terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Quinta-feira da 5ª semana do Tempo Comum

1ª Leitura (Gen 2,18-25):
Disse o Senhor Deus: «Não é bom que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele». Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, conduziu-os até junto do homem, para ver como ele os chamaria, a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos pelo nome que o homem lhes desse. O homem chamou pelos seus nomes todos os animais domésticos, todas as aves do céu e todos os animais do campo. Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem um sono profundo e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, fazendo crescer a carne em seu lugar. Da costela do homem o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. Ao vê-la, o homem exclamou: «Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á ‘mulher’, porque foi tirada do ‘homem’». Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher, e os dois serão uma só carne. O homem e sua mulher estavam nus, mas não sentiam vergonha.
 
Salmo Responsorial: 127
R. Felizes os que esperam no Senhor.
 
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
 
Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor da tua mesa.
 
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida.
 
Aleluia. Acolhei docilmente a palavra em vós plantada, que pode salvar as vossas almas. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 7,24-30): Jesus se pôs a caminho e, dali, foi para a região de Tiro. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguia ficar escondido. Logo, uma mulher que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar dele. Ela foi e jogou-se a seus pés. A mulher não era judia, mas de origem siro-fenícia, e pedia que ele expulsasse o demônio de sua filha. Jesus lhe disse: «Deixa que os filhos se saciem primeiro; pois não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos». Ela respondeu: «Senhor, também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que os filhos deixam cair». Jesus, então, lhe disse: «Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha». Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama. O demônio havia saído dela.
 
«Ela foi e jogou-se a seus pés. Pedia que ele expulsasse o demônio de sua filha»
 
Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)
 
Hoje nos mostra a fé de uma mulher que não pertencia ao povo escolhido, mas que tinha a confiança em que Jesus podia curar a sua filha. Aquela mãe «A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio» (Mc 7,26). A dor e o amor a levam a pedir com insistência, sem levar em consideração nem desprezos, nem atrasos, nem indignação. E consegue o que pede, pois «Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já tinha saído dela» (Mc 7,30).
 
São Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem pois são «aut mali, aut male, aut mala». Ou são maus e a primeira coisa que teriam que pedir seria ser bons; ou pedem erroneamente, sem insistência, em vez de pedir com paciência, com humildade, com fé e por amor; ou pedem coisas ruins que se recebessem fariam dano à alma ou ao corpo ou aos outros. Devemos nos esforçar, pois, por pedir bem. A mulher siro-fenícia é boa mãe, pede algo bom («que expulsasse de sua filha o demônio») e pede bem («veio e jogou-se aos seus a pés»).
 
O Senhor nos faz usar perseverantemente a oração de petição. Certamente, existem outros tipos de pregaria —a adoração, a expiação, a oração de agradecimento—, mas Jesus insiste em que nós frequentemos muito a oração de petição.
 
Por que? Muitos poderiam ser os motivos: porque necessitamos da ajuda de Deus para alcançar nosso fim; porque expressa esperança e amor; porque é um clamor de fé. Mas existe um que talvez seja pouco considerando: Deus quer que as coisas sejam um pouco como nós queremos. Deste modo, nossa petição —que é um ato livre— unida à liberdade onipotente de Deus, faz com que o mundo seja como Deus quer e um pouco como nós queremos. É maravilhoso o poder da oração!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando a nossa oração não é ouvida é porque pedimos mal, com pouca fé ou sem perseverança, ou com pouca humildade» (Santo Agostinho)
 
«Jesus elogia a mulher siro-fenícia que lhe pede com insistência a cura da sua filha. Insistência que certamente é muito estressante, mas esta é uma atitude de oração. Santa Teresa fala da oração como negociação com o Senhor» (Francisco)
 
«Do mesmo modo que Jesus ora ao Pai e Lhe dá graças antes de receber os seus dons, assim também nos ensina esta audácia filial: ‘tudo o que pedirdes na oração, acreditai que já o alcançastes’ (Mc 11, 24). Tal é a força da oração: ‘tudo é possível a quem crê’ (Mc 9, 23), com uma fé ‘que não hesita’ (Mt 21,22) (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.610)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
*
No Evangelho de hoje, veremos como Jesus atende a uma mulher estrangeira de outra raça e de outra religião, o que era proibido pela lei religiosa daquela época. Inicialmente, Jesus não queria atendê-la, mas a mulher insistiu e conseguiu o que ela queria: a cura da filha.
 
* Jesus vai tentando abrir a mentalidade dos discípulos e do povo para além da visão tradicional. Na multiplicação dos pães, ele tinha insistido na partilha (Mc 6,30-44). Na discussão sobre o puro e o impuro, tinha declarado puros todos os alimentos (Mc 7,1-23). Agora, neste episódio da Mulher Cananéia, ele ultrapassa as fronteiras do território nacional e acolhe uma mulher estrangeira que não era do povo e com a qual era proibido conversar. Estas iniciativas de Jesus, nascidas da sua experiência de Deus como Pai, eram estranhas para a mentalidade do povo da época. Jesus ajuda o povo a abrir sua maneira de experimentar Deus na vida.
 
* Marcos 7.24: Jesus sai do território . No texto diretamente anterior a este (Mc 7,1-23), Jesus tinha criticado a incoerência da “Tradição dos Antigos” e tinha ajudado o povo e os discípulos a sair da prisão das leis da pureza. Aqui, em Mc 7,24, ele sai da Galileia. Parece querer sair da prisão do território e da raça. Estando no estrangeiro, ele não quer ser conhecido. Mas a sua fama já tinha chegado antes. O povo ficou sabendo e faz apelo a Jesus.
 
* Marcos 7.25-26: A situação. Uma mulher chega perto e começa a pedir pela filha doente. Marcos diz explicitamente que ela era de outra raça e de outra religião. Isto é, era uma pagã. Ela se lança aos pés de Jesus e começa a suplicar pela cura da filha que estava possuída por um espírito impuro. Os pagãos não tinham problema em recorrer a Jesus. Os judeus é que tinham problemas em conviver com os pagãos!
 
* Marcos 7.27: A resposta de Jesus . Fiel às normas da sua religião, Jesus diz que não convém tirar o pão dos filhos e dar aos cachorrinhos. Frase dura. A comparação vinha da vida em família. Até hoje, criança e cachorro é o que mais tem nos bairros pobres. Jesus afirma uma coisa certa: nenhuma mãe tira o pão da boca dos filhos para dar aos cachorrinhos. No caso, os filhos eram o povo judeu e os cachorrinhos, os pagãos. Na época do AT, por causa da rivalidade entre os povos, um povo costumava chamar o outro povo de “cachorro” (1Sam 17,43). Nos outros evangelhos Jesus explica o porquê da sua recusa: “Não fui enviado a não ser para as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24). Ou seja: “O Pai não quer que eu atenda à senhora!”
 
* Marcos 7,28: A reação da mulher . Ela concorda com Jesus, mas amplia a comparação e a aplica ao caso dela: “É verdade, Jesus! Mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa das crianças!” É como se dissesse: “Se sou cachorrinho, então tenho o direito dos cachorrinhos, a saber, as migalhas me pertencem!” Ela simplesmente tirou as conclusões da parábola que Jesus contou e mostrou que, até na casa de Jesus, os cachorrinhos comiam das migalhas que caíam da mesa das crianças. E na “casa de Jesus”, isto é, na comunidade cristã, a multiplicação do pão para os filhos foi tão abundante que estavam sobrando doze cestos (Mc 6,42) para os “cachorrinhos”, isto é, para ela, para os pagãos!
 
