sábado, 5 de outubro de 2024

7 de outubro: Nossa Senhora do Rosário

1ª Leitura (Gal 1,6-12):
Irmãos: Surpreende-me que tão depressa tenhais abandonado Aquele que vos chamou pela graça de Cristo, para passar a outro evangelho. Não que haja outro evangelho; mas há pessoas que vos perturbam e pretendem mudar o Evangelho de Cristo. Mas se alguém – ainda que fosse eu próprio ou um Anjo do Céu – vos anunciar um evangelho diferente daquele que nós vos anunciamos, seja anátema. Como já vo-lo dissemos, volto a dizê-lo: Se alguém vos anunciar um evangelho diferente daquele que recebestes, seja anátema. Estarei eu agora a captar o favor dos homens ou o de Deus? Acaso procuro agradar aos homens? Se eu ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Quero que saibais, irmãos: o Evangelho anunciado por mim não é de inspiração humana, porque não o recebi ou aprendi de nenhum homem, mas por uma revelação de Jesus Cristo.
 
Salmo Responsorial: 110
R. O Senhor recorda a sua aliança para sempre.
 
Louvarei o Senhor de todo o coração, no conselho dos justos e na assembleia. Grandes são as obras do Senhor, admiráveis para os que nelas meditam.
 
Instituiu um memorial das suas maravilhas: o Senhor é misericordioso e compassivo. Deu sustento àqueles que O temem e jamais esquecerá a sua aliança.
 
Fiéis e justas são as obras das suas mãos, são imutáveis todos os seus preceitos, irrevogáveis pelos séculos dos séculos, estabelecidos na retidão e na verdade.
 
Enviou a redenção ao seu povo, firmou com ele uma aliança eterna; santo e venerável é o seu nome, o louvor do Senhor permanece para sempre.
 
Aleluia. Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 10,25-37): Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: «Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?». Jesus lhe disse: «Que está escrito na Lei? Como lês?». Ele respondeu: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!». Jesus lhe disse: «Respondeste corretamente. Faze isso e viverás». Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus retomou: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto. Por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gastado a mais». E Jesus perguntou: «Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?». Ele respondeu: «Aquele que usou de misericórdia para com ele». Então Jesus lhe disse: «Vai e faze tu a mesma coisa».
 
«Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?»
 
Rev. Pe. Ivan LEVYTSKYY CSsR (Lviv, Ucrânia)
 
Hoje, a mensagem evangélica assinala o caminho da vida: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração (...) e teu próximo como a ti mesmo!»(Lc 10,27) E porque Deus nos amou primeiro, leva-nos à união com Ele. Santa Teresa de Calcutá disse: «Nós necessitamos dessa união íntima com Deus na nossa vida quotidiana. Mas, como podemos consegui-la? Através da oração». Estando em união com Deus começamos a experimentar que tudo é possível com Ele, inclusive amar o próximo.
 
Alguém dizia que o cristão entra na Igreja para amar a Deus e sai para amar o próximo. O Papa Bento sublinha que o programa do cristão - o programa do bom samaritano, o programa de Jesus - é «um coração que vê». Ver e parar! Na parábola, duas pessoas veem o necessitado, mas não param. Por isso Cristo repreende os fariseus dizendo: «Tendes olhos e não vedes» (Mc 8,18) Pelo contrário, o samaritano vê e para, tem compaixão e assim salva a vida ao necessitado e a si mesmo.
 
Quando o famoso arquiteto catalão Antônio Gaudí foi atropelado por um eléctrico, algumas pessoas que passavam não pararam para ajudar aquele ancião ferido. Não levava nenhum documento e pelo aspecto parecia um mendigo. Se tivessem sabido quem era aquele próximo, certamente teriam feito fila para o ajudar.
 
Quando praticamos o bem, pensamos que o fazemos pelo próximo, mas na verdade também o fazemos por Cristo: «Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt 25,40) E o meu próximo, disse Bento XVI, é qualquer pessoa que tenha necessidade de mim e que eu possa ajudar.
 
Se cada um, ao ver o próximo em necessidade, parasse e se compadecesse dele uma vez por dia ou por semana, a crise diminuiria e o mundo seria melhor. «Nada nos faz tão semelhantes a Deus como as boas obras» (São Gregório de Nisa).
 
«Aquele que usou de misericórdia para com ele»
 
Ir. Lluís SERRA i Llançana (Roma, Itália)
 
Hoje, um mestre da Lei faz a Jesus uma pergunta que talvez nós tenhamos feito mais de uma vez: «Que hei de fazer para ter como herança a vida eterna?» (Lc 10,25). Era uma pergunta feita com segundas intenções, pois queria pôr Jesus à prova. O mestre responde sabiamente o que diz a Lei, isto é, amar a Deus e ao próximo como a si mesmo (cf. Lc 10,27). A chave é amar. Se buscarmos a vida eterna, sabemos que «a fé e a esperança passarão, enquanto o amor não passará nunca» (cf. 1Cor 13,13). Qualquer projeto de vida e qualquer espiritualidade cujo centro não seja o amor nos distancia do sentido da existência. Um ponto de referência importante é o amor a si mesmo, frequentemente esquecido. Somente podemos amar a Deus e ao próximo desde nossa própria identidade.
 
O mestre da Lei vai mais longe ainda e pergunta a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10,29). A resposta chega através de um conto, de uma parábola, de história curta, sem formulações teóricas complicadas, mas com um grande conteúdo. O modelo de próximo é um samaritano, quer dizer um marginado, um excluído do povo de Deus. Um sacerdote e um levita passam de longe ao ver o homem espancado e ferido. Os que parecem estar mais perto de Deus (o sacerdote e o levita) são os que estão mais distantes do próximo. O mestre da Lei evita pronunciar a palavra samaritano para indicar a quem se comportou como próximo do homem ferido e diz: «Aquele que usou de misericórdia para com ele» (Lc 10,37).
 
A proposta de Jesus é clara: «Vai e faze tu o mesmo». Não é a conclusão teórica do debate, e sim o convite a viver a realidade de amor, o qual é muito mais do que um sentimento etéreo, pois se trata de um comportamento que vence as discriminações sociais e que surge do coração da pessoa. São João da Cruz nos recorda que «ao entardecer da vida te examinarão o amor».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Porque o objetivo que se nos foi indicado não consiste em algo pequeno, mas sim que nos esforcemos pela possessão da vida eterna» (São Cirilo de Jerusalém)
 
«No programa messiânico de Cristo, que é a sua vez o programa do reino de Deus, o sofrimento está presente no mundo para provocar amor, para fazer nascer obras de amor ao próximo» (São João Paulo II)
 
«Não podemos estar em união com Deus se não escolhermos livremente amá-Lo. Mas não podemos amar a Deus se pecarmos gravemente contra Ele, contra o nosso próximo ou contra nós mesmos: “Quem não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia o seu irmão é um homicida: ora vós sabeis que nenhum homicida tem em si a vida eterna” (1Jo 3, 14-15)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1033)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz a parábola do Bom Samaritano.
Meditar uma parábola é o mesmo que aprofundar a vida, a fim de descobrir dentro dela os apelos de Deus. Ao descrever a longa viagem de Jesus a Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas ajuda as comunidades a entender melhor em que consiste a Boa Nova do Reino. Ele faz isto apresentando pessoas que vêm falar com Jesus e lhe fazem perguntas. Eram perguntas reais do povo do tempo de Jesus e eram também perguntas reais das comunidades do tempo de Lucas. Assim, no evangelho de hoje, um doutor da lei pergunta: "O que devo fazer para obter a vida eterna?" A resposta, tanto do doutor como de Jesus, ajuda a entender melhor o objetivo da Lei de Deus.
 
* Lucas 10,25-26: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?" Um doutor, conhecedor da lei, quer provocar Jesus e pergunta: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?" O doutor acha que deve fazer algo para poder herdar. Ele quer garantir a herança pelo seu próprio esforço. Mas uma herança não se merece. Herança, nós a recebemos pelo simples fato de sermos filho ou filha. ”Você já não é escravo, mas filho; e se é filho, é também herdeiro por vontade de Deus”. (Gal 4,7). Como filhos e filhas não podemos fazer nada para merecer a herança. Podemos é perdê-la!
 
