sexta-feira, 29 de maio de 2015

Santa Teresa: monja de clausura pelos caminhos de Espanha

Frei Patrício Sciadini

O V Centenário do nascimento de Santa Teresa d Ávila, fundadora das carmelitas descalças e dos carmelitas descalços, coloca em discussão tanto nossa maneira de pensar como de viver. Hoje gostaria de evidenciar um aspecto   do momento atual, onde a Igreja, mãe e mestra, se encontra com uma certa dificuldade e que Teresa pode oferecer uma luz e um caminho novo e corajoso: a clausura.  O que nós entendemos quando falamos de monjas de clausura ou de Carmelitas Descalças, fundadas por Santa Teresa d’Ávila, naquela manhã quente e esplendida do 14 de agosto de 1562? A fundação de São José foi preparada no silêncio, às escondidas. O povo de Ávila acordou com as badaladas do sino do pequenino mosteiro e ficou assustado, preocupado por ter que manter economicamente um outro mosteiro e outras monjas.  Tentou-se todo o possível para fechar o mosteiro, mas não teve jeito. O bispo Dom Álvaro estava de acordo e especialmente Teresa era uma “cabeça dura”, que não desanimava diante de coisas deste tipo. 

Quando nós falamos hoje de clausura entendemos monjas contemplativas que decidem separarem-se do mundo, para viver uma maior intimidade com Deus, e que querem abraçar, com a oração, todas as necessidades da Igreja e serem uma presença   viva, atuante, dentro da comunidade, não pelas formas de apostolado, nem pelas obras, mas sim pela oração e uma intensa vida espiritual. Se fala de clausura papal. Não podem sair a não ser por determinados motivos e normas. E se obrigam a uma vida de sacrifício, de distância do mundo e etc. dos eteceteras. Tudo bem. Nada contra isto. Mas como Teresa soube “administrar tudo isto”, como ela e suas monjas souberam viver a clausura naquele tempo? E como deveria ser vivida hoje?

Não é caso de perder-nos em estéreis discussões sobre isto, tanto mais que eu não sou monja de clausura, mas sim ver como Teresa   amou intensamente a clausura como “recanto de solidão” para estar na escuta de Deus e viver, como dizia o seu filho e mestre espiritual João da Cruz, “a solidão sonora e música silenciosa”. Mas ao mesmo tempo o seu zelo pela missionaridade a levou muitíssima vezes a “sair da clausura” para levar a presença de Cristo e do Carmelo no coração das cidades. Isto podemos comprová-lo   olhando “o entusiasmo e uma certa ânsia de fundar mosteiros a toque de caixa”, em 20 anos, isto é, de 1562 ao 1582.  Teresa fundou quase 20 mosteiros de monjas e 13 de frades... Um ritmo impressionante, uma atividade que poderíamos chamar “frenética”, e projetou um Carmelo em Madri, mesmo que nunca conseguiu realizar.

As vezes Teresa tinha que sair da clausura para consolar princesas depressivas ou jovens princesas como a de Alba de Tormes, que estava prestes a dar à luz, que queria a presença da madre Teresa. Ela chegará mais tarde para morrer em Alba de Tormes. Foi convidada a sair da clausura pelos Superiores sem motivos sérios, e hoje diríamos inúteis, mas Teresa é obediente e se coloca em caminho, com dificuldades e vai. Sabe como se relacionar com bispos e convencê-los a aceitar e apoiar as fundações, como a de Burgos e de Sevilha.

 A clausura de Teresa foi muitas vezes as ruas e as viagens, ou o seu “Carmelo itinerante”, em carruagem, onde nunca faltava o famoso sino, para chamar e marcar os horários das orações, do silêncio, da recreação. E convidava aos cocheiros a fazer silêncio e, se obedeciam, dava para eles uma boa porção de comida. Viveu a clausura com uma certa “elasticidade e liberdade interior” e se sentiu bem. Mais tarde, depois de sua morte, vieram superiores, como o Padre Doria, que amará mais a lei que a pessoa humana. A clausura para Teresa não é mais importante que a missão, e nem a pessoa humana. Ela era uma mulher livre e a sua liberdade a viveu a com uma atenção às leis, à obediência à Igreja, mas também às necessidades do seu tempo.

O que diria Teresa de Ávila da clausura de hoje? Vamos deixar para um próximo artigo, que o meu espaço terminou. Mas creio que é necessário ter uma visão de clausura, de contemplação, que seja ao mesmo tempo um estilo de vida, com normas jurídicas, mas com uma visão do que diz Jesus: “não é o homem que é feito para o sábado, mas o sábado para o homem”. Nasce sem dúvida uma nova reflexão sobre este tema tão importante ao se colocar em discussão, a clausura. Mas será que se rompe a clausura só saindo do mosteiro? Creio que hoje os meios de comunicação, se não bem usados, são um meio não para conservar o silêncio e solidão, para uma maior intimidade com Deus, mas para fazer entrar o mundo e a “mundanização” nos conventos de clausura e nos corações dos contemplativos e dos consagrados.

Teresa de Ávila teria bem usado os meios de comunicação de hoje, seja a internet, WhatsApp, twiter, como a seu tempo soube bem usar a comunicação mediante livros, cartas e encontros, e como “andarilha de Deus”, pelos caminhos da Espanha e comunicou o evangelho e a oração com todos os meios e forças e capacidade, que Deus lhe deu. Teresa é a cantora da liberdade sadia, forte, divina e humana. Soube voar e bem, de um lado ao outro, para anunciar o seu amor a Jesus e à Igreja, na escuta de Deus e da Igreja. Podemos estar em “clausura” e ter o coração como um aeroporto ou rodoviária, de vai e vem. E podemos ir pelo mundo com o coração cheio de Deus e viver uma “clausura de amor”, onde o mundo não pode perturbar-nos. “Onde está o teu tesouro aí está o teu coração”.

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