terça-feira, 29 de abril de 2025

MÊS DE MARIA – São José Operário

ORAÇÂO
Senhor, todo poderoso e infinitamente perfeito, de quem procede todo ser e para quem todas as criaturas devem sempre se elevar, eu vos consagro este mês e os exercícios de devoção que em cada um de seus dias praticar, oferecendo-os para vossa maior glória em honra de Maria Santíssima. Concedei-me a graça de santificá-lo com piedade, recolhimento e fervor. Virgem Santa e Imaculada, minha terna Mãe, volvei para mim vossos olhares tão cheios de doçura e fazei-me sentir cada vez mais os benéficos efeitos de vossa valiosa proteção. Anjos do céu, dirigi meus passos, guardai-me à sombra de vossas asas, pondo-me ao abrigo das ciladas do demônio, pedindo por mim a Jesus, Maria e José sua santa bênção. Amém.
 
LECTIO DIVINA
 
1ª Leitura (At 5,27-33): Naqueles dias, o comandante do templo e os guardas trouxeram os Apóstolos e fizeram-nos comparecer diante do Sinédrio. O sumo sacerdote interpelou-os, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Exasperados com esta resposta, decidiram dar-lhes a morte.
 
Salmo Responsorial: 33
R. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
 
A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. Saboreai e vede como o Senhor é bom: escutem e alegrem-se os humildes.
 
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal, para apagar da terra a sua memória. Os justos clamaram e o Senhor os ouviu, livrou-os de todas as angústias.
 
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido. Muitas são as tribulações do justo, mas de todas elas o livra o Senhor.
 
Aleluia. Disse o Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 3,31-36): Aquele que vem do alto está acima de todos. Quem é da terra, pertence à terra e fala coisas da terra. Aquele que vem do céu está acima de todos. Ele dá testemunho do que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. Quem aceita o seu testemunho atesta que Deus é verdadeiro. De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois ele dá o espírito sem medida. O Pai ama o Filho e entregou tudo em suas mãos. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna. Aquele, porém, que se recusa a crer no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele.
 
«Aquele que crê no Filho tem a vida eterna»
 
Rev. D. Melcior QUEROL i Solà (Ribes de Freser, Girona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos convida a deixar de ser “terrenais”, a deixar de ser homens que só falam de coisas mundanas, para falar e mover-nos como «Aquele que vem do alto» (Jo 3,31), que é Jesus. Neste texto vemos —mais uma vez— que na radicalidade evangélica não há meio termo. É necessário que em todo momento e circunstância nos esforcemos por ter o pensamento de Deus, ambicionemos ter os mesmos sentimentos de Cristo e aspiremos a olhar os homens e às circunstâncias da mesma forma que vemos o Verbo feito homem. Se atuarmos como «aquele que vem do alto» descobriremos uma quantidade de coisas positivas que acontecem continuamente ao nosso entorno, porque o amor de Deus é ação contínua em favor do homem. Se viermos do alto amaremos a todo o mundo sem exceção, sendo nossa vida um convite para fazer o mesmo.
 
«Aquele que vem do alto está acima de todos» (Jo 3,31), por isso pode servir a cada homem e a cada mulher justamente naquilo que necessita; além disso, «Ele dá testemunho do que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho» (Jo 3,32). E seu serviço tem a marca da gratuidade. Esta atitude de servir sem esperar nada a troco, sem necessitar a resposta do outro, cria um ambiente profundamente humano e de respeito ao livre alvedrio da pessoa; esta atitude se contagia e os outros se sentem livremente movidos a responder e atuar da mesma maneira.
 
Serviço e testemunho sempre vão juntos, um e outro se identificam. Nosso mundo tem necessidade daquilo que é autêntico: e o que é mais autêntico que as palavras de Deus? que mais autêntico do que quem dá o Espírito sem medida? «Ele dá o espírito sem medida» (Jo 3,34)
 
«Acreditar no Filho» quer dizer ter vida eterna, significa que o dia do Juízo não pesa em cima do crente porque já foi julgado e com um juízo favorável; no entanto, «Aquele, porém, que se recusa a crer no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele» (Jo 3,36)..., enquanto não acredite.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«E agora pergunto, o que há de mais admirável para lá da beleza de Deus? Será possível pensar em algo mais doce ou agradável que a magnificência divina? O esplendor da beleza divina é algo absolutamente inefável e inenarrável» (São Basílio Magno)
 
«A obediência, muitas das vezes, conduz-nos por um caminho que não é o que penso que deveria ser: existe outro, a obediência de Jesus que diz ao Pai, no Horto das Oliveiras “que se cumpra a Tua vontade”» (Francisco)
 
«Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n'Aquele que O enviou para nos salvar. «Porque "sem a fé não é possível agradar a Deus" (Hb 11, 6) e chegar a partilhar a condição de filhos seus (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 161)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No sábado depois da Epifania, meditamos João 3,22-30, que traz o último testemunho de João Batista a respeito de Jesus.
Era a resposta dada por ele aos seus discípulos, e na qual reafirmou que ele, João, não é o Messias mas apenas o precursor (Jo 3,28). Naquela ocasião, João disse aquela frase tão bonita que resume o seu testemunho: "É necessário que ele cresça e eu diminua!" Esta frase é o programa de todos e de todas que querem seguir Jesus.
 
* Os versículos do evangelho de hoje são, novamente, um comentário do evangelista para ajudar as comunidades a entender melhor todo o alcance das coisas que Jesus fez e ensinou. Temos aqui uma outra amostra daqueles três fios de que falamos ontem.
 
* João 3,31-33: Um refrão que sempre volta. Ao longo do evangelho de João, muitas vezes aparece o conflito entre Jesus e os judeus que contestam as palavras de Jesus. Jesus fala a partir do que ele ouve do Pai. Ele é total transparência. Os seus adversários, por não se abrirem para Deus e por se agarrarem nas suas próprias ideias aqui da terra, não são capazes de entender o significado profundo das coisas que Jesus vive, diz e faz. No fim, é este mal-entendido que vai levar os judeus a prender e condenar Jesus.
 
* João 3,34: Jesus nos dá o Espírito sem medida. O evangelho de João usa muitas imagens e símbolos para significar a ação do Espírito. Como na criação (Gn 1,1), assim o Espírito desceu sobre Jesus "como uma pomba, vinda do céu" (Jo 1,32). É o começo da nova criação! Jesus fala as palavras de Deus e nos comunica o Espírito sem medida (Jo 3,34). Suas palavras são Espírito e vida (Jo 6,63). Quando Jesus se despediu, ele disse que ia enviar um outro consolador, um outro defensor, para ficar conosco. É o Espírito Santo (Jo 14,16-17). Através da sua paixão, morte e ressurreição, Jesus conquistou o dom do Espírito para nós. Através do batismo todos nós recebemos este mesmo Espírito de Jesus (Jo 1,33). Quando apareceu aos apóstolos, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo!" (Jo 20,22). O Espírito é como água que jorra de dentro das pessoas que creem em Jesus (Jo 7,37-39; 4,14). O primeiro efeito da ação do Espírito em nós é a reconciliação: "Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados; aqueles aos quais retiverem, serão retidos" (Jo 20,23). O Espírito nos é dado para que possamos lembrar e entender o significado pleno das palavras de Jesus (Jo 14,26; 16,12-13). Animados pelo Espírito de Jesus podemos adorar a Deus em qualquer lugar (Jo 4,23-24). Aqui se realiza a liberdade do Espírito de que fala São Paulo: "Onde há o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2Cor 3,17).
 