* Lucas 10,27-28: A resposta do doutor. Jesus responde com uma nova pergunta: "O que diz a lei?" O doutor responde corretamente. Juntando duas frases da Lei, ele diz:  "Amar a Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo!" A frase vem do Deuteronômio (Dt 6,5) e do Levítico (Lv 19,18). Jesus aprova a resposta e diz: "Faz isto e viverás!" O importante, o principal, é amar a Deus! Mas Deus vem até mim no próximo. O próximo é a revelação de Deus para mim. Por isso, devo amar também o próximo de todo o meu coração, de toda a minha alma, com toda a minha força e com todo o meu entendimento!
 
* Lucas 10,29: "E quem é o meu próximo?" Querendo justificar-se, o doutor pergunta: "E quem é o meu próximo?" Ele quer saber para si mesmo: "Em que próximo Deus vem até mim?" Ou seja, qual é a pessoa humana próxima de mim que é revelação de Deus para mim? Para os judeus, a expressão próximo estava ligada ao clã. Quem não era do clã, não era próximo. Conforme o Deuteronômio, eles podiam explorar ao “estrangeiro”, mas não ao “próximo” (Dt 15,1-3). A proximidade era baseada nos laços de raça e de sangue. Jesus tem outra maneira de ver, que ele expressa na parábola do Bom Samaritano.
 
4. Lucas 10,30-36: A parábola
1. Lucas 10,30: O assalto na estrada de Jerusalém para Jericó. Entre Jerusalém e Jericó encontra-se o deserto de Judá, refúgio de revoltosos, marginais e assaltantes. Jesus conta um caso real que deve ter acontecido muitas vezes. “Um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu na mão de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o deixaram quase morto”.
 
2. Lucas 10,31-32: Passa um sacerdote, passa um levita. Casualmente, passa um sacerdote e, em seguida, um levita. São funcionários do Templo, da religião oficial. Os dois viram o assaltado, mas passaram adiante. Não fizeram nada. Por que não fizeram nada? Jesus não o diz. Ele deixa você supor ou se identificar. Deve ter acontecido muitas vezes, tanto no tempo de Jesus como no tempo de Lucas. Acontece também hoje: uma pessoa de igreja passa perto de um pobre sem dar-lhe ajuda. Pode até ser que o sacerdote e o levita tenham tido a justificativa: "Ele não é meu próximo!" ou: "Ele está impuro e se eu tocar nele, ficarei impuro também!" E hoje: "Se eu ajudar, perco a missa do domingo e faço pecado mortal!"
 
3. Lucas 10,33-35: Passa um samaritano. Em seguida, chega um samaritano que estava de viagem. Ele vê, move-se de compaixão, aproxima-se, cuida das chagas, coloca o homem no seu próprio animal, leva-o até a hospedaria, cuida dele durante a noite e, no dia seguinte, dá ao dono da hospedaria dois denários, o salário de dois dias, dizendo: "Cuida dele e o que gastares a mais no meu regresso te pago!" É ação concreta e eficiente. É ação progressiva: chegar, ver, mover-se de compaixão, aproximar-se e partir para a ação. A parábola diz "um samaritano que estava de viagem". Jesus também estava em viagem até Jerusalém. Jesus é o bom samaritano. As comunidades devem ser o bom samaritano.
 
*  Lucas 10,36-37: Quem dos três foi o próximo do homem assaltado? No início, o doutor tinha perguntado: "Quem é o meu próximo?" Por de trás da pergunta estava a preocupação consigo mesmo. Ele queria saber: "A quem Deus me manda amar, para que eu possa ter a consciência em paz e dizer: Fiz tudo que Deus pede de mim!" Jesus faz outra pergunta: "Quem dos três foi o próximo do homem assaltado?" A condição de próximo não depende da raça, do parentesco, da simpatia, da vizinhança ou da religião. A humanidade não está dividida em próximos e não-próximos. Para você saber quem é o seu próximo, isto depende de você chegar, ver, mover-se de compaixão e se aproximar. Se você se aproximar, o outro será o seu próximo! Depende de você e não do outro! Jesus inverteu tudo e tirou a segurança que a observância da lei poderia dar ao doutor.
 
* Os Samaritanos. A palavra samaritano vem de Samaria, capital do reino de Israel no Norte. Depois da morte de Salomão, em 931 antes de Cristo, as dez tribos do Norte se separaram do reino de Judá no Sul e formaram um reino independente (1Rs 12,1-33). O Reino do Norte sobreviveu durante uns 200 anos. Em 722, o seu território foi invadido pela Assíria. Grande parte da sua população foi deportada (2Rs 17,5-6) e gente de outros povos foram trazidos para Samaria (2Rs 17,24). Houve mistura de raça e de religião (2Rs 17,25-33). Desta mistura nasceram os samaritanos. Os judeus do Sul desprezavam os samaritanos como infiéis e adoradores de falsos deuses (2Rs 17,34-41). Havia muito preconceito contra os samaritanos. Eles eram malvistos. Dizia-se deles que tinham uma doutrina errada e que não faziam parte do povo de Deus. Alguns chegaram ao ponto de dizer que ser samaritano era coisa do diabo (Jo 8,48). Muito provavelmente, a causa deste ódio não era só a raça e a religião. Era também um problema político-econômico, ligado à posse da terra. Esta rivalidade perdurava até o tempo de Jesus. Mesmo assim Jesus coloca os samaritanos como exemplo e modelo para os outros.
 
Para um confronto pessoal
1. O samaritano da parábola não era do povo judeu, mas era ele que fazia o que Jesus pede. Isto acontece hoje? Você conhece gente que não frequenta a igreja mas vive o que evangelho pede? Quem são hoje o sacerdote, o levita e o samaritano?
2. O doutor perguntou: “Quem é o meu  próximo?” Jesus perguntou: “Quem foi próximo do homem assaltado?” São duas perspectivas diferentes: o doutor pergunta a partir de si mesmo. Jesus pergunta a partir das necessidades do outro. Qual é a minha perspectiva?
 

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

XXVII Domingo do Tempo Comum

São Bruno, presbítero
 
1ª Leitura (Gen 2,18-24):
Disse o Senhor Deus: «Não é bom que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele». Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, conduziu-os até junto do homem, para ver como ele os chamaria, a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos pelo nome que o homem lhes desse. O homem chamou pelos seus nomes todos os animais domésticos, todas as aves do céu e todos os animais do campo. Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem um sono profundo e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, fazendo crescer a carne em seu lugar. Da costela do homem o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. Ao vê-la, o homem exclamou: «Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, porque foi tirada do homem». Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne.
 
Salmo Responsorial: 127
R. O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida.
 
Feliz de ti que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
 
Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos como ramos de oliveira, ao redor da tua mesa.
 
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião o Senhor te abençoe: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida; e possas ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.
 
2ª Leitura (Hb 2,9-11): Irmãos: Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos, vemo-lo agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, pois era necessário que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em proveito de todos. Convinha, na verdade, que Deus, origem e fim de todas as coisas, querendo conduzir muitos filhos para a sua glória, levasse à glória perfeita, pelo sofrimento, o Autor da salvação. Pois Aquele que santifica e os que são santificados procedem todos de um só. Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.
 
Aleluia. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 10,2-16): Aproximaram-se então alguns fariseus e, para experimentá-lo, perguntaram se era permitido ao homem despedir sua mulher. Jesus perguntou: Qual é o preceito de Moisés a respeito?. Os fariseus responderam: Moisés permitiu escrever um atestado de divórcio e despedi-la. Jesus então disse: Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés escreveu este preceito. No entanto, desde o princípio da criação Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só carne; assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!. Em casa, os discípulos fizeram mais perguntas sobre o assunto. Jesus respondeu: Quem despede sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se uma mulher despede seu marido e se casar com outro, comete adultério também. Algumas pessoas traziam crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos, porém, as repreenderam. Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, porque a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele!. E abraçava as crianças e, impondo as mãos sobre elas, as abençoava.
 
«O que Deus uniu o homem não separe»
 
Rev. D. Fernando PERALES i Madueño (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, os fariseus põem novamente a Jesus num compromisso com a questão sobre o divórcio. Mas Jesus mais que dar uma resposta definitiva, faz uma pergunta aos seus interlocutores pelo que diz a Sagrada Escritura e sem criticar a Lei de Moisés, faz entender que é legitima, mas temporal: Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés escreveu este preceito, (Mc 10,5).
 
