terça-feira, 11 de setembro de 2012

Lectio divina para a quinta-feira da 23ª semana do tempo comum
 

Evangelho (Lc 6,27-38): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «A vós, porém, que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te bater numa face, oferece também a outra. E se alguém tomar o teu manto, deixa levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar do que é teu, não peças de volta. Assim como desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo. Se amais somente aqueles que vos amam, que generosidade é essa? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa? Os pecadores também agem assim. E se prestais ajuda somente àqueles de quem esperais receber, que generosidade é essa? Até os pecadores prestam ajuda aos pecadores, para receberem o equivalente. Amai os vossos inimigos, fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso também para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante será colocada na dobra da vossa veste, pois a medida que usardes para os outros, servirá também para vós».
Comentário: Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona, Espanha)

Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso

      Hoje, no Evangelho, o Senhor pede-nos duas vezes que amemos os nossos inimigos. E oferece, seguidamente, três situações concretas e positivas deste mandamento: fazei o bem aos que vos odeiam, benzei aos que vos maldizem e orai por aqueles que vos caluniam. É um mandamento que parece difícil de cumprir: como podemos amar os que não nos amam? Mais ainda, como podemos amar aqueles que temos a certeza de que nos querem mal? Chegar a amar desta maneira é um dom de Deus, mas é preciso que estejamos abertos a Ele. Bem pensado, amar os inimigos é humanamente falando, a coisa mais sábia que podemos fazer: o inimigo amado sente-se desarmado; amá-lo pode ser condição da possibilidade de deixar de ser inimigo. Jesus continua nesta mesma linha, dizendo: «Se alguém te bater numa face, oferece também a outra» (Lc, 6,29). Poderia parecer um excesso de mansidão. Mas, que fez Jesus quando foi esbofeteado na sua Paixão? Certamente não contra-atacou, mas respondeu com tal firmeza, cheia de caridade, que deve ter surpreendido aquele servo irado: «Se falei mal, mostra em que falei mal; e se falei certo, por que me bates?» (Jo 18,22-23).
      Todas as religiões têm uma máxima de ouro: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti». Jesus é o único que a formula de modo positivo: «Assim como desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo» (Lc 6,31). Esta regra de ouro constitui o fundamento de toda a moral. São João Crisóstomo, comentando este versículo, ensina-nos: «Ainda há mais, porque Jesus não disse somente: desejai todo o bem para os outros, mas fazei o bem aos outros»; logo, a máxima de ouro proposta por Jesus não pode reduzir-se a um mero desejo, mas tem que se traduzir em obras.
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Reflexão   Lucas 6,27-38 
*  O evangelho de hoje traz a segunda parte do “Sermão da Planície”. Na primeira parte (Lc 6,20-26), Jesus se dirigia aos discípulos (Lc 6,20). Na segunda parte (Lc 6,27-49), ele se dirige “a vocês que me escutam”, isto é, àquela multidão imensa de pobres e doentes, vinda de todos os lados (Lc 6,17-19).
*  Lucas 6,27-30:  Amar os inimigos!
*  As palavras que Jesus dirige a este povo são exigentes e difíceis: amar os inimigos, não amaldiçoar, oferecer a outra face a quem bate no rosto, não reclamar quando alguém toma o que é nosso. Tomadas ao pé da letra, estas frases parecem favorecer os ricos que roubam. Mas nem o próprio Jesus as observou ao pé da letra. Quando o soldado lhe bateu no rosto, não ofereceu a outra face, mas reagiu com firmeza. “Se falei errado, prove! Se falei certo, porque me bates?” (Jo 18,22-23). Então, como entender estas palavras? Os versículos seguintes ajudam a entender o que Jesus quer ensinar.
