terça-feira, 11 de setembro de 2012

Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos
Patrono do Sodalício da Ordem Terceira do Carmo de Sergipe
14 de setembro

 FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

LECTIO DIVINA
I Leitura - Filipenses 2, 6-11
6Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, 7mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, 8humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. 9Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, 10para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, 11e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
         A leitura constitui um admirável hino à humilhação e exaltação de Cristo, que muitos exegetas pensam ser anterior ao este escrito paulino e a mais antiga confissão de fé explícita na divindade de Cristo que consta dos escritos do Novo Testamento. O caminho nos é indicado pelo próprio Jesus: sendo de condição divina humilhou-se para se doar inteiramente a cada um de nós e assumiu a cruz como fidelidade aos projetos de Deus e serviço a toda a humanidade.
         v. 6 «De condição divina». Literalmente: «existindo em forma de Deus». Ora esta forma (morfê) de Deus, ainda que não significasse diretamente a natureza divina, pelo menos indicaria a glória e a majestade, atributos especificamente divinos na linguagem bíblica. De qualquer modo, como bem observa Heinrich Schlier, a expressão em forma de Deus não quer dizer que Deus tenha uma forma como a têm os homens, mas significa que Jesus «tinha um ser como Deus, um ser divino».
         «Não se valeu da sua igualdade com Deus». Há diversas possibilidades de tradução desta rica expressão, segundo se considera o termo grego harpagmós em sentido ativo (roubo), ou passivo (coisa roubada): a Vulgata traduz: «não considerou uma usurpação (rapinam) o ser igual a Deus» (sentido ativo); segundo a interpretação dos Padres Gregos, a que se ateve a nossas tradução (sentido passivo), teríamos: «não considerou como algo cobiçado (harpagmón) … Há quem pense que S. Paulo quer fazer ressaltar o contraste entre a atitude soberba dos primeiros pais que, sendo homens, quiseram vir a ser iguais a Deus (cf. Gn 3, 5.22) e a atitude humilde de Jesus que, sendo Deus, se quis fazer «semelhante aos homens» (v. 7).
         v.7 «Mas aniquilou-se a si próprio», literalmente, esvaziou-se: Jesus Cristo, ao fazer-se homem, não se despojou da natureza divina, mas sim da glória ou manifestação sensível da majestade que lhe competia em virtude da chamada união hipostática (na pessoa do Filho eterno de Deus, a natureza humana e a natureza divina unidas numa união misteriosa). «Assumindo a condição de servo», o que não significa a condição social de escravo, mas a «forma» (morfê) de se conduzir própria de um ser pobre e dependente, cumprindo a figura do «servo de Yahwéh», a que se refere a primeira leitura de hoje; «tornou-se semelhante aos homens, aparecendo como homem», não apenas, como queria a heresia doceta, nas aparências (skhêmati), mas no sentido em que o homem é «semelhante» (en homoiômati) dos outros homens, em tudo igual excepto no pecado (cf. Hebr 4, 15); «humilhou-se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz» (v. 8). Note-se como é posta em relevo esta obediência e aniquilamento – a kénosis – de Cristo, num sublime crescendo de humilhação em humilhação: feito homem, assume a condição de escravo, ele obedece, e com uma obediência que vai até à morte, e não uma morte qualquer, mas a dum malfeitor, a morte de cruz – homem, escravo, malfeitor!
         vv. 9-11 Mas este aniquilamento – o tremendo escândalo da Cruz – não foi uma derrota, o desfecho dum história trágica com que tudo acabou; temos o sublime paradoxo da sua «exaltação»: foi «por isso» mesmo que «Deus» (não ele próprio, mas o Pai) «o exaltou» de modo singularíssimo (literalmente, acima de tudo o que existe), o que se deu na glorificação da humanidade de Jesus com a sua Ressurreição e Ascensão. A esta exaltação corresponde o «nome» que lhe é dado por Deus, o mesmo nome com que passa a ser invocado pela multidão de todos os crentes de todos os tempos: já não é apenas o nome usado na sua vida terrena e que consta da sentença que o condenou à morte de cruz, mas com o mesmo nome com que o próprio Deus é designado para traduzir o nome divino «Yahwéh» – «Senhor». A todos pertence proclamar e reconhecer a divindade de Jesus – «toda a língua proclame que Jesus Cristo é Senhor» (mais expressivo sem artigo, como no original grego) e o seu domínio sobre toda a criação – «no céu, na terra e nos abismos, para glória de Deus Pai».
     Independentemente da discussão acerca do aniquilamento de que aqui se fala, se ele visa ou não diretamente o mistério da Encarnação, fica bem claro que Jesus não é um simples servo do Senhor que vem a ser exaltado por Deus, pois ele é Deus que se abaixa e depois vem a ser exaltado. Também fica patente que a fé na divindade de Jesus não é o fruto duma elaboração teológica tardia, pois a epístola é, quando muito, do ano 62, se não é mesmo de cerca de 56 (como pensam muitos), e, como dissemos, estes versículos fariam parte dum hino litúrgico a Cristo, anterior à epístola.
Evangelho de São João 3, 13-17
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 13«Ninguém subiu ao Céu senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem. 14Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, 15para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. 16Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele».
         O texto é tirado do «discurso» de Jesus a Nicodemos. Não é fácil distinguir nos discursos de Jesus em S. João, quando é que o evangelista apresenta as próprias palavras de Jesus de quando apresenta a sua reflexão divinamente inspirada sobre elas. Aqui costuma-se considerar a meditação do evangelista a partir do v. 13, meditação que, do v. 16 ao 21, é o chamado kérigma joanino.
     v.13 «Filho do Homem» tem em S. João um sentido glorioso, indicando a origem divina de Jesus, o Filho de Deus pré-existente enviado ao mundo para salvar os homens e que «subiu ao Céu», uma realidade que pertence às coisas do Céu (v. 12); nos Sinópticos conserva mais o sentido da literatura apocalíptica (cf. Dn 7, 13; 4 Esd; Henoc Etiópico), indicando o Messias, o salvador do povo que virá no fim dos tempos e também o Messias-sofredor. Mas expressão na Filho do homem nem sempre fica bem claro o título cristológico, pois por vezes poderia não passar de um mero asteísmo, uma figura de linguagem para Jesus se referir discretamente à sua pessoa: este homem = eu.
     v.14 «Elevado», na Cruz, entenda-se. Mas S. João joga com os dois sentidos da elevação, na Cruz e na glória. E isto não é um simples artifício literário, mas encerra um mistério profundo, pois é na Paixão que se manifesta todo o amor de Jesus (cf. Jo 13, 1), todo o seu poder divino salvífico de dar o Espírito e a vida eterna (cf. 7, 38; 12, 23-24; v.17, 1.2.19), numa palavra, a sua glória, que culmina na Ressurreição (cf. 12, 16). Para a alusão à serpente de bronze, ver Nm 21, 4-9 (1ª leitura de hoje); Sab 16, 5-15 e o Targum que fala mesmo dum lugar elevado onde Moisés a colocou.
    v.16 «Deus... entregou o seu Filho Unigénito». Parece haver aqui uma alusão ao sacrifício de Isaac (cf. Gn 22, 1-12), que os Padres consideravam uma figura de Cristo, até por aquele pormenor de Isaac subir o monte Moriá com a lenha às costas, figura de Jesus subindo o monte Calvário carregando a Cruz.
     v.17 «Não… para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo». Jesus contraria as ideias judaicas da época, que imaginavam o Messias como um juiz que antes de mais vinha para julgar e condenar todos os que ficavam fora do Reino de Deus, ou se lhe opunham.