* João 3,35-36: O Pai ama o Filho. Reafirma a identidade entre o Pai e Jesus. O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mão. São Paulo dirá que em Jesus habita a plenitude da divindade (Col 1,19; 2,9). Por isso, quem aceita Jesus e crê em Jesus ele já tem a vida eterna, pois Deus é vida. Quem recusa crer em Jesus se coloca a si mesmo do lado de fora.
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus nos comunica o Espírito sem medida. Você teve ou tem alguma experiência desta ação do Espírito em sua vida?
2) Quem crê em Jesus tem a vida eterna. Como isto acontece hoje na vida das famílias e das comunidades?
 
ORAÇÃO
Ó Maria, filha predileta do Altíssimo, pudesse eu oferecer-vos e consagrar-vos os meus primeiros anos, como vós vos oferecestes e consagrastes ao Senhor no templo! Mas é já passado esse período de minha vida! Todavia, antes começar tarde a vos servir do que ser sempre rebelde. Venho, pois, hoje, oferecer-me a Deus. Sustentai minha fraqueza, e por vossa intercessão alcançai-me de Jesus a graça de lhe ser fiel e a vós até a morte, a fim de que, depois de vos haver servido de todo o coração na vida, participe da glória e da felicidade eterna dos eleitos. Amém.
 
LADAINHA DE NOSSA SENHORA
 
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
 
Jesus Cristo ouvi-nos.
Jesus Cristo atendei-nos.
 
Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, ...
Deus Espírito Santo Paráclito, ...
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, ...
 
Santa Maria,  rogai por nós.
Santa Mãe de Deus,...
Santa Virgem das virgens,...
Mãe de Jesus Cristo, ...
Mãe da Igreja, ...
Mãe da Misericórdia, ...
Mãe da Divina Graça, ...
Mãe da Esperança,...
Mãe puríssima, ...
Mãe castíssima, ...
Mãe imaculada,...
Mãe sempre virgem,...
Mãe amável,...
Mãe admirável,...
Mãe do bom conselho,...
Mãe do Criador,...
Mãe do Salvador,...
Virgem prudentíssima,...
Virgem digna de honra,...
Virgem digna de louvor,...
Virgem poderosa,...
Virgem clemente,...
Virgem fiel,...
Espelho de justiça,...
Sede da sabedoria,...
Causa da nossa alegria,...
Templo do Espírito Santo,...
Tabernáculo da eterna glória,...
Moradia consagrada a Deus,...
Rosa mística,...
Torre de Davi,...
Fortaleza inexpugnável,...
Santuário da divina presença,...
Arca da Aliança,...
Porta do Céu,...
Estrela da Manhã,...
Saúde dos enfermos,...
Refúgio dos pecadores,...
Conforto dos migrantes,...
Consoladora dos aflitos,...
Auxílio dos cristãos,...
Rainha dos anjos,...
Rainha dos patriarcas,...
Rainha dos profetas,...
Rainha dos apóstolos,...
Rainha dos mártires,...
Rainha dos confessores da fé,...
Rainha das virgens,...
Rainha de todos os santos,...
Rainha concebida sem pecado,...
Rainha assunta ao céu,...
Rainha do sacratíssimo Rosário,...
Rainha das famílias,...
Rainha da paz,...
 
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
 
V. Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
 
“LEMBRAI-VOS” DE SÃO BERNARDO
Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que a vós têm recorrido, implorado vossa assistência e invocado o vosso socorro, tenha sido por vós abandonado. Animado de uma tal confiança, eu corro e venho a vós e, gemendo debaixo do peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés, ó Virgem das virgens; não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo encarnado, mas ouvi-as favoravelmente e dignai-vos atender-me. Amém.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

São Pio V, papa
São José Bento Cottolengo, presbítero
 
1ª Leitura (At 5,17-26):
Naqueles dias, o sumo sacerdote e todo o seu grupo, isto é, o partido dos saduceus, enfurecidos contra os Apóstolos, mandaram-nos prender e meteram-nos na cadeia pública. Mas, durante a noite, o Anjo do Senhor abriu as portas da prisão, levou-os para fora e disse-lhes: «Ide apresentar-vos no templo, a anunciar ao povo todas estas palavras de vida». Tendo ouvido isto, eles entraram no templo de madrugada e começaram a ensinar. Entretanto, chegou o sumo sacerdote com o seu grupo. Convocaram o Sinédrio e todo o Senado dos israelitas e mandaram buscar os Apóstolos à cadeia. Os guardas foram lá, mas não os encontraram na prisão; e voltaram para avisar: «Encontrámos a cadeia fechada com toda a segurança e os guardas de sentinela à porta. Abrimo-la, mas não encontrámos ninguém lá dentro». Ao ouvirem estas palavras, o comandante do templo e os príncipes dos sacerdotes ficaram muito perplexos, perguntando entre si o que se tinha passado com os presos. Entretanto, veio alguém comunicar-lhes: «Os homens que metestes na cadeia estão no templo a ensinar o povo». Então o comandante do templo foi lá com os guardas e trouxe os Apóstolos, mas sem violência, porque tinham receio de serem apedrejados pelo povo.
 
Salmo Responsorial: 33
R. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
 
A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor: escutem e alegrem-se os humildes.
 
Enaltecei comigo o Senhor e exaltemos juntos o seu nome. Procurei o Senhor e Ele atendeu-me, libertou-me de toda a ansiedade.
 
Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, salvou-o de todas as angústias.
 
O Anjo do Senhor protege os que O temem e defende-os dos perigos. Saboreai e vede como o Senhor é bom: feliz o homem que n’Ele se refugia.
 
Aleluia. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito; quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 3,16-21): De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê nele não será condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus. Ora, o julgamento consiste nisto: a luz veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Pois todo o que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que suas ações sejam manifestadas, já que são praticadas em Deus.
 
«A luz veio ao mundo»
 
Fr. Damien LIN Yuanheng (Singapore, Singapura)
 
Hoje, diante de opiniões que sugere a vida moderna, pode parecer que a verdade já não existe —a verdade sobre Deus, a verdade sobre os temas relativos ao gênero humano, a verdade sobre o matrimônio, as verdades morais e, por último, a verdade sobre mim mesmo.
 
A passagem do Evangelho de hoje identifica a Jesus Cristo como «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6). Sem Jesus só encontramos desolação, falsidade e morte. Só há um caminho, e só um que leve ao céu, que se chama Jesus Cristo.
 
