terça-feira, 24 de dezembro de 2024

TEMPO DO NATAL

São Estevão, diácono e protomártir
 
1ª Leitura (At 6,8-10; 7,54-60):
Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes prodígios e milagres entre o povo. Entretanto, alguns membros da sinagoga chamada dos Libertos, oriundos de Cirene, de Alexandria, da Cilícia e da Ásia, vieram discutir com Estêvão, mas não eram capazes de resistir à sabedoria e ao Espírito Santo com que ele falava. Ao ouvirem as suas palavras, estremeciam de raiva em seu coração e rangiam os dentes contra Estêvão. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, de olhos fitos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé à sua direita e exclamou: «Vejo o Céu aberto e o Filho do homem de pé à direita de Deus». Então levantaram um grande clamor e taparam os ouvidos; depois atiraram-se todos contra ele, empurraram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas colocaram os mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito». Palavra do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 30
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
 
Sede a rocha do meu refúgio e a fortaleza da minha salvação. Porque Vós sois a minha força e o meu refúgio, por amor do Vosso nome guiai-me e conduzi-me.
 
Em vossas mãos entrego o meu espírito, Senhor, Deus fiel, salvai-me. Hei de exultar e alegrar-me com a vossa misericórdia, porque conhecestes as angústias da minha alma.
 
Livrai-me das mãos dos meus inimigos e de quantos me perseguem. Fazei brilhar sobre mim a vossa face, salvai-me pela vossa bondade.
 
Aleluia. Bendito O que vem em nome do Senhor; o Senhor é Deus e fez brilhar sobre nós a sua luz. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 10,17-22): Naquele tempo, Jesus disse aos Apóstolos: «Cuidado com as pessoas, pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Por minha causa, sereis levados diante de governadores e reis, de modo que dareis testemunho diante deles e diante dos pagãos. Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que falar. Naquele momento vos será dado o que falar, pois não sereis vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai falará em vós. O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais e os matarão. Sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo».
 
«Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão»
 
Frei Josep Mª MASSANA i Mola OFM  (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, mal acabámos de saborear a profunda experiência do Nascimento do Menino Jesus, muda o panorama litúrgico. Podíamos pensar que celebrar um mártir não combina com o encanto do Natal… O martírio de Sto. Estevão, que veneramos como protomártir do cristianismo, entra plenamente na teologia da Encarnação do Filho de Deus. Jesus veio ao mundo para derramar o seu Sangue por nós. Estevão foi o primeiro a derramar o seu sangue por Jesus. Lemos neste Evangelho como o próprio Jesus o anuncia: «Eles vos levarão aos seus tribunais e (…) sereis levados diante dos governadores e dos reis: servireis de testemunha» (Mt 10,17.18). Precisamente, “mártir” significa exatamente isto: testemunha.
 
Este testemunho de palavras e de obras dá-se graças à força do Espírito Santo: «O Espírito do vosso Pai (…) falará em vós» (Mt 10,19). Tal como lemos nos “Atos dos Apóstolos”, capítulo 7, Estevão, levado aos tribunais, deu uma lição magistral, percorrendo o Antigo Testamento, demonstrando que todo ele converge no Novo, na Pessoa de Jesus. N’Ele se cumpre tudo o que tinha sido anunciado pelos profetas e ensinado pelos patriarcas.
 
Na narrativa do seu martírio encontramos uma belíssima alusão trinitária: «Estevão, cheio do Espírito Santo, fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus» (At 7,55). A sua experiência foi como uma antecipação da Glória do Céu. E Estevão morreu como Jesus, perdoando aos que o imolavam: «Senhor, não lhes leves em conta este pecado» (At 7,60); rezou as palavras do Mestre: «Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).
 
Peçamos a este mártir que saibamos viver como ele, cheios do Espírito Santo, a fim de que, fixando o olhar no céu, vejamos Jesus à direita de Deus. Esta experiência fará que gozemos já do céu, enquanto estamos na terra.
 
«Vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão»
 
Pe. Joan BUSQUETS i Masana (Sabadell, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a Igreja celebra a festa do seu primeiro mártir, o diácono São Estevão. O Evangelho, às vezes, parece desconcertante. Ontem transmitia-nos sentimentos de gozo e de alegria pelo Nascimento do Menino Jesus: «Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito»(Lc 2,20). Hoje parece como se quisera-nos pôr sob aviso perante os perigos: «Cuidado com as pessoas, pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas» (Mt 10, 17). É que aqueles que queiram ser testemunhos, como os pastores na alegria do Nascimento, devem ser valentes como Estevão no momento de proclamar a Morte e Ressurreição de aquele Menino que tinha nele a Vida.
 
O mesmo Espírito que cobriu com sua sombra a Maria, a Mãe virgem, para que fosse possível a realização do plano de Deus de salvar aos homens; o mesmo Espírito que posou sob os Apóstolos para que saíssem do seu esconderijo e difundiram a Boa Nova —o Evangelho— pelo mundo todo, é o que dá forças àquele menino que discutia com os da sinagoga e perante o que «não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava» (At 6,10).
 
Era um mártir na vida. Mártir significa “testemunho”. E foi também mártir por sua morte. Em vida teve em consideração as palavras do Mestre: «Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que falar. Naquele momento vos será dado o que falar» (Mt 10,19). «Cheio do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus; e viu também Jesus, de pé, à direita de Deus».(Ats.7,55). Estevão o viu e disse. Se o cristão hoje é um testemunho de Jesus Cristo, o que viu com os olhos da fé o vai dizer sem medo com as palavras mais compreensíveis, quer dizer, com fatos, com obras.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Esteban, confiando na força da caridade, superou a amarga crueldade de Saul, e mereceu ter no céu como companheiro quem conheceu na terra como um perseguidor» (São Fulgêncio de Ruspe)
 
«Embora nem todos sejam chamados, como santo Estêvão, a derramar o próprio sangue, contudo a cada cristão é pedido que seja coerente em todas as circunstâncias com a fé que ele professa» (Francisco)
 
«Interceder, pedir a favor de outrem, é próprio, desde Abraão, dum coração conforme com a misericórdia de Deus. (...). Na intercessão, aquele que ora não «olha aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros», e chega até a rezar pelos que lhe fazem mal (Cf. Santo Estêvão rezando pelos que o supliciavam, como Jesus: cf. At 7, 60)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.635)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O contraste é grande.
Ontem, dia de Natal, foi o presépio do recém-nascido com o canto dos anjos e a visita dos pastores. Hoje é o sangue derramado de Estevão, apedrejado até a morte, porque teve a coragem de crer na promessa expressa na simplicidade do presépio. Estevão criticou a interpretação fundamentalista da Lei de Deus e o monopólio do Templo. Por isso foi morto por eles (At 6,13-14).
 
* Hoje, na festa de Estevão, primeiro mártir, a liturgia traz um trecho do evangelho de Mateus (Mt 10,17-22), tirado do assim chamado Sermão da Missão (Mt 10,5-42). Nele Jesus adverte os seus discípulos dizendo que a fidelidade ao evangelho traz dificuldades e perseguição: “eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles”. Mas para Jesus o que importa na perseguição não é o lado doloroso do sofrimento, mas sim o lado positivo do testemunho: “Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações”. A perseguição é uma oportunidade para dar testemunho da Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe.
 
* Foi o que aconteceu com Estevão. Ele deu testemunho da sua fé em Jesus até o último momento da sua vida. Na hora de morrer ele disse: “Vejo os céus abertos, e o Filho do Homem em pé à direita de Deus” (At 7,56). E ao cair morto debaixo das pedradas imitou Jesus gritando: “Senhor, não lhes leve em conta este pecado!” (At 7,60; Lc 23,34).
 
* Jesus tinha dito: “Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. Esta profecia de Jesus também se realizou em Estevão. Os seus adversários “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com o qual ele falava” (At 6,10). “Os membros do sinédrio tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo” (At 6,15). Estevão falava “repleto do Espírito Santo” (At 7,55). Por isso, a raiva dos outros era maior e o lincharam na hora.
 
* Até hoje acontece o mesmo. Em muitos lugares muita gente é arrastada diante dos tribunais e sabe dar respostas que superam em sabedoria aos sábios e entendidos (Lc 10,21).
 
