quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Maria, mãe e filha da misericórdia de Deus

Terceira Pregação do Advento do Pe. Raniero Cantalamessa: "Maria no Mistério de Cristo e da Igreja" (extrato)

Tentemos ver se também este ano da misericórdia não nos ajuda a descobrir algo novo da Mãe de Deus. Maria é invocada na antiguíssima oração da Salve Regina, como “Mater misericordiae”, Mãe da misericórdia; na mesma oração lhe é dirigida a invocação: “illos tuos misericordes oculos ad nos converte”; Volte a nós aqueles seus olhos misericordiosos”. Na missa de abertura do ano jubilar na Praça de São Pedro, do passado 8 de dezembro, ao lado do altar estava exposto um antigo ícone da Mãe de Deus, venerada em um santuário pelos grego-católicos de Jaroslav, na Polônia, conhecida como a “Porta da misericórdia”.

Maria é mãe de misericórdia em um duplo sentido. Foi a porta através da qual a misericórdia de Deus, com Jesus, entrou no mundo, e agora é a porta por meio da qual nós entramos na misericórdia de Deus, nos apresentamos diante do “trono da misericórdia” que é a Trindade. Tudo isso é verdade, mas é só um aspecto da relação entre Maria e a misericórdia de Deus. Ela, de fato, não é só canal e mediadora da misericórdia de Deus; é também o objeto e a primeira destinatária. Não é só aquela que nos obtém misericórdia, mas também aquela que obteve, primeiramente e mais do que todos, misericórdia.

Misericórdia é sinônimo de graça. Só na Trindade o amor é natureza e não é graça; é amor, mas não misericórdia. Que o Pai ame o Filho, não é graça ou concessão; é, em certo sentido, necessidade; o Pai tem necessidade de amar para existir como Pai. Que o Filho ame o Pai, não é concessão ou graça; é necessidade intrínseca, embora se perfeitamente livre; ele precisa ser amado e amar para ser Filho. É quando Deus cria o mundo e, nele, as criaturas livres que o seu amor se torna gratuito e imerecido, ou seja, graça e misericórdia. Isso antes ainda do pecado. O pecado fará somente que a misericórdia de Deus, de dom, se torne perdão.

O título "cheia de graça" é, portanto, sinônimo de "cheia de misericórdia". Maria mesma proclama isso no Magnificat: "Olhou, diz, a humildade da sua serva”, “recordou-se da sua misericórdia”; “a sua misericórdia se estende de geração em geração”. Maria se sente beneficiária da misericórdia, testemunha privilegiada dela. Nela a misericórdia de Deus não se materializou como perdão dos pecados, mas como preservação do pecado.

Deus fez com ela, dizia Santa Teresa do Menino Jesus, o que faria um bom médico em tempos de epidemia. Ele vai de casa em casa para curar aqueles que contraíram a infecção; mas se existe uma pessoa que ele gosta especialmente, como a esposa ou a mãe, tentará, se possível, que nem sequer seja contagiada. E assim fez Deus, preservando Maria do pecado original pelos méritos da paixão do Filho.

Falando da humanidade de Jesus, Santo Agostinho diz:
"Com base no que, a humanidade de Jesus mereceu ser assumida pelo Verbo eterno do Pai na unidade da sua pessoa? Qual foi a sua boa obra que precedeu isso? O que tinha feito antes desse momento, no que tinha acreditado, ou pedido, para ser elevada a tal inefável dignidade?” E acrescentava em outro lugar: “Procure o mérito, procure a justiça, reflita e veja se encontra outra coisa além de graça”.

Estas palavras lançam uma luz singular também sobre a pessoa de Maria. Dela deve-se dizer, com mais razão: o que fez Maria, para merecer o privilégio de dar ao Verbo a sua humanidade? O que tinha acreditado, pedido, esperado ou sofrido, para vir ao mundo santa e imaculada? Procure também aqui, o mérito, procure a justiça, procure tudo o que quiser, e veja se encontra nela, no início, algo além de graça, ou seja, misericórdia!

Também São Paulo não vai parar, durante toda a vida, de confessar-se como um fruto e um troféu da misericórdia de Deus. Define-se como “alguém que alcançou misericórdia do Senhor” (1 Cor 7, 25). Não se limita a formular a doutrina da misericórdia, mas torna-se testemunha viva dela:

“Eu era um blasfemo, um perseguidor e um violento. Mas alcancei misericórdia” (1 Tm 1, 12).

Maria e o Apóstolo nos ensinam que o melhor modo de pregar a misericórdia é dar testemunho da misericórdia que Deus teve conosco. Sentir-nos, também nós, frutos da misericórdia de Deus em Cristo Jesus, vivos só por causa dela. (Sentir, não necessariamente dizer).

Um dia Jesus curou um pobrezinho possuído por um espírito imundo. Ele quis segui-Lo e unir-se ao grupo dos discípulos; Jesus não o permitiu, mas lhe disse: “Volte para a sua casa, para os seus, anuncie-lhes o que o Senhor te fez e a misericórdia que teve contigo” (Mc 5,19 s.).

Maria, que no Magnificat glorifica e agradece a Deus por sua misericórdia com ela, nos convida a fazer o mesmo neste ano da misericórdia. Nos convida a fazer ressoar todos os dias na Igreja o seu cântico, como o coro que repete um canto atrás da coryphaea. Permitam-me, portanto, convidá-los a proclamar juntos, de pé, como oração final, em vez da antífona mariana, o cântico à misericórdia de Deus que é o Magnificat. “A minha alma engradece ao Senhor...”

Santo Padre, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs: Feliz Natal e Feliz Ano da misericórdia!

1º de janeiro: Santa Maria, Mãe de Deus.

Textos: Nm 6, 22-27; Gal 4, 4-7: Lc 2, 16-21

Evangelho (Lc 2,16-21): Os pastores foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito. No oitavo dia, quando o menino devia ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre da mãe.

«Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura»

Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)

Hoje, a Igreja contempla agradecida a maternidade da Mãe de Deus, modelo de sua própria maternidade para com todos nós. Lucas nos apresenta o “encontro” dos pastores “com o Menino”, o qual está acompanhado de Maria, sua Mãe, e de José. A discreta presença de José sugere a importante missão de ser custódio do grande mistério do Filho de Deus. Todos juntos, pastores, Maria e José, «Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura» (Lc 2,16) é como uma imagem preciosa da Igreja em adoração.

“A Manjedoura”: Jesus já está na manjedoura, numa noite alusiva à Eucaristia. Foi Maria quem o colocou lá! Lucas fala de um “encontro”, de um encontro dos pastores com Jesus. Em efeito, sem a experiência de um “encontro” pessoal com o Senhor, a fé não acontece. Somente este “encontro”, o qual se entende um “ver com os próprios olhos”, e em certa maneira um “tocar”, faz com que os pastores sejam capazes de chegar a ser testemunhas da Boa Nova, verdadeiros evangelizadores que podem dar a conhecer o que lhes haviam dito sobre aquela Criança. «Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino» (Lc 2,17).

Aqui vemos o primeiro fruto do “encontro” com Cristo: «Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores» (Lc 2,18). Devemos pedir a graça de saber suscitar este “maravilhamento”, esta admiração naqueles a quem anunciamos o Evangelho.

Ainda há um segundo fruto deste encontro: «Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito» (Lc 2,20). A adoração do Menino lhes enche o coração de entusiasmo por comunicar o que viram e ouviram, e a comunicação do que viram e ouviram os conduz até a pregaria de louvor e de ação de graças, à glorificação do Senhor.

Maria, mestra de contemplação —«Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lc 2,19) — nos dá Jesus, cujo nome significa “Deus salva”. Seu nome é também nossa Paz. Acolhamos coração este sagrado e doce Nome e tenhamo-lo frequentemente nos nossos lábios!