Jesus lembra o que diz o Livro do Gênesis: Desde o princípio da criação Deus os fez homem e mulher, (Mc 10,6, cf. Gn 1,27). Jesus fala de uma unidade que será a Humanidade. O homem deixará os seus pais e se unirá a sua mulher, sendo um com ela para formar a Humanidade. Isto supõe uma realidade nova: Dois seres formam uma unidade, não como uma associação, senão como procriadores da Humanidade. A conclusão é evidente: O que Deus uniu o homem não separe, (Mc 10,9).
 
Enquanto tenhamos do matrimônio uma imagem de associação, a indissolubilidade resultará incompreensível. Se reduzimos o matrimônio a interesses associativos, entende-se que a dissolução apareça como legítima. Falar assim do matrimônio é um abuso de linguagem, já que não é mais que uma associação de dois solteiros desejosos de fazer mais agradável a sua existência. Quando o Senhor fala do matrimônio está dizendo outra coisa. O Concílio Vaticano II lembra-nos: Deste modo, por meio do ato humano com o qual os cônjuges mutuamente se dão e recebem um ao outro, nasce uma instituição também à face da sociedade, confirmada pela lei divina. Em vista do bem tanto dos esposos e da prole como da sociedade, este sagrado vínculo não está ao arbítrio da vontade humana. O próprio Deus é o autor do matrimônio, o qual possui diversos bens e fins, tudo o que é de máxima importância para a propagação do gênero humano (Gaudium et spes, n. 48).
 
De regresso a casa, os Apóstolos perguntam pelas exigências do matrimônio, e a continuação tem lugar uma cena carinhosa com as crianças. As duas cenas estão relacionadas. A segunda é como uma parábola que explica como é possível o matrimônio. O Reino de Deus é para aqueles que se assemelhem a uma criança e aceitam construir algo novo. O mesmo o matrimônio, se captamos bem o que significa: deixar, unir-se e devir.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando penso nos lares cristãos, gosto de os imaginar luminosos e alegres, como era o lar da Sagrada Família» (São Josemaria)
 
«As crianças também pagam o preço das uniões imaturas e das separações irresponsáveis: são as primeiras vítimas. Sofrem os resultados da cultura [egoísta] dos direitos subjetivos» (Francisco)
 
«Ambos os esposos constituem ‘uma íntima comunidade de vida e de amor, fundada pelo Criador e por Ele dotada de leis próprias’. Esta comunidade ‘é instaurada pela aliança conjugal, ou seja, por um irrevogável consentimento pessoal’ 108). Os dois entregam-se, definitiva e totalmente, um ao outro. Doravante, já não são dois, mas, uma só carne. A aliança livremente contraída pelos esposos impõe-lhes a obrigação de a manter una e indissolúvel. ‘O que Deus uniu, não o separe o homem’ (Mc 10,9)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.364)
 
“O homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só.”
 
Do site da Ordem do Carmo, em Portugal
 
* No texto que a liturgia coloca diante de nós, Jesus dá indicações acerca da relação entre homem e mulher e sobre as mães e as crianças.
Naquele tempo muitas pessoas eram excluídas e marginalizadas. Por exemplo, na relação entre homem e mulher existia o machismo. A mulher não podia participar, não havia igualdade de direito entre os dois. Na relação com as crianças, “os pequeninos”, havia um “escândalo” que era a causa da perda de fé de muitos deles (Mc 9, 42). Na relação entre homem e mulher, Jesus pede o máximo de igualdade. Na relação entre as mães e as crianças, pede o máximo de acolhimento e de ternura.
 
* Marcos 10, 1: Uma indicação geográfica. O autor do evangelho de Marcos tem o costume de situar o acontecimento com estas e outras breves informações geográficas, dentro do conjunto da narração. Depois, para o que escuta uma longa narração sem ter o livro nas mãos, tais informações geográficas ajudam na compreensão da leitura. São como postes ou marcos que sustentam o fio da narração. É muito comum Marcos dar informação: “Jesus ensinava” (Mc 1, 22.39; 2, 2.13; 4, 1; 6, 2; 6, 34).
 
* Marcos 10, 1-2: A pergunta dos fariseus sobre o divórcio. A pergunta é maliciosa pois procura pôr Jesus à prova: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher?”. Sinal de que Jesus tinha uma opinião diferente, pois de contrário os fariseus não a teriam feito. Não perguntam se é lícito à esposa repudiar o marido. Isto não lhes passava pelas suas cabeças. Sinal claro de uma forte dominação masculina e da marginalização da mulher na convivência social daquela época.
 
* Marcos 10, 3-9: A resposta de Jesus: o homem não pode repudiar a mulher. Em vez de responder, Jesus pergunta: “Que diz a Lei de Moisés?”. A Lei permitia ao homem escrever uma carta de divórcio e repudiar a sua mulher (Dt 24, 1). Esta permissão revela um machismo. O homem podia repudiar a sua mulher mas a mulher não tinha o mesmo direito. Jesus explica que Moisés atuou assim por causa da dureza do coração do povo, mas a intenção de Deus era outra quando criou o ser humano. Jesus retorna ao projeto do Criador (Gn 1, 27 e Gn 2, 24). e nega ao homem o direito de repudiar a sua mulher. Deita por terra o direito do homem frente à mulher e pede o máximo de igualdade.
 
* Marcos 10, 10-12: Igualdade entre homem e mulher. Em casa, os discípulos fazem-lhe perguntas acerca do mesmo tema do divórcio. Jesus tira conclusões e reafirma a igualdade de direitos e deveres entre o homem e a mulher. O evangelho de Mateus (cf. Mt 19, 10-12) aclara uma pergunta dos discípulos sobre este tema. Dizem: “Se tal é a condição do homem relativamente à sua mulher, não é conveniente casar-se”. Preferem não se casar, antes que casar-se sem o privilégio de continuar a mandar sobre a mulher. Jesus vai ao fundo da questão. Coloca três casos em que a pessoa não se pode casar: 1) – impotência; 2) – castração; 3) – por causa do Reino. Não se casar porque alguém não quer perder o domínio sobre a mulher é inadmissível na Nova Lei do Amor. Tanto o matrimónio como o celibato devem estar ao serviço do Reino e não ao serviço de interesses egoístas. Nenhum dos dois pode ser motivo para manter o domínio machista do homem sobre a mulher. Jesus propõe um novo tipo de relação entre os dois. Não permite o matrimónio em que o homem possa mandar sobre a mulher e vice-versa.
 
* Marcos 10, 13: Os discípulos impedem as mães de se aproximar de Jesus com as suas crianças. Algumas pessoas trouxeram as suas crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos procuram impedir. Por quê? O texto não esclarece. Segundo os costumes rituais da época, as crianças pequenas e as suas mães viviam num estado quase permanente de impureza legal. Jesus ficaria impuro se as tocasse. Provavelmente os discípulos querem impedir que Jesus as toque para não ficar impuro.
 
* Marcos 10, 14-16: Jesus repreende os discípulos e acolhe as crianças.
A reação de Jesus ensina o contrário: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis!”. Abraça as crianças, aproxima-as dele e impõe-lhes as mãos. Quando se trata de acolher pessoas e de promover a fraternidade, a Jesus não lhe importam as leis da pureza legal e não tem medo de as transgredir. O seu gesto traz-nos um ensinamento: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança não pode entrar nele”. Que significa esta frase? 1) – Uma criança recebe tudo dos pais. Ela não merece o que recebe mas vive do amor gratuito. 2) – Os pais recebem os filhos como um dom de Deus e cuidam deles com carinho. A preocupação dos pais não é dominar os filhos mas amá-los e educá-los para que se realizem!
 
* Jesus acolhe e defende a vida dos pequenos. Jesus insiste várias vezes no acolhimento que se deve dar aos pequeninos, às crianças. “Quem acolhe a um destes pequeninos em meu nome acolhe-me a mim” (Mc 9, 37). “Quem der um copo de água a um destes pequeninos não ficará sem recompensa” (Mc 10, 42). Jesus pede para não desprezar os pequenos (Mt 18, 10). No juízo final os justos serão recebidos porque deram de comer “a um destes mais pequeninos” (Mt 25, 40).
 