Para um confronto pessoal
1. Colocando-se na posição de Estevão: você já sofreu alguma vez por causa da sua fidelidade ao Evangelho?
2. A simplicidade do presépio e a dureza do martírio vão de par em par na vida dos Santos e Santas e na vida de tantas pessoas que hoje são perseguidas até a morte por causa da sua fidelidade ao evangelho. Você conheceu de perto pessoas assim?

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Natal do Senhor


1ª Leitura (Is 9,1-6): O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor. Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas. Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo.
 
Salmo Responsorial: 95
R. Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira, cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.
 
Anunciai dia a dia a sua salvação, publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas.
 
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores das florestas.
 
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
 
2ª Leitura (Tit 2,11-14): Caríssimo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.
 
Aleluia. Anuncio-vos uma grande alegria: Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,1-14): Naqueles dias, saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra — o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade. Também José, que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse: «Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura» De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: «Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!».
 
«Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor»
 
Rev. D. Ramon Octavi SÁNCHEZ i Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, nasceu-nos o Salvador. Esta é a boa nova desta noite de Natal. Como em cada Natal, Jesus volta a nascer no mundo, em cada casa, no nosso coração.
 
Porém, contrariamente ao que a nossa sociedade consumista celebra, Jesus não nasce num ambiente de abastança, de compras, de conforto, de caprichos e de grandes refeições. Jesus nasce com a humildade de um portal e de um presépio.
 
E fá-lo deste modo porque é rejeitado pelos homens: ninguém quis dar-lhes guarida, nem nas casas nem nas estalagens. Maria e José, e o próprio Jesus recém-nascido, sentiram o que significa a rejeição, a falta de generosidade e de solidariedade.
 
Depois, as coisas mudaram, e com o anúncio do Anjo — «Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo» (Lc 2,10) —todos correram para o presépio para adorar o Filho de Deus. Foi um pouco como a nossa sociedade, que marginaliza e rejeita muitas pessoas porque são pobres, estrangeiras ou simplesmente diferentes, e depois celebra o Natal falando de paz, solidariedade e amor.
 
Hoje, nós os cristãos estamos cheios de alegria, e com razão. Como afirma São Leão Magno: «Hoje não está certo que haja lugar para a tristeza, no momento em que nasceu a vida». Mas não podemos esquecer que este nascimento nos exige um compromisso: viver o Natal do modo mais parecido possível com o que viveu a Sagrada Família. Quer dizer, sem ostentações, sem gastos desnecessários, sem pôr a casa de pernas para o ar. Celebrar e fazer festa são compatíveis com austeridade e até com a pobreza.
 
Por outro lado, se durante estes dias não temos verdadeiros sentimentos de solidariedade para com os rejeitados, forasteiros, sem teto, é porque no fundo somos como os habitantes de Belém: não acolhemos o nosso Menino Jesus.
 
Missa da Aurora
 
Evangelho: (Lc 2,15-20): Quando os anjos se afastaram, voltando para o céu, os pastores disseram entre si: “Vamos a Belém ver este acontecimento que o Senhor nos revelou”. Os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam. Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração. Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito.
 
«Encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura»
 
Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona, Espanha)
 
Hoje resplandece uma luz para nós: nasceu o Senhor! Do mesmo modo que o sol sai cada manhã para iluminar e dar vida ao mundo, esta missa da aurora, celebrada ainda com pouca luz, invoca a figura do Menino nascido em Belém como o sol nascente, que vem para iluminar a família humana.
 
Depois de Maria e José, foram estes pastores do Evangelho os primeiros que foram iluminados pela presença de Jesus Menino. Os pastores, que eram considerados como os últimos na sociedade. Temos de ser pastores para acolher o Menino e ser conscientes do nosso nada.
 
Que Jesus seja luz, não nos pode deixar indiferentes. Contemplemos os pastores: era tão grande o gozo que sentiam pelo que haviam visto que não deixavam de falar disso: «Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam» (Lc 2,19).
 
