domingo, 11 de dezembro de 2011

AS SENTENÇAS SEGUINTES DECLARAM O MODO DE SUBIR PELA SENDA AO MONTE, E DÃO AVISO PARA NÃO SEGUIR OS DOIS CAMINHOS DESVIADOS.

O MONTE DA PERFEIÇÃO

       Estando S. João da Cruz como confessor do convento da Encarnação (1572-1577), desenhou o Cristo morto na Cruz e também o Monte da perfeição (reproduzido aqui de uma cópia notarial).
     O Santo usava pedagogicamente o desenho em seu magistério espiritual, como atestam várias testemunhas e sua época. Desenhava vários deles e os presenteava aos seus dirigidos. Segundo alguns ele teria feitos entre 60 a 65 cópias do desenho.
     A reprodução abaixo é uma das que mais se aproximam do original. É dedicado a Madalena do Espírito Santo, monja carmelita, dirigida sua (pode-se ler na segunda linha de baixo para cima a dedicatória: Para mi Hija Magdalena.
     É uma cópia feita a partir de um original. A cópia data de 13 de novembro de 1759 e se conserva na Biblioteca Nacional de Madri.
     Neste desenho é representado o esquema da Subida do Monte Carmelo, que se pode visualizar graficamente.
     Como título, um versículo do Sl 67: “O MONTE DE DEUS É FÉRTIL; MONTE MACIÇO; MONTE ONDE APROUVE A DEUS MORAR.”
     Logo abaixo, uma palavra de Jeremias: “EU VOS INTRODUZI NA TERRA DO CARMELO PARA QUE COMÊSSEIS SEUS FRUTOS E O MELHOR DELA”.
     No vértice, escreve o Santo: “FAZ MANSÃO NESTE MONTE SOMENTE A GLÓRIA E A HONRA DE DEUS.”
     Logo abaixo, lê-se: “CONVÍVIO PERENE”.
     Enfim, como a sugerir a atmosfera espiritual que reina no Monte, as palavras: “DIVINO SILÊNCIO- DIVINA SABEDORIA”.
     No centro, está escrita a meta: "SÓ MORA NESTE MONTE A HONRA E A GLÓRIA DE DEUS".
     São João da Cruz desenha ao pé do Monte três caminhos que se oferecem a quem tenta subir a rude encosta, para encontrar Deus. São três caminhos de amor; mas diferentes os itinerários, opostos os pontos de chegada.
     À direita abre-se um caminho largo, mas enganoso. Segue-o a alma fascinada pelo amor dos bens da terra; ao final, transvia-se e exclama lamentosa: “Mais procurei esses bens, menos os encontrei; não pude ascender o Monte, porque tomei o caminho errado”.
     À esquerda, outro caminho, largo também, embora menos funesto; sobe num lento serpentear, mas não chega ao cume. É o caminho da alma imperfeita, que confessa: “Tardei mais e subi menos, porque não tomei a senda.” Este é o caminho da alma que amou com demasiado apego, com amor desordenado, os bens celestes. E isso basta para embargar-lhe os passos.
     Resta um só caminho, do centro, é a “vereda do nada”. Para chegar ao cume do Monte é necessário percorrer esta senda do NADA, estreita, abrupta, mas que, em compensação, sobe diretamente e de uma só vez ao cume. À entrada, como um indicador, está escrita uma das mais aterradoras sentenças de Jesus: “Quão estreito é o caminho que conduz à vida.” (Mt 7,14).
     Ao longo do caminho, o Santo traçou cinco vezes o aniquilador discípulo “nada”. Eleva-se o caminho por entre ribanceiras figurando os bens celestes e os terrestres. Sobre a primeira lemos: “glória, nem isso: segurança, nem isso; gozo, nem isso; consolo, nem isso; saber, nem isso.”; e sobre a segunda: “gosto: nem estouro; liberdade; nem estoura; honra: nem estoura; descanso: nem estouro.”
     Os três caminhos nos revelam que: ou escolhemos a terra e nos perdemos; ou escolhemos o Céu com vontade frouxa, e nunca chegaremos à perfeição, mas só chegaremos ao cume do Monte entregando-nos totalmente a Deus, sem nada reservar para nós mesmos.
     Abaixo da estampa onde desenhou o itinerário místico do Carmelo, São João da Cruz agrupou quatro series de oito aforismos nos quais temos o resumo do que se encontra escrito em todo o desenho.
     Lendo no sentido natural de uma ascensão ou escalada de abaixo prá cima:
     As quatro colunas (da esquerda para a direita) escritas verticalmente

MODO PARA CHEGAR AO TUDO
Para vir ao que não SABES - hás de ir por onde não SABES.
Para vir ao que não GOSTAS - hás de ir por onde não GOSTAS.
Para vir ao que não POSSUIS - hás de ir por onde não POSSUIS.
Para vir ao que não ÉS - hás de ir por onde não ÉS.
MODO DE POSSUIR O TUDO
Para vir a saber TUDO - não queiras saber algo em NADA.
Para vir a saborear TUDO - não queiras saborear algo em NADA.
Para vir a possuir TUDO - não queiras possuir algo em NADA.
Para vir a ser TUDO - não queiras ser algo em NADA.
MODO PARA NÃO IMPEDIR O TUDO
Quando reparas em ALGO - deixas de lançar-te ao TUDO
Porque para vir de TODO ao TUDO - hás de deixar de TODO a TUDO
E quando o venhas de TODO a ter - hás de tê-lo sem nada QUERER
Porque se queres ter algo em TUDO - não tens puro em Deus o teu tesouro.
INDÍCIO DE QUE SE TEM TUDO
Nesta desnudez encontra o espírito sossego e descanso, porque, como nada cobiça, nada o impele para cima e nada o comprime para baixo, pois se acha no centro da sua humildade; em cobiçando algo, nisso mesmo vem a causar-se o espírito.

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