Cristo não é uma opinião a mais. Jesus Cristo é a autêntica Verdade. Negar a verdade é como insistir em fechar os olhos diante da luz do Sol. Você goste ou não, o Sol sempre estará aí; mas o infeliz escolheu livremente fechar seus olhos diante do Sol da verdade. De igual forma, muitos se consomem em suas carreiras com uma tremenda força de vontade e exigem empregar todo seu potencial, esquecendo que tão somente podem alcançar a verdade sobre si, caminhando junto a Jesus Cristo.
 
Por outro lado, segundo Bento XVI, «cada um encontra seu próprio bem assumindo o projeto que Deus tem sobre ele, para realizá-lo plenamente: no entanto, encontra em tal projeto sua verdade e, aceitando esta verdade, se faz livre (cf. Jo 8,32)» (Encíclica "Caritas in Veritate"). A verdade de cada um é uma chamada a converter-se no filho ou na filha de Deus na Casa Celestial: «Porque esta é a vontade de Deus: tua santificação» (1Tes 4,3). Deus quer filhos e filhas livres, não escravos.
 
Em realidade, o “eu” perfeito é um projeto comum entre Deus e eu. Quando buscamos a santidade, começamos a mostrar a verdade de Deus em nossas vidas. O Papa disse de uma forma muito bonita: «Cada santo é como um raio de luz que sai da Palavra de Deus» (Exortação apostólica "Verbum Domini").
 
«Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna»
 
Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos convida novamente a percorrer o caminho do apóstolo Tomé, que vai da dúvida à fé. Nós, como Tomé, nos apresentamos diante do Senhor com nossas dúvidas, mas Ele da mesma forma vem buscar-nos: «Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16).
 
Na manhã do dia de Páscoa, durante a primeira aparição, Tomé não estava. «Depois de oito dias», no entanto sua rejeição a acreditar, Tomé se une aos outros discípulos. A indicação é clara: longe da comunidade não se conserva a fé. Longe dos irmãos, a fé não cresce, não amadurece. Na Eucaristia de cada domingo reconhecemos sua Presença. Se Tomé mostra a honestidade de sua dúvida é porque o Senhor não lhe concedeu inicialmente o que sim teve Maria Madalena: não só escutar e ver ao Senhor, mas sim tocá-lo com suas próprias mãos. Cristo vem ao nosso encontro, sobretudo, quando nos reencontramos com os irmãos e quando com eles celebramos a repartição do Pão, ou seja, a Eucaristia. Então nos convida a “tocar o seu costado”, quer dizer, a penetrar no mistério insondável de sua vida.
 
O passo da incredulidade à fé tem suas etapas. Nossa conversão a Jesus Cristo —o passo da escuridão à luz— é um processo pessoal, mas necessitamos da comunidade. Alguns dias depois da Semana Santa, todos nós sentimos urgidos a continuar com Jesus em seu caminho à Cruz. Agora, em pleno tempo pascoal, a Igreja nos convida a entrar com Ele à nova vida, «Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que suas ações sejam manifestadas, já que são praticadas em Deus» (cf. Jo 3,21).
 
Nós também devemos sentir hoje pessoalmente o convite feito por Jesus a Tomé: «Não seja incrédulo, e sim fiel» (Jo 20,27). porque a vida se vai nisso, já que «Quem crê nele não será condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus» (Jo 3,18).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ó mensagem plena de felicidade e beleza! Ele quer fazer de nós seus irmãos, e, ao levar a Sua humanidade ao Pai, atrai a si todos aqueles que já são da sua raça» (São Gregório de Nissa)
 
«Se na criação o Pai nos deu a prova do seu imenso amor dando-nos a vida, na paixão e morte do seu Filho deu-nos "a prova das provas": veio para sofrer e morrer por nós» (Francisco)
 
«O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor dum pai para com o seu filho. Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus filhos. Deus ama o seu povo, mais que um esposo a sua bem-amada (Is 62,4-5); mesmo as piores infidelidades; e chegará ao mais precioso de todos os dons: «Deus amou de tal maneira o mundo, que lhe entregou o seu Filho Único” (Jo 3,16)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 219)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de João é como um tecido, feito com três fios diferentes mas parecidos.
Os três combinam tão bem entre si que, às vezes, não dá para perceber quando se passa de um fio para outro. 1. O primeiro fio são os fatos e as palavras de Jesus dos anos trinta, conservados pelas testemunhas oculares que guardaram as coisas que Jesus fez e ensinou. 2. O segundo fio são os fatos da vida das comunidades. A partir da sua fé em Jesus e convencidas da presença dele em seu meio, as comunidades iluminavam a sua caminhada com as palavras e os gestos de Jesus. Isto influenciou a descrição dos fatos. Por exemplo, o conflito das comunidades com os fariseus do fim do primeiro século marcou a maneira de descrever os conflitos de Jesus com os fariseus. 3. O terceiro fio são comentários feitos pelo evangelista. Em certas passagens, é difícil perceber quando Jesus deixa de falar e o próprio evangelista começa a tecer seus comentários. O texto do evangelho de hoje, por exemplo, é uma reflexão bonita e profunda do próprio evangelista a respeito da ação de Jesus. A gente quase nem percebe a diferença entre a fala de Jesus e a fala do evangelista. De qualquer maneira, tanto uma como outra, ambas são palavra de Deus.
 
* João 3,16:: Deus amou o mundo. A palavra mundo é uma das palavras mais frequentes no evangelho de João: 78 vezes! Ela tem vários significados. Em primeiro lugar mundo pode significar a terra, o espaço habitado pelos seres humanos (Jo 11,9; 21,25) ou mesmo o universo criado (Jo 17,5.24). Mundo também pode significar as pessoas que habitam esta terra, a humanidade toda (Jo 1,9; 3,16; 4,42; 6,14; 8,12). Pode significar ainda um grande grupo, um grupo numeroso de pessoas, no sentido quando falamos “todo mundo” (Jo 12,19; 14,27). Aqui no nosso texto a palavra mundo tem o sentido de humanidade, todo ser humano. Deus ama a humanidade de tal modo que chegou a entregar seu filho único. Quem aceita que Deus chega até nós em Jesus, este já passou pela morte e já tem a vida eterna.
 
* João 3,17-19: O verdadeiro sentido do julgamento. A imagem de Deus que transparece nestes três versículos é de um pai cheio de ternura e não de um juiz severo. Deus mandou seu filho não para julgar e condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê em Jesus e o aceita como revelação de Deus não é julgado, pois já é aceito por Deus. E quem não crê em Jesus já está julgado. Ele se excluiu a si mesmo. E o evangelista repete o que já disse no prólogo: muitas pessoas não querem aceitar Jesus, porque a sua luz revela a maldade que nelas existe (cf. Jo 1,5.10-11).
 
* João 3,20-21: Praticar a verdade. Existe em todo ser humano uma semente divina, um traço do Criador. Jesus, como revelação do Pai, é uma resposta a este desejo mais profundo do ser humano. Quem quer ser fiel ao mais profundo de si mesmo, aceitará Jesus. Difícil você encontrar uma visão ecumênica mais ampla do que o evangelho de João expressa nestes versículos.
 