«Teu Salvador já está aqui», também nos diz o profeta e isso nos enche de alegria e de paz. Queridos irmãos, isto nos falta a muitos cristãos no dia de hoje: falar Dele com alegria, paz e convencimento; cada um desde a sua vocação, quer dizer, desde o desígnio eterno que Deus tem “para mim”. E isto será possível se antes estamos convencidos da nossa identidade: os laicos, religiosos e sacerdotes. Todos formamos “o povo santo” do qual nos fala o profeta Isaías.
 
Foi desígnio de Deus que fossem pastores a adorar ao Menino Jesus. Todos somos pastores. Todos têm de ser pobres e humildes, os últimos... Contemplando o presépio de nossa casa, com os pastores de plástico ou de barro, vemos uma imagem da Igreja, que o profeta na primeira leitura descreve como uma “cidade-não-abandonada” e como “a querida” (Is 62,12). Neste Natal façamos o propósito de amar mais a nossa Igreja... que não é nossa, senão Dele e nós a recebemos e entramos a participar nela como indignos servos, e a recebemos como um dom, como um presente imerecido. De aí que a nossa aclamação da alegria neste Natal tem de ser uma profunda e sincera ação de graças.
 
Missa do dia
 
Evangelho (Jo 1,1-18): No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos pudessem crer, por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram. A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que creem no seu nome. Estes foram gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho dele e proclama: «Foi dele que eu disse: ‘Aquele que vem depois de mim passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia». De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça. Pois a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer».
 
«E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós»
 
Mons. Jaume PUJOL i Balcells, Arcebispo Emérito de Tarragona (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, com a simplicidade das crianças, consideramos o grande mistério de nossa fé. O nascimento de Jesus marca a chegada da “plenitude dos tempos”. Desde o pecado de nossos primeiros pais, a linhagem humana se havia afastado do Criador. Mas Deus, compadecido de nossa triste situação, enviou o seu Filho eterno, nascido da Virgem Maria, para resgatar-nos da escravidão do pecado.
 
O apóstolo João o explica usando expressões de grande profundidade teológica: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.» (Jo 1,1). João chama “Palavra” ao Filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. E Complementa: «E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o filho único recebe do seu pai, cheio de graça e de verdade» (Jo 1,14).
 
Isto é o que celebramos hoje, por isso fazemos festa. Maravilhados, contemplamos Jesus acabado de nascer. É um recém-nascido… E, ao mesmo tempo, Deus onipotente; sem deixar de ser Deus, agora é também um de nós.
 
Veio à terra para devolver-nos a condição de filhos de Deus. Mas é necessário que cada um acolha em seu interior a salvação que Ele nos oferece. Tal como explica São João, «Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1,12). Filhos de Deus! Ficamos admirados ante este mistério inefável: «O Filho de Deus se fez filho do homem para fazer aos homens filhos de Deus» (São João Crisóstomo).
 
Acolhamos Jesus, busquemos: somente Nele encontraremos a salvação, a verdadeira solução para nossos problemas; só Ele dá o último sentido da vida e das contrariedades e da dor. Por isto, hoje lhes proponho: vamos ler mais o Evangelho, vamos meditá-lo; vamos procurar viver verdadeiramente de acordo com os ensinamentos de Jesus, ele Filho de Deus que veio a nós. E então veremos como será verdade que, entre todos, faremos um mundo melhor.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Demos graças a Deus Pai através do seu Filho, no Espírito Santo, porque se compadeceu de nós pela imensa misericórdia com que nos amou. Estando nós mortos pelos pecados, ele nos fez viver com Cristo, para que graças a ele sejamos uma nova criatura» (São Leão Magno)
 
«Neste dia nasceu, da Virgem Maria, Jesus o Salvador. Vamos a adorar a Bondade de Deus feito carne e deixemos que as lágrimas de arrependimento encham os nossos olhos e lavem o nosso coração. Todos nós precisamos» (Francisco)
 
«Jesus nasceu na humildade dum estábulo, no seio duma família pobre. As primeiras testemunhas deste acontecimento são simples pastores. E é nesta pobreza que se manifesta a glória do céu. A Igreja não se cansa de cantar a glória desta noite: ‘Hoje a Virgem dá à luz o Eterno e a terra oferece uma gruta ao Inacessível. Cantam-n'O os anjos e os pastores, e com a estrela os magos põem-se a caminho, porque Tu nasceste para nós, pequeno Infante. Deus eterno!’» (Catecismo da Igreja Católica, nº 525)

