quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

V Domingo do Tempo Comum

Sta. Apolônia, virgem e mártir
 
1ª Leitura (Is 6,1-2a.3-8):
No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».
 
Salmo Responsorial: 137
R. Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.
 
De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca. Na presença dos Anjos Vos hei de cantar e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.
 
Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade, porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa. Quando Vos invoquei, me respondestes, aumentastes a fortaleza da minha alma.
 
Todos os reis da terra Vos hão de louvar, Senhor, quando ouvirem as palavras da vossa boca. Celebrarão os caminhos do Senhor, porque é grande a glória do Senhor.
 
A vossa mão direita me salvará, o Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, a vossa bondade é eterna, não abandoneis a obra das vossas mãos.
 
2ª Leitura (1Cor 15,1-11): Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.
 
Aleluia. Vinde comigo, diz o Senhor, e farei de vós pescadores de homens. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 5,1-11): Certo dia, Jesus estava à beira do lago de Genesaré, e a multidão se comprimia a seu redor para ouvir a Palavra de Deus. Ele viu dois barcos à beira do lago; os pescadores tinham descido e lavavam as redes. Subiu num dos barcos, o de Simão, e pediu que se afastasse um pouco da terra. Sentado, desde o barco, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca». Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, pela tua palavra, lançarei as redes». Agindo assim, pegaram tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Fizeram sinal aos companheiros do outro barco, para que viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram os dois barcos a ponto de quase afundarem. Vendo isso, Simão Pedro caiu de joelhos diante de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!». Ele e todos os que estavam com ele ficaram espantados com a quantidade de peixes que tinham pescado. O mesmo ocorreu a Tiago e João, filhos de Zebedeu e sócios de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!». Eles levaram os barcos para a margem, deixaram tudo e seguiram Jesus.
 
«Mestre pela tua palavra, lançarei as redes»
 
Rev. D. Blas RUIZ i López (Ascó, Tarragona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos oferece o diálogo, simples e profundo ao mesmo tempo, entre Jesus e Simão Pedro, diálogo que poderíamos fazê-lo nosso: no meio das águas tempestuosas deste mundo, nos esforçamos por nadar contra a corrente, buscando a boa pesca de um anúncio do Evangelho que obtenha uma resposta frutuosa...
 
E é então quando nos cai em cima, indiscutivelmente, a dura realidade; nossas forças não são suficientes. Necessitamos alguma coisa mais: a confiança na Palavra daquele que nos prometeu que nunca nos deixará só. «Simão respondeu-lhe: Mestre! Trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede.» (Lc 5,5). Esta resposta de Pedro pode-se entender em relação com as palavras de Maria nas bodas de Canaã: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). E é no cumprimento confiado da vontade do Senhor quando nosso trabalho resulta proveitoso.
 
E tudo, apesar de nossa limitação de pecadores: «Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador» (Lc 5,8). São Irineu de Lyon descobre um aspecto pedagógico no pecado: quem é consciente de sua natureza pecadora é capaz de reconhecer sua condição de criatura, e este reconhecimento nos põe ante a evidência de um Criador que nos supera.
 
Somente quem, como Pedro, soube aceitar sua limitação, está em condições de aceitar que os frutos de seu trabalho apostólico não são seus, e sim Daquele de quem se serviu como um instrumento. O Senhor chama aos Apóstolos a serem pescadores de homens, mas o verdadeiro pescador é Ele: o bom discípulo não é mais que a rede que recolhe a pesca, e esta rede somente é efetiva se atua como fizeram os Apóstolos: E atracando as barcas à terra, deixaram tudo e o seguiram (cf. Lc 5,11).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«[É tarefa dos filhos de Deus] procurar que todos os homens entrem satisfeitos nas redes divinas e se amem uns aos outros (...). Acompanhemos a Cristo nesta divina pesca» (São Josemaria)
 
«Quem dá testemunho de Jesus sabe que na vida não se pode acomodar no bem-estar mas tem que correr o risco de ir mar adentro» (Francisco)
 
«Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre a sua pequenez (...). Perante os sinais divinos realizados por Jesus. Pedro exclama: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque eu sou um pecador» (Lc 5, 8)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 208)
 
«Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!».

Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
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Este relato, rico de uma grande intensidade teológica, está colocado como o centro de um percurso de fé e de encontro com o Senhor Jesus, que nos conduz desde a surdez à capacidade plena de escuta, da enfermidade mais paralisante à cura salvífica, que nos torna capazes de ajudar os irmãos a renascer conosco. Jesus começou a sua pregação na sinagoga de Nazaré, tornando legíveis e luminosas as palavras do volume da Torah (Lc 4, 16ss), venceu o pecado (Lc 4, 31-37) e a enfermidade (Lc 4, 38-41), afastando-o do coração do homem e anunciou aquela força misteriosa que a  enviou a nós pela qual Ele deve mover-se, correr como gigante, que chega a todos os pontos da terra. É aqui, neste momento, onde emerge a resposta e começa o seguimento, a obediência da fé; é aqui onde nasce já a Igreja e o novo povo, capaz de ouvir e de dizer sim.
 