* Completando o significado da palavra mundo no Quarto Evangelho. Outras vezes, a palavra mundo significa aquela parte da humanidade que se opõe a Jesus e à sua mensagem. Aí a palavra mundo toma o sentido de “adversários” ou “opositores” (Jo 7,4.7; 8,23.26; 9,39; 12,25). Este mundo contrário à prática libertadora de Jesus é chefiado pelo Adversário ou Satã, também chamado de “príncipe deste mundo” (Jo 14,30; 16,11). Ele representa o império romano e, ao mesmo tempo, os líderes dos judeus que estão expulsando os seguidores e as seguidoras de Jesus das sinagogas. Este mundo persegue e mata as comunidades, trazendo tribulações aos fiéis (Jo 16,33). Jesus as libertará, vencendo o príncipe deste mundo (Jo 12,31). Assim, mundo significa uma situação de injustiça, de opressão, gerando ódio e perseguição contra as comunidades do Discípulo Amado. Os perseguidores são aquelas pessoas que estão no poder, os dirigentes, tanto do império quanto da sinagoga. Enfim, todos aqueles que praticam a injustiça usando para isto o nome do próprio Deus (Jo 16,2). A esperança que o evangelho dá para as comunidades perseguidas é que Jesus é mais forte que o mundo. Por isso ele diz: “No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
 
Para um confronto pessoal
1) Deus amou o mundo de tal modo que chegou a entregar seu próprio filho. Será que esta verdade já chegou a penetrar no mais profundo do meu eu, da minha consciência?
2) A realidade mais ecumênica que existe é a vida que Deus nos deu e pela qual Ele entregou seu próprio filho. Como vivo o ecumenismo no dia a dia da minha vida?

sábado, 26 de abril de 2025

Terça-feira da 2ª semana da Páscoa

Sta. Catarina de Sena, virgem e doutora da Igreja
Bto. Nicolau de Narbonne, Presbítero e 8º Prior Geral de nossa Ordem
 
1ª Leitura (At 4,32-37):
A multidão dos haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém considerava seu o que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de muita simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos, e distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade. José, um levita natural de Chipre, a quem os Apóstolos chamaram Barnabé – que quer dizer «Filho da Consolação» – possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o dinheiro, que depositou aos pés dos Apóstolos.
 
Salmo Responsorial: 92
R. O Senhor é rei num trono de luz.
 
O Senhor é rei, revestiu-Se de majestade, revestiu-Se e cingiu-Se de poder.
 
Firmou o universo, que não vacilará. É firme o vosso trono desde sempre, Vós existis desde toda a eternidade.
 
Os vossos testemunhos são dignos de toda a fé, a santidade habita na vossa casa por todo o sempre.
 
Aleluia. O Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 3,7-15): «Não te admires do que eu te disse: É necessário para vós nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito». Nicodemos, então, perguntou: «Como pode isso acontecer?». Jesus respondeu: «Tu és o mestre de Israel e não conheces estas coisas? Em verdade, em verdade, te digo: nós falamos do que conhecemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho. Se não acreditais quando vos falo das coisas da terra, como ireis crer quando eu vos falar das coisas do céu? Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna».
 
«É necessário para vós nascer do alto»
 
Rev. D. Xavier SOBREVÍA i Vidal (Sant Just Desvern, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus nos expõe a dificuldade de prevenir e conhecer a ação do Espírito Santo: de fato, «sopra onde quer» (Jo 3,8). Isto relaciona-o com o testemunho que Ele mesmo está dando e com a necessidade de nascer do alto. «É necessário para vós nascer» (Jo 3,7), diz o Senhor com claridade, é necessária uma nova vida para poder entrar na vida eterna. Não é suficiente com um ir puxando para chegar ao Reino dos Céus, é necessária uma vida nova regenerada pela ação do Espírito de Deus. A nossa vida profissional, familiar, esportiva, cultural, lúdica e, sobretudo, de piedade tem que ser transformada pelo sentido cristão e pela ação de Deus. Tudo, transversalmente, tem que ser impregnado pelo seu Espírito. Nada, absolutamente, nada deveria ficar fora da renovação que Deus realiza em nós com o seu Espírito.
 
Uma transformação que tem Jesus Cristo como catalisador. Ele, que antes tinha que ser elevado na Cruz e que também tinha que ressuscitar, é quem pode fazer com que o Espírito de Deus nos seja enviado. Ele que tem vindo do alto. Ele que tem mostrado com muitos milagres o seu poder e a sua bondade. Ele que em tudo faz a vontade do Pai. Ele que tem sofrido até derramar a última gota de sangue por nós. Graças ao Espírito que nos enviará, nós «podemos subir ao Reino dos Céus, por Ele obtemos a adoção filial, por Ele se nos dá a confiança de nomear Deus com o nome de “Pai”, a participação da graça de Cristo e o direito a participar da gloria eterna» (São Basílio Magno).
 
Façamos que a ação do Espírito tenha acolhimento em nós, escudemos-lhe e, apliquemos as suas inspirações para que cada um seja –no seu lugar habitual- um bom exemplo elevado que irradie a Luz de Cristo.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Cristo, em sua venida, trouxe consigo toda novidade» (Santo Irineu)
 
«Ele sempre pode, com sua novidade, renovar nossa vida e nossa comunidade e, embora passe épocas obscuras e debilidades eclesiais, a proposta Cristiana nunca envelhece» (Francisco)
 
«A água baptismal é então consagrada por uma oração de epiclese (ou no próprio momento, ou na Vigília Pascal). A igreja pede a Deus que, pelo seu Filho, o poder do Espírito Santo desça a esta água, para que os que nela forem batizados “nasçam da água e do Espírito” (Jo 3,5)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1238)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de hoje traz uma parte da conversa de Jesus com Nicodemos.
Nicodemos tinha ouvido falar das coisas que Jesus realizava, ficou impressionado e queria conversar com Jesus para poder entender melhor. Ele pensava conhecer as coisas de Deus. Vivia com o livrinho do passado na mão para ver se o novo que Jesus anunciava estava de acordo. Na conversa, Jesus disse que a única maneira para ele, Nicodemos, poder entender as coisas de Deus era nascer de novo! Às vezes, nós somos como Nicodemos: só aceitamos como novo aquilo que está de acordo com as nossas antigas ideias. Outras vezes, deixamos nos surpreender pelos fatos e não temos medo de dizer: "Nasci de novo!"
 
* Quando os evangelistas recolhem as palavras de Jesus, eles têm presente os problemas das comunidades para as quais escrevem. As perguntas de Nicodemos a Jesus eram um espelho das perguntas das comunidades da Ásia Menor do fim do primeiro século. Por isso, as respostas de Jesus a Nicodemos eram, ao mesmo tempo, uma resposta para os problemas daquelas comunidades. Era assim que os cristãos faziam a catequese naquele tempo. Muito provavelmente, o relato da conversa entre Jesus e Nicodemos fazia parte da catequese batismal, pois diz que as pessoas devem renascer da água e do espírito (Jo 3,6).
 