* Marcos 7,29-30: A reação de Jesus:  “Pelo que disseste: Vai! O demônio saiu da tua filha!” Nos outros evangelhos se explicita: “Grande é a tua fé! Seja feito como queres!” (Mt 15,28). Se Jesus atende ao pedido da mulher, é porque compreendeu que, agora, o Pai queria que ele acolhesse o pedido dela. Este episódio ajuda a perceber algo do mistério que envolvia a pessoa de Jesus e como ele convivia com o Pai. Era observando as reações e as atitudes das pessoas, que Jesus descobria a vontade do Pai nos acontecimentos da vida,. A atitude da mulher abriu um novo horizonte na vida de Jesus. Através dela, ele descobriu melhor que o projeto do Pai é para todos os que buscam a vida e procuram libertá-la das cadeias que aprisionam a sua energia. Assim, ao longo das páginas do evangelho de Marcos há uma abertura crescente em direção aos outros povos. Deste modo, Marcos leva os leitores e as leitoras a abrir-se, aos poucos, para a realidade do mundo ao redor e a superar os preconceitos que impediam a convivência pacífica entre os povos. Esta abertura para os pagãos aparece de maneira muito clara na ordem final dada por Jesus aos discípulos, depois da sua ressurreição: ”Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
 
Para um confronto pessoal
1. Como você faz, concretamente, para conviver em paz com pessoas de outras igrejas cristãs ou com espíritas? No bairro onde você vive tem gente de outras religiões? Quais? Você conversa normalmente com pessoas de outra religião?
2. Qual a abertura que este texto pede de nós, hoje, na família e na comunidade?

Quarta-feira da 5ª semana do Tempo Comum

Beato Alano da Bretanha, 5º Prior Geral da nossa Ordem
 

1ª Leitura (Gen 2,4b-9.15-17):
Quando o Senhor Deus fez a terra e o céu, ainda não havia na terra nenhuma planta dos campos, nem germinara ainda nenhuma erva da planície, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem existia o homem para cultivar o solo. Entretanto, um manancial de água subia da terra e regava toda a superfície do solo. Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou nele um sopro de vida e o homem tornou-se um ser vivo. O Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. O Senhor Deus fez nascer da terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e guardar. O Senhor Deus deu ao homem este mandamento: «Podes comer fruto de todas as árvores do jardim, mas não comerás da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que dela comeres, terás de morrer».
 
Salmo Responsorial: 103
R. Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
 
Bendiz, ó minha alma, o Senhor. Senhor, meu Deus, como sois grande! Revestido de esplendor e majestade, envolvido em luz como num manto.
 
Todos de Vós esperam que lhes deis de comer a seu tempo. Dais-lhes o alimento e eles o recolhem, abris a mão e enchem-se de bens.
 
Se lhes tirais o alento, morrem e voltam ao pó donde vieram. Se mandais o vosso espírito, retomam a vida e renovais a face da terra.
 
Aleluia. A vossa palavra, Senhor, é a verdade: consagrai-nos na verdade. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 7,14-23): Chamando outra vez a multidão, dizia: «Escutai-me, vós todos, e compreendei! Nada que, de fora, entra na pessoa pode torná-la impura. O que sai da pessoa é que a torna impura». Quando Jesus entrou em casa, longe da multidão, os discípulos lhe faziam perguntas sobre essa parábola. Ele lhes disse: «Também vós não entendeis? Não compreendeis que nada que de fora entra na pessoa a torna impura, porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, e vai para a fossa?». Assim, ele declarava puro todo alimento. E acrescentou: «O que sai da pessoa é que a torna impura. Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém impuro».
 
«Nada que de fora entra na pessoa a torna impura»
 
Rev. D. Norbert ESTARRIOL i Seseras (Lleida, Espanha)
 
Hoje Jesus nos ensina que tudo o que Deus tem feito é bom. Pode ser que, nossa intenção não reta seja a que contamine o que fazemos. Por isso, Jesus Cristo diz: «o que vem de fora e entra numa pessoa, não a torna impura; as coisas que saem de dentro da pessoa é que a tornam impura» (Mc 7,15). A experiência da ofensa a Deus é uma realidade. E com facilidade o cristão descobre essa marca profunda do mal e vê um mundo escravizado pelo pecado. A missão que Jesus nos encarrega é limpar —com ajuda de sua graça— todas as contaminações que as más intenções dos homens introduziram neste este mundo.
 
O Senhor nos pede que toda nossa atividade humana esteja bem realizada: espera que nela ponhamos intensidade, ordem, ciência, competência, preocupação de perfeição, não buscando outro alvo e sim restaurar o plano criador de Deus, que fez o melhor para o bom proveito do homem: «Pureza de intenção. — A terás, se, sempre e em tudo, só buscais agradar a Deus» (São Josemaria).
 
Só nossa vontade pode estragar o plano divino e, é necessário vigiar para que não seja assim. Muitas vezes se metem a vaidade, o amor-próprio, os desânimos por falta de fé, a impaciência por não conseguir os resultados esperados, etc. Por isso, nos advertia São Gregório Magno: «Não nos seduza nenhuma prosperidade aduladora, porque é um viajante teimoso aquele que para no caminho a contemplar as paisagens a menos que ele se esqueça do ponto ao que se dirige».
 
É conveniente, portanto, estar atentos no oferecimento de obras, manterem a presença de Deus e considerar frequentemente a filiação divina, de maneira que todo nosso dia —com oração e trabalho— tome sua força e comece no Senhor, e que tudo o que começamos por Ele chegue a seu fim.
 
Podemos fazer grandes coisas se notamos que cada um de nossos atos humanos é corredentor quando está unido aos atos de Cristo.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Não nos deixemos seduzir por nenhuma prosperidade lisonjeira, porque é um viajante teimoso quem pára no caminho para contemplar as paisagens agradáveis e se esquece para onde vai» (São Gregório Magno)
 
«É no coração humano que se desenvolve o enredo mais íntimo e, em certo sentido, o mais essencial da história» (São João Paulo II)
 
«O coração é a morada onde estou, onde habito (...). É a sede da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do encontro, já que, à imagem de Deus, vivemos em relação [com Ele]: é o lugar da Aliança» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.563)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O Evangelho de hoje é a continuação do assunto que meditamos ontem.
Jesus ajuda o povo e os discípulos a entender melhor o significado da pureza diante de Deus. Desde séculos, os judeus, para não contrair impureza, observavam muitas normas e costumes relacionados com comida, bebida, roupa, higiene do corpo, lavagem de copos, contato com pessoas de outra religião e raça, etc (Mc 7,3-4). Eles eram proibidos de entrar em contato com os pagãos e de comer com eles. Nos anos 70, época de Marcos, alguns judeus convertidos diziam: “Agora que somos cristãos temos que abandonar estes costumes antigos que nos separam dos pagãos convertidos!” Mas outros achavam que deviam continuar na observância destas leis da pureza (cf Col 2,16.20-22). A atitude de Jesus, descrita no evangelho de hoje, ajudava-os a superar o problema.
 
* Marcos 7,14-16: Jesus abre um novo caminho para o povo se aproximar de Deus. Ele diz para a multidão: “Não há nada no exterior do ser humano que, entrando nele, possa torná-lo impuro!” (Mc 7,15). Jesus inverte as coisas: o impuro não vem de fora para dentro, como ensinavam os doutores da lei, mas sim de dentro para fora. Deste modo, ninguém mais precisa se perguntar se esta ou aquela comida ou a bebida é pura ou impura. Jesus coloca o puro e o impuro num outro nível, no nível do comportamento ético. Ele abre um novo caminho para chegar até Deus e, assim, realiza o desejo mais profundo do povo.
 
* Marcos 7,17-23: Em casa, os discípulos pedem explicação. Os discípulos não entenderam bem o que Jesus queria dizer com aquela afirmação. Quando chegaram em casa pediram uma explicação. Jesus estranhou a pergunta dos discípulos. Pensava que eles tivessem entendido a parábola. Na explicação aos discípulos ele vai até ao fundo da questão da pureza. Declara puros todos os alimentos! Ou seja, nenhum alimento que de fora entra no ser humano pode torná-lo impuro, pois não vai até o coração, mas vai para o estômago e acaba na fossa. Mas o que torna impuro, diz Jesus, é aquilo que de dentro do coração sai para envenenar o relacionamento humano. E ele enumera: prostituição, roubo, assassinato, adultério, ambição etc. Assim, de muitas maneiras, pela palavra, pelo toque e pela convivência, Jesus foi ajudando as pessoas a ver e obter a pureza de outra maneira. Pela palavra, purificava os leprosos (Mc 1,40-44), expulsava os espírito impuros (Mc 1,26.39; 3,15.22 etc), e vencia a morte que era a fonte de toda a impureza. Pelo toque em Jesus, a mulher excluída como impura ficou curada (Mc 5,25-34). Sem medo de contaminação, Jesus comia junto com as pessoas consideradas impuras (Mc 2,15-17).
 