Hoje celebramos a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus e o Dia Internacional da Paz.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Síntese da mensagem: Foi o Papa Paulo VI quem transladou para o dia 1 de janeiro a festa da Maternidade divina de Maria, que antes caia no dia 11 de outubro. De fato, antes da reforma litúrgica realizada depois do concilio Vaticano II, no primeiro dia do ano se celebrava a memória da circuncisão de Jesus no oitavo dia depois do seu nascimento- como sinal de submissão à lei, sua inserção oficial no povo eleito- e no domingo seguinte se celebrava a festa do nome de Jesus.

Em primeiro lugar, neste primeiro dia do ano colocamos a Santa Maria como intercessora, para que nos consiga a paz que necessitamos. É o primeiro dia do ano e dedicamos a Ela, à Mãe de Deus, à Rainha da Paz, para que abençoe também todos os nossos esforços e desejos de paz. A cena do Evangelho também nos traz sentimentos de paz. Voltamos para Belém, para o presépio, para contemplar “Maria, José, e o Menino deitado no presépio”. Unimo-nos aos pastores neste momento de adoração, contemplando esta cena, sentindo-nos parte dela, como aquele povo simples que soube ver naquele menino todo um Deus que vinha para nascer por nós. Também damos glória a Deus, como os pastores, por ter se descoberto nas nossas vidas, por ter deixado Deus nascer, um ano mais, nos nossos corações. Esse menino enche os nossos corações e as nossas vidas de paz, com a sua paz. “A paz vos deixo, a minha paz vos dou”. Uma paz verdadeira e para sempre.

Em segundo lugar, pedimos neste dia que o Senhor coloque o seu olhar sobre nós e nos conceda a paz. É esta a oração que fazia todo bom israelita, e é uma oração e um desejo que devemos fazer hoje nosso todas as pessoas de boa vontade. Queremos que o Senhor conceda a paz, a sua paz, a todos os nossos parentes e amigos, e a todas as pessoas que quiserem recebê-la, para o mundo inteiro. Hoje é a jornada mundial da paz. A paz de Deus! O salmo 84 nos diz que a justiça e a paz se abraçam, se beijam. Queremos uma paz que seja fruto da justiça, não uma paz imposta violentamente pela força das armas ou pela força do dinheiro. Não queremos a paz de pessoas que vivem esmagadas pelo poder político, ou social, ou econômico. Não queremos a paz dos cemitérios. Queremos a paz dos corpos e das almas, a paz material e a paz espiritual. Sabemos que esta paz não podemos consegui-la plenamente enquanto vivermos nesta terra, mas devemos sempre aspirar cada dia a aproximar-nos um pouco mais dela. Não vamos conseguir só com as nossas forças humanas, necessitamos a ajuda de Deus. Por isso, vamos pedir hoje a Deus que, por intercessão da sua Mãe, Santa Maria, pouse o seu olhar sobre nós e nos conceda a paz. 

Finalmente, este é um dia para dar graças a Deus. Graças por tudo o que vivemos neste ano que terminamos, graças pelo que viveremos no ano que começa, graças por tudo de novo que aparece na nossa vida. Pedimos a Deus que todos os nossos bons desejos que temos e que nos dizemos no Novo Ano saibamos realizá-los. Fazemos nosso o propósito de favorecer tudo o que possa ajudar para que exista mais felicidade para todos, amigos e desconhecidos. Este é o nosso desejo: “Paz e bem para todos”.

Para refletir: Como início o novo ano: com esperança e fé? Com alegria e otimismo? Disposto a gerar a paz na minha família e por onde eu for?

Para rezar: Porque Jesus, nasceu de uma mulher, amamos e veneramos o nome dessa mulher: Maria. Porque, Maria, é espelho da humanidade redimida, bendizemos e suspiramos, neste Ano Novo, à nova Eva, Àquela que nos dá tanto: a Jesus. Para ser Mãe de Deus e Mãe nossa, não deixou atrás a sua pobreza nem a sua simplicidade, a sua obediência e o seu ser maternal. Bendizemos a vossa docilidade, Maria! Porque, Maria, meditava todas as coisas sagradas no mais profundo do seu coração, bendizemos a sua memória, o seu espírito e a sua fé. Bendita, Vós, Maria! Porque, Maria, como o sol que amanhece, ilumina os cantinhos mais escuros da nossa casa.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

31 de dezembro (Dia sétimo da Oitava de Natal)

Evangelho (Jo 1,1-18): No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la.  Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos pudessem crer, por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram. A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que creem no seu nome. Estes foram gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho dele e proclama: «Foi dele que eu disse: ‘Aquele que vem depois de mim passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia». De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça. Pois a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer».

«E a Palavra se fez carne»

Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)

Hoje é o último dia do ano. Frequentemente, uma mistura de sentimentos —incluso contraditórios— sussurram nos nossos corações nesta data. É como se uma amostra dos diferentes momentos vividos, e dos que gostaríamos de ter vivido, se tornassem presentes na nossa memória. O Evangelho de hoje pode ajudar-nos a decantá-los para podermos começar o novo ano com um empurrão.

«A palavra era Deus (…). Tudo foi feito por meio dela» (Jo 1,1.3). No momento de fazer o balanço do ano, devemos ter presente que cada dia vivido é um dom recebido. Por isso, seja qual for o aproveitamento realizado, hoje devemos agradecer cada minuto do ano.

Mas o dom da vida não é completo. Estamos necessitados. Por isso o Evangelho de hoje aporta-nos uma palavra-chave: “acolher”. «E a Palavra se fez carne» (Jo 1,14). Acolher o próprio Deus! Deus, feito homem, fica ao nosso alcance. “Acolher” significa abrir-lhe as nossas portas, deixar que entre nas nossas vidas, nos nossos projetos, nos atos que enchem as nossas jornadas. Até que ponto acolhemos a Deus e lhe permitimos que entre em nós?

«Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina» (Jo 1,9). Acolher a Jesus quer dizer deixar-se guiar por Ele. Deixar que os seus critérios deem luz tanto aos nossos pensamentos mais íntimos como a nossa atuação social e de trabalho. Que as nossas ações se relacionem com as suas!

«A vida era a luz» (Jo 1,4). Mas a fé é algo mais que uns critérios. É a nossa vida enxertada na Vida. Não é apenas esforço —que também—. É, sobretudo, dom e graça. Vida recebida no seio da Igreja, sobretudo mediante os sacramentos. Que lugar têm eles na minha vida cristã?

«A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1,12). Todo um projeto apaixonante para o ano que vamos estrear!

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Sta Catarina Labouret, Virgem
O Prólogo é a primeira coisa que se vê ao abrir o evangelho de João. Mas foi a última a ser escrita. É o resumo final, colocado no início. Nele João descreve a caminhada da Palavra de Deus. Ela estava junto de Deus desde antes da criação e por meio dela tudo foi criado. Tudo que existe é expressão da Palavra de Deus. Como a Sabedoria de Deus (Prov 8,22-31), a Palavra quis chegar mais perto de nós e se fez carne em Jesus. Viveu no meio de nós, realizou a sua missão e voltou para Deus. Jesus é esta Palavra de Deus. Tudo que ele diz e faz é comunicação que nos revela o Pai.

* Dizendo "No princípio era a Palavra", João evoca primeira frase da Bíblia que diz: "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Deus criou tudo por meio da sua Palavra. "Ele falou e as coisas começaram a existir" (Sl 33,9; 148,5). Todas as criaturas são uma expressão da Palavra de Deus. Esta Palavra viva de Deus, presente em todas as coisas, brilha nas trevas. As trevas tentam apagá-la, mas não conseguem. A busca de Deus, sempre de novo, renasce no coração humano. Ninguém consegue abafá-la. Não conseguimos viver sem Deus por muito tempo!