* João 3,7b-8: Nascer do alto, nascer de novo, nascer do Espírito. Em grego, a mesma palavra significa de novo e do alto.  Jesus tinha dito “Quem não nasce da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). E acrescentou: "O que nasceu da carne é carne. O que nasceu do Espírito é Espírito" (Jo 3,6). Aqui, carne significa aquilo que nasce só das nossas ideias. O que nasce de nós tem o nosso tamanho. Nascer do Espírito é outra coisa! E Jesus reafirmou novamente o que tinha dito antes: “Vocês devem nascer do alto (de novo)”. Ou seja, devem renascer do Espírito que vem do alto. E ele explica que o Espírito é como o vento. Tanto no hebraico como no grego, usa-se a mesma palavra para dizer espírito  e vento. Jesus diz: "O vento sopra onde quer e você ouve o seu ruído, mas você não sabe de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do espírito".  O vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção. Nós percebemos a direção do vento, por exemplo, o vento Norte ou o vento Sul, mas não conhecemos nem controlamos a causa a partir da qual o vento se movimenta nesta ou naquela direção. Assim é o Espírito. "Ninguém é senhor do Espírito" (Ecl 8,8). O que mais caracteriza o vento, o Espírito, é a liberdade. O vento, o Espírito, é livre, não pode ser controlado. Ele age sobre os outros e ninguém consegue agir sobre ele. Sua origem é mistério, seu destino é mistério. O barqueiro deve, primeiro, descobrir o rumo do vento. Depois, deve colocar as velas de acordo com este rumo. É o que Nicodemos e todos nós temos de fazer.
 
* João 3,9: Pergunta de Nicodemos: Como é que isto pode acontecer?  Jesus não disse nada mais do que resumir o que o Antigo Testamento já ensinava sobre a ação do Espírito, do vento santo, na vida do povo de Deus e que Nicodemos, como mestre e doutor, devia saber. Mesmo assim, Nicodemos se espantou com a resposta de Jesus e se faz de ignorante: "Como é que isto pode acontecer?".
 
* João 3,10-15: Resposta de Jesus: a fé nasce do testemunho e não do milagre.  Jesus dá o troco: "Você é mestre em Israel e não sabe disso?" Pois para Jesus, se uma pessoa crê só quando as coisas estão de acordo com os seus próprios argumentos e ideias, ainda não é perfeita a sua fé. Perfeita, sim, é a fé da pessoa que acredita por causa do testemunho. Ela deixa de lado seus próprios argumentos e se entrega, porque crê naquele que testemunhou.
 
Para um confronto pessoal
1. Você já passou por alguma experiência que lhe deu a sensação de nascer de novo? Como foi?
2. Jesus compara a ação do Espírito Santo com o vento. O que esta comparação nos revela sobre a ação do Espírito de Deus em nossa vida? Você já colocou as velas do barco da sua vida de acordo com o rumo do vento, do Espírito?

29 de abril

 Beato Nicolau de Narbonne
Presbítero e 8º Prior Geral de nossa Ordem
(1266 – 1271)
 

Nicolau da França ou Nicolau de Narbonne († 1280 ou 1282) Carmelita, sucessor de S. Simão Stock foi Geral da Ordem, e autor da “Ignea Sagitta” (Flecha de Fogo), que é uma das obras fundamentais da espiritualidade carmelita e na qual defende a volta da Ordem à espiritualidade do deserto vivida pelos primeiros eremitas e que, segundo ele, seus irmãos haviam abandonado em favor do apostolado urbano, afirmando que a contemplação é impossível em meio ao barulho e confusão. Morreu no dia 29 de abril de 1280 ou 1281.
 
Salmodia, leitura, Responsório breve e preces do dia corrente.

 Oração

Senhor, que destes ao Beato Nicolau, a graça de imitar fielmente a Cristo pobre e humilde, fazei que também nós, vivendo plenamente a nossa vocação, no meio das vicissitudes temporais, abracemos de todo o coração as realidades eternas e   caminhemos para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, vosso Filho, Ele que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

Segunda-feira da 2ª semana da Páscoa

São Luís Maria Grignion de Montfort, presbítero
Santa Joana Beretta Molla, mãe de família
Bta Mª Felícia de Jesus Sacramentado, virgem de nossa Ordem
S. Pedro Chanel, presbítero e mártir
 
1ª Leitura (At 4, 23-31):
Naqueles dias, Pedro e João, tendo sido postos em liberdade, voltaram para junto dos seus e contaram-lhes tudo o que os príncipes dos sacerdotes e os anciãos lhes tinham dito. Depois de os ouvirem, invocaram a Deus numa só alma, dizendo: «Senhor, Vós fizestes o céu, a terra, o mar e tudo o que neles se encontra; Vós dissestes, mediante o Espírito Santo, pela boca do nosso pai David, vosso servo: ‘Por que se agitaram em tumulto as nações e os povos intentaram vãos projetos? Revoltaram-se os reis da terra e os príncipes conspiraram juntos contra o Senhor e contra o seu Ungido’. Na verdade, Herodes e Pôncio Pilatos uniram-se nesta cidade com as nações pagãs e os povos de Israel contra o vosso santo servo Jesus, a quem ungistes. Assim cumpriram tudo o que o vosso poder e sabedoria tinham de antemão determinado. E agora, Senhor, vede como nos ameaçam e concedei aos vossos servos que possam anunciar com toda a confiança a vossa palavra. Estendei a vossa mão, para que se realizem curas, milagres e prodígios, em nome do vosso santo servo Jesus». Depois de terem rezado, tremeu o lugar onde estavam reunidos: todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a anunciar com firmeza a palavra de Deus.
 
Salmo Responsorial: 2
R. Felizes aqueles que confiam no Senhor.
 
Por que se agitam em tumulto as nações e os povos intentam vãos provectos? Revoltam-se os reis da terra e os príncipes conspiram juntos contra o Senhor e contra o seu Ungido: «Quebremos as suas algemas e atiremos para longe o seu jugo».
 
Aquele que mora nos céus sorri, o Senhor escarnece deles. Então lhes fala com ira e com sua cólera os atemoriza: «Fui Eu quem ungiu o meu Rei sobre Sião, minha montanha sagrada».
 
Vou proclamar o decreto do Senhor. Ele disse-me: «Tu és meu filho, Eu hoje te gerei. Pede-me e te darei as nações como herança e os confins da terra para teu domínio. Hás de governá-los com ceptro de ferro, quebrá-los como vasos de barro».
 
Aleluia. Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 3,1-8): Havia alguém dentre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos chefes dos judeus. À noite, ele foi se encontrar com Jesus e lhe disse: «Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que tu fazes, se Deus não está com ele». Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus!». Nicodemos perguntou: «Como pode alguém nascer, se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para nascer?». Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires do que eu te disse: É necessário para vós nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito».
 
«Se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus!»
 
Frei Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, um «magistrado judeu» (Jo 3,1) vai ao encontro de Jesus. O Evangelho diz que o faz de noite: o que diriam os seus colegas se soubessem deste fato? Nesta instrução de Jesus encontramos uma catequese batismal, que seguramente circulava na comunidade do Evangelista.
 
Há alguns dias atrás celebramos a Vigília Pascal. Uma parte integrante desta vigília era a celebração do Batismo, que é a Páscoa, a passagem da morte para a vida. A bênção solene da água e a renovação das promessas foram momentos chave naquela noite santa.
 