 

domingo, 22 de dezembro de 2024

SEMANA SANTA DO NATAL: 24 de dezembro

1ª Leitura (2Sam 7,1-5.8b-12.14a.16):
Quando David já morava em sua casa e o Senhor lhe deu tréguas de todos os inimigos que o rodeavam, o rei disse ao profeta Natã: «Como vês, eu moro numa casa de cedro e a arca de Deus está debaixo de uma tenda». Natã respondeu ao rei: «Faz o que te pede o coração, porque o Senhor está contigo». Nessa mesma noite, o Senhor falou a Natã, dizendo: «Vai dizer ao meu servo David: Assim fala o Senhor: Pensas edificar um palácio para Eu habitar? Tirei-te das pastagens onde guardavas os rebanhos, para seres o chefe do meu povo de Israel. Estive contigo em toda a parte por onde andaste e exterminei diante de ti todos os teus inimigos. Dar-te-ei um nome tão ilustre como o nome dos grandes da terra. Prepararei um lugar para o meu povo de Israel e nele o instalarei para que habite nesse lugar, sem que jamais tenha receio de andar errante, nem os perversos tornem a oprimi-lo como outrora, quando Eu constituía juízes no meu povo de Israel. Farei que vivas seguro de todos os teus inimigos; e o Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais, estabelecerei em teu lugar um descendente que há-de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Serei para ele um Pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre».
 
Salmo Responsorial: 88
R. Senhor, cantarei eternamente a vossa bondade.
 
Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor e para sempre proclamarei a sua fidelidade. Vós dissestes: «A bondade está estabelecida para sempre», no céu permanece firme a vossa fidelidade.
 
«Concluí uma aliança com o meu eleito, fiz um juramento a David, meu servo: ‘Conservarei a tua descendência para sempre, estabelecerei o teu trono por todas as gerações’».
 
Ele Me invocará: ‘Vós sois meu pai, meu Deus, meu Salvador’. Assegurar-lhe-ei para sempre o meu favor, a minha aliança com ele será irrevogável.
 
Aleluia. Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e sol de justiça: vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,67-79): Naquele tempo, Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo, profetizou dizendo: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e libertou o seu povo. Ele fez surgir para nós um poderoso salvador na casa de Davi, seu servo, assim como tinha prometido desde os tempos antigos, pela boca dos seus santos profetas: de salvar-nos dos nossos inimigos e da mão de quantos nos odeiam. Ele foi misericordioso com nossos pais: recordou-se de sua santa aliança, e do juramento que fez a nosso pai Abraão, de nos conceder que, sem medo e livres dos inimigos, nós o sirvamos, com santidade e justiça, em sua presença, todos os dias de nossa vida. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à frente do Senhor, preparando os seus caminhos, dando a conhecer a seu povo a salvação, com o perdão dos pecados, graças ao coração misericordioso de nosso Deus, que envia o sol nascente do alto para nos visitar, para iluminar os que estão nas trevas, na sombra da morte, e dirigir nossos passos no caminho da paz».
 
«Que envia o sol nascente do alto para nos visitar, para iluminar os que estão nas trevas»
 
Rev. D. Ignasi FABREGAT i Torrents (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho recolhe o cântico de louvor de Zacarias após o nascimento do seu filho. Na primeira parte, o pai de João dá graças a Deus, na segunda parte os seus olhos voltam-se para o futuro. Todo ele propaga alegria e esperança ao reconhecer a ação salvadora de Deus para com Israel, que culmina na vinda do próprio Deus encarnado, preparada pelo filho de Zacarias.
 
Já sabemos que Zacarias tinha sido castigado por Deus devido à sua incredulidade. Porém, agora quando a ação divina se manifesta totalmente na sua própria carne – pois recupera a fala — exclama aquilo que até então não podia dizer senão com o coração; e certamente que o dizia: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel … (Lc 1,68). Quantas vezes vemos as coisas de forma obscura, negativa, pessimista! Se tivéssemos a visão sobrenatural que Zacarias demonstra no Canto do Benedictus, viveríamos permanentemente com alegria e esperança.
 