* Nos evangelhos a expressão “pequenos” (em grego diz-se elachistoi, mikroi ou nepioi), algumas vezes indica “criança”, outras, os sectores excluídos da sociedade. Não é fácil discernir. Algumas vezes o que é “pequeno” num evangelho é a “criança” no outro. A criança pertence à categoria dos “pequenos”, dos excluídos. Dito isto, nem sempre é fácil discernir o que vem do tempo de Jesus e o que vem do tempo das comunidades para que tivesse sido escrito nos evangelhos. Apesar disto, resulta claro o contexto de exclusão que existia na época e a imagem que as primeiras comunidades tinham de Jesus. Jesus coloca-se do lado dos pequenos, dos excluídos, e assume a sua defesa. Impressiona quando se vê tudo o que Jesus fez em defesa da vida das crianças, dos pequenos:
 
* Acolher e não escandalizar. É uma das palavras mais duras de Jesus contra os que causam escândalo aos pequenos, ou seja, que sejam motivo para que os pequenos deixem de acreditar em Deus. Para estes melhor seria ter uma pedra de moinho atada ao pescoço e serem lançados ao fundo do mar (Mc 9, 42; Lc 17, 2; Mt 18, 6).
 
* Acolher e tocar. As mães com as suas crianças nos braços aproximam-se de Jesus para lhe pedir uma bênção. Os apóstolos procuram afastá-las. Tocar significava contrair impureza! Jesus não se incomoda como eles. Corrige os discípulos e acolhe as mães e os seus filhos. Toca-os e abraça-os. “Deixai que as criancinhas venham a mim, não as impeçais!” (Mc 10, 13-16; Mt 19, 13-15).
 
* Identificar-se com os pequenos. Jesus identifica-se com as crianças. Quem recebe uma criança “recebe-me a mim” (Mc 9, 37). “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40).
 
* Tornar-se como uma criança. Jesus pede que os discípulos se tornem como crianças e aceitem o Reino como uma criança. Sem isto, é impossível entrar no Reino de Deus (Mc 10, 15; Mt 18, 3; Lc 9, 46-48). Faz com que uma criança seja o professor do adulto, o que não é normal pois estamos acostumados ao contrário.
 
* Defender o direito do que grita. Quando Jesus entrou no Templo e derrubou as mesas dos cambistas, eram as crianças que mais gritavam. “Hosana ao Filho de David!” (Mt 21, 15). Criticado pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, Jesus defende-as e em sua defesa cita a Sagrada Escritura (Mt 21, 16).
 
* Agradecer o Reino presente nos pequenos. A alegria de Jesus é grande quando percebe que as crianças, os pequenos, compreenderam as coisas do Reino que ele anunciava ao povo: “Dou-te graças, Pai!” (Mt 11, 25-26). Jesus reconhece que os pequenos entendem melhor as coisas do Reino do que os doutores.
 
* Acolher e curar. São muitas as crianças e jovens que Jesus acolhe, cura e ressuscita: a filha de Jairo de 12 anos (Mc 5, 41-42), a filha da mulher cananeia (Mc 7, 29-30), o filho da viúva de Naim (Lc 7, 14-15), o pequeno epiléptico (Mc 9, 25-26), o filho do Centurião (Lc 7, 9-10), o filho do funcionário público (Jo 4, 50), o pequeno dos cinco pães e dois peixes (Jo 6, 9).
 
* O contexto em que se encontra o nosso texto dentro do Evangelho de Marcos. O nosso texto (Mc 10, 1-16) faz parte de uma longa instrução de Jesus aos seus discípulos (Mc 8, 27 a 10, 45). No início desta instrução, Marcos situa a cura do cego anónimo de Betsaida na Galileia (Mc 8, 22-26); no fim, a cura do cego Bartimeu de Jericó na Judeia (Mc 10, 46-52). As duas curas são símbolo do que ocorria entre Jesus e os discípulos. Os discípulos também estavam cegos e apesar de terem olhos não viam (Mc 8, 18). Necessitavam de recuperar a vista: deviam abandonar a ideologia que lhes impedia de ver de forma clara; deviam aceitar Jesus tal como era e não como eles queriam que fosse. Esta longa instrução tem como objetivo curar a cegueira dos discípulos. É como uma pequena cartilha, uma espécie de catecismo, com frases do próprio Jesus. Eis o esquema da instrução:
Cura de um cego (8, 22-26).
1º anúncio da Paixão (8, 27-38).  - Instrução aos discípulos sobre o Messias Servo.
2º anúncio da Paixão (9, 30-37). - Instrução aos discípulos sobre a conversão (9, 38-10, 31).
3º anúncio da Paixão (10, 32-45). - Cura do cego Bartimeu (10, 46-52).
 
* Como se pode ver, a instrução consta de três anúncios da Paixão: Mc 8, 27-26; 9, 30-37; 10, 32-45. Entre o primeiro e o segundo há uma série de instruções para ajudar a compreender que Jesus é o Messias Servo (Mc 9, 1-29). Entre o segundo e o terceiro, uma série de instruções que aclaram a conversão que deve dar-se nos diferentes níveis da vida dos que aceitam Jesus como Messias Servo (Mc 9, 38-10, 31). O conjunto da instrução tem como pano de fundo a caminhada desde a Galileia até Jerusalém. Desde o começo até ao final desta longa instrução, Marcos diz que Jesus está a caminho de Jerusalém (Mc 8, 27; 9, 30.33; 10.1.17.32) onde encontrará a cruz.
 
* Cada um dos três anúncios da paixão é acompanhado de gestos e palavras de incompreensão por parte dos discípulos (Mc 8, 32; 9, 32-34; 10, 32-37) e de palavras de orientação por parte de Jesus, que comentam a falta de compreensão dos discípulos e ensinam como devem comportar-se (Mc 8, 34-38; 9, 35-37; 10, 35-45). A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém através da instrução teórica, mas através de um compromisso prático, caminhando com Ele pelo caminho do serviço, desde a Galileia até Jerusalém. Aquele que deseja manter a ideia de Pedro, isto é, de um Messias glorioso sem cruz (Mc 8, 32-33), nunca entenderá, jamais chegará a ter a autêntica atitude do verdadeiro discípulo. Continuará cego, vendo as pessoas como árvores (Mc 8, 24). Sem a cruz é impossível compreender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus. O caminho do seguimento é um caminho de entrega, de abandono, de serviço, de disponibilidade, de aceitação do conflito, sabendo que haverá a ressurreição. A cruz não é um acidente casual mas uma parte deste caminho. Num mundo organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros incomoda os que vivem agarrados aos privilégios, e sofre.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Sábado XXVI do Tempo Comum

São Benedito, o Mouro, religioso
Santa Faustina Kowalska, virgem
Bto Bartolo Longo, leigo, Apóstolo do SSmo. Rosário
Beato Bartolomeu Longo,
Beato Bartolomeu Longo,
 
1ª Leitura (Jó 42,1-3.5-6.12-16):
Job respondeu ao Senhor, dizendo: «Eu sei que tudo podeis e que todos os vossos projetos se realizam. Quem ousa denegrir a providência com palavras sem sentido? Na verdade, falei indiscretamente das maravilhas que ultrapassam a minha compreensão. Só Vos conhecia por ouvir falar de Vós, mas agora já Vos viram os meus olhos. Por isso retiro as minhas palavras e faço penitência sobre o pó e a cinza». O Senhor abençoou os últimos anos de Job, mais ainda do que os primeiros. Possuiu catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Teve ainda sete filhos e três filhas. À primeira deu o nome de Pomba, à segunda o de Cássia e à terceira Azeviche. Não havia em toda a região mulheres mais belas do que as filhas de Job; e o pai deu-lhes uma parte da herança entre os irmãos. Depois disto, Job viveu cento e quarenta anos e viu os filhos dos seus filhos até à quarta geração. Finalmente, Job morreu velho, depois de uma longa vida.
 
Salmo Responsorial: 118
R. Fazei brilhar sobre mim, Senhor, a luz do vosso rosto.
 
Ensinai-me o bem, o discernimento e a ciência, porque tenho fé nos vossos mandamentos. Foi bom para mim ter sido humilhado, para aprender os vossos decretos.
 
Eu sei que os vossos juízos são justos e que a vossa fidelidade me põe à prova. Pela vossa vontade perduram as coisas até este dia, porque todas elas Vos estão sujeitas.
 