*  Lucas 6,31-36:  A Regra de Ouro! Imitar Deus
Duas frases de Jesus ajudam a entender o que ele quis ensinar. A primeira frase é a assim chamada Regra de Ouro: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31). A segunda frase é: "Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!" (Lc 6,36). Estas duas frases mostram que Jesus não quer simplesmente virar a mesa ou inverter a situação, pois aí nada mudaria. Ele quer mudar o sistema. O Novo que ele quer construir vem da nova experiência de Deus como Pai cheio de ternura que acolhe a todos! As palavras de ameaça contra os ricos não podem ser ocasião para os pobres se vingarem. Jesus manda ter a atitude contrária: "Amai os vossos inimigos!" O amor não pode depender do que eu recebo do outro. O amor verdadeiro deve querer o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz por mim. O amor deve ser criativo, pois assim é o amor de Deus por nós: "Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!".  Mateus diz a mesma coisa com outras palavras: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5,48). Nunca ninguém poderá chegar a dizer: Hoje fui perfeito como o Pai do céu é perfeito! Fui misericordioso como o Pai do céu é misericordioso”. Estaremos sempre abaixo da medida que Jesus colocou diante de nós.
*  No evangelho de Lucas, a Regra de Ouro diz: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31) O evangelho de Mateus traz uma formulação um pouco diferente: "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” e acrescenta: “Pois nisso consistem a Lei e os Profetas" (Mt 7,12). Praticamente todas as religiões do mundo inteiro tem a mesma Regra de ouro com formulações diversas. Sinal de que aqui se expressa uma intuição ou um desejo universal que nasce do fundo do coração humano.
*  Lucas 6,37-38: A medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.
"Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados.  Dêem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês”. São quatro conselhos: dois na forma negativa: não julgar, não condenar; e dois na forma positiva: perdoar e doar com medida abundante. Quando diz “e será dado a vocês”, Jesus alude ao tratamento que Deus quer ter para conosco. Mas quando a nossa maneira de tratar os outros é mesquinha, Deus não pode usar para conosco a medida abundante e transbordante que Ele gostaria de usar.
*  Celebrar a visita de Deus
O Sermão da Planície ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer uma escolha, uma opção, a favor dos pobres. No Antigo Testamento, várias vezes, Deus colocou o povo diante da mesma escolha de bênção ou de maldição. Ao povo era concedida a liberdade para escolher: "Eu lhes propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver" (Dt 30,19). Não é Deus quem condena, mas é o próprio povo de acordo com a escolha que fará entre a vida e a morte, entre o bem e o mal. Estes momentos de escolha são os momentos da visita de Deus ao seu povo (Gn 21,1; 50,24-25; Ex 3,16; 32,34; Jr 29,10; Sl 59,6; Sl 65,10; Sl 80,15, Sl 106,4). Lucas é o único evangelista a empregar esta imagem da visita de Deus (Lc 1,68. 78; 7,16; 19,44; At 15,16). Para Lucas Jesus é a visita de Deus que coloca o povo diante da escolha da bênção ou da maldição: "Felizes vocês, pobres!" e "Ai de vocês, ricos!" Mas o povo não reconheceu a visita de Deus (Lc 19,44).
Para um confronto pessoal
1) Será que nós olhamos a vida e as pessoas com o mesmo olhar de Jesus?
2) O que quer dizer hoje "ser misericordioso como o Pai do céu é misericordioso"?