* As leis da pureza no tempo de Jesus. O povo daquela época tinha uma grande preocupação com a pureza. A lei e as normas da pureza indicavam as condições necessárias para alguém poder comparecer diante de Deus e se sentir bem na presença dele. Não se podia comparecer diante de Deus de qualquer jeito. Pois Deus é Santo. A Lei dizia: “Sede santos, porque eu sou santo!” (Lv 19,2). Quem não era puro não podia chegar perto de Deus para receber dele a bênção prometida a Abraão. A lei do puro e do impuro (Lv 11 a 16) foi escrita depois do cativeiro da Babilônia, cerca de 800 anos depois do Êxodo, mas tinha suas raízes na mentalidade e nos costumes antigos do povo da Bíblia. Uma visão religiosa e mítica do mundo levava o povo a apreciar as coisas, as pessoas e os animais, a partir da categoria da pureza (Gn 7,2; Dt 14,13-21; Nm 12,10-15; Dt 24,8-9).
 
* No contexto da dominação persa, séculos V e IV antes de Cristo, diante da dificuldade para reconstruir o templo de Jerusalém e para a própria sobrevivência do clero, os sacerdotes que estavam no governo do povo da Bíblia ampliaram as leis da pureza e a obrigação de oferecer sacrifícios de purificação pelo pecado. Assim, depois do parto (Lv 12,1-8), da menstruação (Lv 15,19-24) ou da cura de uma hemorragia (Lv 15,25-30), as mulheres tinham que oferecer sacrifícios para recuperar a pureza. Pessoas leprosas (Lv 13) ou que entravam em contato com coisas e animais impuros (Lv 5,1-13) também deviam oferecer sacrifícios. Uma parte destas oferendas ficava para os sacerdotes (Lv 5,13).
 
* No tempo de Jesus, tocar em leproso, comer com publicano, comer sem lavar as mãos, e tantas outras atividades etc.: tudo isso tornava a pessoa impura, e qualquer contato com esta pessoa contaminava os outros. Por isso, as pessoas “impuras” deviam ser evitadas. O povo vivia acuado, sempre ameaçado pelas tantas coisas impuras que ameaçavam sua vida. Era obrigado a viver desconfiado de tudo e de todos. Agora, de repente, tudo mudou! Através da fé em Jesus, era possível conseguir a pureza e sentir-se bem diante de Deus sem que fosse necessário observar todas aquelas leis e normas da “Tradição dos Antigos”. Foi uma libertação! A Boa Nova anunciada por Jesus tirou o povo da defensiva, do medo, e lhe devolveu a vontade de viver, a alegria de ser filho e filha de Deus, sem medo de ser feliz!
 
Para um confronto pessoal
1. Na sua vida há costumes que você considera sagrados e outros que considera não sagrados? Quais? Por que?
2. Em nome da Tradição dos Antigos os fariseus esqueciam o Mandamento de Deus. Isto acontece hoje? Onde e quando? Também na minha vida?

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Terça-feira da 5ª semana do Tempo Comum

Imaculada Conceição de Lourdes
 
1ª Leitura (Gen 1,20—2,4a):
Disse Deus: «Povoem as águas inúmeros seres vivos e voem as aves na terra sob o firmamento do céu». Deus criou os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, segundo as suas espécies, e todos os animais voadores, segundo as suas espécies. Deus viu que isto era bom; e abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos, enchei as águas dos mares e multipliquem-se as aves sobre a terra». Veio a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia. Disse Deus: «Produza a terra seres vivos, segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo as suas espécies». E assim sucedeu. Deus fez os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. Deus viu que isto era bom. Disse Deus: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre os animais selvagens e sobre todos os répteis que rastejam pela terra». Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele o criou homem e mulher. Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra». Disse Deus: «Dou-vos todas as plantas com semente que existem em toda a superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres vivos que se movem na terra dou as plantas verdes como alimento». E assim sucedeu. Deus viu tudo o que tinha feito: era tudo muito bom. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. Assim se completaram o céu e a terra e tudo o que eles contêm. Deus concluiu, no sétimo dia, a obra que fizera e, no sétimo dia, descansou do trabalho que tinha realizado. Deus abençoou e santificou o sétimo dia, porque nele descansou de todo o trabalho da criação. Esta é a origem do céu e da terra, quando foram criados.
 
Salmo Responsorial: 8
R. Como é admirável o vosso nome em toda a terra, Senhor, nosso Deus!
 
Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, Que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?
 
Fizestes dele quase um ser divino, de honra e glória o coroastes; destes-lhe poder sobre a obra das vossas mãos, tudo submetestes a seus pés:
 
Ovelhas e bois, todos os rebanhos, e até os animais selvagens, as aves do céu e os peixes do mar, tudo o que se move nos oceanos.
 
Aleluia. Inclinai o meu coração para as vossas ordens e dai-me a graça de cumprir a vossa lei. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 7,1-13): Os fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém ajuntaram-se em torno de Jesus. Eles perceberam que alguns dos seus discípulos comiam com as mãos impuras — isto é, sem lavá-las. Ora, os fariseus e os judeus em geral, apegados à tradição dos antigos, não comem sem terem lavado as mãos até o cotovelo. Bem assim, chegando da praça, eles não comem nada sem a lavação ritual. E seguem ainda outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras, vasilhas de metal, camas. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas tomam a refeição com as mãos impuras?» Ele disse: «O profeta Isaías bem profetizou a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É inútil o culto que me prestam, as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição humana». E dizia-lhes: «Sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus apegando-vos à vossa tradição. De fato, Moisés ordenou: ‘Honra teu pai e tua mãe’. E ainda: ‘Quem insulta pai ou mãe, deve morrer’. Mas vós ensinais que alguém pode dizer a seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que poderíeis receber de mim é destinado para oferenda’. E já não deixais tal pessoa ajudar seu pai ou sua mãe. Assim anulais a palavra de Deus por causa da vossa tradição, que passais uns para os outros. E fazeis ainda muitas outras coisas como essas!».
 
«Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos?»
 
Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje contemplamos como algumas tradições tardias dos mestres da Lei haviam manipulado o sentido puro do quarto mandamento da Lei de Deus. Aqueles escribas ensinavam que os filhos que ofereciam dinheiro e bens para o Templo faziam o melhor. Segundo este ensinamento, sucedia que os pais já não podiam pedir nem dispor destes bens. Os filhos formados nesta consciência errônea achavam que tinham cumprido assim o quarto mandamento, inclusive ter cumprido da melhor maneira. Mas, de fato, se tratava de um engano.
 
E Jesus acrescentou: «Vocês são bastante espertos para deixar de lado o mandamento de Deus a fim de guardar as tradições de vocês» (Mc 7,9): Jesus Cristo é o intérprete autêntico da Lei; por isso explica o justo sentido do quarto mandamento, desfazendo o lamentável erro do fanatismo judio.
 
«Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honre seu pai e sua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’» (Mc 7,10): o quarto mandamento lembra aos filhos as responsabilidades que têm com os pais. Tanto como possam, devem prestar-lhes ajuda material e moral durante os anos da velhice e durante as épocas de enfermidade, solidão ou angústia. Jesus lembra este dever de gratidão.
 
O respeito aos pais (piedade filial) está feito da gratidão que lhes devemos pelo dom da vida e pelos trabalhos que realizaram com esforço em seus filhos, para que estes pudessem crescer em idade, sabedoria e graça. «Honre a seu pai de todo coração, e não esqueça as dores de sua mãe. Lembre-se de que por eles o geraram. O que você lhes dará em troca por tudo o que eles deram a você?» (Sir 7,27-28).
 