* vv. 1-3: Jesus encontra-se na margem do mar da Galileia e diante dele encontra-se uma grande multidão desejosa de escutar a Palavra de Deus. Ele sobe a uma barca e afasta-se da terra; como um mestre e guia, senta-se sobre as águas e domina-as e oferece a sua salvação, que nasce da Palavra, escutada e acolhida.
 
* vv. 4-6: Jesus faz o convite para pescar e Pedro obedece, acredita na Palavra do Mestre. Por causa da fé, entra no mar e lança as redes; devido a esta mesma fé a pesca é abundante, é milagrosa.
 
* v. 7: O encontro com Jesus nunca está fechado mas conduz à comunicação, à participação: o dom, de facto, é demasiado grande e incontível para um só. Pedro chama os companheiros que estão noutro barco e o dom duplica-se, cresce continuamente.
 
* vv. 8-11: Diante de Jesus, Pedro ajoelha-se, adora e reconhece o seu pecado, a sua incapacidade, mas Ele chama-o, com o mesmo tom com que removeu as águas de tantos mares, ao longo de toda a Escritura: “Não temais!”. Deus revela-se e faz-se companheiro do homem. Pedro aceita a missão de tirar para fora do mar do mundo e do pecado os homens, seus irmãos, assim como ele foi tirado; deixa o barco, as redes, os peixes e segue Jesus, com os seus companheiros.
 
* Sentando-se, ensinava a multidão partir do barco. Jesus abaixa-se, senta-se, habita no meio de nós, abaixa-se ao ponto de tocar a nossa terra e desde esta pequenez dá-nos o seu ensinamento, a sua Palavra de salvação. Jesus dá-me tempo, espaço, plena disponibilidade para o encontrar e para o conhecer, mas, sei ficar, permanecer, unir-me a Ele, diante d'Ele?
Pediu que se afastasse um pouco da terra. O pedido do Senhor é progressivo. Depois de afastar-se da terra, pede que entre no mar. “Afasta-te da terra! Faz-te ao largo!”. Convites dirigidos a todos os barcos de todos os homens e mulheres. Tenho fé, confiança, confio n'Ele e por isso deixo-me conduzir, deixo a pesca? Olho com sinceridade e seriedade para dentro de mim: onde estão presas as amarras da minha vida?
 
* Lançarei as redes. Pedro dá-nos um exemplo luminoso de fé na Palavra do Senhor. Nesta passagem o verbo “lançar” aparece em duas ocasiões: a primeira está referida às redes, e a segunda à própria pessoa de Pedro. O significado é forte e claro: diante do Senhor podemos lançar todo o nosso ser. Nós lançamos mas Ele recolhe. Sempre, com uma fidelidade absoluta e infalível. Sinto-me disposto a tomar a minha vida tal como hoje é e lançá-la aos pés de Jesus, para que Ele, uma vez mais, me recolha, me cure, fazendo de mim um homem novo?
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco. Pedro, novamente, serve-me de guia no meu caminho e indica-me a via de abertura aos outros, da participação, porque na Igreja não é possível estarmos isolados e fechados. Todos somos enviados: “Vai aos meus irmãos e diz-lhes” (Jo 20, 17). Sei aproximar o meu barco dos outros? Sei verter na existência dos outros irmãos e irmãs os dons e as riquezas que o Senhor me confiou?

O MAR E O TEMA DO ÊXODO
 
* Jesus está de pé, junto à margem do mar, está de pé não importa as obscuridades ameaçadoras e ignoradas das ondas do mar e da vida.
Coloca-se diante deste povo reunido, pronto para escutar e para o êxodo, a Ele, o bom pastor, com o cajado da sua Palavra. Quer conduzir através dos mares e dos oceanos deste mundo, numa viagem de salvação que nos conduz para cada vez mais perto do Pai. O Senhor fala e as águas separam-se diante d'Ele, como acontecera no Mar Vermelho (Ex 14, 21-23) e junto ao rio Jordão (Jos 3, 14-17). Também o mar de areia do deserto fica vencido pela força da Palavra e abre-se, convertendo-se num jardim, uma estrada plana e endireitada (Is 43, 16-21) para quantos decidem fazer a viagem de regresso a Deus e se deixam guiar por Ele. Nestes poucos versículos do Evangelho, o Senhor Jesus prepara, uma vez mais para nós o grande milagre do êxodo, da saída das trevas da morte para os pastos frescos da amizade com Ele, da escuta da sua voz. Tudo está preparado: o nosso nome foi pronunciado com infinito amor pelo bom pastor, que nos conhece desde sempre e nos guia por toda a eternidade, sem nunca nos deixar abandonados.
 
