sexta-feira, 26 de abril de 2024

29 de abril

 
Beato Nicolau de Narbonne
Presbítero e 8º Prior Geral de nossa Ordem
(1266 – 1271)
 
Nicolau da França ou Nicolau de Narbonne († 1280 ou 1282) Carmelita, sucessor de S. Simão Stock foi Geral da Ordem, e autor da “Ignea Sagitta” (Flecha de Fogo), que é uma das obras fundamentais da espiritualidade carmelita e na qual defende a volta da Ordem à espiritualidade do deserto vivida pelos primeiros eremitas e que, segundo ele, seus irmãos haviam abandonado em favor do apostolado urbano, afirmando que a contemplação é impossível em meio ao barulho e confusão. Morreu no dia 29 de abril de 1280 ou 1281.
 
Salmodia, leitura, Responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Senhor, que destes ao Beato Nicolau, a graça de imitar fielmente a Cristo pobre e humilde, fazei que também nós, vivendo plenamente a nossa vocação, no meio das vicissitudes temporais, abracemos de todo o coração as realidades eternas e   caminhemos para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, vosso Filho, Ele que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

V Domingo da Páscoa

São Luís Maria Grignion de Montfort, presbítero
Bta Maria Felícia de Jesus Sacramentado, virgem de nossa Ordem
Santa Gianna Beretta Molla, mãe de família
 
1ª Leitura (At 9,26-31):
Naqueles dias, Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. A partir desse dia, Saulo ficou com eles em Jerusalém e falava com firmeza no nome do Senhor. Conversava e discutia também com os helenistas, mas estes procuravam dar-lhe a morte. Ao saberem disto, os irmãos levaram-no para Cesareia e fizeram-no seguir para Tarso. Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e vivendo no temor do Senhor e ia crescendo com a assistência do Espírito Santo.
 
Salmo Responsorial: 21
R. Eu Vos louvo, Senhor, na assembleia dos justos.
 
Cumprirei a minha promessa na presença dos vossos fiéis. Os pobres hão de comer e serão saciados, louvarão o Senhor os que O procuram: vivam para sempre os seus corações.
 
Hão de lembrar-se do Senhor e converter-se a Ele todos os confins da terra; e diante d’Ele virão prostrar-se todas as famílias das nações.
 
Só a Ele hão de adorar todos os grandes do mundo, diante d’Ele se hão de prostrar todos os que descem ao pó da terra.
 
Para Ele viverá a minha alma, há-de servi-lo a minha descendência. Falar-se-á do Senhor às gerações vindouras e a sua justiça será revelada ao povo que há-de vir: «Eis o que fez o Senhor».
 
2ª Leitura (1Jo 3,18-24): Meus filhos, não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Deste modo saberemos que somos da verdade e tranquilizaremos o nosso coração diante de Deus; porque, se o nosso coração nos acusar, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas. Caríssimos, se o coração não nos acusa, tenhamos confiança diante de Deus e receberemos d’Ele tudo o que Lhe pedirmos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que Lhe é agradável. É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu.
 
Aleluia. Diz o Senhor: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós; quem permanece em Mim dá muito fruto». Aleluia.
 
Evangelho (Jo 15,1-8): «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que vos falei. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos».
 
«Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto»
 
Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho apresenta-nos a alegoria da videira e os ramos. Cristo é a verdadeira videira, nós somos os ramos e o Pai o agricultor.
 
O Pai pretende que demos fruto. É logico. Um agricultor semeia a videira e a cultiva para que produza fruto abundante. Se criarmos uma empresa, vamos querer que produza. Jesus insiste: «Fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto» (Jo 15,16).
 
És um escolhido. Deus te olhou. Pelo Batismo te enxertou na videira que é Cristo. Tu tens a vida de Cristo, a vida cristã. Possuis o elemento principal para dar fruto: a união com Cristo, porque «o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira» (Jo 15,4). Jesus o disse taxativamente: «sem mim, nada podeis fazer» (Jo 15,5). «Sua força é suavidade; nada tão brando como isto, e nada como isto tão firme» (São Francisco de Sales). Quantas coisas quiseste fazer afastado de Cristo? O fruto que o Pai espera de nós é aquele das boas obras, da prática das virtudes. Qual é a união com Cristo que nos faz capazes de dar este fruto? A fé e a caridade, ou seja, permanecer em graça de Deus.
 
Quando vives em graça, todos os atos de virtude são frutos agradáveis ao Pai. São obras que Jesus Cristo faz através de ti. São obras de Cristo que dão glória ao Pai e convertem-se em céu para ti. Vale a pena viver sempre em graça de Deus! «Quem não permanecer em mim [pelo pecado] será lançado fora, como um ramo, e secará; depois (…) são lançados ao fogo e queimados» (Jo 15,6). É uma clara alusão ao inferno. Eres como um ramo cheio de vida?
 
Que a Virgem Maria nos ajude a aumentar a graça para produzirmos frutos em abundância que deem glória ao Pai.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Tornar-se semelhante a Deus não é obra nossa, nem fruto do poder humano, é obra da generosidade de Deus, que desde a sua origem ofereceu à nossa natureza a graça da semelhança com Ele» (São Gregório de Nisa)
 
«A videira, como atributo cristológico, significa a união indissolúvel de Jesus com os seus» (Bento XVI)
 
«Sendo Cristo, enviado do Pai, a fonte e a origem de todo o apostolado da Igreja, é evidente que a fecundidade do apostolado (…) depende da sua união vital com Cristo. Segundo as vocações, (…) o apostolado toma as formas mais diversas. Mas é sempre a caridade (…) a alma de todo o apostolado» (Catecismo da Igreja Católica, nº 864)
 
“Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor.”
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal
 
*
Estes poucos versículos fazem parte do grande discurso de Jesus aos seus discípulos no momento íntimo da Última Ceia e começa com o versículo 3 do capítulo 13 prolongando-se até ao fim do capítulo 17. Trata-se de uma unidade muito estreita, profunda e indissolúvel, que não tem par nos outros evangelhos e que recapitula em si toda a revelação de Jesus na vida divina e no mistério da Santíssima Trindade; é o texto que diz o que nenhum outro texto da Sagrada Escritura é capaz de dizer em relação à vida cristã, à sua força, aos seus deveres, às suas alegrias e dores, às suas esperanças e à sua luta neste mundo e na Igreja. São poucos versículos, mas transbordam de amor, daquele amor até ao fim, que Jesus decidiu viver com os seus, conosco, hoje e sempre. Pela força deste amor, como supremo e definitivo gesto de ternura infinita, que sintetiza em si todos os outros gestos de amor, o Senhor deixa aos seus uma presença nova, um modo novo de existir: através da parábola da vide e dos seus sarmentos e através do maravilhoso verbo permanecer, muitas vezes repetido, Jesus dá início a esta história nova com cada um de nós, que se chama inabitação. Ele não pode ficar junto de nós porque volta para o Pai, mas permanece dentro de nós.
 