O Senhor quer que o pai seja honrado pelos filhos, e confirma a autoridade da mãe sobre os filhos. Quem honra o próprio pai alcança o perdão dos pecados, e quem respeita sua mãe é como quem ajunta um tesouro. Quem honra seu pai será respeitado pelos seus próprios filhos, e quando rezar será atendido. Quem honra o seu pai terá vida longa, e quem obedece ao Senhor dará alegria à sua mãe.(cf. Sir 3,2-6). Todos estes e outros conselhos são uma luz clara para nossa vida em relação aos nossos pais. Peçamos ao Senhor a graça para que não nos falte nunca o verdadeiro amor que devemos aos pais e saibamos, com o exemplo, transmitir ao próximo esta doce “obrigação”.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Por vezes exibe-se uma aparência de virtude, sem qualquer interesse pela retidão interior. Quem ama a Deus fica feliz por Lhe poder agradar, porque o maior prémio que podemos desejar é o próprio amor» (São Leão Magno)
 
«Peçamos ao Senhor, por intercessão da Virgem Santa, que nos dê um coração puro, livre de toda a hipocrisia, para que assim sejamos capazes de viver segundo o espírito da lei e alcancemos o seu fim, que é o amor» (Francisco)
 
«O quarto mandamento lembra aos filhos adultos as suas responsabilidades para com os pais. Tanto quanto lhes for possível, devem prestar-lhes ajuda material e moral, nos anos da velhice e no tempo da doença, da solidão ou do desânimo. Jesus lembra este dever de gratidão» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.218)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O Evangelho de hoje fala dos costumes religiosos daquele tempo e dos fariseus que ensinavam tais costumes ao povo.
Por exemplo, comer sem lavar as mãos ou, como eles diziam, comer com mãos impuras. Muitos destes costumes estavam desligados da vida e tinham perdido o seu sentido. Mesmo assim, estes costumes eram conservados e ensinados, ou por medo, ou por superstição. O Evangelho traz algumas instruções de Jesus a respeito destes costumes.
 
* Marcos 7,1-2: Controle dos fariseus e liberdade dos discípulos.  Os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, observavam como os discípulos de Jesus comiam pão com mãos impuras. Aqui há três pontos que merecem ser assinalados: 1) Os escribas eram de Jerusalém, da capital! Significa que tinham vindo para observar e controlar os passos de Jesus. 2) Os discípulos não lavavam as mãos para comer! Significa que a convivência com Jesus os levou a criar coragem para transgredir normas que a tradição impunha ao povo, mas que já não tinham sentido para a vida. 3) O costume de lavar as mãos, que, até hoje, continua sendo uma norma importante de higiene, tinha tomado para eles um significado religioso que servia para controlar e discriminar as pessoas.
 
* Marcos 7,3-4: A Tradição dos Antigos . “A Tradição dos Antigos” transmitia as normas que deviam ser observadas pelo povo para conseguir a pureza exigida pela lei. A observância da pureza era um assunto muito sério para o povo daquele tempo. Eles achavam que uma pessoa impura não podia receber a bênção prometida por Deus a Abraão. As normas de pureza eram ensinadas para abrir o caminho até Deus, fonte da paz. Na realidade, porém, em vez de serem uma fonte de paz, as normas eram uma prisão, um cativeiro. Para os pobres, era praticamente impossível observar as centenas de normas, costumes e leis. Por isso, eles eram desprezados como gente ignorante e maldita que não conhece a lei (Jo 7,49).
 
* Marcos 7,5: Escribas e fariseus criticam o comportamento dos discípulos de Jesus. Os escribas e fariseus perguntam a Jesus: Por que os teus discípulos não se comportam conforme a tradição dos antigos e comem o pão com as mãos impuras? Eles fingem estar interessados em conhecer o porquê do comportamento dos discípulos. Na realidade, criticam Jesus por ele permitir que os discípulos transgridam as normas da pureza. Os fariseus formavam uma espécie de irmandade, cuja principal preocupação era observar todas as leis da pureza. Os escribas eram os responsáveis pela doutrina. Ensinavam as leis referentes à observância da pureza.
 
* Marcos 7,6-13 Jesus critica a incoerência dos fariseus. Jesus responde citando Isaías: Este povo me honra só com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (cf. Is 29,13). Insistindo nas normas da pureza, os fariseus esvaziavam os mandamentos da lei de Deus. Jesus cita um exemplo concreto. Eles diziam: a pessoa que oferecer ao Templo os seus bens, não pode usar esses bens para ajudar os pais necessitados. Assim, em nome da tradição esvaziavam o quarto mandamento que manda amar pai e mãe. Tais pessoas pareciam muito observantes, mas era só por fora. Por dentro, o coração delas fica longe de Deus! Como diz o canto: “Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e vive à beira das calçadas. E a gente quando vê passa adiante, às vezes, para chegar depressa à igreja!”. No tempo de Jesus, o povo, na sua sabedoria, não concordava com tudo que se ensinava. Esperava que, um dia, o messias viesse indicar um outro caminho para alcançar a pureza. Em Jesus se realiza esta esperança.
 
Para um confronto pessoal
1. Conhece algum costume religioso de hoje que já não tem muito sentido, mas que continua sendo ensinado?
2. Os fariseus eram judeus praticantes mas sua fé estava desligada da vida da vida do povo. Por isso, Jesus os criticou. E hoje, Jesus nos criticaria? Em que?

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

12 de fevereiro

 Beato Alano da Bretanha
5º Prior Geral da nossa Ordem
 

Nascido na Inglaterra, foi como cruzado, libertar Jerusalém das mãos dor turcos e tomou o hábito de nossa Ordem no Monte Carmelo. Eleito quinto Prior Geral em 1231, foi também o último eleito no Oriente.  Durante o período do seu priorado (1231-1247), os primeiros carmelitas partem da Terra Santa para fundarem conventos da Ordem na Europa.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Cântico evangélico (Benedictus)
Ant. Quem faz a vontade de meu Pai, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe, diz o Senhor
 
Oração
Senhor, que destes ao Beato Alano a graça de imitar fielmente a Cristo pobre e humilde, fazei que também nós, vivendo plenamente a nossa vocação, caminhemos para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, vosso Filho, Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 
Cântico evangélico (Magnificat)
Ant
. Onde os irmãos se reúnem para louvar a Deus, aí o Senhor abençoará o seu povo.

Segunda-feira da 5ª semana do Tempo Comum

 Santa Escolástica, virgem
 
1ª Leitura (Gen 1,1-19):
No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam a superfície do abismo e o espírito de Deus pairava sobre as águas. Disse Deus: «Faça-se a luz». E a luz apareceu. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ à luz e ‘noite’ às trevas. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: era o primeiro dia. Disse Deus: «Haja um firmamento no meio das águas, para as manter separadas umas das outras». Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam por cima dele. E ao firmamento chamou ‘céu’. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia. Disse Deus: «Juntem-se as águas que estão debaixo do firmamento num só lugar e apareça a terra seca». E assim sucedeu. À parte seca Deus chamou ‘terra’ e ‘mar’ ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. Disse Deus: «Cubra-se a terra de verdura: ervas que deem sementes e árvores de fruto, que produzam sobre a terra frutos com a sua semente, segundo a própria espécie». E assim sucedeu. A terra produziu verdura: erva que produz semente, segundo a sua espécie, e árvores que dão frutos com a sua semente, segundo a própria espécie. Deus viu que isto era bom. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia. Disse Deus: «Haja luzeiros no firmamento do céu, para distinguirem o dia da noite e servirem de sinais para as festas, os dias e os anos, para que brilhem no firmamento do céu e iluminem a terra». E assim sucedeu. Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia e o menor para presidir à noite; e fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para iluminarem a terra, para presidirem ao dia e à noite e separarem a luz das trevas. Deus viu que isto era bom. Veio a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia.
 
Salmo Responsorial: 103
R. Rejubile o Senhor nas suas obras.
 
Bendiz, ó minha alma, o Senhor. Senhor, meu Deus, como sois grande! Revestido de esplendor e majestade, envolvido em luz como num manto!
 
Fundastes a terra sobre alicerces firmes: não oscilará por toda a eternidade. Vós a cobristes com o manto do oceano, por sobre os montes pousavam as águas.
 
Transformais as fontes em rios que correm entre as montanhas. Nas suas margens habitam as aves do céu; por entre a folhagem fazem ouvir o seu canto.
 