A ESCUTA DA FÉ QUE NOS CONDUZ À OBEDIÊNCIA
 
* É a segunda passagem do glorioso caminho que o Senhor Jesus nos oferece através deste trecho de Lucas. A multidão apinha-se em torno de Jesus, conduzida pelo desejo íntimo de escutar a Palavra de Deus.; é a resposta ao convite perene do Pai, que invade toda a Escritura: “Escuta Israel!” (Dt 6, 4) e “se o meu povo me escutasse!” (Sal 80, 14). É como se a multidão dissesse: “Sim, escutarei o que diz o Senhor Deus!” (Sal 85, 9). Mas a escuta que nos é pedida e sugerida é completa não superficial; é viva e vivificante, não morta; é escuta da fé, não da incredulidade e da dureza do coração. É a escuta que diz: “mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes”. O chamamento que o Senhor nos dirige neste momento é antes de tudo o chamamento à fé, a fiar-se n'Ele e em toda a palavra que sai da sua boca, seguros e certos de que tudo o que Ele diz se realiza. Como Deus disse a Abraão: “Há alguma coisa impossível para o Senhor?” (Gen 18, 14), ou a Jeremias: “Existe algo impossível para mim?” (Jer 32, 27; cf. Zac 8, 6). Ou como disse a Maria: “A Deus nada é impossível” (Lc 1, 37) e então ela disse: “Faça-se em mim como disseste”. Aqui é onde devemos chegar; como Maria,  como Pedro. Não podemos ser somente ouvintes, porque enganamo-nos a nós mesmos, como diz São Tiago (1, 19-25), ficaremos enganados pela pouca memória e perder-nos-emos. A palavra deve ser realizada, cumprida, posta em prática. É uma grande ruína para o que escuta se não a põe em prática; é necessário escavar profundamente e colocar o alicerce sobre a rocha, que é a fé operativa (cf. Lc 6, 46-49).
 
A PESCA COMO MISSÃO DA IGREJA
 
* A adesão à fé conduz à missão, isto é, a entrar na comunidade instituída por Jesus para a difusão do Reino. Parece que Lucas quer já, nesta passagem, apresentar a Igreja que vive a experiência pós-pascal do encontro com Jesus ressuscitado; são conhecidas as muitas referência à passagem de Jo 21, 1-8. Jesus escolhe uma barca e escolhe Pedro e, a partir da barca, chama homens e mulheres, filhos e filhas, para continuar a sua missão. Refira-se também que o verbo “faz-te ao largo” se encontra no singular e refere-se a Pedro que recebe o encargo de guia, mas a ação da pesca está no plural: “Lançai as redes!”, referida a todos aqueles que querem aderir para participar na missão. É bela e luminosa, é gozosa, é comum a todos esta única missão e fadiga! É a missão apostólica, que começa agora, em obediência à Palavra do Senhor e que chegará ao longe, a todos os lugares da terra (cf. Mt 28, 19; At 1, 8; Mc 16, 15; 13, 10; Lc 24, 45-48).
 
* É interessante notar o vocábulo usado por Lucas para indicar a missão confiada por Jesus a Pedro e nele a todos nós, quando lhe diz: “Não temas... tu serás pescador de homens”. Aqui não se usa o mesmo termo que encontramos já em Mt 4, 18ss, em Mc 1, 16 ou também nesta passagem no versículo 2, simplesmente pescador; há aqui uma palavra nova, que aparece somente duas vezes em todo o Novo Testamento e que deriva do verbo “capturar”, no sentido de “capturar vivo e manter com vida”. Os pescadores do Senhor lançam as redes ao mar do mundo para oferecer aos homens a Vida, para os tirar dos abismos e fazê-los voltar à verdadeira vida. Pedro e os outros, nós e os nossos companheiros de navegação neste mundo, podemos continuar, se quisermos, em qualquer estado em que nos encontrarmos, aquela mesma e formosa missão de enviados do Pai para “salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10).
 
Palavra para o caminho
1. Nós, cristãos, estamos a experimentar que a nossa capacidade para transmitir a fé às novas gerações é cada vez menor. Não tem faltado esforços e iniciativas. Porém, ao que parece, não se trata somente nem primordialmente de inventar novas estratégias.
2. Chegou o momento de recordar que, no Evangelho de Jesus, há uma força de atracção que não existe em nós. Esta é a pergunta mais decisiva: continuamos “a fazer coisas”, ou colocamos todas as nossas energias em recuperar o Evangelho como a única força capaz de produzir fé nos homens e mulheres de hoje?
3. Temos de colocar o Evangelho na frente de tudo. O decisivo é que o povo possa entrar em contacto com a vida e a pessoa de Jesus. A fé cristã desperta no coração dos homens e mulheres, quando as pessoas descobrem o fogo de Jesus.

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