Para ajudar na leitura da passagem
 
vv. 1-3: Jesus revela-se a si mesmo como a verdadeira vide, que produz bons frutos, óptimo vinho para o seu Pai, que é o agricultor, e revela-nos a nós, seus discípulos, como sarmentos, que têm necessidade de permanecer unidos à vide para não morrer e dar fruto. A poda, que o Pai realiza sobre os sarmentos através da espada da sua Palavra, é uma purificação, um gozo, um canto.
 
vv. 4-6: Jesus assinala aos seus discípulos o segredo para que possam continuar a viver esta relação íntima com Ele: é permanecer. Como Ele entra dentro deles e permanece neles e nunca mais fica fora, assim também eles devem permanecer n'Ele, dentro d'Ele; este é o único modo para ser plenamente consolados, para poder resistir no caminho da vida e para poder dar o bom fruto, que é o amor.
 
v. 7: Jesus, uma vez mais, deixa no coração dos seus, o dom da oração, a pérola preciosíssima, única, e explica-nos que permanecendo n'Ele, poderemos aprender a verdadeira oração, a que pede com insistência o dom do Espírito Santo e que sabe que será escutada.
 
v. 8: Jesus chama-nos uma vez mais a Ele, pede-nos que o sigamos, para nos tornarmos e ser sempre seus discípulos. O permanecer faz nascer a missão, o dom da vida pelo Pai e pelos irmãos; se permanecermos verdadeiramente em Jesus, permaneceremos também no meio dos irmãos, como dom e como serviço. Esta é a glória do Pai.
 
Algumas perguntas
 
a) “Eu sou”: é muito belo que a passagem comece com esta afirmação, que é como um canto de alegria, de vitória do Senhor, que Ele gosta de cantar continuamente dentro da vida de cada um de nós. “Eu sou”: e repete-o ao infinito, cada manhã, cada tarde, quando chega a noite, enquanto dormimos e mesmo quando d'Ele não nos lembramos. Ele vive em função de nós: existe para seu Pai, por nós e para nós. Repouso sobre estas palavras e não só as escuto, mas faço-as chegar dentro de mim, à minha mente, ao mais recôndito da minha memória, ao meu coração, a todos os meus sentimentos e retenho-as para ruminá-las e absorver aquele seu Ser no meu ser. Nesta Palavra, eu compreendo que não existo se não existir n’Ele e que não me posso tornar coisa alguma a não ser que permaneça no ser de Jesus. Procuro descer ao mais profundo do meu ser, vencendo os medos, atravessando toda a obscuridade que possa encontrar e recolho aquela parte do meu ser, do meu eu, que sinto sem vida. Tomo-a nas minhas mãos e levo-a a Jesus, entrego-a ao seu “Eu sou”.
 
b) A vide traz-me à mente o vinho, esse fruto tão bom e precioso, faz-me pensar na aliança que Jesus realiza conosco, nova e eterna, aliança de amor, que nada nem ninguém poderá romper. Estou disposto a permanecer dentro deste abraço, dentro deste sim contínuo da minha vida, que se deixa entrelaçar com a sua? Levantarei também eu, como o salmista, o cálice da aliança, invocando o nome do Senhor e dizendo-lhe que sim, que o amo?
 
c) Jesus chama a seu Pai “agricultor” ou “vinhateiro”, utilizando um termo muito belo que leva dentro de si toda a força do amor de quem se dedica ao cultivo da terra; expressa um curvar-se sobre a terra, um acercar-se do corpo e do ser, um contacto prolongado, um intercâmbio vital. O Pai faz exatamente isto conosco. São Paulo diz: “O agricultor, que se afadiga, deve ser o primeiro a recolher os frutos da terra” (2Tim 2, 6) e São Tiago recorda-nos que “o agricultor espera pacientemente os frutos da terra (Tg 5, 7). Desiludirei, eu terra, a esperança do Pai que me cultiva cada dia, cavando a terra, limpando-me das pedras, colocando bom fertilizante e construindo uma vala em redor, para que eu permaneça protegido? A quem entrego os frutos da minha existência? Para que existo eu, para quem decido e escolho o viver de cada dia, de cada manhã, quando me levanto?
 
d) Sigo com atenção o texto e sublinho dois verbos, que se repetem com muita frequência: “dar fruto” e “permanecer”; entendo que estas duas realidades são símbolo da mesma vida e estão  entrelaçadas, uma depende da outra. Somente permanecendo é possível dar fruto e, na realidade, o único e verdadeiro fruto que nós, seus discípulos, podemos dar neste mundo é precisamente o permanecer. Onde permaneço eu, em cada dia, durante todo o dia? Com quem permaneço? Jesus une sempre este verbo a esta partícula estupenda, gigantesca: “em Mim”. Confronto-me com estas duas palavras: eu estou “em”, ou seja, estou dentro, vivo no mais profundo, escavo para buscar o Senhor, como se escava para fazer um poço (cf. Gen 26, 18) ou para procurar um tesouro (cf. Prov 2, 4), ou antes, estou fora, sempre disperso nas diversas superfícies deste mundo, longe o mais possível da intimidade, da relação e do contacto com o Senhor?
 
e) Por duas vezes Jesus coloca-nos diante da realidade da sua Palavra que nos mostra que é ela que nos torna puros e nos abre o caminho da oração verdadeira. A Palavra é-nos anunciada e se nos dá como presença permanente em nós. Também ela, na verdade, tem a capacidade de permanecer, de construir a sua casa no nosso coração. Devo perguntar-me: que ouvidos tenho eu para escutar este anúncio de salvação e de bem, que o Senhor me envia através da sua Palavra? Deixo espaço à escuta, a esta escuta profunda, da qual toda a Sagrada Escritura me fala continuamente na Lei, nos Profetas, nos Salmos, nos Escritos apostólicos? Deixo-me encontrar e alcançar até ao coração pela Palavra do Senhor na oração, ou prefiro fiar-me de outras palavras, mais suaves, mais humanas, semelhantes às minhas? Tenho medo da voz do Senhor, que me fala urgentemente e sempre?

* Como sarmento, procuro o modo de estar sempre mais enxertado na minha Vide, que é o Senhor Jesus.
Bebo, neste momento, da sua Palavra, da sua seiva boa, procurando penetrar mais em profundidade para absorver o alimento escondido, que me dá a verdadeira vida. Estou atento às palavras, aos verbos, às expressões que Jesus usa e que me enviam para outras passagens das divinas Escrituras e deixo-me, deste modo, purificar.
 