* João Batista veio para ajudar o povo a descobrir e saborear esta presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na vida. O testemunho de João Batista foi tão importante, que muita gente pensava que ele fosse o Cristo (Messias). (At 19,3; Jo 1,20). Por isso, o Prólogo esclarece dizendo: "João não era a luz! Veio apenas para dar testemunho da luz!"
* Assim como a Palavra de Deus se manifesta na natureza, na criação, da mesma maneira ela se manifesta no "mundo", isto é, na história da humani­dade e, de modo particular, na história do povo de Deus. Mas o "mundo" não reconheceu nem recebeu a Palavra. Ela "veio para o que era seu, mas os seus não a receberam". Aqui, quando fala mundo, João quer indicar o sistema tanto do império como da religião da época, ambos fechados sobre si e, por isso mesmo, incapazes de reco­nhecer e de receber a Boa Nova (Evangelho) da presença luminosa da Palavra de Deus.

* Mas as pessoas que se abrem aceitando a Palavra, tornam-se filhos e filhas de Deus. A pessoa se torna filho ou filha de Deus não por mérito próprio, nem por ser da raça de Israel, mas pelo simples fato de confiar e crer que Deus, na sua bondade, nos aceita e nos acolhe. A Palavra entra na pessoa e faz com que ela se sinta acolhida por Deus como filha, como filho. É o poder da graça de Deus.

* Deus não quer ficar longe de nós. Por isso, a sua Palavra chegou mais perto ainda e se fez presente no meio de nós na pessoa de Jesus. O Prólogo diz literalmente: "A Palavra se fez carne e montou sua tenda no meio de nós!" Antigamente, no tempo do êxodo, lá no deserto, Deus vivia numa tenda no meio do povo (Ex 25,8). Agora, a tenda onde Deus mora conosco é Jesus, "cheio de graça e de verdade!" Jesus veio revelar quem é este nosso Deus que está presente em tudo, desde o começo da criação.

Para um confronto pessoal
1. Tudo que existe é uma expressão da Palavra de Deus, uma revelação da sua presença. Será que sou suficientemente contemplativo para poder perceber e experimentar esta presença universal da Palavra de Deus?
2. O que significa para mim poder ser chamado filho de Deus?

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

30 de dezembro (Sexto dia da Oitava do Natal)

Evangelho (Lc 2,36-40): Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.  Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.

«Se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos »

Rev. D. Joaquim FLURIACH i Domínguez (St. Esteve de P., Barcelona, Espanha).

Hoje, José e Maria acabam de celebrar o rito da apresentação do primogênito, Jesus, no Templo de Jerusalém. Maria e José não se poupam para cumprir detalhadamente tudo o que a Lei prescreve, porque cumprir aquilo que Deus quer é sinal de fidelidade, de amor a Deus.

Desde que nasceu o seu filho — e filho de Deus — José e Maria experimentam maravilha atrás de maravilha: os pastores, os magos do Oriente, anjos… Não somente acontecimentos exteriores extraordinários, mas também interiores, no coração das pessoas que têm algum contato com este Menino.

Hoje, aparece Ana, uma senhora de idade, viúva, que num determinado momento tomou a decisão de dedicar toda a sua vida ao Senhor, com jejuns e oração. Não nos equivocamos se dissermos que esta mulher era uma das “virgens prudentes” da parábola do Senhor (cf. Mt 25,1-13): zelando sempre fielmente por tudo o que lhe parece ser a vontade de Deus. E, é claro: quando chega o momento, o Senhor encontra-a preparada. Todo o tempo que dedicou ao Senhor é recompensado com juros por aquele Menino. — Perguntai a Ana se valeu a pena tanta oração e tanto jejum, tanta generosidade!

Diz o texto que «louvava Deus e falava do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém» (Lc 2,38). A alegria transforma-se em apostolado determinado: ela é o motivo e a raiz. O Senhor é imensamente generoso com os que são generosos com Ele.

Jesus, Deus Encarnado, vive a vida de Família em Nazaré, como todas as famílias: crescer, trabalhar, aprender, rezar, brincar. “Santa normalidade”, bendita rotina onde crescem e se fortalecem, quase sem dar por isso, as almas dos homens de Deus! Como são importantes as coisas pequenas de cada dia!

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Nos primeiros dois capítulos de Lucas, tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta a misericórdia de Deus: os cânticos de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,68-79), dos anjos (Lc 2,14), de Simeão (Lc 2,29-32). Finalmente, Deus chegou para cumprir suas promessas, e Ele as cumpre em favor dos pobres, dos anawim, dos que souberam perseverar e esperar pela sua vinda: Isabel, Zacarias, Maria, José, Simeão, Ana, os pastores.

* Os capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas são muito conhecidos, mas pouco aprofundados. Lucas escreve imitando os escritos do AT. É como se os primeiros dois capítulos do seu evangelho fossem o último capítulo do AT que abre a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são a dobradiça entre o AT e o NT. Lucas quer mostrar como as profecias estão se realizando. João e Jesus cumprem o Antigo e iniciam o Novo.

* Lucas 2,36-37: A vida da profetisa Ana
“Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Tinha-se casado bem jovem, e vivera sete anos com o marido. Depois ficou viúva, e viveu assim até os oitenta e quatro anos. Nunca deixava o Templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações”. Como Judite (Jd 8,1-6), Ana é viúva. Como Débora (Jz 4,4), ela é profetisa. Isto é, pessoa que comunica algo de Deus e que tem uma abertura especial para as coisas da fé a ponto de poder comunicá-las aos outros. Ana casou jovem, viveu em casamento durante sete anos, ficou viúva e continuou dedicada a Deus até oitenta e quatro anos. Hoje, em quase todas as nossas comunidades, no mundo inteiro, você encontra um grupo de senhoras de idade, muitas delas viúvas, cuja vida se resume em rezar e marcar presença nas celebrações e em servir ao próximo.

* Lucas 2,38: Ana e o menino Jesus
“Ela chegou nesse instante, louvava a Deus, e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Chegou ao templo no momento em que Simeão abraçava o menino e conversava com Maria sobre o futuro do menino (Lc 2,25-35). Lucas sugere que Ana participou neste gesto. O olhar de Ana é um olhar de fé. Ela vê um menino nos braços de sua mãe, e descobre nele o Salvador do mundo.

* Lucas 2,39-40: A vida de Jesus em Nazaré
”Quando acabaram de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galileia. O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Nestas poucas palavras, Lucas comunica algo do mistério da encarnação. “A Palavra de fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus tornou-se igual a nós em tudo e assumiu a condição de servo (Filp 2,7). Foi obediente até a morte e morte de cruz (Filp 2,8). Dos trinta e três anos que viveu entre nós, trinta foram vividos em Nazaré. Se você quiser saber como foi a vida do Filho de Deus durante os anos que ele viveu em Nazaré, procure conhecer a vida de qualquer nazareno daquela época, mude o nome, coloque Jesus e você terá a vida do Filho de Deus durante trinta dos trinta e três anos da sua vida, igual a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4,15). Nestes trinta anos da sua vida, “o menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Em outro lugar Lucas afirma a mesma coisa com outras palavras. Ele diz que o menino “crescia em sabedoria, idade e tamanho diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Crescer em Sabedoria significa assimilar os conhecimentos, a experiência humana acumulada ao longo dos séculos: os tempos, as festas, os remédios, as plantas, as orações, os costumes, etc. Isto se aprende vivendo e convivendo na comunidade natural do povoado. Crescer em Tamanho significa nascer pequeno, crescer aos poucos e ficar adulto. É o processo de cada ser humano com suas alegrias e tristezas, descobertas e frustrações, raivas e amores. Isto se aprende vivendo e convivendo na família com os pais, os irmãos e irmãs, os tios, os parentes. Crescer em Graça significa: descobrir a presença de Deus na vida, a sua ação em tudo que acontece, a vocação, o chamado dele. A carta aos hebreus diz que: “Embora fosse filho de Deus, Jesus teve que aprender a ser obediente através dos seus sofrimentos” (Hb 4,8).