Eu sou vosso servo, Senhor: dai-me inteligência, para conhecer as vossas ordens. A manifestação das vossas palavras ilumina e dá inteligência aos simples.
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 10,17-24): Naquele tempo, os setenta e dois voltaram alegres, dizendo: «Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do teu nome». Jesus respondeu: «Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. Eu vos dei o poder de pisar em cobras e escorpiões, e sobre toda a força do inimigo. Nada vos poderá fazer mal. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos nos céus». Naquele mesma hora, Ele exultou no Espírito Santo e disse: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar». E voltando—se para os discípulos em particular, disse-lhes: «Felizes os olhos que veem o que vós estais vendo! Pois eu vos digo: muitos profetas e reis quiseram ver o que vós estais vendo, e não viram; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram».
 
«Ele exultou no Espírito Santo e disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra»
 
Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o evangelista Lucas nos narra o fato que dá lugar ao agradecimento de Jesus para com seu Pai pelos benefícios que tem outorgado à Humanidade. Agradece a revelação concedida aos humildes de coração, aos pequenos no Reino. Jesus mostra sua alegria ao ver que estes admitem, entendem e praticam o que Deus dá a conhecer por meio Dele. Em outras ocasiões, no seu diálogo íntimo com o Pai, também lhe agradecerá porque sempre o escuta. Elogia ao samaritano leproso que, uma vez curado de sua doença -junto com outros nove- retorna ele só, onde está Jesus para lhe agradecer o benefício recebido.
 
Escreve Santo Agostinho: «Podemos levar algo melhor no coração, pronunciá-lo com a boca, escrevê-lo com uma pena, que estas palavras: Graças a Deus. Não há nada que se possa dizer com maior brevidade, nem escutar com maior alegria, nem se sentir com maior elevação, nem fazer com maior utilidade». Assim devemos agir sempre com Deus e com o próximo, inclusive pelos dons que desconhecemos, como escreveu São Josemaria Escrivá. Gratidão para com os pais, os amigos, os professores, os companheiros. Para com todos os que nos ajudem, nos estimulem, nos sirvam. Gratidão também, como é lógico, com nossa Mãe, a Igreja.
 
A gratidão não é uma virtude muito usada ou frequente, no entanto, é uma das que se experimentam com maior beneplácito. Devemos reconhecer que, às vezes, não é fácil vive-la. Santa Teresa afirmava: «Tenho uma condição tão agradecida que me subornariam com uma sardinha». Os santos têm agido sempre assim. E o têm feito de três maneiras diferentes, como indicava Santo Tomás de Aquino: primeiro, com o reconhecimento interior dos benefícios recebidos; segundo, louvando externamente a Deus com a palavra; e, terceiro, procurando recompensar ao benfeitor com obras, segundo as próprias possibilidades.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Não são as riquezas nem a glória o que o coração do menino reclama; o que pede é amor. Só há uma coisa que posso fazer: amar-te, ó Jesus!» (Santa Teresa de Lisieux)
 
«A quem é que o Filho o quer revelar? A vontade do Filho não é arbitrária. O Filho quer envolver no seu conhecimento do Filho todos aqueles que o Pai quer participar d´Ele. Mas a quem é que o Pai recorre? Não aos sábios e aos eruditos, mas o povo simples» (Bento XVI)
 
«(...) Toda a oração de Jesus está nesta adesão amorosa do seu coração de homem ao `mistério da vontade´ do Pai» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.603)
 
Reflexão
 
* Contexto.
Anteriormente Jesus tinha enviado os 72 discípulos, agora eles voltam e contam como foi a experiência. Pode-se observar que o sucesso da missão é devido à superioridade ou supremacia do nome de Jesus, em vez de os poderes do mal. A derrota de Satanás coincide com a chegada do Reino: os discípulos tinham visto isso em sua missão. As forças demoníacas tinham sido enfraquecidas: os demônios tinham se submetidos ao poder do nome de Jesus.
 
* Essa convicção não pode basear a alegria e o entusiasmo do seu testemunho missionário; a alegria tem a sua raiz última em ser conhecidos e amados por Deus. Isto não significa dizer que o ser protegidos por Deus e o relacionamento com Ele sempre nos coloca em uma posição de vantagem diante das forças demoníacas. Aqui entra a mediação de Jesus entre Deus e nós: "Eis que eu vos dei o poder" (v. 19). O poder de Jesus é um poder que nos permite experimentar o sucesso contra o poder demoníaco e nos protege. Um poder que só pode ser transmitido quando Satanás é derrotado. Jesus assistiu a queda de Satanás, mesmo se ainda não está definitivamente derrotado; para frustrar esse poder de Satanás na terra são chamados os cristãos. Esses estão confiantes da vitória, apesar do fato de que eles vivem em uma situação crítica: participam da vitória na comunhão de amor com Cristo mesmo sendo provados pelo sofrimento e morte. No entanto, o motivo da alegria, não está na certeza de escapar ilesos, mas ser amados por Deus. A expressão de Jesus "seus nomes estão escritos nos céus" testemunha que o estar presente no coração de Deus (a memória ) garante a continuidade de nossas vidas na dimensão da eternidade. O sucesso da missão dos discípulos é uma consequência da derrota de Satanás, agora, mostra a benevolência do Pai (vv. 21-22): o sucesso da Palavra de Graça na missão dos setenta e dois, vivida como plano do Pai e na comunhão da ressurreição do Filho, a partir de agora, é a demonstração da benevolência do Pai; a missão torna-se um espaço para a revelação da vontade de Deus no tempo humano. Esta experiência é transmitida por Lucas num contexto de oração: mostra de uma parte a reação no céu ("Eu vou dar graças", v. 21) e de outra aquela sobre a terra (vv. 23-24).
 
* A oração de alegria. Na oração que Jesus dirigiu ao Pai, sob a ação do Espírito, diz-se, que "exulta," exprime a abertura da alegria messiânica e proclama a benevolência do Pai. Torna-se evidente nos pequenos, nos pobres e naqueles que não contam para nada, porque acolheram a palavra transmitida pelos enviados e por isso entram na relação entre as pessoas divinas da Trindade. Em vez disso, os sábios e os doutos, por causa da sua segurança se alegram devido à sua competência intelectual e teológica. Mas esta atitude impede-os de entrar na dinâmica da salvação dada por Jesus. O ensinando que Lucas pretende transmitir aos crentes individualmente, mas também às comunidades eclesiais, podem ser da seguinte forma sintetizado: a humildade abre para a fé; a suficiência das próprias seguranças fecha ao perdão, à luz, à benevolência de Deus. A oração de Jesus tem seus efeitos sobre todos aqueles que se deixam ser envolvidos pela benevolência do Pai.
 
Para um confronto pessoal
1. A missão de levar a vida de Deus para o outro envolve um estilo de vida pobre e humilde. A sua vida é perpassada pela vida de Deus, pela Palavra da graça que vem de Jesus?
2. Tenho confiança no chamado de Deus e no seu poder, que precisa ser expressa através da simplicidade, da pobreza e da humildade?

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Sexta-feira da 26ª semana do Tempo Comum

São Francisco de Assis, diácono
 
1ª Leitura (Jó 38,1.12-21; 40,3-5):
O Senhor falou a Job do meio da tempestade: «Porventura alguma vez na vida deste ordens à manhã e marcaste à aurora o seu lugar, para que ela agarre as extremidades da terra e dela sacuda os malfeitores? Deste ordens à terra para ela se moldar como a argila debaixo do sinete e tingir-se como um vestido, recusando a luz aos malfeitores e quebrando a força do braço erguido? Acaso desceste às nascentes do mar e andaste pelo fundo do abismo? Foram-te abertas as portas da morte e viste os portões do país das trevas? Abrangeste com o olhar a extensão do mundo? Fala, se sabes tudo isto. Qual é o caminho para a morada da luz e onde residem as trevas, para que as possas levar aos seus domínios e ensinar-lhes o caminho da sua casa? Certamente deves saber isto, porque então já eras nascido e é grande o número dos teus anos!...». Job respondeu ao Senhor: «Sinto-me tão pequeno: que poderei responder-Vos? Ponho a mão sobre a minha boca. Falei uma vez, não replicarei; falei duas vezes, nada mais acrescentarei».
 
Salmo Responsorial: 138
R. Conduzi-me, Senhor, pelo caminho da eternidade.
 
Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser: sabeis quando me sento e quando me levanto. De longe penetrais o meu pensamento: Vós me vedes quando caminho e quando descanso, Vós observais todos os meus passos.
 
Onde poderei ocultar-me ao vosso espírito? Onde evitarei a vossa presença? Se subir ao céu, Vós lá estais; se descer aos abismos, ali Vos encontrais.
 
Se voar nas asas da aurora, se habitar nos confins do oceano, mesmo ali a vossa mão me guiará e a vossa direita me sustentará.
 
Vós formastes as entranhas do meu corpo e me criastes no seio de minha mãe. Dou-Vos graças por me terdes feito tão maravilhosamente: são admiráveis as vossas obras.
 
Aleluia. Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 10,13-16): Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Se em Tiro e Sidônia se tivessem realizado os milagres feitos no meio de vós, há muito tempo teriam demonstrado arrependimento, vestindo-se de saco e sentando-se sobre a cinza. Pois bem: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura do que vós. E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Até inferno serás rebaixada! Quem vos escuta, é a mim que está escutando; e quem vos despreza, é a mim que está desprezando; ora, quem me despreza, está desprezando aquele que me enviou».
 
«Quem vos escuta, é a mim que está escutando»
 
Rev. D. Jordi SOTORRA i Garriga (Sabadell, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, vemos Jesus dirigir o seu olhar para aquelas cidades da Galileia que tinham sido a causa das suas preocupações e nas quais Ele tinha pregado e realizado as obras do Pai. Em nenhum destes locais como Corazim, Betsaida e Cafarnaum tinha pregado ou feito milagres. A semeadura tinha sido abundante, mas a colheita não foi boa. Nem Jesus os pode convencer...! Que mistério o da liberdade humana! Podemos dizer não a Deus... A mensagem evangélica não se impõe pela força, apenas se oferece e eu posso fechar-me a ela; posso aceitá-la ou recusá-la. O Senhor respeita totalmente a minha liberdade. Que responsabilidade a minha!
 
As expressões de Jesus: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!» (Lc 10,13) ao terminar a sua missão apostólica expressam mais sofrimento que condenação. A proximidade ao Reino de Deus não foi para aquelas cidades uma chamada à penitência e à mudança. Jesus reconhece que em Sidônia e em Tiro teriam aproveitado melhor toda a graça dispensada aos galileus.
 
A decepção de Jesus é maior quando se trata de Cafarnaum. «Serás elevada até o céu? Até inferno serás rebaixada!» (Lc 10,15). Aqui tinha Pedro a sua casa e Jesus tinha feito desta cidade o centro da sua pregação. Mais uma vez vemos mais um sentimento de tristeza que uma ameaça com estas palavras. O mesmo poderia dizer de muitas cidades e pessoas da nossa época. Julgam que prosperam quando na realidade estão se afundando.
 
«Quem vos escuta, é a mim que está escutando» (Lc 10,16). Estas palavras com que o Evangelho termina são uma chamada à conversão e trazem esperança. Se ouvirmos a voz de Jesus ainda estamos a tempo. A conversão consiste em que o amor supere progressivamente o egoísmo na nossa vida, o qual é um trabalho sempre inacabado. São Máximo diz-nos: «Não há nada tão agradável e amado por Deus como o fato dos homens se converterem a Ele com sincero arrependimento».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«É verdade que a nossa fé não é palpável e não depende dos sentidos. É um dom de Deus que Ele infunde na alma humilde, porque a fé não habita naqueles que estão cheios de orgulho» (São Francisco de Sales)
 
«Apenas a Palavra de Deus, a Palavra de Jesus, nos salva» (Francisco)
 
«A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más ações (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.431)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje dá continuidade ao envio dos setenta e dois discípulos e discípulas
(Lc 10,1-12). No final deste envio Jesus falava de sacudir o pó dos sapatos quando os missionários não fossem bem recebidos (Lc 10,10-12). O evangelho de hoje acentua e amplifica as ameaças aos que se recusam de receber a Boa Nova.
 
* Lucas 10,13-14: Ai de você Corazim e Betsaida! O espaço por onde Jesus andou durante aqueles três anos da sua vida missionária era pequeno. Abrangia uns poucos quilômetros quadrados ao longo do Mar da Galileia em torno das cidades Cafarnaum, Betsaida e Corazim. Foi neste espaço tão pequeno que Jesus realizou a maior parte dos seus discursos e milagres. Ele veio salvar a humanidade inteira, e quase não saiu do limitado espaço da sua terra. Tragicamente, Jesus teve que constatar que o povo daquelas cidades não quis aceitar a mensagem do Reino e não se converteu. As cidades se fixaram na rigidez das suas crenças, tradições e costumes e não aceitaram o convite de Jesus para mudar de vida. “Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que foram feitos no meio de vocês, há muito tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas”. Jesus compara as duas cidades com Tiro e Sidônia que, no passado, foram inimigos ferrenhos de Israel, maltrataram o povo de Deus. Por isso, foram amaldiçoadas pelos profetas (Is 23,1; Jr 25,22; 47,4; Ez 26,3; 27,2; 28,2; Jl 4,4; Am 1,10). E agora, Jesus diz que estas mesmas cidades, símbolos de toda a malvadeza feita ao povo no passado, já teriam feito conversão se nelas tivessem acontecido tantos milagres como em Corazim e Betsaida.
 
* Lucas 10,15: Ai de você Cafarnaum! “Ai de você, Cafarnaum! Será erguida até o céu? Será jogada no inferno, isso sim!”  Jesus evoca a condenação que o profeta Isaías lançou contra a Babilônia. Orgulhosa e prepotente, Babilônia pensava: ”Vou subir até o céu, vou colocar meu trono acima das estrelas de Deus; vou sentar-me na montanha da Assembleia, no cume da montanha celeste. Subirei até as alturas das nuvens e me tornarei igual ao Altíssimo" (Is 14,13-14). Pensava! Mas enganou-se redondamente. Aconteceu o contrário. Diz o profeta: “Agora, aí está você precipitado na mansão dos mortos, nas profundezas do abismo” (Is 14,15). Jesus compara Cafarnaum a esta terrível Babilônia que destruiu monarquia e o templo e levou o povo para o cativeiro do qual nunca mais se recuperou. Como Babilônia, Cafarnaum pensava ser alguma coisa, mas foi parar no inferno mais profundo. O evangelho de Mateus compara Cafarnaum com a cidade de Sodoma, símbolo da pior perversão, que foi destruída pela ira de Deus (Gn 18,16 a 19,29). Sodoma teria feito a conversão se tivesse visto os milagres que Jesus fez em Cafarnaum (Mt 11,23-24). Hoje continua o mesmo paradoxo. Muitos de nós, que somos católicos desde criança, temos tantas convicções consolidadas, que ninguém é capaz de nos converter. E em alguns lugares, o cristianismo, em vez de ser fonte de mudança e de conversão, tornou-se o reduto das forças mais reacionárias da política do país.
 
* Lucas 10,16: Quem rejeita vocês, rejeita a mim! “Quem escuta vocês, escuta a mim, e quem rejeita vocês, rejeita a mim; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou." A frase acentua a identificação dos discípulos com Jesus enquanto rejeitado pelas autoridades. Em Mateus a mesma frase de Jesus, colocada em outro contexto, acentua a identificação dos discípulos com Jesus enquanto acolhido pelo povo (Mt 10,40). Tanto num como noutro, é na doação total de si que os discípulos se identificam com Jesus e que se realiza o encontro deles com Deus, e que Deus se deixa encontrar por quem o procura.
 
Para um confronto pessoal
1) Minha cidade e meu país merecem a advertência de Jesus contra Cafarnaum, Corazim e Betsaida?
2) Como me identifico com Jesus?

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Quinta-feira da 26ª semana do Tempo Comum

Btos. Ambrósio Francisco Ferro, André de Soveral, presbíteros e seus companheiros, Protomártires do Brasil.
São Francisco de Borgia, presbítero
 
1ª Leitura (Jó 19,21-27):
Job tomou a palavra e disse: «Tende compaixão, meus amigos, tende compaixão de mim, pois a mão de Deus me atingiu! Porque me perseguis, como Deus faz, e não vos cansais de me torturar? Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar. Dentro de mim suspira o meu coração».
 