Como são grandes as vossas obras! Tudo fizestes com sabedoria: a terra está cheia das vossas criaturas. Glória a Deus para sempre.
 
Aleluia. Jesus proclamava o Evangelho do reino e curava todas as doenças entre o povo. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6,53-56): Tendo atravessado o lago, foram para Genesaré e atracaram. Logo que desceram do barco, as pessoas reconheceram Jesus. Percorriam toda a região e começaram a levar os doentes, deitados em suas macas, para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. E, em toda parte onde chegava, povoados, cidades ou sítios do campo, traziam os doentes para as praças e suplicavam-lhe para que pudessem ao menos tocar a franja de seu manto. E todos os que tocavam ficavam curados.
 
«Todos os a tocavam [a franja de seu manto] ficavam salvados»
 
Fr. John GRIECO (Chicago, Estados Unidos)
 
Hoje, no Evangelho do dia, vemos o magnífico “poder do contato” com a pessoa de Nosso Senhor: «Traziam os doentes para as praças e suplicavam-lhe para que pudessem ao menos tocar a franja de seu manto. E todos os que tocavam ficavam curados».(Mc 6,56). O menor contato físico pode obrar milagres para aqueles que se aproximam a Cristo com fé. Seu poder de curar desborda desde seu coração amoroso e estende inclusive a suas vestes. Ambos, sua capacidade e seu desejo pleno de curar, são abundantes de fácil acesso.
 
Esta passagem pode nos ajudar a meditar como estamos recebendo ao Nosso Senhor na Sagrada Comunhão. Comungamos com fé de que este contato com Cristo pode obrar milagres em nossas vidas? Mais que um simples tocar «a franja de seu manto», nós recebemos realmente o Corpo de Cristo em nossos corpos. Mais que uma simples cura de nossas doenças físicas, a Comunhão cura nossas almas e lhes garanta a participação na própria vida de Deus. São Inácio de Antioquia, assim, considerava à Eucaristia como a «medicina da imortalidade e o antídoto para prevenir-nos da morte, de modo que produz o que eternamente nós devemos viver em Jesus Cristo».
 
O aproveitamento desta «medicina da imortalidade» consiste em ser curados de todos aqueles que nos separa de Deus e dos outros. Ser curados por Cristo na Eucaristia, por tanto, implica superar nosso ensimesmamento. Tal como ensina Bento XVI, «Nutrir-se de Cristo é o caminho para não permanecer alheios ou indiferentes diante da sorte dos irmãos (...). Uma espiritualidade eucarística, então, é um autêntico antídoto diante o individualismo e o egoísmo que com frequência caracterizam a vida cotidiana, levam ao redescobrimento da gratuidade, da centralidade das relações, a partir da família, com particular atenção em aliviar as feridas de aquelas desintegradas».
 
Igual que aqueles que foram curados de suas doenças tocando seus vestidos, nós também podemos ser curados de nosso egoísmo e de nosso isolamento dos outros mediante a recepção de Nosso Senhor com fé.
 
«Logo que desceram do barco, as pessoas reconheceram Jesus»
 
Rev. D. Joaquim MONRÓS i Guitart (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, contemplamos a fé dos habitantes daquela região onde Jesus chegou para levar a salvação das almas. O Senhor é dono da alma e do corpo; por isso, não duvidavam em levar os seus enfermos: «Onde quer que ele entrasse, fosse nas aldeias ou nos povoados, ou nas cidades, punham os enfermos nas ruas e pediam-lhe que os deixassem tocar ao menos na orla de suas vestes. E todos os que tocavam em Jesus ficavam sãos» (Mc 6,56). Temos hoje, como sempre, enfermos da alma e do corpo. Convém que ponhamos todos os meios humanos e sobrenaturais para aproximar nossos parentes, amigos e conhecidos ao Senhor. Podemos fazer, em primeiro lugar, rezando por eles, pedindo pela sua saúde espiritual e corporal. Se há uma enfermidade do corpo, não duvidamos em procurar saber se existe um tratamento adequado, se há pessoas que possam cuidá-lo, etc.
 
Quando se trata de uma “enfermidade” da alma (habitualmente, palpável externamente), como pode ser que um filho, um irmão, um parente não assista à Missa aos domingos, além de rezar convém falar do remédio, talvez lhe transmitindo a palavra algum pensamento ou alguma orientação motivadora que nós mesmos possamos extrair do Magistério (por exemplo, da Carta apostólica O dia do Senhor de João Paulo II, ou de algum dos pontos do Catecismo da Igreja).
 
Se o irmão “enfermo” é alguém constituído em pública autoridade que justifica ou mantém uma lei injusta —como pode ser a falta de penalização do aborto—, não duvidemos —além de orar— em buscar a oportunidade para transmitir-lhe —de palavra ou por escrito— nosso testemunho sobre a verdade.
 
«Nós não podemos deixar de anunciar o que vimos e ouvimos» (At 4,20). Todas as pessoas têm necessidade do Salvador. Quando não atendem ao seu chamado é porque ainda não o reconheceram, talvez porque nós ainda não soubemos anunciar-lhe. O fato é que, enquanto o reconheciam, «colocavam os enfermos nas praças e lhe pediam que tocara somente um pedacinho do seu manto» (Mc 6,56). Jesus curava tanto mais quanto havia alguns que «colocavam» (punham ao alcance do Senhor) aos que mais urgentemente necessitavam remédio.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Cristo é tudo para nós. Se você é oprimido pela injustiça, Ele é justiça; se você precisar de ajuda, Ele é a força; se você tem medo da morte, Ele é vida; se você quer o céu, Ele é o caminho; se você está nas trevas, Ele é a luz» (Santo Ambrósio de Milão)
 
«Deus, depois de ter acabado a criação, não se “retirou”: ainda pode agir. Ele ainda é o Criador e, por isso, sempre tem a possibilidade de "intervir". Deus ainda é Deus!» (Bento XVI)
 
«Cristo convida os seus discípulos a continuarem com ele, cada um com sua cruz. Seguindo-o, adquirem uma nova visão sobre a doença e sobre os enfermos. Jesus os associa com sua vida pobre e humilde. Ele os faz participar do seu ministério de compaixão e cura (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.506)
 
Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
*
O texto do Evangelho de hoje é a parte final do conjunto mais amplo de Marcos 6,45-56 que compreende três assuntos diferentes: 1) Jesus sobe sozinho a montanha para rezar (Mc 6,45-46). 2) Em seguida, andando sobre as águas, ele vai ao encontro dos discípulos que lutam contra as ondas domar (Mc 6,47-52). 3) Agora, no evangelho de hoje, estando já em terra Jesus é procurado pelo povo que a cura das suas enfermidades (Mc 6,53-56).
 
* Marcos 6,53-56. A busca do povo.  “Acabando de atravessar, chegaram à terra, em Genesaré, e amarraram a barca. Logo que desceram da barca, as pessoas imediatamente reconheceram Jesus”. O povo vai em massa atrás de Jesus. Eles vêm de todos os lados, carregando seus doentes. O que chama a atenção é o entusiasmo do povo que reconheceu Jesus e vai atrás dele. O que o move nesta busca de Jesus não é só o desejo de se encontrar com ele, de estar com ele, mas também o desejo de obter a cura das suas doenças. “Iam de toda a região, levando os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. E onde ele chegava, tanto nos povoados como nas cidades ou nos campos, colocavam os doentes nas praças e pediam que pudessem ao menos tocar a barra da roupa de Jesus. E todos os que tocaram, ficaram curados”. O evangelho de Mateus comenta e ilumina este fato citando a figura do Servo de Javé, do qual Isaías diz: “Carregou sobre si as nossas enfermidades” (Is 53,4 e Mt 8,16-17)
 
* Ensinar e curar, curar e ensinar. Desde o começo da sua atividade apostólica, Jesus anda por todos os povoados da Galileia para falar ao povo sobre o Reino de Deus que estava chegando (Mc 1,14-15). Onde encontra gente para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus, acolhe e cura os doentes, em qualquer lugar: nas sinagogas durante a celebração da Palavra nos sábados (Mc 1,21; 3,1; 6,2); em reuniões informais nas casas de amigos (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10); andando pelo caminho com os discípulos (Mc 2,23); ao longo do mar na praia, sentado num barco (Mc 4,1); no deserto para onde se refugiou e onde o povo o procurava (Mc 1,45; 6,32-34); na montanha, de onde proclamou as bem-aventuranças (Mt 5,1); nas praças das aldeias e cidades, onde povo carregava seus doentes (Mc 6,55-56); no Templo de Jerusalém, por ocasião das romarias, diariamente, sem medo (Mc 14,49)! Curar e ensinar, ensinar e curar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc 10,1). O povo ficava admirado (Mc 12,37; 1,22.27; 11,18) e o procurava em massa.