Para um confronto pessoal
1. Conhece pessoas como Ana, que tem um olhar de fé sobre as coisas da vida
2. Crescer em sabedoria, tamanho e graça: como isto acontece em minha vida?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

29 de dezembro (Quinto dia da Oitava do Natal)

Evangelho (Lc 2,22-35): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma! — e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações».

«Agora, Senhor, deixas (...) teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação»

Chanoine Dr. Daniel MEYNEN (Saint Aubain, Namur, Bélgica)

Hoje, 29 de dezembro, celebramos o santo Rei Davi. Mas, é a toda a família de Davi que a Igreja quer honrar e especialmente ao mais ilustre de todos eles: a Jesus, o Filho de Deus, Filho de Davi! Hoje, nesse eterno “hoje” do Filho de Deus, a Antiga Aliança do tempo do Rei Davi realiza-se e cumpre-se em toda sua plenitude. Pois, como relata o Evangelho de hoje, o Menino Jesus é apresentado ao Templo por seus pais para cumprir com a Antiga Lei: «E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Lc 2,22-23).

Hoje, eclipsa-se a velha profecia para dar passo à nova: Aquele, a quem o Rei Davi tinha anunciado ao entonar seus salmos messiânicos, entrou por fim no Templo de Deus! Hoje é o grande dia em que aquele que São Lucas chama Simeão logo abandonará este mundo de obscuridade para entrar na visão da Luz eterna: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo» (Lc 2,29-32).

Também nós, que somos o Santuário de Deus em que seu Espírito habita (cf. 1Cor 3,16), devemos ficar atentos para receber a Jesus no nosso interior. Se hoje temos a fortuna de comungar, peçamos a Maria, a Mãe de Deus que interceda por nós ante seu Filho: que morra o homem velho e que novo homem (cf) Col 3,10) nasça em todo nosso ser, a fim de converter-nos nos novos profetas, os que anunciem ao mundo inteiro a presença de Deus três vezes, Pai, Filho e Espírito Santo!

Como Simão, sejamos profetas pela morte do “homem velho”! Como disse o Papa João Paulo II «a plenitude do Espírito de Deus vem acompanhada (...) antes que nada pela disponibilidade interior que provém da fé. Disso, o ancião Simeão “homem justo e piedoso”, teve a intuição no momento da apresentação de Jesus no Templo».

«Meus olhos viram a tua salvação»

Rev. D. Joaquim MONRÓS i Guitart (Tarragona, Espanha)

São Davi, Rei e Profeta
Hoje, contemplamos a Apresentação do Menino Jesus no Templo, cumprindo a prescrição da Lei de Moisés: purificação da mãe e apresentação e resgate do primogênito.

São Josemaria descreve esta situação no quarto mistério gozoso do seu livro O Santo Rosário, convidando-nos a fazer parte da cena: «E desta vez, meu amigo, hás de ser tu a levar a gaiola das rolas. – Estás a ver? Ela – a Imaculada – submete-se à Lei como se estivesse imunda. Aprenderás com este exemplo, menino tonto, a cumprir a Santa Lei de Deus, apesar de todos os sacrifícios pessoais?

«Purificação! Tu e eu, sim, que realmente precisamos de purificação! – Expiação e, além da expiação, o Amor. – Um amor que seja cautério: que abrase a sujidade da nossa alma, que incendeie, com chamas divinas, a miséria do nosso coração».

Vale a pena aproveitar o exemplo de Maria para “limpar” a nossa alma neste tempo do Natal, fazendo uma confissão sacramental sincera, para poder receber o Senhor com as melhores disposições. Assim, José apresenta a oferenda de um par de rolas, mas oferece principalmente a sua capacidade de realizar, com o seu trabalho e com o seu amor castíssimo, o plano de Deus para a Sagrada Família, modelo de todas as famílias.

Simeão recebeu do Espírito Santo a revelação de que não morreria sem ver Cristo. Vai ao Templo e, ao receber o Messias nos seus braços, cheio de alegria, diz-lhe: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação» (Lc 2,29-30). Neste Natal, contemplemos, com olhos de fé, Jesus que vem salvar-nos com o seu nascimento. Assim como Simeão entoou um cântico de ação de graças, alegremo-nos cantando diante do presépio, em família, e no nosso coração, pois sabemo-nos salvos pelo Menino Jesus.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Os primeiros dois capítulos do Evangelho de Lucas, escrito na metade dos anos 80, não são história no sentido em que nós hoje entendemos a história. Funcionam muito mais como espelho, onde os cristãos convertidos do paganismo descobriam que Jesus tinha vindo realizar as profecias do Antigo Testamento e atender às mais profundas aspirações do coração humano. São também símbolo e espelho do que estava acontecendo entre os cristãos do tempo de Lucas. As comunidades vindas do paganismo tinham nascido das comunidades dos judeus convertidos, mas eram diferentes. O Novo não correspondia ao que o Antigo imaginava e esperava. Era "sinal de contradição" (Lc 2,34), causava tensões e era fonte de muita dor. Na atitude de Maria, imagem do Povo de Deus, Lucas apresenta um modelo de como perseverar no Novo, sem ser infiel ao Antigo.

* Nestes dois primeiros capítulos do evangelho de Lucas tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta, pois, finalmente, a misericórdia de Deus se revelou e, em Jesus, ele cumpriu as promessas feitas aos pais. E Deus as cumpriu em favor dos pobres, dos anawim, como Isabel e Zacarias, Maria e José, Ana e Simeão, os pastores. Estes souberam esperar pela sua vinda.

* A insistência de Lucas em dizer que Maria e José cumpriram tudo aquilo que a Lei prescreve evoca o que Paulo escreveu na carta aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gal 4,4-5).

* A história do velho Simeão ensina que a esperança, mesmo demorada, um dia se realiza. Ela não se frustra nem se desfaz. Mas a forma de ela realizar-se nem sempre corresponde à maneira como a imaginamos. Simeão esperava o Messias glorioso de Israel. Chegando ao templo, no meio de tantos casais que trazem seus meninos ao templo, ele vê um casal pobre lá de Nazaré. É neste casal pobre com seu menino ele vê a realização da sua esperança e da esperança do povo: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel."

* No texto do evangelho deste dia, aparecem os temas preferidos de Lucas, a saber, uma grande insistência na ação do Espírito Santo, na oração e no ambiente orante, uma atenção contínua à ação e à participação das mulheres, e uma preocupação constante com os pobres e com a mensagem a ser dada aos pobres.

Para um confronto pessoal
1. Você seria capaz de perceber numa criança pobre a luz para iluminar as nações?
2. Você seria capaz de aguentar uma vida inteira esperando a realização da sua esperança?

domingo, 27 de dezembro de 2015

28 de dezembro: Os Santos Inocentes, mártires

Evangelho (Mt 2,13-18): Depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo». José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito; e lá ficou até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: «Do Egito chamei o meu filho».  Quando Herodes percebeu que os magos o tinham enganado, ficou furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos. Assim se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: «Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, pois não existem mais».

«José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito »

Rev. D. Joan Pere PULIDO i Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)

Hoje celebramos a festa dos Santos Inocentes, mártires. Introduzidos nas celebrações de Natal, não podemos ignorar a mensagem que a liturgia quer nos transmitir para definir, ainda mais, a Boa Nova do nascimento de Jesus, com dois acentos bem claros. Em primeiro lugar, a predisposição de São José no desígnio salvador de Deus, aceitando sua vontade. E, por sua vez, o mal, a injustiça que frequentemente encontramos em nossa vida, concretizada na morte martirial das crianças Inocentes. Tudo isso pede-nos uma atitude e uma resposta pessoal e social.

São José nos oferece um testemunho bem claro de resposta decidida perante o chamado de Deus. Nele nos sentimos identificados quando devemos tomar decisões nos momentos difíceis de nossa vida e de nossa fé: «Levantou-se de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para Egito» (Mt 2,14).