* O encontro com Jesus, o “Eu Sou”. Esta passagem apresenta-nos um dos textos em que aparece esta expressão tão forte, que o Senhor nos envia para revelar-se a si mesmo. É muito belo fazer um longo passeio pela Escritura à procura de outros textos como este, em que a voz do Senhor nos fala assim diretamente dele, da sua essência mais profunda. Quando o Senhor diz e repete até ao infinito, de mil maneiras, de mil formas diferentes “Eu Sou”, não o faz para nos rebaixar ou humilhar, mas para reforçar fortemente o seu amor transbordante por nós, que deseja fazer-nos participar e viver dessa mesma vida que lhe pertence. Se diz “Eu Sou”, é para dizer também: “Tu És”, e dizê-lo a cada um de nós, a todo o seu filho e filha que vem a este mundo. É uma transmissão fecunda e ininterrupta de ser, de essência, e eu não quero deixá-la cair no vazio, mas quero acolhê-la e recolhê-la dentro de mim. Sigo, pois, as pegada luminosa do “Eu Sou” e procuro parar a cada passo. “Eu sou o teu escudo” (Gen 15, 1), “Eu sou o Deus de Abraão teu pai” (Gen 24, 26, “Eu sou o Senhor, que te livrou e te livrará do Egipto” (Ex 6, 6), e de qualquer faraó, que atente contra a vossa vida, “Eu sou o que te cura” (Ex 15, 26). Deixo-me envolver pela luz e pela força destas palavras, que realizam o milagre do que dizem: realizam-no hoje também, precisamente para mim, nesta lectio. Continuo e leio no livro do Levítico, pelo menos 50 vezes, esta afirmação de salvação: “Eu sou o Senhor” e creio nesta palavra e adiro a ela com todo o meu ser e com o meu coração digo: “Sim, na verdade o Senhor é o meu Senhor, fora dele não há outro”. Noto que a Escritura aprofunda cada vez mais, à medida que o caminho avança, também ela avança dentro de mim e conduz-me a uma relação sempre mais intensa com o Senhor; o livro dos Números começa por dizer: “Eu sou o Senhor que moro no meio dos Israelitas” (Num 35, 34). “Eu sou” é o que está presente, aquele que não se afasta, que não vira as costas e se vai; é aquele que de perto cuida de nós, desde dentro, como só Ele pode fazê-lo: leio Isaías e recebo vida: 41, 10; 43, 3; 45, 6, etc.
 
* O santo Evangelho é uma explosão de ser, de presença, de salvação; percorro-o deixando-me guiar sobretudo por João: 6, 48; 8, 12; 10, 9.11; 11, 15; 14, 6; 18, 37. Jesus é o pão, a luz, a porta, o pastor, a ressurreição, o caminho, a verdade, a vida, é o rei; e tudo isto por mim, por nós, e assim quero acolhê-lo, conhecê-lo, amá-lo e quero aprender, dentro destas palavras, a dizer-lhe: “Senhor, Tu és!”. É este “Tu” que dá significado ao meu eu, que faz da minha vida uma relação, uma comunhão; sei com certeza que só aqui eu gozo plenamente e vivo para sempre.
 
* A vinha, a vide e o bom fruto. Israel é a vinha de Deus, vinha predileta, escolhida, plantada sobre uma fértil colina, num lugar com terra límpida, lavrada, livre de pedras, guardada, cuidada, amada, estendida que o próprio Deus plantou (cf. Is 5, 1s; Jer 2, 21). Esta vinha é tão amada que nunca deixou de ressoar para ela o cântico de amor do seu amado; notas fortes e doces ao mesmo tempo, notas portadoras de vida verdadeira que atravessaram a antiga aliança e chegaram, ainda mais claras, à nova aliança. Primeiro cantava o Pai, agora canta Jesus, mas nos dois é a voz do Espírito que se faz sentir, como diz o Cântico dos Cânticos: “A voz da rola já se ouve... e as vinhas floridas exalam perfume” (Ct 2, 12s). É o Senhor Jesus que nos atrai, que nos leva do antigo ao novo, de amor em amor, para uma comunhão sempre mais forte até à identificação: “Eu sou esta vinha, mas sou-o também vós em mim”. Portanto, está claro: a vinha é Israel, é Jesus e somos nós. Sempre a mesma, sempre nova, sempre mais eleita e predileta, amada, cuidada, custodiada, visitada: visitada pelas chuvas e visitada com a Palavra; enviada diariamente pelos profetas, visitada com o envio do Filho, o Amor, que espera amor, ou seja, o fruto. “Ele esperou que produzisse uvas, mas só deu agraços” (Is 5, 2); no amor a desilusão está sempre à espreita. Detenho-me sobre esta realidade, olho para dentro de mim e procuro o lugar de fechamento, de aridez, de morte. Por que é que a chuva não veio? Repito a mim mesmo estas palavras, que ressoam frequentemente nas páginas bíblicas: “O Senhor espera....” (cf. Is 30, 18; Lc 13, 6-9). Quer o fruto da conversão (cf. Mt 3, 8), como nos manda dizer pela boca de João; os frutos da palavra, que nascem da escuta, do acolhimento e da sua guarda, como nos dizem os sinópticos (cf. Mt 13, 23; Mc 4, 20: Lc 8, 15), os frutos do Espírito, como explica São Paulo (cf. Gal 5, 22). “Quer que levemos fruto de toda a espécie de boas obras” (Col 1, 10), mas sobretudo, parece-me, o Senhor espera e deseja “o fruto do ventre” (cf. Lc 1, 42), ou seja, Jesus, por quem somos verdadeiramente benditos e ditosos. Jesus, com efeito, é a semente que, morrendo, dá muito fruto dentro de nós, na nossa vida (cf. Jo 12, 24) e desafia toda a solidão, fechamento, lançando-nos para os irmãos. Este é o fruto verdadeiro da conversão, semeado na terra do nosso ventre; isto é tornar-se seus discípulos e, enfim, esta é a verdadeira glória do Pai.
 
* A poda como purificação que dá gozo. Nesta passagem evangélica, o Senhor oferece-me outro caminho que devo percorrer atrás d'Ele e com Ele: é um caminho de purificação, de renovação, de ressurreição e vida nova: está oculto pela palavra podar, mas posso descobri-lo melhor, de iluminá-lo, graças à sua própria Palavra, que é a única mestra, a única guia segura. O texto grego usa o termo “purificar”, para indicar esta ação do podador sobre as suas vides; é verdade, Ele poda, corta com a espada afiada da sua Palavra (cf. Hb 4, 12) que, por vezes, nos faz sangrar; mas o seu amor permanece, penetra cada vez mais para nos purificar e refinar. Sim, o Senhor senta-se como lavandeiro para purificar, ou é como o ourives para tornar mais resplandecente e luminoso o ouro que tem nas suas mãos (cf. Mal 3, 3). Jesus traz consigo uma purificação nova, a prometida desde há muito tempo pelas Escrituras e esperada para os tempos messiânicos. Não é uma purificação que se alcança mediante o culto, a observância da lei ou sacrifícios, purificação somente provisória, incompleta, temporal e figurada. Jesus realiza uma purificação íntima, total, a do coração e da consciência como cantava Ezequiel: “Purificar-vos-ei de todos os vossos ídolos; dar-vos-ei um coração novo... Quando eu vos purificar de todas as vossas iniquidades, farei que habiteis nas vossas cidades e as vossas ruínas serão reconstruídas...” (Ez 36, 25ss.33). Leio também em Ef 5, 26 e Tt 2, 14, muito bons e grandes testemunhos, que me ajudam a entrar melhor dentro da luz e da graça desta obra de salvação, desta poda espiritual que o Pai realiza em mim.
 