Salmo Responsorial: 27
R. Espero contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos.
 
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me. Diz-me o coração: «Procurai a sua face». A vossa face, Senhor, eu procuro.
 
Não escondais de mim o vosso rosto, nem afasteis com ira o vosso servo. Não me rejeiteis nem me abandoneis, meu Deus e meu Salvador.
 
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia no Senhor.
 
Aleluia. Está próximo o reino de Deus: arrependei-vos e acreditai no Evangelho. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 10,1-12): Naquele tempo, O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não vos demoreis para saudar ninguém pelo caminho!. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa!. Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós. Permanecei naquela mesma casa; comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador tem direito a seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei: O Reino de Deus está próximo de vós. Mas quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: Até a poeira de vossa cidade que se grudou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!. Eu vos digo: naquele dia, Sodoma receberá sentença menos dura do que aquela cidade».
 
«Pedi (...) ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita»
 
Rev. D. Ignasi NAVARRI i Benet (La Seu d'Urgell, Lleida, Espanha)
 
Hoje Jesus nos fala da missão apostólica. Porém «escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois» (Lc 10,1), a proclamação do Evangelho é uma tarefa «que não pode ser delegada a uns poucos especialistas» João Paulo II: todos estamos chamados a essa tarefa e, todos vamos sentirmos responsáveis dela. Cada um desde seu lugar e condição. O dia do Batismo nos disseram: «Sois Sacerdote, Profeta e Rei para a vida eterna». Hoje mais que nunca, nosso mundo precisa do testemunho dos seguidores de Cristo.
 
«A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos» (Lc 10,2): É interessante esse sentido positivo da missão, pois o texto não diz: «Há muito para semear e poucos trabalhadores». Tal vez, hoje teríamos que falar desse jeito, pelo grande desconhecimento de Jesus Cristo e sua Igreja em nossa sociedade. Um olhar esperançado da missão gera otimismo e ilusão. Não nos deixemos abater pela desilusão e a desesperança.
 
No inicio, a missão que nos espera é, ao mesmo tempo, apaixonante e difícil. O anúncio da Verdade e da Vida, nossa missão, não pode nem deve pretender forçar a adesão, pelo contrário, deve suscitar uma livre adesão. As ideias, devem se propor e não impor, nos lembra o Papa.
 
«Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias...» (Lc 10,4): a única força do missionário deve ser Cristo. E para que ele encha sua vida, é preciso que o evangelizador se esvazie de tudo aquilo que não é Cristo. A pobreza evangélica é um requisito importante e, ao mesmo tempo, o testemunho mais crível que o apóstolo pode dar, além de que só esse desprendimento nos fará livres.
 
O missionário anuncia a paz. É portador de paz, porque leva a Cristo, o Príncipe da Paz. Por isso, «Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós» (Lc 10,5-6). Nosso mundo, nossas famílias, nosso Eu pessoal, têm necessidade de Paz. Nossa missão é urgente e apaixonante.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
« A fé nasce da mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo. Por tanto, a predicação da palavra de Deus é necessária para a vida espiritual, como a semeadura é necessária para a vida do corpo» (São Lourenço de Brindes)
 
« A testemunha da vida cristã é a primeira e insubstituível forma da missão: Cristo, de cuja missão somos continuadores, é do “Testigo” por excelência, e o modelo da testemunha cristã» (São João Paulo II)
 
« O povo santo de Deus participa também da função profética [do ensino] de Cristo (...) e aprofunda o conhecimento da mesma, e se torna testemunha de Cristo no meio deste mundo» (Catecismo da Igreja Católica, n° 785)
 
Reflexão
 
* Contexto
. O capítulo 10 do qual o nosso texto é o começo, tem um caráter de revelação. Em 9,51, é dito que Jesus "tomou a firme decisão de começar uma viagem em direção a Jerusalém." Este caminho, expressão do seu ser filial, é caracterizado por uma dupla ação: está intimamente unido ao “ser tirado” de Jesus (v. 51), a sua "vinda", mediante o envio dos seus discípulos (V. 52): há uma ligação no duplo movimento: " ser tirado do mundo" para ir ao Pai, e ser enviado aos homens.
 
* Na verdade, acontece que, por vezes, o mensageiro não é aceito (9,52 e, portanto, deve aprender a ser "entregue", sem se deixar desanimar pela recusa dos homens (9,54-55).
 
* Três cenas curtas fazem o leitor a compreender o que significa seguir a Jesus que vai a Jerusalém para ser retirado do mundo. Na primeira cena é apresentado a um homem que quer seguir Jesus onde quer que vá; Jesus convida-o a abandonar tudo o que proporciona bem-estar e segurança. Aqueles que querem segui-lo devem compartilhar o seu destino de nômade.
 
*
Na segunda cena é Jesus quem toma a iniciativa e chama um homem cujo pai acabou de morrer. O homem pede um tempo para cumprir com o seu dever de enterrar o pai. A urgência de proclamar o reino supera esse dever: a preocupação de enterrar os mortos é inútil, porque Jesus vai além das portas da morte e o exige inclusive para aqueles que o seguem.
 
* Finalmente na terceira cena é apresentado a um homem que se oferece para seguir Jesus, mas apresenta uma condição: despedir-se antes de seus pais. Entrar no reino não admite atrasos. Após esta tríplice renúncia, a expressão de Lc 9,62: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus."  introduz o tema do capítulo 10.
 
* A dinâmica do relato. O trecho, que é o objeto de nossa meditação, começa com expressões bastante densas. A primeira: "Depois disto”, se refere à oração de Jesus e à sua firme decisão de ir a Jerusalém. A segunda relaciona-se com o verbo "designar": "designou  setenta e dois outros discípulos e mandou-os ..." (10,1), onde se especifica que os mandou adiante de si, ou seja, com a mesma resolução que ele se encaminha para Jerusalém.
 
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As recomendações, que Jesus lhes dá antes do envio, são um convite para estar cientes da realidade em que eles são enviados: colheita abundante em contraste com o pequeno número de operários. O Senhor da colheita chega com toda a sua força, mas a alegria desta chegada é dificultada pelo pequeno número de operários. Daí o convite categórico à oração: "Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe" (v. 2). A iniciativa de enviar em missão é de responsabilidade do Pai, mas Jesus transmite a ordem: "Ide", e, em seguida, indica como seguir (vv. 4-11). Ela começa com o equipamento: sem bolsa, nem alforje, nem sandálias. Estes elementos denotam a fragilidade daquele que é enviado e a sua dependência da ajuda que recebe do Senhor e dos habitantes da cidade.
 
* As prescrições positivas são sintetizadas em primeiro lugar na chegada à casa (vv. 5-7) e, em seguida, no êxito na cidade (vv. 8-11). Em ambos os casos não se exclui a rejeição. A casa é o primeiro lugar onde os missionários tem os primeiros intercâmbios, os primeiros relacionamentos, valorizando os gestos humanos de comer, beber e descansar, como mediações simples e comuns para comunicar o evangelho. A  "paz" é o dom que precede a missão deles, ou seja, a plenitude da vida e relacionamentos, e a alegria verdadeira e real é o sinal que marca a chegada do Reino. Não é necessário buscar conforto, é essencial ser acolhido. A cidade torna-se, no entanto, o maior campo de missão: ali se desenvolve a vida, a atividade política, a possibilidade de conversão, de aceitação ou rejeição.
 
* A este último aspecto se une o ato de sacudir a poeira (vv. 10-11), como que se os discípulos, ao abandonar a cidade que os rejeitou, dissessem aos moradores que estes não aprenderam nada ou ainda poderia expressar o corte de relações. Finalmente, Jesus lembra a culpa daquela cidade que se fecha para a proclamação do evangelho (v. 12).
 
Para um confronto pessoal
1) Todos os dias, você é enviado pelo Senhor para anunciar o Evangelho aos seus íntimos (a casa) e aos homens (da cidade). Você está assumindo um estilo pobre, essencial, no testemunho de sua identidade como um cristão?
2) Você está ciente de que o sucesso de seu testemunho não depende de sua capacidade individual, mas somente do Senhor que envia e da sua disponibilidade?