Nossa fé em Deus implica a nossa vida. Faz que nos levantemos, quer dizer faz nos estar atentos às coisas que acontecem em nosso redor, porque — frequentemente — é o lugar onde Deus fala. Faz nos tomar ao Menino com sua mãe, quer dizer, Deus faz se no próximo, companheiro de caminho, reforçando a nossa fé, esperança e caridade. E faz nos sair de noite para Egito, isto é, convida-nos a não ter medo perante nossa própria vida, que com frequência enche-se de noites difíceis de iluminar.

Estas crianças mártires, também hoje, têm nomes concretos em crianças, jovens, casais, pessoas idosas, imigrantes, doentes...que pedem a resposta de nossa caridade. Assim nos o diz João Paulo II: «Em efeito, são muitas, em nosso tempo, as necessidades que interpelam à sensibilidade cristã. É hora de uma nova imaginação da caridade, que se desdobre não só na eficácia da ajuda emprestada, mas também na capacidade de nos fazer próximos e solidários com o que sofre».

Que a nova luz, clara e forte de Deus feito Menino encha nossas vidas e consolide nossa fé, nossa esperança e nossa caridade.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Santos Inocentes, mártires
* O Evangelho de Mateus, redigido em torno dos anos 80 e 90, tem a preocupação de mostrar que em Jesus se realizam as profecias. Muitas vezes se diz: “Isto aconteceu para que se realizasse o que diz a Escritura…” (cf. Mt 1,22; 2,17.23; 4,14; 5,17; etc). É porque os destinatários do Evangelho de Mateus são as comunidades de judeus convertidos que viviam uma crise profunda de fé e de identidade. Depois da destruição de Jerusalém no ano 70, os fariseus eram o único grupo sobrevivente do judaísmo. Nos anos 80, quando eles começaram a se reorganizar, crescia a oposição entre judeus fariseus e judeus cristãos. Estes últimos acabaram sendo excomungados da sinagoga e separados do povo das promessas. A excomunhão tornou agudo o problema da identidade. Já não podiam mais frequentar suas sinagogas. E vinha a dúvida: Será que erramos? Quem é o verdadeiro povo de Deus? Jesus é realmente o Messias?

* É para este grupo sofrido que Mateus escreve o seu evangelho como Evangelho da consolação para ajudá-los a superar o trauma da ruptura; como Evangelho da revelação para mostrar que Jesus é o verdadeiro Messias, o novo Moisés, no qual se realizam as promessas; como Evangelho da nova prática para ensinar o caminho de como alcançar a nova justiça, maior do que a justiça dos fariseus (Mt 5,20).

* No evangelho de hoje transparece esta preocupação de Mateus. Ele consola as comunidades perseguidas mostrando que Jesus também foi perseguido. Ele revela que Jesus é o Messias, pois por duas vezes insiste em dizer que as profecias nele se realizaram; e sugere ainda que Jesus seja o novo Moisés, pois como Moisés foi perseguido e teve que fugir. Ele aponta um novo caminho, sugerindo que devem fazer como os magos que souberam driblar a vigilância da Herodes e voltaram por um ouro caminho para casa.

Para um confronto pessoal
1. Herodes mandou matar as crianças de Belém. O Herodes de hoje continua matando milhões de crianças. Elas morrem de fome, de doença, de desnutrição, de aborto. Quem é hoje Herodes?
2. Mateus ajuda a superar a crise de fé e de identidade. Hoje, muitos vivem uma crise profunda de fé e de identidade. Como o Evangelho pode ajudar a superar esta crise?

sábado, 26 de dezembro de 2015

A Sagrada Família

Evangelho (Lc 2,41-52): Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando completou doze anos, eles foram para a festa, como de costume. Terminados os dias da festa, enquanto eles voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Pensando que se encontrasse na caravana, caminharam um dia inteiro. Começaram então a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Mas, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém, procurando-o. Depois de três dias, o encontraram no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos aqueles que ouviam o menino ficavam maravilhados com sua inteligência e suas respostas. Quando o viram, seus pais ficaram comovidos, e sua mãe lhe disse: «Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura! » Ele respondeu: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu pai? » Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes falou. Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens.

«O encontraram no templo, sentado entre os mestres. Ficavam maravilhados com sua inteligência»

Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (La Fuliola, Lleida, Espanha)

Hoje contemplamos, como continuação do Mistério da Encarnação, a inserção do Filho de Deus na comunidade humana por excelência, a família e, a progressiva educação de Jesus por parte de José e Maria. Como diz o Evangelho, «E Jesus ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens» (Lc 2,52).

O livro do Eclesiástico, lembra-nos que «Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe» (Si 3,2). Jesus tem doze anos e manifesta a boa educação recebida no lar de Nazaré. A sabedoria que mostra evidencia, sem dúvidas, a ação do Espírito Santo, mas também o inegável bom saber educador de José e Maria. A inquietação de Maria e José põe de manifesto sua solicitude educadora e sua companhia amorosa para com Jesus.

Não é necessário fazer grandes arrazoamentos para ver que hoje, mais do que nunca, é necessário que a família assuma com força a missão educadora que Deus lhe confiou. Educar é introduzir na realidade e, somente o pode fazer aquele que a vive com sentido. Os pais e mães cristãos devem educar desde Cristo, fonte de sentido e de sabedoria.

Dificilmente podem pôr remédio ao déficit de educação do lar. Tudo aquilo que não se aprende em casa não se aprende fora, se não é com grande dificuldade. Jesus vivia e aprendia com naturalidade no lar de Nazaré as virtudes que José e Maria exerciam constantemente: espírito de serviço a Deus e aos homens, piedade, amor ao trabalho bem feito, solicitude de uns pelos outros, delicadeza, respeito, horror ao pecado... As crianças, para crescerem com cristãos, necessitam testemunhos e, se estes são os pais, essas crianças serão afortunadas.

É necessário que todos vamos hoje buscar a sabedoria de Cristo para levá-la a nossas famílias. Um antigo escritor, Orígenes, comentado no Evangelho de hoje, dizia que é necessário que aquele que procura Cristo, o procure não de maneira negligente e com desleixo, como o fazem alguns que não o acham nunca. Há que procurá-lo com “inquietude”, com grande afã, como o procuravam José e Maria.

A Sagrada Família de Nazaré é um modelo para todas as famílias humanas e cristãs.
Pe. Antonio Rivero, L.C.

São João, Apóstolo e Evangelista
A festa da Sagrada Família é recente. Foi estabelecida pelo Papa Leão XIII para dar às famílias cristãs um modelo entranhável e evangélico. Todas as leituras de hoje traçam um programa para viver em família como Deus quer.

Em primeiro lugar, sabemos pouco da infância de Jesus, porém sim sabemos que quis nascer e viver numa família, e experimentar a nossa existência humana com todas as surpresas, sobressaltos, êxitos e fracassos. E por se fosse pouco, escolheu uma família pobre, trabalhadora, que teria muitos momentos de paz e serenidade, é verdade, mas que também soube de apertos econômicos, de emigração, de perseguição, de solidão e de morte, como tantas famílias hoje em dia, e que os bispos comentaram no Sínodo faz alguns meses. Devemos nos aproximar da família de Nazaré com um infinito respeito, pois está submersa no mistério de Deus- Deus quis nascer numa família humana- e é um modelo amável de muitas virtudes que deveriam copiar as famílias cristãs: a mútua acolhida, a comunhão perfeita, a fé em Deus, a fortaleza diante das dificuldades, o cumprimento das leis sociais e da vontade de Deus. Perguntemo-nos como se tratariam José e Maria: com que delicadeza, ternura, respeito, fidelidade. Perguntemo-nos como Jesus os amava com carinho, obedecia-lhes com alegria e era para eles motivo de profunda satisfação e são orgulho. Maria e José tinha a sagrada custódia de Jesus; daí a preocupação quando o perderam em Jerusalém (evangelho). E esse Jesus era o Sol do lar de Nazaré. E para Jesus, Maria era a ternura feita carinho materno, e José era o papai solícito, sacrificado e honesto, de quem aprendeu dia-a-dia nessa carpintaria.

