segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

PREPARANDO A FESTA DE S. JOÃO DA CRUZ
DOUTRINA DE JOÃO DA CRUZ

   São João da Cruz reduz seu sistema místico a dois princípios fundamentais, ou mesmo, talvez a um só.   Esse princípio fundamental é: "DEUS É TUDO; A CRIATURA É NADA".
     Deste princípio se desprendem duas grandes conseqüências:
     1º - É necessário desapegar-se totalmente das criaturas, pois são "nada";
     2º - É necessário apegar-se firmemente a Deus pelo amor, pois "Deus é tudo".
     Os livros de São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo e Noite Escura, tratam da primeira dessas conseqüências, o modo de desapegar-se das criaturas. Os livros Cântico Espiritual e Chama Viva de Amor tratam da segunda conseqüência, isto é, de como unir-se a Deus. E assim está resumida toda obra de São João da Cruz.
     Vamos explicar cada uma dessas partes.
O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL:
     "Deus é tudo e as criaturas são nada", é um princípio teológico firme. Na Escritura Deus mesmo se dá o nome que indica a plenitude do ser: "Eu sou Aquele que é" (Ex 3,14).
     Deus falando a Santa Catarina de Sena disse: "Eu sou o que é, tu és a que não é". É o mesmo pensamento de São João da Cruz: "Deus é tudo, a criatura é nada".
     Não se entenda isso em sentido panteísta. Quer apenas expressar a infinita grandeza de Deus e a pequenez da criatura.

PRIMEIRA CONSEQUÊNCIA:
AS CRIATURAS SÃO NADA: DESAPEGAR-SE DELAS
     Se Deus é tudo e a criatura nada, a conseqüência lógica é que devemos desprender-nos - ao menos afetivamente - de todas as coisas criadas se queremos chegar a Deus.
     São João da Cruz explica: "A causa por que é necessário à alma, para chegar à divina união com Deus, passar por essa noite escura da mortificação do apetite e negação do prazer em todas as coisas, é por que todas as afeições que tem nas criaturas são diante de Deus puras trevas, das quais estando a alma vestida, não tem capacidade para ser iluminada e possuída pela pura e simples luz de Deus, se primeiro não as afasta de si; porque não podem andar juntas a luz e as trevas".
     Ele continua: "a afeição e apego que a alma tem à criatura iguala a mesma alma com a criatura, e quanto maior é a afeição tanto mais a iguala e se faz semelhante, por que o amor faz semelhantes o que ama e o que é amado".
     Não se trata do desprendimento real e efetivo de todas as coisas criadas - impossível de praticar enquanto estamos no mundo - mas do desprendimento afetivo, do coração ou do desejo, ainda que se possua todas as coisas.
     Ele diz: "Por isso chamamos essa desnudez "noite" para a alma, por que não tratamos aqui de não usar as coisas - por que isso não desnuda a alma se tem apetite delas - mas tratamos da desnudez do gosto e apetite delas, que é o que deixa a alma livre e vazia delas, ainda que as tenha".
     São João da Cruz dedica duas obras a tratar do desprendimento das criaturas:
     A Subida do Monte Carmelo, em que fala da purificação ou noite ativa dos sentidos e das faculdades da alma (noite "ativa" por que trata do esforço e trabalho que a alma deve fazer para desprender-se das criaturas).
     E a Noite Escura, em que trata da noite passiva dos sentidos e da alma noite "passiva", por que é Deus quem age purificando e lapidando a alma).

SEGUNDA CONSEQUÊNCIA:
DEUS É TUDO: UNAMO-NOS A ELE PELO AMOR
     Se São João da Cruz somente houvesse escrito a Subida do Monte Carmelo e a Noite Escura teria poucos seguidores e sua doutrina seria de todo inaceitável.
     Mas não, a Subida e a Noite tratam apenas da parte mais ascética da sua doutrina, isso é, das necessárias purificações e do que devemos fazer para desimpedir o caminho para a santidade. As obras seguintes, Cântico Espiritual e Chama Viva de Amor, são chamadas as obras místicas, por que tratam da ação de Deus na alma e o modo dele levá-las a união consigo.
     A Subida do Monte Carmelo e a Noite Escura tratam apenas do caminho, do meio indispensável para chegarmos a plena divinização do homem. Mortificações, renúncias, nadas, noites, purificações, não tem um fim em si, visam apenas desimpedir o caminho para a entrega total a Deus.
     No Cântico Espiritual e Chama Viva de Amor, que são obras místicas, trata da união da alma com Deus, ou seja, trata da divinização do homem.
     João da Cruz diz que a alma transformada por ação do amor no cume da união com Deus se vê misteriosamente transformada em Deus e se faz de certo modo Deus por participação.
     Para João da Cruz a mais alta santidade consiste em ter a vontade perfeitamente unida a de Deus, ou seja, em procurar-se satisfazer os menores desejos e vontades de Deus. Aí já não haverá duas vontades, mas a de Deus somente.
     A alma se encontra divinizada; é Deus por participação, por graça, por adoção. Não por confusão ou mistura de naturezas. A alma continua alma e criatura, ainda que criatura divinizada.
     São João da Cruz diz assim: "Oh almas criadas para essas grandezas e para elas chamadas! Que fazeis? Em que vos entretendes? Vossas pretensões são baixezas e vossas posses misérias. Oh miserável cegueira dos olhos de vossa alma, pois para tanta luz estais cegos, e para tão grandes coisas surdos. Não vendo que em quanto que buscais grandezas e glórias, vós ficais miseráveis e baixos, de tantos bens feitos ignorantes e indignos".
     Eis o que diz João da Cruz do fato de haver tão poucas almas chegadas a essa santidade: "E aqui nos convém notar a causa por que há tão poucos que cheguem a tão alto estado de perfeição de união com Deus. O qual devemos saber que não é por que Deus queira que haja poucos desses espíritos elevados, que antes queria que todos fossem perfeitos, senão que acha poucos vasos que sofram tão alta e elevada obra. Que como os prova no menos e os acha fracos, de sorte que logo fogem do trabalho, não querendo sujeitar-se ao menor desconsolo e mortificação (não achando-os fortes e fiéis naquele pouco que lhes fazia a graça de começar a desbastá-los e lavrar) acabe por ver que serão muito mais no muito, e assim não vai adiante em purificá-los e levantá-los do pó da terra pelo trabalho da mortificação, para a qual seria necessária maior constância e fortaleza do que eles mostram".

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