* Há um versículo do Cântico dos Cânticos que me pode ajudar a compreender ainda melhor e que diz assim: “O tempo do canto voltou” (Ct 2, 12), usando, contudo, um verbo que significa ao mesmo tempo “podar”, “cortar” e “cantar”. Portanto, a poda é tempo de canto, de gozo. É o meu coração que canta, diante e dentro da Palavra, é a minha alma que se regozija, pela fé, porque sei que através desta longa e magnífica peregrinação pelas Escrituras, também eu me torno participante da vida de Jesus, consigo unir-me a Ele, o puro, o santo, o Verbo imaculado e permanecendo n'Ele, sou lavado, purificado com a infinita pureza da sua vida. Não para mim, não para permanecer só, mas para dar muito fruto, para ser sarmento. Junto a outros sarmentos, na vida de Jesus Cristo.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

28 de abril

 
Bta Maria Felícia de Jesus Sacramentado
Virgem de nossa Ordem
 
Maria Felicia Guggiari Echeverría, chamada Chiquitunga, nasceu aos 12 de janeiro de 1925 em Villarrica del Espíritu Santo, Paraguai. Aos 16 anos se incorpora na Ação Católica e é nomeada responsável pelo setor de meninas, chamado “Pequenas”. Neste movimento encontrou um ideal e um objetivo que orientou toda a sua vida. No dia 14 de agosto de 1955, veste o Hábito de Carmelita Descalça com o nome de Maria Felícia de Jesus Sacramentado. Faleceu com 34 anos, em Assunção, no dia 28 de abril de 1959. Sua beatificação foi celebrada em 23 de junho de 2018, em Assunção, sob o pontificado do Papa Francisco.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Deus Eterno e Todo-poderoso, que Vos alegrais em fazer a Vossa morada no coração dos homens e derramastes no coração da Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado o fogo do Vosso amor, levando-a a doar sua juventude no apostolado laical e a imolar-se por todos na vida contemplativa do Carmelo,  ajudai-nos com a vossa graça viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

 

Sábado IV da Páscoa

Nossa Senhora de Montserrat
Santa Zita, virgem
 
1ª Leitura (At 13,44-52):
No segundo sábado em que Paulo e Barnabé estiveram em Antioquia da Pisídia, reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias às palavras de Paulo. Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam: «Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Mas uma vez que a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, porque assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem isto, os gentios encheram-se de alegria e glorificaram a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda a região. Mas os judeus instigaram algumas senhoras piedosas mais distintas, bem como os homens principais da cidade, e moveram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do território. Estes sacudiram contra eles a poeira dos pés e seguiram para Icônico. Entretanto, os discípulos ficavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
 
Salmo Responsorial: 97
R. Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.
 
Aleluia. Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade, diz o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 14,7-14): Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Se me conhecestes, conhecereis também o meu Pai. Desde já o conheceis e o tendes visto». Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta». Jesus respondeu: «Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao menos, por causa destas obras. «Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai. E o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei».
 
«Eu estou no Pai e que o Pai está em mim»
 
P. Jacques PHILIPPE (Cordes sur Ciel, França)
 
Hoje, estamos convidados a reconhecer em Jesus ao Pai que se nos revela. Filipe expressa uma intuição muito justa: «Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta» (Jo, 14, 8). Ver o Pai é descobrir Deus como origem, como vida que brota, como generosidade, como dom que constantemente renova cada coisa. Do que mais precisamos? Procedemos de Deus, e cada homem e, ainda de que não seja consciente, leva o profundo desejo de voltar a Deus, de reencontrar a casa paterna e permanecer aí para sempre. Hei aqui todos os bens que possamos desejar: A vida, a luz, o amor, a paz... São Inácio de Antioquia, que foi mártir no início do século dizia: «Há em mim um água viva que murmura e disse dentro de mim: Vem ao Pai!».
 
Jesus nos faz entrever a profunda intimidade recíproca que existe entre Ele e o Pai. «Eu estou no Pai e que o Pai está em mim» (Jo 14,11). O que Jesus diz e que faz acha sua fonte no Pai e, o Pai se expressa plenamente em Jesus. Todo o que o Pai deseja nos dizer se encontra nas palavras e nos atos do Filho. Todo o que Ele quer cumprir no nosso favor o cumpre pelo seu Filho. Acreditar no Filho nos permite ter «aceso a Deus» (Ef 2,18).
 
A fé humilde e fiel em Jesus, a eleição de lhe seguir e lhe obedecer, dia trás dia, nos põe em contato misterioso, mas real com o mesmo mistério de Deus e, nos faz beneficiários de todas as riquezas de sua benevolência e misericórdia. Esta fé permite ao Pai levar adiante, através de nós, a obra da graça que começou no seu Filho: «Quem crê em mim fará as obras que eu faço» (Jo 14,12).
 
«E o que pedirdes em meu nome, eu o farei»
 
Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, quarto Sábado de Páscoa, a Igreja convida-nos a considerar a importância que tem para um cristão, conhecer Cristo cada vez mais. Com que ferramentas contamos para o fazer? Com diversas e, todas elas, fundamentais: a leitura atenta e meditada do Evangelho; nossa resposta pessoal na oração, esforçando-nos para que seja um verdadeiro diálogo de amor, e não um mero monólogo introspectivo, e o desejo renovado diariamente por descobrir Cristo no nosso próximo mais imediato de nós: um familiar, um amigo, um vizinho que talvez necessite da nossa atenção, do nosso conselho, da nossa amizade.
 
«Senhor, mostra-nos o Pai», pede Filipe (Jo 14,8). Uma boa petição para que a repitamos durante todo este Sábado. —Senhor, mostra-me o teu rosto. E podemos perguntar-nos: como é o meu comportamento? Os outros, podem ver em mim o reflexo de Cristo? Em que coisa pequena poderia lutar hoje? Aos cristãos nos é necessário descobrir o que há de divino na nossa tarefa diária, a marca de Deus no que nos rodeia. No trabalho, na nossa vida de relação com os outros. E também se estamos doentes: a falta de saúde é um bom momento para nos identificarmos com Cristo que sofre. Como disse Santa Teresa de Jesus, «Se não nos determinarmos a engolir de uma vez a morte e a falta de saúde, nunca faremos nada».
 
