajas recebido? E se o recebeste, por que te orgulhas, como se não o tivesses recebido?»

O demónio faz às pessoas como o vento aos papéis e às folhas secas das plantas: levanta-as no ar e leva-as, depois, para onde quer, arrastando-as pelo chão.

b) A humildade abre-nos os olhos. «Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te.»
O orgulho cega-nos, contra toda a evidência. Leva-nos a ver ofensas à nossa pessoa em toda a parte.
Alimentamos imagens falsas, ilusórias, acerca de nós mesmos. Presumimos sabedoria e qualidades que não temos. É como se andássemos com uns óculos cujas lentes fossem espelhos. Só nos veríamos a nós mesmos e sempre maiores do que somos, porque nos vemos ao perto.
O orgulho cega as pessoas de tal modo que, às vezes, toda gente vê que uma pessoa segue por um caminho errado, no qual encontrará a ruína, menos ela.

c) A humidade torna-nos simpáticos. Se fores humilde, «serás mais estimado do que o homem generoso.»
A soberba afasta as pessoas e ela mesma acha que é mais importante quando está em destaque. Aliás, a pessoa dominada pelo orgulho coloca-se num pedestal tão alto – julga assim que é! – que ninguém a alcança.
Recorre-se a meios exteriores à pessoa para firmar uma superioridade que não existe: um carro de marca, um modo de vestir, alarde de façanhas ou lugares em que se passam férias, etc.
A humildade é naturalidade. Como está perfeitamente no seu lugar, não chama nem quer chamar a atenção dos outros.

2. O caminho da humildade
Temos diante de nós um trabalho para toda a vida, porque – no dizer de um santo – só deixaremos de ser orgulhosos depois de tomarmos um banho de terra fria. Nunca poderemos dizer, durante a vida, que já somos profundamente humildes e, por isso, não precisamos de fazer mais esforços.

A soberba alimenta-se:
• dos êxitos – atribuindo-os a nós, e não às ajudas das outras pessoas e, principalmente, a Deus;
• das vitórias sobre a soberba. Pensamos: «que humilde sou já!»
• dos fracassos, porque, se os aceitamos bem, convencemo-nos de que já somos humildes.

a) O modelo da pessoa humilde. É o próprio Jesus Cristo que nos lança este desafio: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde do coração.» De facto, Ele vive a sua existência terrena com:
Naturalidade. Como qualquer criança, entra no mundo permanecendo nove meses no seio virginal de Maria, sem qualquer sinal extraordinário que manifeste a Sua presença. Cresce com toda a naturalidade como qualquer ser humano. Tudo isto é uma exigência de verdade na vida.
Dignidade. Uma pessoa humilde não é o mesmo que apagada, diminuída, abdicando constantemente dos seus direitos e deveres. Jesus Cristo veste bem, com gosto – a tal ponto que os soldados recusam-se a dividir a Sua túnica, porque é muito digna – e chama a atenção quando não cumprem para com Ele as atenções que Lhe são devidas. Pense-se no episódio passado no banquete em casa de Simão leproso.

b) Ser pequeno é aceitar-se como tal. «Por isso, quando fores convidado (para um banquete), vai sentar-te no último lugar.»
Na maior parte dos banquetes, os lugares estão já marcados previamente e foram abandonadas muitas formalidades de outros tempos. No entanto, a recomendação de Jesus continua a ser atual, pois temos muitas ocasiões em que podemos e devemos escolher o último lugar, sem falsa humildade, e sem que os outros se apercebam disso.

• Na conversa, sabendo dar lugar a que os outros contém as suas experiências. Só devemos falar obrigatoriamente quando é preciso defender a verdade.

• Na mesa, ao servirmo-nos da comida e da bebida. Não se trata de ficar sempre para o último lugar, mas de reservar para os ouros aquilo que já sabemos que é mais apreciado por eles.

• Na opinião acerca de um assunto: Se se trata de um assunto que pode ser abordado de diversos ângulos, com diversas opiniões, todas elas válidas, por que havemos de fazer da nossa opinião um dogma de fé?

Aconselha-se a que à mesa se evitem conversas sobre futebol ou partidos políticos, a não ser quando se trata de um programa de governo que é irreconciliável com a fé e a moral. Quantas teimosias e amuos desnecessários podem ser evitados!

c) Sejamos verdadeiros sobre nós mesmos. Às vezes sofremos inutilmente, porque nos imaginamos muito grandes e importantes, e achamos sempre que não nos dão a importância que merecemos.
Daí, os melindres, amuos, zangas, e pessoas e famílias desavindas.
Também na nossa relação dom Deus, na oração, devemos proceder com humildade, reconhecendo, desde o início, a nossa pequenez.
Quando ficamos em crise de fé, zangados com Deus ou com os santos, porque não nos concedem determinada graça, está a soberba por detrás: julgamo-nos merecedores, pela nossa vida; e queremos impor o nosso querer ao de Deus que nos ama e sabe infinitamente mais do que nós o que nos convém.
Maria Santíssima ajuda-nos a compreender melhor o que é a humildade, passando em silêncio pela vida. Não aparece nas horas de triunfo de Jesus, tomando para si um pouco da glória que Lhe é tributada, mas não falta nas horas em que Jesus é humilhado, na Sua Paixão e Morte.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Sábado XXI do Tempo Comum


S. Raimundo Nonato. 
Presbítero e Cardeal
1ª Leitura (1Tes 4,9-11): Irmãos: Sobre o amor fraterno, não precisais que vos escreva, porque vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros. E assim fazeis com todos os irmãos na Macedónia. Nós vos exortamos, irmãos, a progredir cada vez mais, tendo como ponto de honra viver em paz, ocupando-vos dos vossos assuntos e trabalhando com as vossas próprias mãos, como vos ordenamos.