Em segundo lugar, nas leituras da missa de hoje, Deus nos traça um programa concreto para todas as famílias. Para nós seria melhor e se acabariam as separações e os divórcios, as brigas, as pancadas e a falta de respeito , as crianças abandonadas na rua e jogados na intempérie das más companhias, os avós descartados e levados a qualquer geriátrico ou asilo... se colocássemos em prática o que nos diz a primeira leitura do Eclesiástico: os filhos devem honrar os pais, cuidando deles na velhice, não causando-lhes tristeza, tratando-os com paciência e sem desprezá-los porque já perderam o vigor e a saúde. A estes conselhos acrescentamos os outros de São Paulo aos colossenses na segunda leitura: misericórdia, bondade, humildade, doçura, compreensão, capacidade de perdão. Tudo se resume no amor, que é o vínculo da unidade consumada (2ª leitura). A festa de hoje não nos dá soluções técnicas e econômicas para a vida familiar ou social, mas nos oferece as claves mais profundas, humanas e cristãs, desta convivência. E o evangelho de hoje termina assim: “Jesus ia crescendo em sabedoria, idade e graça diante de Deus e diante dos homens”. Podemos dizer isto também dos filhos das nossas famílias?

Finalmente, esta festa também compromete a Igreja no trato com a família. O Sínodo sobre a família pôs de releve a importância da pastoral familiar. Se é verdade o que disse o Papa Francisco em Filadélfia, Estados Unidos, durante o Congresso da Família em setembro deste ano 2015, improvisando o discurso: “A coisa mais linda que Deus fez, diz a Bíblia, foi a família. Criou o homem e a mulher, e lhes entregou tudo, entregou-lhes o mundo! Cresçam, multipliquem-se, cultivem a terra, façam-na produzir, façam-na crescer. Todo o amor que fez nessa criação maravilhosa o entregou a uma família... E uma família é realmente família quando é capaz de abrir os braços e receber todo esse amor” (26 de setembro de 2015) ... se isto é verdade, então a Igreja não pode fechar os olhos nem as entranhas à família. Uma prova disto foi o Sínodo. Vários bispos pediram à Igreja um estilo novo de proximidade da Igreja às famílias, uma proximidade contagiosa, uma ternura forte e exigente, tanto nas tristezas como nas alegrias. Outros sugeriram uma série de boas práticas que ajudariam a viver a dimensão espiritual da família: a recepção da Palavra de Deus na família, a catequese familiar e o explícito impulso, que deveria constar no documento final do Sínodo, de orações para-litúrgicas e rituais no seio familiar. Teve quem pediu que se fale da fidelidade e indissolubilidade, não como superpostas ao compromisso, mas como profundamente integradas na linguagem do amor e compreendidas na sua dimensão teologal. Não temos uma teologia da família, mas do matrimônio e mais vinculada ao lado moral. O Magistério deveria apresentar o Evangelho da família de forma orgânica e integrada, sem esquecer a dimensão evangelizadora da família, pois cada família é “igreja doméstica” e ao mesmo tempo “igreja missionaria”. E do mesmo jeito “a família é escola de humanidade e de santificação”.

Para refletir: As nossas famílias têm claro o plano de Deus para elas? O que mais a Igreja deve fazer pelas famílias? Como ajudar as famílias feridas e que sofrem o fracasso matrimonial, a pobreza, a emigração, a solidão...?

Para rezar: rezemos com o Papa Francisco esta oração que nos presenteou, pelas famílias: “Jesus, Maria e José, em vocês contemplamos o esplendor do amor verdadeiro, a vocês nos dirigimos com confiança. Sagrada Família de Nazaré, faça que também as nossas famílias sejam lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas Igrejas domesticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais nas famílias se vivam experiências de violência, fechamento e divisão; que tudo o que tenha sido ferido ou escandalizado conheça logo o consolo e a cura. Sagrada Família de Nazaré, que no próximo sínodo dos Bispos possa despertar em todos a consciência do caráter sagrado e inviolável da família, a sua beleza no projeto de Deus. Jesus, Maria e José, escutem e atendam a nossa súplica. Amém”.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

26 de dezembro: São Estevão, Protopromártir

Evangelho (Mt 10,17-22): Naquele tempo, Jesus disse aos Apóstolos: «Cuidado com as pessoas, pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Por minha causa, sereis levados diante de governadores e reis, de modo que dareis testemunho diante deles e diante dos pagãos. Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que falar. Naquele momento vos será dado o que falar, pois não sereis vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai falará em vós. O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais e os matarão. Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo».

«Vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão »

+ Pe. Joan BUSQUETS i Masana (Sabadell, Barcelona, Espanha)

Hoje, a Igreja celebra a festa do seu primeiro mártir, o diácono São Estevão. O Evangelho, às vezes, parece desconcertante. Ontem transmitia-nos sentimentos de gozo e de alegria pelo Nascimento do Menino Jesus: «Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito» (Lc 2,20). Hoje parece como se quisera-nos pôr sob aviso perante os perigos: «Cuidado com as pessoas, pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas» (Mt 10, 17). É que aqueles que queiram ser testemunhos, como os pastores na alegria do Nascimento, devem ser valentes como Estevão no momento de proclamar a Morte e Ressurreição de aquele Menino que tinha nele a Vida.

O mesmo Espirito que cobriu com sua sombra a Maria, a Mãe virgem, para que fosse possível a realização do plano de Deus de salvar aos homens; o mesmo Espirito que posou sob os Apóstolos para que saíssem do seu esconderijo e difundiram a Boa Nova —o Evangelho— pelo mundo todo, é o que dá forças àquele menino que discutia com os da sinagoga e perante o que «não podiam resistir à sabedoria e ao Espirito com que falava» (At 6,10).

Era um mártir na vida. Mártir significa “testemunho”. E foi também mártir por sua morte. Em vida teve em consideração as palavras do Mestre: «Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que falar. Naquele momento vos será dado o que falar» (Mt 10,19). «Cheio do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus; e viu também Jesus, de pé, à direita de Deus». (Ats.7,55). Estevão o viu e disse. Se o cristão hoje é um testemunho de Jesus Cristo, o que viu com os olhos da fé o vai dizer sem medo com as palavras mais compreensíveis, quer dizer, com fatos, com obras.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Sto Estêvão, diácono e protomártir
* O contraste é grande. Ontem, dia de Natal, foi o presépio do recém-nascido com o canto dos anjos e a visita dos pastores. Hoje é o sangue derramado de Estevão, apedrejado até a morte, porque teve a coragem de crer na promessa expressa na simplicidade do presépio. Estevão criticou a interpretação fundamentalista da Lei de Deus e o monopólio do Templo. Por isso foi morto por eles (At 6,13-14).

* Hoje, na festa de Estevão, primeiro mártir, a liturgia traz um trecho do evangelho de Mateus (Mt 10,17-22), tirado do assim chamado Sermão da Missão (Mt 10,5-42). Nele Jesus adverte os seus discípulos dizendo que a fidelidade ao evangelho traz dificuldades e perseguição: “eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles”. Mas para Jesus o que importa na perseguição não é o lado doloroso do sofrimento, mas sim o lado positivo do testemunho: “Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações”. A perseguição é uma oportunidade para dar testemunho da Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe.

* Foi o que aconteceu com Estevão. Ele deu testemunho da sua fé em Jesus até o último momento da sua vida. Na hora de morrer ele disse: “Vejo os céus abertos, e o Filho do Homem em pé à direita de Deus” (At 7,56). E ao cair morto debaixo das pedradas imitou Jesus gritando: “Senhor, não lhes leve em conta este pecado! ” (At 7,60; Lc 23,34).