O Senhor no Evangelho assegura-nos: «Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei» (Jo 14,13). —Deus é o meu Pai, que vela por mim como um Pai amoroso: não quer para mim nada de mau. Tudo o que passa —tudo o que me passa— é para o bem da minha santificação. Ainda que, com o olhos humanos, não o entendamos. Ainda que não o entendamos nunca. Aquilo —o que quer que seja – Deus o permite. Confiemos nele da mesma maneira que confiou Maria.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Oremos como Deus, nosso mestre, nos ensinou. Pois se como disse fará o que pedimos ao Pai em seu nome, quão mais eficaz não será a nossa oração em nome de Cristo, se rezarmos com as suas próprias palavras?» (S. Cipriano)
 
«O convite do Senhor para O conhecermos é dirigido a cada um de vós, em qualquer lugar ou circunstância em que nos encontremos. Basta tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o tentar encontrar, todos os dias, sem descanso» (Francisco)
 
«Toda a vida de Cristo é revelação do Pai: as suas palavras e atos, os seus silêncios e sofrimentos, a maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: Quem Me vê, vê o Pai´ (Jo 14, 9); e o Pai: Este é o meu Filho predileto: escutai-O´ (Lc 9, 35)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 516)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* João 14,7: Conhecer Jesus é conhecer o Pai.
  O texto do evangelho de hoje é a continuação do de ontem. Tomé tinha perguntado: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus respondeu: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. E acrescentou: “Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram". Esta é a primeira frase do evangelho de hoje. Jesus sempre fala do Pai, pois era a vida dele que transparecia em tudo que falava e fazia. Esta referência constante ao Pai provoca a pergunta de Filipe.
 
* João 14,8-11: Filipe pergunta: "Mostra-nos o Pai, e basta!"  Era o desejo dos discípulos e das discípulas, o desejo de muita gente nas comunidades do Discípulo Amado e é o desejo de muita de nós hoje: como é que a gente faz para ver o Pai de que Jesus fala tanto? A resposta de Jesus é muito bonita e vale até hoje: "Filipe, tanto tempo estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece! Quem me vê, vê o Pai!" A gente não deve pensar que Deus está longe de nós, como alguém distante e desconhecido. Quem quiser saber como é e quem é Deus Pai, basta olhar para Jesus. Ele o revelou nas palavras e gestos da sua vida! "O Pai está em mim e eu estou no Pai!" Através da sua obediência, Jesus está totalmente identificado com o Pai. Ele a cada momento fazia o que o Pai mostrava que era para fazer (Jo 5,30; 8,28-29.38). Por isso, em Jesus tudo é revelação do Pai! E os sinais ou as obras de Jesus são as obras do Pai! Como diz o povo: "O filho é a cara do pai!" Por isso, em Jesus e por Jesus, Deus está no meio de nós.
 
* João 14,12-14: Promessa de Jesus.  Jesus faz uma promessa para dizer que a intimidade dele com o Pai não é privilégio só dele, mas é possível para todos que creem nele. Nós também, através de Jesus, podemos chegar a fazer coisas bonitas para os outros do jeito que Jesus fazia para o povo do seu tempo. Ele vai interceder por nós. Tudo que a gente pedir a ele, ele vai pedir ao Pai e vai conseguir, contanto que seja para servir. Jesus é o nosso defensor. Ele vai embora, mas não nos deixa sem defesa. Ele promete que vai pedir ao Pai para Ele mandar um outro defensor ou consolador, o Espírito Santo. Jesus chegou a dizer que ele precisa ir embora, pois, do contrário, o Espírito Santo não poderá vir (Jo 16,7). É o Espírito Santo que realizará as coisas de Jesus em nós, desde que peçamos em nome de Jesus e observemos o grande mandamento da prática do amor.
 
Para um confronto pessoal
1) Conhecer Jesus é conhecer o Pai. Na Bíblia a palavra “conhecer uma pessoa” não é apenas uma compreensão intelectual, mas implica também uma profunda experiência da presença dessa pessoa na vida. Será que eu conheço Jesus?
2) Conheço o Pai?

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Sexta-feira da 4ª semana da Páscoa

Nossa Senhora do Bom Conselho
São Rafael Arnaiz Barón, religioso da Ordem Cisterciense
São Pedro de Rates, bispo e mártir
 
1ª Leitura (At 13,26-33):
Naqueles dias, disse Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia: «Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus, a nós foi dirigida esta palavra da salvação. Na verdade, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-O, cumpriram as palavras dos Profetas que se leem cada sábado. Embora não tivessem encontrado nada que merecesse a morte, pediram a Pilatos que O mandasse matar. Cumprindo tudo o que estava escrito acerca d’Ele, desceram-no da cruz e depuseram-no no sepulcro. Mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu durante muitos dias àqueles que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém e são agora suas testemunhas diante do povo. Nós vos anunciamos a boa nova de que a promessa feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no salmo segundo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei’».
 
Salmo Responsorial: 2
R. Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei.
 
«Fui Eu quem ungiu o meu Rei sobre Sião, minha montanha sagrada». Vou proclamar o decreto do Senhor. Ele disse-me: «Tu és meu filho, Eu hoje te gerei.
 
Pede-me e te darei as nações por herança e os confins da terra para teu domínio. Hás de governá-los com ceptro de ferro, quebrá-los como vasos de barro».
 
E agora, ó reis, tomai sentido, atendei, vós que governais a terra. Servi o Senhor com temor, aclamai-O com reverência.
 
Aleluia. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor; ninguém vai ao Pai senão por Mim. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 14,1-6): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós. E depois que eu tiver ido e preparado um lugar para vós, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também. E para onde eu vou, conheceis o caminho». Tomé disse: «Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?». Jesus respondeu: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim».
 
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim»
 
Rev. D. Josep Mª MANRESA Lamarca (Valldoreix, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, nesta sexta-feira da IV semana da Páscoa, Jesus nos convida à calma. A serenidade e a alegria fluem como um rio de paz, desde o seu Coração ressuscitado até o nosso, agitado e inquieto, muitas vezes sacudido por um ativismo tão febril como estéril.
 
São os nossos tempos de agitação, nervosismo e estresse. Tempos nos quais o pai da mentira infectou as inteligências dos homens, fazendo-os chamar bem ao mal e mal ao bem, tomando luz por obscuridade e obscuridade por luz, semeando em suas almas a dúvida e o ceticismo que nelas queimam todo broto de esperança em um horizonte de plenitude que o mundo, com suas adulações, não sabe nem pode dar.
 
Os frutos de tão diabólica empresa ou atividade são evidentes: a falta de sentido e a perda de transcendência que se apoderaram de tantos homens e mulheres que não apenas se esqueceram, mas também se extraviaram do Caminho, porque o desprezaram antes. Guerras, violências de todo gênero, intransigência e egoísmo diante da vida (anticoncepção, aborto, eutanásia…), famílias destruídas, juventude “desnorteada”, e um grande etecétera, constituem a grande mentira sobre a qual se sustenta boa parte do triste andaime da sociedade de tão alardeado “progresso”.
 