* Na raiz deste grande entusiasmo do povo estava, de um lado, a pessoa de Jesus que chamava e atraía, e, de outro lado, o abandono do povo que era como ovelha sem pastor (cf. Mc 6,34). Em Jesus, tudo era revelação daquilo que o animava por dentro! Ele não só falava sobre Deus, mas também o revelava. Comunicava algo do que ele mesmo vivia e experimentava. Ele não só anunciava a Boa Nova do Reino. Ele mesmo era uma amostra, um testemunho vivo do Reino. Nele aparecia aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida. O que vale não são só as palavras, mas também e sobretudo o testemunho, o gesto concreto. Esta é a Boa Nova do Reino que atrai!
 
Para um confronto pessoal
1. O entusiasmo do povo em busca de Jesus, em busca de um sentido para a vida e uma solução para os seus males. Onde existe isto hoje? Existe em você, existe em mim?
2. O que chama a atenção é a atitude carinhosa de Jesus para com os pobres e abandonados. E eu, como me comporto com as pessoas excluídas da sociedade?
 

V Domingo do Tempo Comum

Sta. Apolônia, virgem e mártir
 
1ª Leitura (Is 6,1-2a.3-8):
No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».
 
Salmo Responsorial: 137
R. Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.
 
De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca. Na presença dos Anjos Vos hei de cantar e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.
 
Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade, porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa. Quando Vos invoquei, me respondestes, aumentastes a fortaleza da minha alma.
 
Todos os reis da terra Vos hão de louvar, Senhor, quando ouvirem as palavras da vossa boca. Celebrarão os caminhos do Senhor, porque é grande a glória do Senhor.
 
A vossa mão direita me salvará, o Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, a vossa bondade é eterna, não abandoneis a obra das vossas mãos.
 
2ª Leitura (1Cor 15,1-11): Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.
 
Aleluia. Vinde comigo, diz o Senhor, e farei de vós pescadores de homens. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 5,1-11): Certo dia, Jesus estava à beira do lago de Genesaré, e a multidão se comprimia a seu redor para ouvir a Palavra de Deus. Ele viu dois barcos à beira do lago; os pescadores tinham descido e lavavam as redes. Subiu num dos barcos, o de Simão, e pediu que se afastasse um pouco da terra. Sentado, desde o barco, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca». Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, pela tua palavra, lançarei as redes». Agindo assim, pegaram tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Fizeram sinal aos companheiros do outro barco, para que viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram os dois barcos a ponto de quase afundarem. Vendo isso, Simão Pedro caiu de joelhos diante de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!». Ele e todos os que estavam com ele ficaram espantados com a quantidade de peixes que tinham pescado. O mesmo ocorreu a Tiago e João, filhos de Zebedeu e sócios de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!». Eles levaram os barcos para a margem, deixaram tudo e seguiram Jesus.
 
«Mestre pela tua palavra, lançarei as redes»
 
Rev. D. Blas RUIZ i López (Ascó, Tarragona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos oferece o diálogo, simples e profundo ao mesmo tempo, entre Jesus e Simão Pedro, diálogo que poderíamos fazê-lo nosso: no meio das águas tempestuosas deste mundo, nos esforçamos por nadar contra a corrente, buscando a boa pesca de um anúncio do Evangelho que obtenha uma resposta frutuosa...
 
E é então quando nos cai em cima, indiscutivelmente, a dura realidade; nossas forças não são suficientes. Necessitamos alguma coisa mais: a confiança na Palavra daquele que nos prometeu que nunca nos deixará só. «Simão respondeu-lhe: Mestre! Trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede.» (Lc 5,5). Esta resposta de Pedro pode-se entender em relação com as palavras de Maria nas bodas de Canaã: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). E é no cumprimento confiado da vontade do Senhor quando nosso trabalho resulta proveitoso.
 
E tudo, apesar de nossa limitação de pecadores: «Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador» (Lc 5,8). São Irineu de Lyon descobre um aspecto pedagógico no pecado: quem é consciente de sua natureza pecadora é capaz de reconhecer sua condição de criatura, e este reconhecimento nos põe ante a evidência de um Criador que nos supera.
 
Somente quem, como Pedro, soube aceitar sua limitação, está em condições de aceitar que os frutos de seu trabalho apostólico não são seus, e sim Daquele de quem se serviu como um instrumento. O Senhor chama aos Apóstolos a serem pescadores de homens, mas o verdadeiro pescador é Ele: o bom discípulo não é mais que a rede que recolhe a pesca, e esta rede somente é efetiva se atua como fizeram os Apóstolos: E atracando as barcas à terra, deixaram tudo e o seguiram (cf. Lc 5,11).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«[É tarefa dos filhos de Deus] procurar que todos os homens entrem satisfeitos nas redes divinas e se amem uns aos outros (...). Acompanhemos a Cristo nesta divina pesca» (São Josemaria)
 
«Quem dá testemunho de Jesus sabe que na vida não se pode acomodar no bem-estar mas tem que correr o risco de ir mar adentro» (Francisco)
 
«Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre a sua pequenez (...). Perante os sinais divinos realizados por Jesus. Pedro exclama: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque eu sou um pecador» (Lc 5, 8)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 208)
 
«Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!».

Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
*
Este relato, rico de uma grande intensidade teológica, está colocado como o centro de um percurso de fé e de encontro com o Senhor Jesus, que nos conduz desde a surdez à capacidade plena de escuta, da enfermidade mais paralisante à cura salvífica, que nos torna capazes de ajudar os irmãos a renascer conosco. Jesus começou a sua pregação na sinagoga de Nazaré, tornando legíveis e luminosas as palavras do volume da Torah (Lc 4, 16ss), venceu o pecado (Lc 4, 31-37) e a enfermidade (Lc 4, 38-41), afastando-o do coração do homem e anunciou aquela força misteriosa que a  enviou a nós pela qual Ele deve mover-se, correr como gigante, que chega a todos os pontos da terra. É aqui, neste momento, onde emerge a resposta e começa o seguimento, a obediência da fé; é aqui onde nasce já a Igreja e o novo povo, capaz de ouvir e de dizer sim.
 
* vv. 1-3: Jesus encontra-se na margem do mar da Galileia e diante dele encontra-se uma grande multidão desejosa de escutar a Palavra de Deus. Ele sobe a uma barca e afasta-se da terra; como um mestre e guia, senta-se sobre as águas e domina-as e oferece a sua salvação, que nasce da Palavra, escutada e acolhida.
 
* vv. 4-6: Jesus faz o convite para pescar e Pedro obedece, acredita na Palavra do Mestre. Por causa da fé, entra no mar e lança as redes; devido a esta mesma fé a pesca é abundante, é milagrosa.
 
* v. 7: O encontro com Jesus nunca está fechado mas conduz à comunicação, à participação: o dom, de facto, é demasiado grande e incontível para um só. Pedro chama os companheiros que estão noutro barco e o dom duplica-se, cresce continuamente.
 
* vv. 8-11: Diante de Jesus, Pedro ajoelha-se, adora e reconhece o seu pecado, a sua incapacidade, mas Ele chama-o, com o mesmo tom com que removeu as águas de tantos mares, ao longo de toda a Escritura: “Não temais!”. Deus revela-se e faz-se companheiro do homem. Pedro aceita a missão de tirar para fora do mar do mundo e do pecado os homens, seus irmãos, assim como ele foi tirado; deixa o barco, as redes, os peixes e segue Jesus, com os seus companheiros.
 