* Jesus tinha dito: “Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. Esta profecia de Jesus também se realizou em Estevão. Os seus adversários “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com o qual ele falava” (At 6,10). “Os membros do sinédrio tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo” (At 6,15). Estevão falava “repleto do Espírito Santo” (At 7,55). Por isso, a raiva dos outros era maior e o lincharam na hora.

* Até hoje acontece o mesmo. Em muitos lugares muita gente é arrastada diante dos tribunais e sabe dar respostas que superam em sabedoria aos sábios e entendidos (Lc 10,21).

Para um confronto pessoal
1. Colocando-se na posição de Estevão: você já sofreu alguma vez por causa da sua fidelidade ao Evangelho?
2. A simplicidade do presépio e a dureza do martírio vão de par em par na vida dos Santos e Santas e na vida de tantas pessoas que hoje são perseguidas até a morte por causa da sua fidelidade ao evangelho. Você conheceu de perto pessoas assim?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

25 de dezembro - NATAL DO SENHOR

Textos: Is 52, 7-10; Heb 1, 1-6; Jo 1, 1-18
Evangelho (João 1, 1-18): No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz. Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.

«E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós»

Mons. Jaume PUJOL i Balcells Arcebispo de Tarragona e Primaz de Catalunha (Tarragona, Espanha)

Hoje, com a simplicidade das crianças, consideramos o grande mistério de nossa fé. O nascimento de Jesus marca a chegada da “plenitude dos tempos”. Desde o pecado de nossos primeiros pais, a linhagem humana se havia afastado do Criador. Mas Deus, compadecido de nossa triste situação, enviou o seu Filho eterno, nascido da Virgem Maria, para resgatar-nos da escravidão do pecado.

O apóstolo João o explica usando expressões de grande profundidade teológica: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.» (Jo 1,1). João chama “Palavra” ao Filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. E complementa: «E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o filho único recebe do seu pai, cheio de graça e de verdade» (Jo 1,14).

Isto é o que celebramos hoje, por isso fazemos festa. Maravilhados, contemplamos Jesus acabado de nascer. É um recém-nascido… E, ao mesmo tempo, Deus onipotente; sem deixar de ser Deus, agora é também um de nós.

Veio à terra para devolver-nos a condição de filhos de Deus. Mas é necessário que cada um acolha em seu interior a salvação que Ele nos oferece. Tal como explica São João, «Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1,12). Filhos de Deus! Ficamos admirados ante este mistério inefável: «O Filho de Deus se fez filho do homem para fazer aos homens filhos de Deus» (São João Crisóstomo).

Acolhamos Jesus, busquemos: somente Nele encontraremos a salvação, a verdadeira solução para nossos problemas; só Ele dá o último sentido da vida e das contrariedades e da dor. Por isto, hoje lhes proponho: vamos ler mais o Evangelho, vamos meditá-lo; vamos procurar viver verdadeiramente de acordo com os ensinamentos de Jesus, ele Filho de Deus que veio a nós. E então veremos como será verdade que, entre todos, faremos um mundo melhor.

Contemplemos hoje os personagens do Natal.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Hoje quero me estender um pouco mais no meu comentário, pois este mistério grandioso do Natal merece um pouco mais. Alguma gota poética brotou da minha pobre caneta. Perdoem-me.

Cada personagem vive de modo diferente o Natal, esse grande mistério da misericórdia e da bondade de Deus.

Em primeiro lugar, contemplemos Maria Santíssima e José, o carpinteiro. Maria, do Verbo prendada busca corações, dar-lhe-emos hospedagem? Não pode já com o seu Filho no ventre; quer dá-lo para nós, oferecê-lo para cada um de nós. Pousadeiro, abre a tua porta e prepara um cantinho para que Maria dê à luz o seu querido Jesus. Até agora o seio de Maria era hospedagem amorosa e berço quentinho. O teu, como está? Frio, terrivelmente frio pela indiferença, pela ingratidão, pelo desamor? Deus não quis que a Virgem desse à luz rodeada de vã curiosidade, envolvida em barulhos. E por isso a levou ao campo. Ali, em liberdade e solidão, a sós com José, deu à luz o Menino Jesus. O nascimento de Jesus Cristo, como diz Santo Inácio de Antioquia, ocorreu em silêncio. Envolveu-o em faixas e o reclinou num presépio. Beijaria os seus pés porque era o seu Senhor: beijaria o seu rostinho porque era o seu filho. Ficaria quieta olhando para Ele. Era como uma simples flor que ainda a gema do dedo poderia machucar. As suas mãos, ao pegá-lo no colo, tremiam de maravilha e de ternura extasiadas. De tanto olhar par Ele cega ficou Maria e está pegando-o no colo entre cantigas de assombro: “Meu filhinho, Filho da minha alma, como pude levar-te, sendo Sol, nas minhas entranhas? Como é que não me abrasaste com tanta chama? Olhemos agora para São José. Era todo disponibilidade e obediência e assombro. E assim venceu as dúvidas, os desconcertos e as angústias. E não sentia nem desejava nada mais, nem filhos nascidos do seu próprio sangue. Tinha diante de si o sol supremo, o filho dos filhos, o Deus do céu e da terra, e a mulher que Deus conquistou. O que mais poderia desejar?

Em segundo lugar, contemplemos os pastores. Velavam o seu rebanho, cumprindo o seu dever... nunca deixariam para o lobo nenhuma das suas crias. Homens simples, feitos à intempérie. Estavam na noite, pois ainda não conheciam a luz do Sol Invicto. E o anjo se apareceu diante deles e a glória de Deus os envolveu com a sua luz. Nunca tinham visto tanta luz e claridade, tanto resplendor e calor. Temem com um temor reverencial. Não estavam acostumados a revelações divinas. É o mesmo temor de Maria e de José diante da irrupção de Deus nas suas vidas. Ninguém está preparado para receber a revelação de Deus. Chega de surpresa, e o homem humilde e simples, no começo teme. Acalmam-se diante do anúncio do anjo, e creem no anúncio do anjo com toda confiança, sem duvidar, sem fazer perguntas. A sua alma pura e simples estava preparada para a Boa Notícia. Desejavam-na. E foram correndo até Belém e ali encontraram Jesus, Maria e José. E lhe deram a sua fé, a sua esperança e o seu amor.

Em terceiro lugar, contemplemos Herodes e os pousadeiros de Jerusalém. Primeiro, Herodes. Herodes não sabe de tão grande acontecimento, pois o seu peito é ninho de ambição e de medo. Não aguentou Verdade tão clara. Feito trevas tapou a cara diante de tanta luz, fechando o cerco do ódio e da sanha. E quis matar essa Luz, esse Amor, essa Flor que nasceu em Belém. Só ele queria reinar. O trono era só para ele. E ficou sem Natal. E o seu coração foi um inferno de ódio, de ambição, de medo e de crime. Segundo, os pousadeiros. Estavam nas suas férias, passatempos e farras. Em cada cantinho das suas hospedarias se podia sentir o cheiro de pecado, desenfreio, indiferença. O consumismo, o hedonismo e o materialismo não deixaram entrar Maria e José, nem sequer deixaram entrar Jesus. Que pena, pousadeiros!

Em quarto lugar, contemplemos os Magos do Oriente. Os magos vêm de longe, não sabem se voltarão, só sabem que uma estrela os convidou a caminhar. E em caminho se puseram. Não sabem aonde vão, mas no seu coração arde uma luz de imensidão. Vêm de longe, bem longe- não sabem se voltarão- pois a luz que assim os guias sempre convidam a ir além. Atravessando desertos viram-se aos pés de um Menino cujo choro é a sua paz. Vêm de longe, bem longe... não sabem se voltarão, pois, o riso deste Menino cativa todo olhar. Enfrentam com fortaleza todas as dificuldades do caminho. Seguem, apesar de tudo. E chegam ao estábulo. Têm que apear-se dos seus camelos. Têm que fazer-se pequenos para entrar. Têm que se sujar um pouco de barro. Mas encontram o tesouro, que é jesus. E dos olhos do recém-nascido saíram uns raios de luz e entraram na alma destes reis. Era o início da sua fé! E acompanharam a fé com a generosidade. E que generosidade! Ouro, incenso e mirra.