No meio de tudo, Jesus, o Príncipe da Paz, repete aos homens de boa vontade, com sua mansidão infinita: «Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede também em mim» (Jo 14, 1). À direita do Pai, ele acalenta, como um benévolo sonho de sua misericórdia, o momento de ter-nos junto a ele, «a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também» (Jo 14, 3). Não podemos nos escusar como Tomé. Nós sabemos o caminho. Nós, por pura graça, conhecemos, sim, a senda que conduz ao Pai, em cuja casa há muitas moradas. No céu nos espera um lugar que ficará para sempre vazio se não o ocuparmos. Aproximemo-nos, pois, sem temor, com ilimitada confiança de Aquele que é o único Caminho, a irrenunciável Verdade e a Vida em plenitude.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Se o amas, segui-o. Queres saber para onde tens de ir? 'Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida'. Permanecendo com o Pai, Ele é a verdade e a vida; vestindo-se de carne, faz-se o caminho» (Santo Agostinho)
 
«O lugar que Jesus vai preparar é na 'casa do Pai'. O discípulo poderá estar lá eternamente com o Mestre e participar de sua mesma alegria. No entanto, para atingir esse objetivo só há um caminho: Cristo» (São João Paulo II)
 
«A fé n'Ele introduz os discípulos no conhecimento do Pai, porque Jesus é ‘o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14, 6). A fé dá os seus frutos no amor: guardar a sua Palavra, os seus mandamentos, permanecer com Ele no Pai (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.614)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Estes cinco capítulos (Jo 13 a 17) são um exemplo bonito de como as comunidades do Discípulo Amado do fim do primeiro século lá na Ásia Menor, atual Turquia, faziam catequese.
Por exemplo, neste capítulo 14, as perguntas dos três discípulos, Tomé (Jo 14,5), Filipe (Jo 14,8) e Judas Tadeu (Jo 14,22), eram também as perguntas e os problemas das Comunidades. Assim, as respostas de Jesus para os três eram um espelho em que as comunidades encontravam uma resposta para as suas próprias dúvidas e dificuldades.  Para sentir melhor o ambiente em que se fazia a catequese, você pode fazer o seguinte. Durante ou depois da leitura do texto, feche os olhos e faça de conta que você está lá na sala no meio dos discípulos e discípulas, participando do encontro com Jesus. Enquanto vai escutando, procure prestar atenção na maneira como Jesus prepara seus amigos para a separação e lhes revela sua amizade, transmitindo segurança e apoio.
 
* João 14,1-2: Nada te perturbe.   O texto começa com uma exortação: "Não se perturbe o coração de vocês!" Em seguida, diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" A insistência em conservar palavras de ânimo que ajudam a superar a perturbação e as divergências, é um sinal de que havia muita polêmica e divergências entre as comunidades. Uma dizia para a outra: "Nossa maneira de viver a fé é melhor do que a de vocês. Nós estamos salvos! Vocês estão erradas! Se quiserem ir para o céu, têm que se converter e viver como nós vivemos!" Jesus diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" Não é necessário que todos pensem do mesmo jeito. O importante é que todos aceitem Jesus como revelação do Pai e que, por amor a ele, tenham atitudes de compreensão, de serviço e de amor. Amor e serviço são o cimento que liga entre si os tijolos e faz as várias comunidades serem uma igreja de irmãos e de irmãs.
 
*  João 14,3-4: Jesus se despede.  Jesus diz que vai preparar um lugar e depois retornará para levar-nos com ele para a casa do Pai. Ele quer que estejamos todos com ele para sempre. O retorno de que Jesus fala é a vinda do Espírito que ele manda e que trabalha em nós, para que possamos viver como ele viveu (Jo 14,16-17.26; 16,13-14). Jesus termina dizendo: "Para onde eu vou, vocês conhecem o caminho!" Quem conhece Jesus conhece o caminho, pois o caminho é a vida que ele viveu e que o levou através da morte para junto do Pai.
 
*  João 14,5-6: Tomé pergunta pelo caminho. Tomé diz: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte! Jesus explica o sentido. Ele é o caminho, porque "ninguém vem ao Pai senão por mim!" Pois, ele é a porteira, por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque olhando para ele, estamos vendo a imagem do Pai. "Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai!" Jesus é a vida, porque caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós!
 
Para um confronto pessoal
1) Que encontros bons do passado você guarda na memória e que são força na sua caminhada?
2) Jesus disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas". O que significa esta afirmação para nós hoje?

terça-feira, 23 de abril de 2024

25 de abril: São Marcos, evangelista


1ª Leitura (1Pe 5,5b-14):
Caríssimos: Revesti-vos de humildade, uns para com os outros, porque «Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes». Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no tempo oportuno. Confiai-Lhe todas as vossas preocupações, porque Ele vela por vós. Sede sóbrios e vigiai. O vosso inimigo, o diabo, anda à vossa volta, como leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que os vossos irmãos espalhados pelo mundo suportam os mesmos sofrimentos. O Deus de toda a graça, que vos chamou para a sua eterna glória em Cristo, depois de terdes sofrido um pouco, vos restabelecerá, vos aperfeiçoará, vos fortificará e vos tornará inabaláveis. A Ele o poder e a glória pelos séculos dos séculos. Amém. Foi por meio de Silvano, a quem considero irmão de confiança, que vos escrevi estas breves palavras, para vos exortar e assegurar que é esta a verdadeira graça de Deus. Permanecei firmes nela. Saúda-vos a comunidade estabelecida em Babilónia, eleita como vós, e também Marcos, meu filho. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo da caridade. Paz a todos os que estais em Cristo.
 
Salmo Responsorial: 88
R. Senhor, cantarei eternamente a vossa misericórdia.
 
Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor e para sempre proclamarei a sua fidelidade. Vós dissestes: «A bondade está estabelecida para sempre», no céu permanece firme a vossa fidelidade.
 
Senhor, os céus proclamam as vossas maravilhas e a assembleia dos santos a vossa fidelidade. Quem sobre as nuvens se pode comparar ao Senhor? Quem entre os filhos de Deus será igual ao Senhor?
 
Feliz do povo que sabe aclamar-Vos e caminha, Senhor, à luz do vosso rosto. Todos os dias aclama o vosso nome e se gloria com a vossa justiça.
 
Nós pregamos Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus.
 
Evangelho (Mc 16,15-20): Naquele tempo, Jesus apareceu-se aos onze e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados». Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam».
 
«Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura»
 
Mons. Agustí CORTÉS i Soriano Bispo de Sant Feliu de Llobregat (Barcelona, Espanha)
 
Hoje haveria muito do que falar sobre por que não se ouve com firmeza e convicção a palavra do Evangelho? porque nós os cristãos, guardamos um silêncio suspeitoso sobre o que acreditamos, apesar da chamada à “nova evangelização”. Cada um fará sua própria análise e mostrará sua interpretação particular.
 