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Quarta-feira da 26ª semana do Tempo Comum

 Santos Anjos da Guarda

1ª Leitura (Jó 9,1-12.14-16): 
Job tomou a palavra e disse aos seus amigos: «Na verdade, eu sei muito bem que é assim: como pode um homem ter razão contra Deus? Se ele quisesse discutir com Deus, nem uma vez em mil poderia responder-Lhe. O coração de Deus é sábio, a sua força é grande: quem se Lhe opôs e saiu ileso? Ele desloca as montanhas sem elas saberem e as derruba no seu furor. Sacode os alicerces da terra e abala as suas colunas. Dá ordens ao sol e ele não nasce e põe um selo sobre as estrelas. Sozinho Ele estende os céus e caminha sobre as ondas do mar. Criou a Ursa Maior e o Orion, as Plêiades e as Constelações do Sul. Faz prodígios insondáveis e maravilhas sem conta. Se vier junto de mim, não O vejo, se passar a meu lado, não O sinto. Se apanhar uma presa, quem Lho impedirá? Quem Lhe dirá: ‘Que estais a fazer?’. Como iria eu então responder-Lhe e encontrar argumentos contra Ele? Embora eu tivesse razão, não devo replicar, só tenho de implorar Àquele que é meu juiz. Ainda que eu O chamasse e Ele me respondesse, não tenho a certeza de que escutasse a minha voz».
 
Salmo Responsorial: 87
R. Senhor, chegue até Vós a minha súplica.
 
A Vós clamo, Senhor, todo o dia, estendo para Vós as minhas mãos. Fareis Vós maravilhas entre os mortos? Irão levantar-se os defuntos para Vos louvar?
 
Haverá no sepulcro quem fale da vossa bondade ou da vossa fidelidade no reino dos mortos? Serão conhecidas nas trevas as vossas maravilhas, na terra do esquecimento a vossa justiça?
 
Eu, porém, clamo por Vós, Senhor, de manhã a minha oração sobe à vossa presença. Porque me afastais de Vós, Senhor, por que escondeis de mim o vosso rosto?
 
Aleluia. Considero todas as coisas como prejuízo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 9,57-62): Enquanto estavam a caminho, alguém disse a Jesus: «Eu te seguirei aonde quer que tu vás». Jesus respondeu: «As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». Então disse a outro: «Segue-me». Este respondeu: «Permite-me primeiro ir enterrar meu pai». Jesus respondeu: «Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai e anuncia o Reino de Deus». Um outro ainda lhe disse: «Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de minha casa». Jesus, porém, respondeu-lhe: «Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus».

«Segue-me»

Frei Lluc TORCAL Monge do Monastério de Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)

Hoje, o Evangelho invita-nos a reflexionar, com muita claridade e não com menos insistência, sobre o ponto central da nossa fé: o seguimento radical de Jesus. «Eu te seguirei aonde quer que tu vás» (Lc 9,57). Com que simplicidade a expressão que propõe um cambio total da vida de uma pessoa!: «Segue-me» (Lc 9,59). Palavras do Senhor que não admitem desculpas, demoras, condições, nem traições...
 
A vida cristã é este seguimento radical de Jesus. Radical, não só porque em toda a sua duração quere estar debaixo da guia do Evangelho (porque compreende, portanto, todo o tempo da nossa vida), mas sim -sobretudo- porque todos os seus aspectos -desde os mais extraordinários até aos mais ordinários- querem ser e hão de ser manifestação do Espírito Santo de Jesus Cristo que nos anima. Efetivamente, desde o Batismo, a nossa já não é a vida de uma pessoa qualquer: levamos a vida de Cristo inserida em nós! Pelo Espírito Santo derramado nos nossos corações, já não somos nós que vivemos, senão que é Cristo que vive em nós. Assim é a vida do cristão, é vida cheia de Cristo, ressume Cristo desde as suas raízes mais profundas: esta é a vida somos chamados a viver.
 
O Senhor, quando veio ao mundo, ainda que «todo o gênero humano tivesse o seu lugar, Ele não o teve: não encontrou lugar no meio dos homens (...), só numa manjedoura, no meio do gado e dos animais, e ao lado das pessoas mais simples e inocentes. Por isso disse: As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (São Jerônimo). O Senhor encontrará sítio no meio de nós se como João Batista, deixamos que Ele cresça e que nós diminuamos, quer dizer, se deixamos crescer a Aquele que já vive em nós sendo dúcteis e dóceis ao seu Espírito, a fonte de toda humildade e inocência.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O consentimento à graça depende muito mais da graça do que apenas da nossa própria vontade; mas a resistência à graça depende unicamente da nossa vontade. Tal é a mão amorosa de Deus» (São Francisco de Sales)
 
«Deus, a fim de nos dar o movimento do seu poder sem impedir o da nossa vontade, ajusta o seu poder à sua doçura e à liberdade do nosso querer» (Bento XVI)
 
«(...) A vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes reforça, o seu dever de aplicar as energias e os meios recebidos do Criador no serviço da justiça e da paz neste mundo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.820)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* No evangelho de hoje continua a longa e dura caminhada de Jesus desde periferia lá da Galileia para a capital.
 Saindo da Galileia, Jesus entra na Samaria e segue para Jerusalém. Nem todos o compreendem. Muitos o abandonam, pois as exigências são grandes. Mas outros se aproximam e se apresentam para seguir Jesus. No início da sua atividade pastoral, lá na Galileia, Jesus havia chamado três pessoas: Pedro, Tiago e João (Lc 5,8-11). Aqui na Samaria, também são três que se apresentam ou são chamados. Nas respostas de Jesus, transparece quais as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus.
 
* Lucas 9,56-58: O primeiro dos três novos discípulos. “Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: "Eu te seguirei para onde quer que fores." Mas Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça." A esta primeira pessoa que quer ser discípulo, Jesus pede o despojamento total de tudo: não ter onde reclinar a cabeça, nem buscar uma falsa segurança onde reclinar o pensamento da cabeça.
 
* Lucas 9,59-60: O segundo dos três novos discípulos. “Jesus disse a outro: Siga-me. Esse respondeu: Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai." Jesus respondeu: Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus." A esta segunda pessoa chamada por Jesus para segui-lo, Jesus pede para deixar que os mortos enterrem seus mortos. Trata-se de um provérbio popular usado para dizer: deixe para lá as coisas do passado. Não perca tempo com o que já passou e olhe para a frente. Depois de ter descoberto a vida nova em Jesus, o discípulo não deve perder tempo com o que já passou.
 
* Lucas 9,61-62: O terceiro dos três novos discípulos. “Outro ainda lhe disse: Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa. Mas Jesus lhe respondeu: Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus". A esta terceira pessoa chamada para ser discípulo, Jesus pede para romper com os laços familiares. Em outra ocasião ele tinha dito: “Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26; Mt 10,37). Jesus é mais exigente que o profeta Elias que permitiu que Eliseu despedir-se dos seus pais (1Rs 19,19-21). Significa também romper com os laços nacionalistas da raça e com a estrutura da família patriarcal.

* São três exigências fundamentais apresentadas como condição para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus: (1) abandonar os bens materiais, (2) não se agarrar aos bens pessoais vividos e acumulados no passado, e (3) romper com os laços familiares. Na realidade, ninguém, nem mesmo querendo, pode romper com os laços familiares, nem com as coisas vividas no passado. O que se exige é saber reintegrar tudo (bens materiais, vida pessoal e vida familiar) de maneira nova em torno do novo eixo que é Jesus e a Boa Nova de Deus que ele nos trouxe.

* Jesus, ele mesmo, viveu e realizou o que pedia dos seus seguidores e seguidoras. Com a sua decisão de subir para Jerusalém Jesus revela qual é o seu projeto. A sua viagem a Jerusalém (Lc 9,51 a 19,27) é apresentada como assunção (Lc 9,51), êxodo (Lc 9,31) ou travessia (Lc 17,11). Chegando em Jerusalém, ele realiza o êxodo, a assunção ou a travessia definitiva deste mundo para o Pai (Jo 13,1). Só uma pessoa verdadeiramente livre poderia realizá-lo, pois um tal êxodo supõe a entrega radical da própria vida pelo irmãos (Lc 23,44-46; 24,51). Este é o êxodo, a travessia, a assunção que as comunidades devem realizar para levar adiante o projeto de Jesus

Para um confronto pessoal
1) Compare cada uma das três exigências com a sua própria vida
2) Quais os problemas que apareceram em sua vida como consequência da decisão que tomou de seguir Jesus?