No ritual do batismo faz-se uma imersão na água (símbolo da morte) e uma saída da mesma água (imagem da nova vida). É se submergido juntamente com o pecado e emerge-se depois renovado. Isto é o que Jesus denomina como «nascer do alto» ou «nascer de novo» (cf. Jo 3,3). Isto é “nascer da água”, “nascer do Espírito” ou “do sopro do vento...”.
 
Água e Espírito são os símbolos usados por Jesus. Ambos exprimem a ação do Espírito Santo que purifica e dá vida, limpa e anima, sacia a sede e faz respirar, suaviza e fala. Água e Espírito realizam uma única operação.
 
Por outro lado, Jesus fala também da oposição entre carne e Espírito: «O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito» (Jo 3,6). O homem carnal nasce humanamente quando se dá a sua concepção na Terra. Mas o homem espiritual morre para o que é puramente carnal e nasce espiritualmente através do Batismo, que é nascer de novo e do alto. Há uma bela frase de São Paulo que poderia ser o nosso tema de reflexão e ação, sobretudo neste tempo pascal: «Ou ignorais que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Pelo Batismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6,3-4).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Esta espessura da sabedoria e ciência de Deus é tão profunda e imensa, que, embora mais o alma saiba dela, sempre pode entrar mais adentro» (São João da Cruz)
 
«Um anúncio renovado oferece aos crentes, também aos tíbios ou não praticantes, uma nova alegria na fé e uma fecundidade evangelizadora. Cristo é o “Evangelho eterno” (Ap 14,6), e é “o mesmo ontem e hoje e para sempre” (Hb 13,8); sua riqueza e sua beleza são inesgotáveis) » (Francisco)
 
«”Tornar-se criança” diante de Deus é a condição para entrar no Reino, e para isso é preciso abaixar-se, tornar-se pequeno. Mais ainda: é preciso “nascer do Alto” (Jo 3,7), “nascer de Deus” (Jo 1,13) para “se tornar filho de Deus” (Jo 1,12)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 526)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de hoje traz uma parte da conversa de Jesus com Nicodemos.
Nicodemos aparece várias vezes no evangelho de João (Jo 3,1-13; 7,50-52; 19,39). Ele era uma pessoa de certa posição social. Tinha liderança entre os judeus e fazia parte do supremo tribunal chamado Sinédrio. No evangelho de João, ele representa o grupo de judeus que eram piedosos e sinceros, mas que não chegavam a entender tudo que Jesus fazia e falava. Nicodemos tinha ouvido falar dos sinais, das coisas maravilhosas que Jesus realizava, e ficou impressionado. Ele quer conversar com Jesus para poder entender melhor. Ele era uma pessoa estudada que pensava entender as coisas de Deus. Ele esperava o Messias com o livrinho da lei na mão para verificar se o novo anunciado por Jesus estava de acordo. Jesus faz perceber a Nicodemos que a única maneira para alguém poder entender as coisas de Deus é nascer de novo! Hoje acontece a mesma coisa. Alguns são como Nicodemos: só aceitam como novo aquilo que está de acordo com as suas próprias ideias. O que não estiver de acordo é recusado como sendo contrário à tradição. Outros se deixam surpreender pelos fatos e não têm medo de dizer: "Nasci de novo!"
 
* João 3,1: Um homem, chamado Nicodemos. Pouco antes do encontro de Jesus com Nicodemos, o evangelista falava da fé imperfeita de certas pessoas que só se interessavam pelos milagres de Jesus (Jo 2,23-25). Nicodemos era uma destas pessoas. Tinha boa vontade mas a sua fé ainda era imperfeita. A conversa com Jesus vai ajudá-lo a perceber que deve dar um passo a mais para poder aprofundar sua fé em Jesus e em Deus.
 
* João 3,2: 1ª pergunta de Nicodemos: tensão entre o velho e o novo. Nicodemos era um fariseu, pessoa de destaque entre os judeus e com um bom raciocínio. Ele foi encontrar Jesus de noite e lhe diz: "Você vem da parte de Deus como um mestre, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que você faz!" Nicodemos opina sobre Jesus a partir dos argumentos que ele, Nicodemos, tem dentro de si. Isto já é um passo importante, mas não basta para conhecer Jesus. Os sinais que Jesus faz podem despertar a pessoa e produzir nela um interesse. Podem gerar curiosidade, mas não geram entrega nem fé. Não fazem ver o Reino de Deus presente em Jesus. Para isto é necessário dar mais um passo. Qual é este passo?
 
* João 3,3: Resposta de Jesus: "Tem que nascer de novo!" Para que Nicodemos possa perceber o Reino presente em Jesus, ele terá que nascer de novo, do alto. Quem tenta compreender Jesus só a partir dos seus próprios argumentos, não consegue entendê-lo. Jesus é maior. Enquanto Nicodemos fica só com o catecismo do passado na mão, não vai poder entender Jesus. Ele terá que abrir mão de tudo. Terá que deixar de lado suas próprias certezas e seguranças e entregar-se totalmente. Terá que fazer uma escolha entre, de um lado, manter a segurança que lhe vem da religião organizada com suas leis e tradições e, do outro lado, lançar-se na aventura do Espírito que Jesus lhe propõe.
 
* João 3,4: 2ª pergunta de Nicodemos: Como é possível nascer de novo? Nicodemos não dá o braço a torcer e torna a perguntar com certa ironia: "Como uma pessoa pode nascer sendo já velha? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?" Nicodemos tomou as palavras de Jesus ao pé da letra e, por isso, não entendeu nada. Ele deveria ter percebido que as palavras de Jesus tinham um sentido simbólico.
 
* João 3,5-8: Resposta de Jesus: Nascer do alto, nascer do Espírito. Jesus explica o que quer dizer: nascer do alto ou nascer de novo. É "nascer da água e do Espírito". Aqui temos uma alusão muito clara ao batismo. Através da conversa de Jesus com Nicodemos, o evangelista nos convida a fazer uma revisão do nosso batismo. Ele relata as seguintes palavras de Jesus: "O que nasceu da carne é carne. O que nasceu do Espírito é Espírito". Carne significa aquilo que nasce só das ideias nossas. O que nasce de nós tem o nosso tamanho. Nascer do Espírito é outra coisa! O Espírito é como o vento. "O vento sopra onde quer e você ouve o seu ruído, mas você não sabe de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do espírito" O vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção. Nós percebemos a direção do vento, por exemplo, no vento Norte ou vento Sul, mas não conhecemos nem controlamos a causa a partir da qual o vento se movimenta nesta ou naquela direção. Assim é o Espírito. "Ninguém é senhor do Espírito" (Ecl 8,8). O que mais caracteriza o vento, o Espírito, é a liberdade. O vento, o espírito, é livre, não pode ser controlado. Ele age sobre os outros e ninguém consegue agir sobre ele. Sua origem é mistério, seu destino é mistério. O barqueiro deve, primeiro, descobrir o rumo do vento. Depois, deve colocar as velas de acordo com este rumo. É o que Nicodemos e todos nós temos de fazer.
 