No entanto, na festa de São Marcos, ouvindo o Evangelho e olhando para o evangelizador, só podemos proclamar com segurança e agradecimento onde está a fonte e em que consiste a força de nossa palavra.
 
O evangelizador não fala porque assim o recomenda um estudo sociológico do momento, nem porque o manda a “prudência” política, nem porque “ele tem vontade de dizer o que pensa”. A ele lhe foi imposto uma presença e um mandato, desde fora, sem coação, mas com a autoridade de quem é digno de toda credibilidade: «E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura». (cf. Mc 16,15). Quer dizer, que evangelizamos por obediência gozosa e confiadamente.
 
Nossa palavra, por outro lado, não se apresenta como uma mais no mercado das ideias ou das opiniões, mas que tem todo o peso das mensagens fortes e definitivas. De sua aceitação ou rejeição dependem a vida ou a morte; e sua verdade, sua capacidade de convicção, vem pela via testemunhal, isto é, aparece acreditada pelos signos de poder em favor dos necessitados. Razão pela qual, é propriamente, uma “proclamação”, uma declaração pública, feliz, entusiasmada, de um fato decisivo e salvador.
 
Por que, então nosso silêncio? Medo, timidez? Dizia São Justino que «aqueles ignorantes e incapazes de eloquência, persuadiram pela virtude a todo o gênero humano». O signo o milagre da virtude é nossa eloquência. Deixemos pelo menos que o Senhor no meio de nós e conosco realize sua obra: estava «Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.» (Mc 16,20).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Assim como o sol, criatura de Deus, é um e o mesmo em todo o mundo, também a pregação da verdade brilha em todos os lugares e ilumina todos aqueles que querem chegar ao conhecimento da verdade» (Santo Irineu de Lyon)
 
«Todos somos chamados a ser escritores vivos do Evangelho, portadores da Boa Nova a cada homem e mulher de hoje» (Francisco)
 
«Desde a Ascensão, o plano de Deus entrou na sua consumação. Estamos na 'última hora' (1Jn 2,18). “O fim da história chegou para nós e a renovação do mundo já está decidida de forma irrevogável e até de alguma forma real já antecipada neste mundo. A Igreja, de fato, e na terra, caracteriza-se pela verdadeira santidade, ainda que imperfeita” (Concílio Vaticano II). O Reino de Cristo manifesta a sua presença através dos sinais milagrosos (cf. Mc 16,17-18) que acompanham o seu anúncio pela Igreja (cf. Mc 16,20)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 670)
 
Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
*
 O Evangelho de hoje faz parte do apêndice do Evangelho de Marcos (Mc 16,9-20) que traz a lista de algumas aparições de Jesus: a Madalena (Mc 16,9-11), a dois discípulos a caminho do campo (Mc 16,12-13) e aos doze apóstolos (Mc 16,14-18). Esta última aparição junto com a descrição da ascensão ao céu (Mc 16,19-20) constitui o evangelho de hoje.
 
* Marcos 16,14: Os sinais que acompanham o anúncio da Boa Nova. Jesus aparece aos onze discípulos e os repreende por não terem acreditado nas pessoas que o tinham visto ressuscitado. Não acreditaram em Madalena (Mc 16,11), nem nos dois a caminho do campo (Mc 16,13). Várias vezes, Marcos se refere à resistência dos discípulos em crer no testemunho daqueles e daquelas que experimentaram a ressurreição de Jesus. Por que será que Marcos insiste tanto na falta de fé dos discípulos? Provavelmente, para ensinar duas coisas. Primeiro, que a fé em Jesus passa pela fé nas pessoas que dão testemunho dele. Segundo, que ninguém deve desanimar quando a descrença nasce no coração. Até os onze discípulos tiveram dúvidas!
 
* Marcos 16,15-18: A missão de anunciar a Boa Nova a toda a criatura. Depois de ter criticado a falta de fé dos discípulos, Jesus lhes confere a missão: "Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado”. Aos que tiverem a coragem de crer na Boa Nova e que são batizados, Jesus promete os seguintes sinais: expulsarão demônios, falarão línguas novas, pegarão em serpentes e não serão molestados pelo veneno, imporão as mãos aos doentes e eles ficarão curados. Isto acontece até hoje:
* expulsar os demônios:   é combater o poder do mal que estraga a vida. A vida de muitas pessoas ficou melhor pelo fato de terem entrado na comunidade e de terem começado a viver a Boa Nova da presença de Deus em sua vida.
* falar línguas novas:   é começar a comunicar-se com os outros de maneira nova. Às vezes, encontramos uma pessoa que nunca vimos antes, mas parece que já a conhecemos há muito tempo. É porque falamos a mesma língua, a linguagem do amor.
* vencer o veneno:   há muita coisa que envenena a convivência. Muita fofoca que estraga o relacionamento entre as pessoas. Quem vive a presença de Deus dá a volta por cima e consegue não ser molestado por este veneno terrível.
* curar doentes:   em todo canto, onde aparece uma consciência mais clara e mais viva da presença de Deus, aparece também um cuidado especial para com as pessoas excluídas e marginalizadas, sobretudo para com os doentes. Aquilo que mais favorece a cura é a pessoa sentir-se acolhida e amada.
 
* Marcos 16,19-20: Através da comunidade Jesus continua a sua missão. O mesmo Jesus que viveu na Palestina, e acolhia os pobres do seu tempo, revelando assim o amor do Pai, este mesmo Jesus continua vivo no meio de nós, nas nossas comunidades. É através de nós, que ele quer continuar a sua missão para revelar a Boa Nova do amor de Deus aos pobres. Até hoje, a ressurreição acontece. Ela nos leva a cantar: "Quem nos separará, quem vai nos separar, do amor de Cristo, quem nos separará?" Poder nenhum deste mundo é capaz de neutralizar a força que vem da fé na ressurreição (Rm 8,35-39). Uma comunidade que quiser ser testemunha da Ressurreição deve ser sinal de vida, deve lutar contra as forças da morte, para que o mundo seja um lugar favorável à vida, deve crer que um outro mundo é possível. Sobretudo aqui na América Latina, onde a vida do povo corre perigo por causa do sistema de morte que nos foi imposto, as comunidades devem ser uma prova viva da esperança que vence o mundo, sem medo de ser feliz!
 
Para confronto pessoal
1. Como estes sinais da presença de Jesus acontecem na minha vida?
2. Quais são, hoje, os sinais que mais convencem as pessoas da presença de Jesus no nosso meio?

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Quarta-feira da 4ª semana da Páscoa

São Fiel de Sigmaringa, presbítero e mártir
 
1ª Leitura (At 12,24—13,5):
Naqueles dias, a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. Depois de Barnabé e Saulo cumprirem a sua missão, voltaram de Jerusalém, trazendo consigo João, que tinha o sobrenome de Marcos. Na Igreja de Antioquia havia profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaen, irmão colaço do tetrarca Herodes e Saulo. Estando eles a celebrar o culto do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que os chamei». Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram- nos partir. Enviados pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e de lá navegaram para Chipre. Tendo chegado a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus.
 