* Sentando-se, ensinava a multidão partir do barco. Jesus abaixa-se, senta-se, habita no meio de nós, abaixa-se ao ponto de tocar a nossa terra e desde esta pequenez dá-nos o seu ensinamento, a sua Palavra de salvação. Jesus dá-me tempo, espaço, plena disponibilidade para o encontrar e para o conhecer, mas, sei ficar, permanecer, unir-me a Ele, diante d'Ele?
Pediu que se afastasse um pouco da terra. O pedido do Senhor é progressivo. Depois de afastar-se da terra, pede que entre no mar. “Afasta-te da terra! Faz-te ao largo!”. Convites dirigidos a todos os barcos de todos os homens e mulheres. Tenho fé, confiança, confio n'Ele e por isso deixo-me conduzir, deixo a pesca? Olho com sinceridade e seriedade para dentro de mim: onde estão presas as amarras da minha vida?
 
* Lançarei as redes. Pedro dá-nos um exemplo luminoso de fé na Palavra do Senhor. Nesta passagem o verbo “lançar” aparece em duas ocasiões: a primeira está referida às redes, e a segunda à própria pessoa de Pedro. O significado é forte e claro: diante do Senhor podemos lançar todo o nosso ser. Nós lançamos mas Ele recolhe. Sempre, com uma fidelidade absoluta e infalível. Sinto-me disposto a tomar a minha vida tal como hoje é e lançá-la aos pés de Jesus, para que Ele, uma vez mais, me recolha, me cure, fazendo de mim um homem novo?
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco. Pedro, novamente, serve-me de guia no meu caminho e indica-me a via de abertura aos outros, da participação, porque na Igreja não é possível estarmos isolados e fechados. Todos somos enviados: “Vai aos meus irmãos e diz-lhes” (Jo 20, 17). Sei aproximar o meu barco dos outros? Sei verter na existência dos outros irmãos e irmãs os dons e as riquezas que o Senhor me confiou?

O MAR E O TEMA DO ÊXODO
 
* Jesus está de pé, junto à margem do mar, está de pé não importa as obscuridades ameaçadoras e ignoradas das ondas do mar e da vida.
Coloca-se diante deste povo reunido, pronto para escutar e para o êxodo, a Ele, o bom pastor, com o cajado da sua Palavra. Quer conduzir através dos mares e dos oceanos deste mundo, numa viagem de salvação que nos conduz para cada vez mais perto do Pai. O Senhor fala e as águas separam-se diante d'Ele, como acontecera no Mar Vermelho (Ex 14, 21-23) e junto ao rio Jordão (Jos 3, 14-17). Também o mar de areia do deserto fica vencido pela força da Palavra e abre-se, convertendo-se num jardim, uma estrada plana e endireitada (Is 43, 16-21) para quantos decidem fazer a viagem de regresso a Deus e se deixam guiar por Ele. Nestes poucos versículos do Evangelho, o Senhor Jesus prepara, uma vez mais para nós o grande milagre do êxodo, da saída das trevas da morte para os pastos frescos da amizade com Ele, da escuta da sua voz. Tudo está preparado: o nosso nome foi pronunciado com infinito amor pelo bom pastor, que nos conhece desde sempre e nos guia por toda a eternidade, sem nunca nos deixar abandonados.
 
A ESCUTA DA FÉ QUE NOS CONDUZ À OBEDIÊNCIA
 
* É a segunda passagem do glorioso caminho que o Senhor Jesus nos oferece através deste trecho de Lucas. A multidão apinha-se em torno de Jesus, conduzida pelo desejo íntimo de escutar a Palavra de Deus.; é a resposta ao convite perene do Pai, que invade toda a Escritura: “Escuta Israel!” (Dt 6, 4) e “se o meu povo me escutasse!” (Sal 80, 14). É como se a multidão dissesse: “Sim, escutarei o que diz o Senhor Deus!” (Sal 85, 9). Mas a escuta que nos é pedida e sugerida é completa não superficial; é viva e vivificante, não morta; é escuta da fé, não da incredulidade e da dureza do coração. É a escuta que diz: “mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes”. O chamamento que o Senhor nos dirige neste momento é antes de tudo o chamamento à fé, a fiar-se n'Ele e em toda a palavra que sai da sua boca, seguros e certos de que tudo o que Ele diz se realiza. Como Deus disse a Abraão: “Há alguma coisa impossível para o Senhor?” (Gen 18, 14), ou a Jeremias: “Existe algo impossível para mim?” (Jer 32, 27; cf. Zac 8, 6). Ou como disse a Maria: “A Deus nada é impossível” (Lc 1, 37) e então ela disse: “Faça-se em mim como disseste”. Aqui é onde devemos chegar; como Maria,  como Pedro. Não podemos ser somente ouvintes, porque enganamo-nos a nós mesmos, como diz São Tiago (1, 19-25), ficaremos enganados pela pouca memória e perder-nos-emos. A palavra deve ser realizada, cumprida, posta em prática. É uma grande ruína para o que escuta se não a põe em prática; é necessário escavar profundamente e colocar o alicerce sobre a rocha, que é a fé operativa (cf. Lc 6, 46-49).
 
A PESCA COMO MISSÃO DA IGREJA
 
* A adesão à fé conduz à missão, isto é, a entrar na comunidade instituída por Jesus para a difusão do Reino. Parece que Lucas quer já, nesta passagem, apresentar a Igreja que vive a experiência pós-pascal do encontro com Jesus ressuscitado; são conhecidas as muitas referência à passagem de Jo 21, 1-8. Jesus escolhe uma barca e escolhe Pedro e, a partir da barca, chama homens e mulheres, filhos e filhas, para continuar a sua missão. Refira-se também que o verbo “faz-te ao largo” se encontra no singular e refere-se a Pedro que recebe o encargo de guia, mas a ação da pesca está no plural: “Lançai as redes!”, referida a todos aqueles que querem aderir para participar na missão. É bela e luminosa, é gozosa, é comum a todos esta única missão e fadiga! É a missão apostólica, que começa agora, em obediência à Palavra do Senhor e que chegará ao longe, a todos os lugares da terra (cf. Mt 28, 19; At 1, 8; Mc 16, 15; 13, 10; Lc 24, 45-48).
 
* É interessante notar o vocábulo usado por Lucas para indicar a missão confiada por Jesus a Pedro e nele a todos nós, quando lhe diz: “Não temas... tu serás pescador de homens”. Aqui não se usa o mesmo termo que encontramos já em Mt 4, 18ss, em Mc 1, 16 ou também nesta passagem no versículo 2, simplesmente pescador; há aqui uma palavra nova, que aparece somente duas vezes em todo o Novo Testamento e que deriva do verbo “capturar”, no sentido de “capturar vivo e manter com vida”. Os pescadores do Senhor lançam as redes ao mar do mundo para oferecer aos homens a Vida, para os tirar dos abismos e fazê-los voltar à verdadeira vida. Pedro e os outros, nós e os nossos companheiros de navegação neste mundo, podemos continuar, se quisermos, em qualquer estado em que nos encontrarmos, aquela mesma e formosa missão de enviados do Pai para “salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10).
 
Palavra para o caminho
1. Nós, cristãos, estamos a experimentar que a nossa capacidade para transmitir a fé às novas gerações é cada vez menor. Não tem faltado esforços e iniciativas. Porém, ao que parece, não se trata somente nem primordialmente de inventar novas estratégias.
2. Chegou o momento de recordar que, no Evangelho de Jesus, há uma força de atracção que não existe em nós. Esta é a pergunta mais decisiva: continuamos “a fazer coisas”, ou colocamos todas as nossas energias em recuperar o Evangelho como a única força capaz de produzir fé nos homens e mulheres de hoje?
3. Temos de colocar o Evangelho na frente de tudo. O decisivo é que o povo possa entrar em contacto com a vida e a pessoa de Jesus. A fé cristã desperta no coração dos homens e mulheres, quando as pessoas descobrem o fogo de Jesus.