Salmo Responsorial: 97
R. O Senhor julgará os povos com justiça.

Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.

Ressoe o mar e tudo o que ele encerra, a terra inteira e tudo o que nela habita; aplaudam os rios e as montanhas exultem de alegria.

Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.

Aleluia. Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Aleluia.

Evangelho (Mt 25,14-30): «O Reino dos Céus é também como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens: a um, cinco talentos, a outro, dois e ao terceiro, um — a cada qual de acordo com sua capacidade. Em seguida viajou. O servo que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, foi cavar um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.  Depois de muito tempo, o senhor voltou e foi ajustar contas com os servos. Aquele que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O senhor lhe disse: ‘Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!’. Chegou também o que havia recebido dois talentos e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O senhor lhe disse: ‘Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!’. Por fim, chegou aquele que havia recebido um só talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ajuntas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O senhor lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu colho onde não plantei e que ajunto onde não semeei. Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. Em seguida, o senhor ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai àquele que tem dez! Pois a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. E quanto a este servo inútil, lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’»

«Um homem que ia viajar para o estrangeiro, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens»

Rev. D. Albert SOLS i Lúcia (Barcelona, Espanha)

Hoje contemplamos a parábola dos talentos. Em Jesus apreciamos uma mudança do estilo na sua mensagem: o anúncio do Reino, já não se limita tanto em assinalar a sua proximidade, mas a descrever seu conteúdo através de narrações: é hora das parábolas!

Um grande homem decide empreender uma longa viagem, e confia todo seu patrimônio a seus servos. Podia tê-lo distribuído em partes iguais, mas não o fez assim. Deu a cada um conforme a sua capacidade (cinco, dois e um talentos). Com aquele dinheiro, cada criado podia capitalizar o início de um bom negócio. Os dois primeiros se lançaram à administração de seus depósitos, mas o terceiro —por medo ou por preguiça— preferiu guardá-lo, eludindo todo investimento: se fechou na comodidade de sua própria pobreza.

O senhor regressou e exigiu a prestação de contas (cf. Mt 25,19). Premiou a valentia dos dois primeiros, que duplicaram o depósito confiado. O trato com o criado “prudente” foi muito diferente.

Dois mil anos depois, a mensagem da parábola continua tendo atualidade. As modernas democracias caminham para uma separação progressiva entre a Igreja e os Estados. Isto não é mau, pelo contrário. Não obstante, esta mentalidade global e progressiva esconde um efeito secundário, perigoso para os cristãos: ser a imagem viva daquele terceiro servo a quem o amo (figura bíblica de Deus Pai) repreendeu com grande severidade. Sem malícia, por mera comodidade ou medo, corremos o perigo de esconder e reduzir a nossa fé cristã ao meio familiar e amigos íntimos. O Evangelho não pode ficar numa leitura e estéril contemplação. Devemos administrar com valentia e risco a nossa vocação cristã no próprio ambiente social e profissional, proclamando a figura de Cristo com as palavras e o testemunho.

Santo Agostinho comenta: «Quem predica a palavra de Deus aos povos, não está tão longe da condição humana e da reflexão apoiada na fé, que não possa advertir os perigos. Porém, “consola saber que onde resida o perigo por causa do ministério, aí temos a ajuda de vossas orações».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz o conflito em torno da observância do sábado. A observância do sábado era uma lei central, um dos Dez Mandamentos. Lei muito antiga que foi revalorizada na época do cativeiro. No cativeiro, o povo devia trabalhar sete dias por semana de sol a sol, sem condições de se reunir para ouvir e meditar a Palavra de Deus, para rezar juntos e para partilhar sua fé, seus problemas e sua esperança. Daí apareceu a necessidade urgente de parar ao menos um dia por semana para reunir e animar-se mutuamente naquela condição tão dura do cativeiro. Do contrário, perderiam a fé. Foi aí que renasceu e foi restabelecida com vigor a observância do sábado.

* Lucas 6,1-2: A causa do conflito
Num dia de sábado, os discípulos passam pelas plantações e abrem caminho arrancando espigas. Mateus 12,1 diz que eles estavam com fome (Mt 12,1). Os fariseus invocam a Bíblia para dizer que isto é transgressão da lei do Sábado: "Por que vocês estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?" (cf Ex 20,8-11).

* Lucas 6,3-4: A resposta de Jesus
Imediatamente, Jesus responde lembrando que o próprio Davi também fez coisas proibidas, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). Jesus conhecia a Bíblia e a invocava para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Em Mateus, a resposta de Jesus é mais completa. Ele não só invoca a história de Davi, mas cita também a Legislação que permitia aos sacerdotes de trabalhar no sábado e cita ainda a frase do profeta Oséias: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Citou um texto histórico, um texto legislativo e um texto profético (cf. Mt 12,1-18). Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita à mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante os 30 anos da sua vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as escrituras. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade.

* Lucas 6,5: A conclusão para todos nós
E Jesus termina com esta frase: O Filho do Homem é dono até do sábado!  Jesus, como Filho do Homem que vive na intimidade com Deus, descobre o sentido da Bíblia não de fora para dentro, mas de dentro para fora, isto, ele descobre o sentido a partir da raiz, a partir da sua intimidade com o autor da Bíblia que é o próprio Deus. Por isso, ele se diz dono do sábado. No evangelho de Marcos, Jesus relativiza a lei do sábado dizendo: “O ser humano não existe para o sábado, mas o sábado existe para o ser humano” (Mc 2,27).

Para um confronto pessoal
1) Como você passa o Domingo, nosso “Sábado”? Você vai à missa por obrigação para evitar pecado ou para poder estar com Deus?
2) Jesus conhecia a Bíblia quase de memória. E eu, o que a Bíblia representa para mim?