Salmo Responsorial: 66
R. Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.
 
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os vossos caminhos e entre os povos a vossa salvação.
 
Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra.
 
Os povos Vos louvem, ó Deus, todos os povos Vos louvem. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu louvor aos confins da terra.
 
Aleluia. Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor; quem Me segue terá a luz da vida. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 12,44-50): Jesus exclamou: «Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Se alguém ouve as minhas palavras e não as observa, não sou eu que o julgo, porque vim não para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me rejeita e não acolhe as minhas palavras já tem quem o julgue: a palavra que eu falei o julgará no último dia. Porque eu não falei por conta própria, mas o Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que devo dizer e falar. E eu sei: o que ele ordena é vida eterna. Portanto, o que eu falo, eu o falo de acordo com o que o Pai me disse».
 
«Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas naquele que me enviou»
 
P. Júlio César RAMOS González SDB (Mendoza, Argentina)
 
Hoje, Jesus grita; grita como alguém que precisa que suas palavras sejam ouvidas por todos. Seu grito sintetiza sua missão salvadora, pois tem vindo «não para julgar o mundo, mas para salvá-lo» (Jo 12,47), não por si mesmo, mas em nome do «Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que devo dizer e falar» (Jo 12,49).
 
Ainda não faz um mês que celebramos o Tríduo Pascal: o Pai estava tão presente na hora extrema, na hora da Cruz! Como escreveu João Paulo II, «Jesus, aflito pela previsão da prova que o esperava, ante Deus, o invoca com sua habitual e carinhosa expressão de confiança: ‘Abba, Pai’». Nas horas seguintes, se faz evidente o diálogo estreito do Filho com o Pai: «Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34); «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46).
 
A importância da obra do Pai, e do seu enviado, merece a resposta de quem o escuta. Essa resposta é o crer, ou seja, a fé (cf. Jo 12,44); fé que nos dá — por Jesus mesmo — a luz para não continuar na escuridão. Ao contrário, quem rejeita esses dons e manifestações e não acolhe essas palavras «já tem quem o julgue: a Palavra» (Jo 12,48).
 
Aceitar Jesus, então, é crer, ver, ouvir ao Pai, significa não estar na escuridão, obedecer ao mandato da vida eterna. Bem-vinda seja a repreensão de São João da Cruz: «[O Pai] tudo nos falou por esta palavra só (...). Por isso, quem quiser perguntar alguma coisa a Deus ou ter uma visão ou revelação, seria não só uma necedade, também estaria ofendendo a Deus, já que não estaria colocando seu olhar em Cristo, evitando querer alguma outra coisa ou novidade».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Dilate o seu coração. Saia ao encontro do sol da luz eterna que ilumina a todo o homem. Esta luz verdadeira brilha para todos, mas quem fecha as suas janelas priva-se da luz eterna» (Santo Ambrósio)
 
«Precisamos desta luz que vem do alto para responder coerentemente à vocação que recebemos. Para a Igreja, ser missionário equivale a deixar-se iluminar por Deus e refletir a sua luz» (Francisco)
 
«Em Jesus Cristo, a verdade de Deus manifestou-se na sua totalidade. ‘Cheio de graça e de verdade’(Jo 1,14), Ele é a ‘luz do mundo’ (Jo 8, 12) (…). Quem Nele crê não fica nas trevas (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.466)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O Evangelho de hoje traz a parte final do Livro do Sinais (1 a 12), na qual o evangelista faz um balanço.
Muitos acreditaram em Jesus e tinham a coragem de manifestar sua fé publicamente como discípulos e as discípulas. Outros acreditaram, mas não tiveram a coragem de manifestar publicamente sua fé. Tinham medo de serem expulsos da sinagoga. E muitos não acreditaram: “Apesar de Jesus ter realizado na presença deles tantos sinais, não acreditaram nele. Assim se cumpriu a palavra dita pelo profeta Isaías: "Senhor, quem acreditou em nossa mensagem? Para quem foi revelada a força do Senhor?" (Jo 12,37-38). Depois desta constatação geral, João retoma alguns dos temas centrais do seu evangelho:
 
* João 12,44-45: Crer em Jesus é crer naquele que o enviou.  Esta frase é um resumo do evangelho de João. É o tema que aparece e reaparece de muitas maneiras. Jesus está tão unido ao Pai, que ele já não fala em nome próprio, mas sempre em nome do Pai. Quem vê a Jesus vê o Pai. Se quiser conhecer a Deus, olhe para Jesus. Deus é Jesus!
 
* João 12,46: Jesus é a luz que veio ao mundo. Aqui João retoma o que já tinha sido dito no prólogo: “O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). “A luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (Jo 1,5). Aqui ele repete: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que acredita em mim não fique nas trevas”.  Jesus é uma resposta viva às grandes interrogações que movimentam e inspiram a busca do ser humano. Ele é uma luz que clareia o horizonte. Faz descobrir o lado luminoso da escuridão da fé.
 
*  João 12,47-48: Não vim para julgar o mundo. Chegando no fim de uma etapa, surge a pergunta: “Como vai ser o julgamento? Nestes dois versículos o evangelista esclarece o tema do julgamento. O julgamento não se faz na base da ameaça com maldições. Jesus diz: Eu não condeno quem ouve as minhas palavras e não obedece a elas, porque eu não vim para condenar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeita e não aceita minhas palavras, já tem o seu juiz: a palavra que eu falei será o seu juiz no último dia. O julgamento consiste na maneira como a pessoa se define frente à verdade e frente a sua própria consciência.
 
*  João 13,49-50: O que digo, eu o digo conforme o Pai me disse. As últimas palavras do Livro dos Sinais são um resumo de tudo que Jesus disse e fez até agora. Ele reafirma o que afirmava desde o começo: “Não falei por mim mesmo. O Pai que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. E eu sei que o mandamento dele é a vida eterna. Portanto, o que digo, eu o digo conforme o Pai me disse”. Jesus é o reflexo fiel do Pai. Por isso mesmo, ele não oferece prova nem argumento aos que o provocam para que se legitime e apresente suas credenciais. É o Pai que o legitima através das obras que ele faz. E dizendo obras, não se refere só aos grandes milagres, mas a tudo que ele disse e fez, até nas mínimas coisas. Jesus, ele mesmo, é o Sinal do Pai. Ele é o milagre ambulante, a transparência total. Ele já não se pertence, mas é todo inteiro propriedade do Pai. As credenciais de um embaixador não vêm dele mesmo, mas vem daquele a quem representa. Vem do Pai.
 
Para um confronto pessoal
1) João faz um balanço da atividade reveladora de Jesus. Se eu fizer um balanço da minha vida, o que vai sobrar de positivo em mim?
2) Existe algo em mim que me condena?