Sábado da 4ª semana do Tempo Comum

Santa Josefina Bakhita, virgem
 
1ª Leitura (Hb 13,15-17.20-21):
Irmãos: Ofereçamos a Deus continuamente, por Jesus Cristo, um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que aclamam o seu nome. Não esqueçais a beneficência e a solidariedade, porque são estes sacrifícios que agradam a Deus. Obedecei aos vossos chefes e sede-lhes submissos, porque eles velam pelas vossas almas, como quem tem de responder por elas. Assim poderão fazê-lo com alegria, e sem queixumes, o que vos seria prejudicial. O Deus da paz, que ressuscitou dos mortos Aquele que, pelo sangue de uma aliança eterna, Se tornou o supremo pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, vos torne aptos para cumprir a sua vontade em toda a espécie de boas obras e realize em nós o que Lhe é agradável, por Jesus Cristo, a quem seja dada glória pelos séculos dos séculos. Amém.
 
Salmo Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada me faltará.
 
O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma.
 
Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.
 
Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça e meu cálice transborda.
 
A bondade e a graça hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
 
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6,30-34): Os apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Ele disse-lhes: «Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!». Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós. Muitos os viram partir e perceberam a intenção; saíram então de todas as cidades e, a pé, correram à frente e chegaram lá antes deles. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas.
 
«Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco! Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem tempo para comer»
 
Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos sugere uma situação, uma necessidade e um paradoxo que são muito atuais.
 
Uma situação. Os Apóstolos estão “estressados”: «Ele disse-lhes: Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer» (Mc 6,31). Frequentemente nós nos vemos achegados à mesma mudança. O trabalho exige boa parte de nossas energias; a família, onde cada membro quer palpar nosso amor; as outras atividades nas que nos comprometemos, que nos fazem bem e, ao mesmo tempo, beneficiam a terceiros... Querer é poder? Talvez seja mais razoável reconhecer que não podemos tudo aquilo que gostaríamos.
 
Uma necessidade. O corpo, a cabeça e o coração reclamam um direito: descanso. Nestes versículos temos um manual, frequentemente ignorado, sobre o descanso. Aí destaca a comunicação. Os Apóstolos «Os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-lhe tudo o que haviam feito e ensinado» (Mc 6,30). Comunicação com Deus, seguindo o fio do mais profundo de nosso coração. E — que surpresa!— encontramos a Deus que nos espera. E espera encontrar-nos com nossos cansaços.
 
Jesus lhes diz: «Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer» (Mc 6,31). No plano de Deus há um lugar para o descanso! É mais, nossa existência, com todo seu peso, deve descansar em Deus. O descobriu o inquieto Agostinho: «Nos criastes para ti e nosso coração está inquieto até que não descanse em ti». O repouso de Deus é criativo; não “anestésico”: encontrar-se com seu amor centra nosso coração e nossos pensamentos.
 
Um paradoxo. A cena do Evangelho acaba “mal”: os discípulos não podem repousar. O plano de Jesus fracassa: são abordados pelas pessoas. Não puderam “desconectar”. Nós, com frequência, não podemos liberar-nos de nossas obrigações (filhos, conjugue, trabalho...): seria como trair-nos! Impõe-se encontrar a Deus nestas realidades. Se existe comunicação com Deus, se nosso coração descansa Nele, relativizaremos tensões inúteis... E a realidade —desnuda de quimeras— mostrará melhor o sinal de Deus. Nele, ali, repousaremos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Se não é com Deus ou por Deus, não há descanso que não canse» (Santa Teresa de Ávila)
 
«O descanso divino do sétimo dia não se refere a um Deus inativo, se não que sublinha a plenitude da realização levada à término, dirigindo ao mesmo uma mirada “contemplativa”, que já não aspira a novas obras, se não melhor a gozar da beleza do realizado» (São João Paulo II)
 
«O agir de Deus é o modelo do agir humano. Se Deus, no sétimo dia, “parou para respirar” (Ex 23,12), também o homem deve “descansar” e deixar que os outros, sobretudo, os pobres, “retomem fôlego” O sábado faz cessar os trabalhos cotidianos e concede uma pausa. É um dia de pretexto contra as escravidões do trabalho e o culto do dinheiro.» (Catecismo da Igreja Católica, n°2172)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje está em vivo contraste com o de ontem!
De um lado, o banquete de morte, promovido por Herodes com os grandes do reino no palácio da Capital, durante o qual João Batista foi assassinado, (Mc 6,17-29). Do outro lado, o banquete de vida, promovido por Jesus com o povo faminto da Galileia lá no deserto (Mc 6,30-44). O evangelho de hoje só traz a introdução à multiplicação dos pães descrevendo o ensino de Jesus.
 
* Marcos 6,30-32. O acolhimento dado aos discípulos. “Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia aí tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco" Estes versículos mostram como Jesus formava seus discípulos. Ele se preocupava não só com o conteúdo da pregação, mas também com o descanso. Levou-os a um lugar mais tranquilo para poder descansar e fazer uma revisão.
 
* Marcos 6,33-34. O acolhimento dado ao povo. O povo percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, e eles foram atrás dele procurando alcançá-lo andando por terra até o outro lado. “Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles”. Ao ver aquela multidão, Jesus ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”. Ele esqueceu o descanso e começou a ensinar. Ao perceber o povo sem pastor, Jesus começou a ser pastor. Começou a ensinar. Como diz o Salmo: “O Senhor é meu pastor! Nada me falta! “Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo. Diante de mim preparas a mesa, à frente dos meus opressores” (Sl 23,1.3-5).” Jesus queria descansar junto com os discípulos, mas o desejo de atender à necessidade do povo levou-o a deixar de lado o descanso. Algo semelhante aconteceu quando ele se encontrou coma a samaritana. Os discípulos foram buscar comida. Quando voltaram, disseram a Jesus: “Mestre, come alguma coisa!” (Jo 4,31), mas ele respondeu: “Eu tenho um alimento para comer que vocês não conhecem” (Jo 4,32). O desejo de atender à necessidade do povo samaritano levou-a a esquecer a fome. “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34). Em primeiro lugar o atendimento ao povo que o procurava. A comida vem depois.
 
Então Jesus começou a ensinar muitas coisas para eles.  O evangelho de Marcos muitas vezes informa que Jesus ensinava. O povo ficava impressionado: “Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!” (Mc 1,22.27). Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc 10,1). Por mais de quinze vezes Marcos diz que Jesus ensinava, mas raramente diz o que ele ensinava. Será que Marcos não se interessava pelo conteúdo? Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tinha para dar transparecia não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito de ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6,34). Queria bem ao povo. A bondade e o amor que transparecem nas suas palavras faziam parte do conteúdo. Eram o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado. Este novo jeito de ensinar de Jesus manifestava-se de muitas maneiras. Jesus aceita como discípulos não só homens, mas também mulheres. Ensina não só na sinagoga, mas em qualquer lugar onde houvesse gente para escutá-lo: na sinagoga, em casa, na praia, na montanha, na planície, no caminho, no barco, no deserto. Não cria relacionamento de aluno-professor, mas sim de discípulo-mestre. O professor dá aula e o aluno está com ele só durante o tempo de aula. O mestre dá testemunho e o discípulo convive com ele 24 horas por dia. É mais difícil ser mestre do que professor! Nós não somos alunos de Jesus, mas sim discípulos e discípulas! O ensino de Jesus era uma comunicação que transbordava da abundância do coração nas formas mais variadas: como conversa que tenta esclarecer os fatos (Mc 9,9-13), como comparação ou parábola que faz o povo pensar e participar (Mc 4,33), como explicação do que ele mesmo pensava e fazia (Mc 7,17-23), como discussão que não foge do polêmico (Mc 2,6-12), como crítica que denuncia o falso e o errado (Mc 12,38-40). Era sempre um testemunho do que ele mesmo vivia, uma expressão do seu amor! (Mt 11,28-30).
 
Para um confronto pessoal
1. Como você faz quando deve ensinar aos outros algo da fé e da religião? Imita Jesus?
2. Jesus se preocupa não só com o conteúdo, mas também com o descanso. Como foi o ensino de religião que você recebeu na infância? As catequistas imitavam Jesus?