Finalmente, contemplemos o Menino Jesus. Nasce um Menino, cujo choro é a primavera e cujas lágrimas, são orvalho que embeleza os nossos campos. Essas lágrimas os anjos absorvem, pois são lágrimas de mel. Essas tuas lágrimas, Jesus, caiam sobre o nosso mundo e o limpe e o dulcifique. Não queiras, Jesus, privar-nos das tuas lágrimas, desse tesouro infinito! Mais prefiro o teu choro, Jesus, Menino de Belém, que o cantar dos anjos que anuncia paz e bem. Caiam as tuas lágrimas sobre as nossas almas e as limpem de toda impureza, egoísmo e ambição. E este Menino nasce nu aguardando mãos pobres que o vistam com lençóis de ampla irmandade, tecidas de choro e de riso. Nasce nu para nos dizer que quem de amor se vestir desde o berço até o sepulcro, nu há de andar pela vida. Nasce a Palavra, para os sedentos de ouvir Deus: se Tu és já a Palavra, o que nos falta aos que temos lábios, sem pronunciá-la, sem bebê-la e dela saciar-nos, vesti-la em carne e na alma? Se em Ti já está dito tudo quanto é de vida e de graça, quanto é de amor e de morte, quanto de luz nos transpassa... por que essa triste e louca preocupação de querer sempre inventá-la, de fazê-la nossa e diferente, dissimulá-la...? A Palavra...! Se Tu és já a Palavra! Nasces como Palavra para que eu possa chamar Deus com a palavra “Pai” e os demais com a palavra irmão. A tua Palavra, Jesus, é eco do amor do teu Pai. Esta Palavra pede silêncio para poder escutá-la; pede disponibilidade para poder acolhê-la; pede generosidade para que fecunde em nós. “Se não me ouvis- diz esta Palavra- é porque tapam os vossos ouvidos mentiras como músicas de insones”. Nasce o Emmanuel, o Deus conosco, para os que estão sós, abandonados, exiliados, desterrados. Aproximou-se do vale tenebroso do nosso quebranto, para caminhar com todos os tristes e despojados. Nasce o Sol Invicto para os que jazem nas trevas. Os astros todos se eclipsam diante do Sol do seu semblante! A sua luz transforma em auroras a nossa escuridão. Nasce o Maioral para todas as ovelhas extraviadas, que saíram do aprisco e as quais o lobo carniceiro ronda para devorar. Nasce o artesão que pega nas suas mãos o nosso sujo barro, e não se mancha, porém o modela, forja com amor; e o amor tudo deixa mais branco, tudo deixa mais puro, tudo deixa mais santo. Nasce a Água que saciará todos os sedentos do mundo. Ele é fonte e Água ao mesmo tempo. Veio para molhar a terra toda, para apagar com a sua frescura profunda treva e sequidão. Ele é o Rio fecundo da história, viva corrente de Formosura indômita. Nasce o Pão, na casa do Pão, Belém. Esse Pão amassado no seio de Maria. Olhem que Pão tão terno que nos confia o Deus que pela terra busca amores com quem compartilhar! Este é o Pão de mais vivos sabores. Nele encontra o homem a alegria de ver satisfeita a sua fome, dia-a-dia, sem apressar de morte árduos suores. Este é o Pão de Graça que se oferece a todos os famintos da terra. Por ele cresce o amor, a vida cresce. E o homem que em tal Pão a sua alegria consiste, sabe de aquela força que abastece o abraço de paz contra a guerra. É Pão que um dia será Eucaristia. Pão que sacia a nossa fome de amores. Pão que fala de cena entre amigos, e à Mesa convida. É Pão do Céu e Terra, de luta e de graça, de densa noite escura, de amanhecer de Páscoa. É pão da ternura de um Deus infante. Pão que quanto mais como, mais me devora. Nasce o homem: por isso, desde a Encarnação a inicial de Homem, é tão maiúscula como a de Deus. Nem mais nem menos. Tao maiúscula a H de homem como a D de Deus. Desde a Encarnação Deus se escreve com H de homem; Homem, com D de Deus. Nasce Jesus como Sacerdote que oferece e se oferece ao Pai pela nossa salvação: o seu Altar é uma cova de animais; o seu corporal, umas faixas; a sua patena, umas palhas. Nasce o Rei dos céus e da terra, quem Herodes temeu. A sua lei? Glória ao seu Pai e paz entre nós. O seu trono? Um presépio com palhas. O seu cetro? Umas mãozinhas que abençoam. O seu manto? Umas faixas. Os seus súditos? A pobreza, os pobres. Não busca trono na terra, só um coração pobre, mas limpo, e um peito amante. O meu consolo e a minha alegria- diz este rei- estão nos corações puros, de amor insaciáveis. Buscas os pobres para enchê-los da tua riqueza, dessa riqueza que só Deus reparte com a sua graça, trazida do céu por Jesus. O teu programa como rei, Jesus? Implantar a tua paz. Esta paz tu a presenteias a quem tem aberto o coração. Por que, Jesus, ainda existe a guerra e a violência avassaladora, por que a força se impõe e há tanta vida terminada? Dizendo isto, vi que o Menino mostrou uma cara triste, e lágrimas em silêncio pelas suas bochechas rolavam. “Não há natal enquanto não reinar a paz em cada alma, enquanto os corações de toda criatura e raça não formem um único coração onde Eu possa nascer; não há natal enquanto o ser humano usar armas para defender os seus bens de temores e ameaças, que aquele amor que compreende, e que perdoa e que abraça; aquele amar que derruba barreiras de ódio e de sanha; e se entrega e nada pede, saber morrer e não mata”. Nasce o Eterno no tempo, para fazer-nos eternos, nós que somos temporais. De outra maneira, tivéssemos sido só tempo, e não tivéssemos nem sonhado com a eternidade, onde Deus vive num eterno presente amando-nos, vendo-nos, escutando-nos.

Para refletir: já faz algum tempo aprendi esta poesia que pode servir para refletir hoje, dia do Natal:

Ei! Tu, pousadeiro!
Não terá um quarto para esta noite?
-Nenhuma cama livre. Tudo cheio.
E Deus continuou a sua estrada, que pena pousadeiro.

Tudo poderia ser de outro modo:
As estrelas balançando-se pelos lados;
Os anjos cantando nas tuas sacadas;
Os Reis Magos perfumando o teu pátio com incenso,
E no teu lar, a divina iluminação.
Mas: “Não tem lugar, nem uma cama; está tudo cheio”.
E Deus continuou a sua estrada, que pena, pousadeiro!

Tivesses liquidado, por fechar, o teu negócio.
Não tem lugar para hóspedes, quando Deus estiver dentro.
Deus vai ocupando quarto por quarto,
Até invadir o coração inteiro.
Fecharias o teu lar, pois Deus te pedia
A tua casa inteira para o Evangelho.
Porém: “Não tem lugar, nem uma cama; está tudo cheio”.
E Deus continuou a sua estrada, que pena, pousadeiro!

O Evangelho começa diante de uma porta
De um lar em Belém. E um pousadeiro.

E o Evangelho segue pedindo hospedagem:
-“Só por esta noite”.
-“Não há lugar; tudo cheio”
Será o meu lar? Serei eu o pousadeiro?

A mão que tocava a minha porta, não seria a estrela
De Belém com serragem de carpinteiro?
Se já não tenho lugar. E se tudo está cheio.
Se Deus continuou a sua estrada, que pena pousadeiro!

Para rezar: prostro-me diante de Ti, Menino de Belém, e te adoro, agradeço-te e te amo. Quero viver contigo o Natal. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org