Deus é o Salvador
     A serpente que aparece no Génesis seduz os nossos primeiros pais a elaborar um plano de vida como se Deus não existisse. A sedução astuciosa foi como veneno injectado tendo forte repercussão nas suas vidas pessoais e dos seus descendentes. Frente a esta «desgraça» relaciona-se o Deus amigo e Salvador anunciando a vitória.
    Na sua caminhada e êxodo de libertação, da busca da plenitude da vida, o Povo de Deus, não está isento de inúmeras dificuldades, tentações e obstáculos. Uma dessas dificuldades são as serpentes que fazem sucumbir a muitos. Injectando o seu veneno mortal dão às suas vítimas pouco tempo de vida.
    O nosso Deus é o Deus da solução. Só não se consegue solução quando não se busca a perspectiva e a lógica de Deus. Colocados na perspectiva de Deus, olhando para a serpente colocada no poste, o Povo de Deus, compreende que o seu coração deve estar colocado em Deus e assim possuir imunidade diante dos ataques do mal.
    Mas esse olhar permite vislumbrar o seu ponto culminante, a centralidade da Vida, da História e da Palavra de Deus: Jesus Cristo.
    Ele é já a procura do Povo da Antiga Aliança e vindo ao mundo tornou-se resposta plena, última e definitiva ao ser humano, às suas buscas e caminhadas.
Centralidade de Cristo
    O mistério pascal de Cristo é a centralidade de toda a peregrinação humana e o que essa peregrinação significa na vida pessoal, comunitária, na história, na revelação de Deus e do Homem. No mistério Pascal de Cristo somos salvos de todo o pecado e da morte. Nele ilumina-se em exaltação a nossa dignidade de filhos de Deus e vive-se a esperança da vitória definitiva. Em Cristo que contemplamos como Filho de Deus e Salvador alcançamos a salvação e o remédio para os nossos males.
   Contemplá-Lo como crucificado significa assumir em si mesmo este projecto de salvação e doar-se sem medo, sem barreiras e sem fronteiras. Significa que no meio da nossa caminhada não estamos isentos do veneno da ganância, do ódio, da inveja, da luxúria… do pecado. Mas em Cristo crucificado vemos sintetizado um projecto e uma proposta de vida oferecida em doação da verdade, da fidelidade, do serviço oblativo, da aceitação da humilhação evangélica, e do caminho para a vida.
Encontro e compromisso
    A cruz de Cristo é proposta na nossa caminhada. É poderosa referência à autenticidade e legado mais útil a todas as gerações.
    Quem constrói na cruz de Cristo constrói na verdade e na dignidade, pois ela convida e incita a que o ser humano não se deixe vencer pelas seduções do aparente desenvolvimento ou libertação. Ela desmascara toda a falsidade dos esquemas que na nossa caminhada querem destruir a vida. A cruz desmascara todos os esquemas que atacam o homem e semeiam a morte. Ela desmascara o que não é cristão e apela constantemente ao mais genuíno no seguimento e compromisso com Cristo.
    A Cruz é a exaltação do serviço e da fraternidade com os outros, sobretudo os mais débeis, os fracos e os pequeninos, que se tornam muito vulnerável e frágeis diante de potentes poderes destruidores. Ela é garantia da derrota do «monstro» que se salienta pelo orgulho e soberba. Ela é a vitória Daquele que deu a vida por todos, para que todos encontrem a salvação.

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