* Uma chave para entender melhor as palavras de Jesus sobre o Espírito Santo.
A língua hebraica usa a mesma palavra para dizer vento e espírito. Como dissemos, o vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção: vento Norte, vento Sul. O Espírito de Deus tem um rumo, um projeto, que já se manifestava na criação. O Espírito estava presente na criação sob a forma de uma ave pairando sobre as águas do caos (Gn 1,2). Ano após ano, ele renova a face da terra e coloca a natureza em movimento através da sequência das estações (Sl 104,30; 147,18). Este mesmo Espírito está presente também na história. Fez recuar o Mar Vermelho (Ex 14,21) e trouxe as codornizes para o povo comer (Nm 11,31). Esteve com Moisés e, a partir dele, se distribuiu nas lideranças do povo (Nm 11,24-25). Tomava posse dos líderes e os levava a realizar ações libertadoras: Otoniel (Jz 3,10), Gedeão (Jz 6,34), Jefté (Jz 11,29), Sansão (Jz 13,25; 14,6.19; 15,14), Saul (1Sm 11,6), e Débora, a profetisa (Jz 4,4). Esteve presente no grupo dos profetas e agia neles com força contagiosa (1Sm 10,5-6.10). Sua ação nos profetas produziu inveja nos outros, mas Moisés reagiu: "Oxalá todo o povo fosse profeta e recebesse o Espírito de Javé!" (Nm 11,29).
 
* Ao longo dos séculos cresceu a esperança de que o Espírito de Deus orientasse o Messias na realização do projeto de Deus (Is 11,1-9) e descesse sobre todo o povo de Deus (Ez 36,27; 39,29; Is 32,15; 44,3). A grande promessa do Espírito transparece de várias maneiras nos profetas do exílio: a visão dos ossos secos, ressuscitados pela força do Espírito de Deus (Ez 37,1-14); a efusão do Espírito de Deus sobre todo o povo (Jl 3,1-5); a visão do Messias-Servo que será ungido pelo Espírito para estabelecer o direito na terra e anunciar a Boa Nova aos pobres (Is 42,1; 44,1-3; 61,1-3). Eles vislumbram um futuro, em que o povo, cada vez de novo, renasce pela efusão do Espírito (Ez 36,26-27; Sl 51,12; cf. Is 32,15-20).
 
* O evangelho de João usa muitas imagens e símbolos para significar a ação do Espírito. Como na criação (Gn 1,1), assim o Espírito desceu sobre Jesus "como uma pomba, vinda do céu" (Jo 1,32). É o começo da nova criação! Jesus fala as palavras de Deus e nos comunica o Espírito sem medida (Jo 3,34). Suas palavras são Espírito e vida (Jo 6,63). Quando Jesus se despediu, ele disse que ia enviar um outro consolador, um outro defensor, para ficar conosco. É o Espírito Santo (Jo 14,16-17). Através da sua paixão, morte e ressurreição, Jesus conquistou o dom do Espírito para nós. Através do batismo todos nós recebemos este mesmo Espírito de Jesus (Jo 1,33). Quando apareceu aos apóstolos, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo!" (Jo 20,22). O Espírito é como água que jorra de dentro das pessoas que creem em Jesus (Jo 7,37-39; 4,14). O primeiro efeito da ação do Espírito em nós é a reconciliação: "Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados; aqueles aos quais retiverem, serão retidos" (Jo 20,23). O Espírito nos é dado para que possamos lembrar e entender o significado pleno das palavras de Jesus (Jo 14,26; 16,12-13). Animados pelo Espírito de Jesus podemos adorar a Deus em qualquer lugar (Jo 4,23-24). Aqui se realiza a liberdade do Espírito de que fala São Paulo: "Onde há o Espírito do Senhor, aí está a liberdade"  (2Cor 3,17).
 
Para um confronto pessoal
1. Como você costuma reagir diante das novidades que se apresentam? É como Nicodemos ou aceita a surpresa de Deus?
2. Jesus compara a ação do Espírito Santo com o vento (Jo 3,8). O que esta comparação nos revela sobre a ação do Espírito de Deus na minha vida? Você já passou por alguma experiência que lhe deu a sensação de nascer de novo?

sexta-feira, 25 de abril de 2025

28 de abril

 Bta Maria Felícia de Jesus Sacramentado
Virgem de nossa Ordem
 
Maria Felicia Guggiari Echeverría, chamada Chiquitunga, nasceu aos 12 de janeiro de 1925 em Villarrica del Espíritu Santo, Paraguai. Aos 16 anos se incorpora na Ação Católica e é nomeada responsável pelo setor de meninas, chamado “Pequenas”. Neste movimento encontrou um ideal e um objetivo que orientou toda a sua vida. No dia 14 de agosto de 1955, veste o Hábito de Carmelita Descalça com o nome de Maria Felícia de Jesus Sacramentado. Faleceu com 34 anos, em Assunção, no dia 28 de abril de 1959. Sua beatificação foi celebrada em 23 de junho de 2018, em Assunção, sob o pontificado do Papa Francisco.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Deus Eterno e Todo-poderoso, que Vos alegrais em fazer a Vossa morada no coração dos homens e derramastes no coração da Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado o fogo do Vosso amor, levando-a a doar sua juventude no apostolado laical e a imolar-se por todos na vida contemplativa do Carmelo,  
ajudai-nos com a vossa graça viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

II Domingo da Páscoa – FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA

 Santa Zita, virgem
 
1ª Leitura (At 4,32-35):
A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.
 
Salmo Responsorial: 117
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
 
Diga a casa de Israel: é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Aarão: é eterna a sua misericórdia. Digam os que temem o Senhor: é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei de viver, para anunciar as obras do Senhor. Com dureza me castigou o Senhor, mas não me deixou morrer.
 
A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.
 
2ª Leitura (1Jo 5,1-6): Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.
 
Aleluia. Disse o Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto». Aleluia.
 
Evangelho (Jo 20,19-31): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco». Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos». Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: «Nós vimos o Senhor!». Mas Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus!». Jesus lhe disse: «Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!». Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
 
«Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados»
 
Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida, Espanha)
 
Hoje, segundo Domingo da Páscoa, completamos a oitava deste tempo litúrgico, uma das oitavas —juntamente com a do Natal— que a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II manteve. Durante oito dias, contemplamos o mesmo mistério a aprofundamo-lo à luz do Espírito Santo.
 
Por desígnio do Papa S. João Paulo II, a este Domingo chama-se o Domingo da Divina Misericórdia. Trata-se de algo que vai muito mais além de uma devoção particular. Como explicou o Santo Padre na sua encíclica Dives in misericórdia, a Divina Misericórdia é a manifestação amorosa de Deus em uma história ferida pelo pecado. A palavra “Misericórdia” tem a sua origem em duas palavras: “Miséria” e “Coração”. Deus coloca a nossa miserável situação devida ao pecado no Seu coração de Pai, que é fiel aos Seus desígnios. Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é a suprema manifestação e atuação da Divina Misericórdia. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16) e entregou-O à morte para que fossemos salvos. «Para redimir o escravo sacrificou o Filho», temos proclamado no Pregão pascal da Vigília. E, uma vez ressuscitado, constituiu-O em fonte de salvação para todos os que creem nele. Pela fé e pela conversão, acolhemos o tesouro da Divina Misericórdia.
 