 Preparando-nos para a Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos
Patrono do Sodalício da Ordem Terceira do Carmo de Sergipe
14 de setembro
Exaltação da Santa Cruz
 O CAMINHO DA CRUZ
Frei Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD
1 - Devemos estar bem convencidos de que, se o Espírito Santo trabalha nas nossas almas, para nos assemelhar a Cristo, não pode fazê-Ia senão levando-nos a seguir o caminho da cruz. Jesus é o crucificado: não pode haver, portanto, conformidade com ele senão mediante a cruz; e jamais se entrará na profundidade da vida espiritual a não ser entrando no mistério da cruz. Santa Teresa de Jesus ensina que até as mais altas graças contemplativas são dadas às almas, exatamente para torná-las mais capazes de levar a cruz.  «Assim como Sua Majestade não nos pode fazer maior mercê do que dar-nos uma vida conforme à que viveu o seu Filho tão amado, assim tenho por certo serem estas mercês para fortalecer a nossa fraqueza e para poder imita-lo no muito padecer» (M. VII, 4, 4). Sim, a conformidade com Jesus crucificado, vale e importa mais do que todas as graças místicas! Toda a vida espiritual é dominada pela cruz, e como a cruz está no centro da história do mundo, assim está no centro da história de cada alma.
         A cruz deu-nos a vida e a cruz imprimirá em nós os traços da mais perfeita semelhança com Jesus: quanto mais participarmos da sua cruz, tanto mais seremos semelhantes a ele e cooperaremos na obra da Redenção. A necessidade da cruz para alcançar a santidade é evidente: não se pode abraçar a vontade de Deus, sempre e em todas as circunstâncias, sem negar a vontade própria; não é possível conformar-se em tudo com Jesus «que não teve nesta vida outro gosto nem quis ter senão o de fazer a vontade de Seu Pai» (J.C. S. I, 13), sem renunciar às próprias satisfações egoístas.
        E tudo isto significa: desapego, cruz, sacrifício, negação de si mesmo. Significa metermo-nos no caminho que nos foi indicado pelo próprio Jesus: «Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mt. 16, 24). Ora é para este caminho que o Espírito Santo nos impele e convida. Quando nos surpreendermos à busca das coisas mais fáceis, mais cômodas, mais honrosas, quando nos apercebermos de que estamos a satisfazer o nosso amor próprio, a nossa vanglória, ou quando nos virmos apegados à nossa vontade, digamos então a nós mesmos que tudo isto está muito longe de ser inspirado pelo Espírito Santo e que, pelo contrário, impede a Sua ação em nós.
         2 - Exercitando-nos corajosamente na renúncia, pomo-nos no caminho da conformidade com Jesus crucificado; mas também nisto as nossas iniciativas não são proporcionadas ao fim a atingir: as renúncias e as mortificações praticadas por nós são insuficientes para nos despojarem a fundo do homem velho, para nos revestirem de Cristo e Cristo crucificado. Eis porque o Espírito Santo, depois de nos ter impelido para o caminho da cruz com as suas inspirações tendentes a fazer-nos abraçar, por amor de Deus, as coisas ásperas e penosas à natureza, se encarrega, Ele próprio, de completar a nossa purificação. E fá-lo, submetendo-nos a provas interiores e exteriores. “Ele - diz S. João da Cruz - com o seu divino fogo de amor está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições de seus maus hábitos. Esta é a operação do Espírito Santo que dispõe a alma para a divina união e transformação de amor em Deus” (C.V. 1, 19), Por conseguinte, não podemos pensar que a ação do Espírito Santo em nós seja sempre consoladora, antes pelo contrário! E de resto, o sofrimento é necessário não só para a nossa purificação, mas também para nos associar à obra redentora de Jesus: quanto mais avançarmos no caminho da cruz, tanto mais nos santificaremos e poderemos exercer na Igreja um fecundo apostolado.
         É, pois evidente: o Espírito Santo, para nos santificar, não pode conduzir-nos por outro caminho senão pelo da cruz. Devemos secundar a sua direção, procurando acima de tudo abraçar de bom grado quanto de amargo e de penoso encontrarmos na nossa vida de cada dia. Por vezes despreza-se a cruz das dificuldades quotidianas para amar uma cruz longínqua que talvez nunca chegue a vir; não devemos andar à busca da nossa cruz em sofrimentos extraordinários que raramente ou talvez nunca encontremos, mas no dever, na vida, nas dificuldades, nos sacrifícios de cada dia, de cada momento; temos aqui riquezas inexauríveis, basta que as saibamos descobrir à luz da fé.
         O Espírito Santo ajuda-nos a reconhecer e impele-nos a abraçar esta cruz de cada dia; a abraçar e não a suportar, o que significa aceitar e oferecer ativamente, dizendo com todo o coração: «sim, eu quero, ainda que me pareça ficar esmagado”.

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