A Santa Madre Igreja, que quer que os seus filhos vivam da vida do Ressuscitado, manda que —pelo menos na Páscoa— se comungue na graça de Deus. A cinquentena pascal é o tempo oportuno para cumprir esta determinação. É um bom momento para confessar-se, acolhendo o poder de perdoar os pecados que o Senhor ressuscitado conferiu à sua Igreja, já que Ele disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados» (Jo 20,22-23). Assim iremos ao encontro das fontes da Divina Misericórdia. E não hesitemos em levar os nossos amigos a estas fontes de vida: à Eucaristia e à Confissão. Jesus ressuscitado conta conosco.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«E a Vós, Senhor, que vedes claramente, com os vossos olhos, os abismos da consciência humana o que, de mim, Te poderia passar despercebido, mesmo que me recusasse a confessá-lo?» (Santo Agostinho)
 
«Muitas vezes pensamos que confessar-nos é como ir à lavandaria. Mas Jesus, no confessionário, não é uma lavandaria. A confissão é um encontro com Jesus que nos espera tal qual somos» (Francisco)
 
«Cristo age em cada um dos sacramentos. Ele dirige-Se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Meu filho, os teus pecados são-te perdoados” (Mc 2, 5); Ele é o médico que Se inclina sobre cada um dos doentes com necessidade d'Ele para os curar: alivia-os e reintegra-os na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.484)
 
“Meu Senhor e meu Deus!”
 
Pe. José Augusto, da Diocese de Leiria-Fátima
 
*
O relato evangélico começa por fazer um apontamento temporal e espacial do episódio que se vai seguir. No que respeita ao tempo, tudo se passa na tarde do primeiro dia da semana, ainda debaixo dos holofotes do acontecimento da ressurreição, algumas horas depois da experiência do sepulcro vazio. O local é a casa onde os discípulos estavam reunidos e escondidos com medo das autoridades judaicas. Depois desta introdução, os discípulos são surpreendidos pela aparição de Jesus ressuscitado, sem que nada o fizesse esperar. Àqueles corações desiludidos perante a morte na cruz, perplexos com o relato do túmulo vazio e espantados diante do que estavam a ver, Jesus concede o primeiro dom da sua ressurreição: a paz, harmonia, serenidade e plenitude de todos os bens que a saudação hebraica Shalom significa. Assim pacificados e revestidos de alegria pascal, os discípulos recebem do Ressuscitado o Espírito Santo e são enviados para levar ao mundo o perdão dos pecados.
 
* Entramos, depois, numa segunda parte do texto onde a figura principal é o apóstolo Tomé. Tendo estado ausente quando Jesus apareceu, pôde escutar o entusiasmo e a alegria dos que tinham presenciado a cena: “Vimos o Senhor!” Mas a palavra dos companheiros não foi suficiente para o levar a acreditar, o seu testemunho não bastou. A sua fé precisava de ver o sinal dos cravos e de tocar as feridas da paixão, exigia provas irrefutáveis e não se contentava com palavras de terceiros. Duvidava da possibilidade da ressurreição ou da veracidade das palavras dos outros discípulos? Talvez um pouco das duas. O que é certo é que a fé da comunidade não lhe foi suficiente.
 
* O relato continua com uma nova referência temporal: passaram oito dias, ou seja, estamos novamente no primeiro dia da semana, ocasião em que a comunidade dos discípulos se reunia. É de singular importância salientar que, logo desde o acontecimento da ressurreição, a cadência semanal marcou a vida dos discípulos: o “seu” dia era aquele em que Cristo ressuscitara, era o dia do Senhor, o domingo. É nesse contexto que se dá a nova aparição de Jesus aos discípulos, agora com Tomé presente. Em primeiro lugar somos surpreendidos com as palavras fortes que Jesus dirige a Tomé, em resposta às dúvidas que ele manifestara anteriormente. As provas que ele exigira para acreditar estão ali, diante dos seus olhos e ao alcance da sua mão. Por isso mesmo é que a sua profissão de fé também não se faz esperar: «Meu Senhor e meu Deus!»
 
* Tomé torna-se assim um exemplo para todos os crentes: para aqueles que têm dificuldades e vacilam; para aqueles que fazem depender a sua fé de provas irrefutáveis; para aqueles que a buscam de forma isolada, autónoma ou até individualista; para os que não se satisfazem com o testemunho, ainda que coerente, daqueles que os precederam; para os que, apesar de interiormente o desejarem, ainda não chegaram à fé e se definem como eternos buscadores de Cristo vivo. Em suma, Tomé é exemplo de todos os que caminham na fé.
 
* Na tarde daquele dia, o primeiro da semana - O domingo marca a vida da comunidade dos crentes desde a sua origem. Ele é o primeiro dia da semana, em que Cristo inicia um tempo novo com a sua ressurreição. Por isso mesmo, ele é também o dia por excelência da Eucaristia, memorial do mistério pascal do Senhor, de onde todos recebemos vida em abundância. Consequentemente, o domingo torna-se o dia da comunidade, em que ela se reúne para celebrar a sua fé, se alimentar da Palavra e do Pão da vida e viver o mandamento do amor fraterno.
 
* Vimos o Senhor - A celebração da Páscoa permite-nos, tal como aconteceu com os discípulos, “ver” o Senhor com os olhos da fé, pois Ele vem até nós com uma força e uma luz renovada. A sua vitória sobre a morte surpreende-nos e enche de alegria os nossos dias. Ainda que os nossos problemas e angústias possam permanecer, a celebração da Páscoa desafia-nos a uma esperança renovada e a uma visão positiva sobre a vida.
 
* Se não vir …, se não meter …, não acreditarei - A condição humana é caraterizada por muitas limitações e, consequentemente, muitas inseguranças. Por isso, buscamos certezas, pontos firmes onde alicerçar a nossa vida. No campo da fé, procuramos também provas irrefutáveis da existência de Deus e da sua bondade. Às vezes, quando não as temos, duvidamos. Outras vezes, só acreditamos depois de elas nos serem apresentadas. Outras vezes ainda, deixamos de acreditar quando elas não nos chegam com gostaríamos.
 
Para meditação:
1. Como vivo o meu domingo? Que importância lhe dou? É dia do Senhor, da Eucaristia e da comunidade?
2. O que significa para mim dizer no Credo que acredito na ressurreição de Jesus? É uma afirmação teórica, mais ou menos aceitável e compreensível do ponto de vista teórico ou é o facto histórico que dá sentido ao meu acreditar e à minha prática cristã?
3. Por que é que eu acredito? Porque tive experiências de Deus na minha vida, porque dou crédito a testemunhos de outros, porque cheguei à conclusão de que sem Deus a vida não fazia sentido, por outra razão qualquer? A exemplo de Tomé, quais são os “ses” da minha fé?