«O Senhor está próximo; o Senhor já está aqui!» O pai do Percursor está consciente de que a vinda do Messias é, acima de tudo, luz. Uma luz que ilumina os que vivem na obscuridade, nas sombras da morte, ou seja, nós próprios! Oxalá nos demos conta, com plena consciência, de que o Menino Jesus vem iluminar as nossas vidas, vem guiar-nos, assinalar-nos por onde devemos andar…! Oxalá nos deixemos guiar pelas suas inspirações, por aquela esperança que nos transmite!
 
Jesus é o «Senhor» (cf. Lc 1,68.76), mas também é o «Salvador» (cf. Lc 1,69). Estas duas confissões (atribuições) que Zacarias faz a Deus, tão próximas da Noite de Natal, sempre me surpreenderam, porque são exatamente as mesmas que o Anjo do Senhor atribuirá a Jesus no anúncio aos pastores e que podemos escutar com emoção logo à noite na Missa da Meia Noite. É que quem nasce é Deus!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nós somos a tua imagem e Tu és a nossa, graças à união que realizaste no homem. É através deste imenso amor que suplico humildemente a Vossa Majestade, com todas as forças da minha alma, que tenhais piedade, com toda a vossa generosidade, destas vossas miseráveis criaturas» (Santa Catarina de Sena)
 
«Misericórdia: é a lei fundamental que habita no coração de cada pessoa quando observa, com olhos sinceros, o irmão que encontra no caminho da sua vida. Misericórdia: é a via que une Deus e o homem» (Francisco)
 
« São João Baptista é o precursor imediato do Senhor, enviado para Lhe preparar o caminho (cf. Mt 3,3); e inaugura o Evangelho» (Catecismo da Igreja Católica, nº 523)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
*
O Cântico de Zacarias é um dos muitos cânticos e refrões das comunidades dos primeiros cristãos, que até hoje estão espalhados pelos escritos do Novo Testamento: nos evangelhos (Lc 1,46-55; Lc 2,14; 2,29-32), nas cartas paulinas (1Cor 13,1-13; Ef 1,3-14; 2,14-18; Filp 2,6-11; Col 1,15-20) e no Apocalipse (1,7; 4,8; 11,17-18; 12,10-12; 15,3-4; 18,1 até 19,8). Estes cânticos nos dão uma ideia de como eram a vivência da fé e a liturgia semanal naqueles primeiros tempos. Eles deixam entrever uma liturgia que era, ao mesmo tempo, celebração do mistério, profissão de fé, animação da esperança e catequese.
 
* Aqui no Cântico de Zacarias, os membros daquelas primeiras comunidades, quase todos judeus, cantam a alegria de terem sido visitados pela bondade de Deus que, em Jesus, veio realizar as promessas. O Cântico tem uma estrutura bonita, bem elaborada. Parece uma lenta subida que leva os fiéis até o alto da montanha, de onde observam o caminho percorrido desde Abraão (Lc 1,68-73), experimentam o começo da realização das promessas (Lc 1,74-75) e de onde olham para frente prevendo o caminho a ser percorrido pelo menino João até o nascimento de Jesus, o Sol da justiça, que virá preparar para todos o caminho da Paz (Lc 76-79).
 
* Zacarias começa louvando a Deus por Ele ter visitado e redimido o seu povo (Lc 1,68) e ter realizado uma salvação poderosa na casa de Davi seu servo (Lc 1,69) conforme havia prometido pelos profetas (Lc 1,70). E ele descreve em que consiste esta salvação poderosa: na “libertação dos nossos inimigos e de todos que nos têm ódio” (Lc 1,71). Esta salvação é o resultado, não do esforço nosso, mas sim da bondade misericordiosa do pró­prio Deus que se lembrou da sua aliança sagrada e do juramento que tinha feito a Abraão, nosso pai (Lc 1,72). Deus é fiel. Este é o fundamento da nossa segurança.
 
* Em seguida, Zacarias descreve em que consiste o juramento de Deus a Abraão: é a esperança de “que, libertos dos inimigos, possamos viver sem medo, em santidade e justiça na presença de Deus, todos os dias da nossa vida”. Este era o grande desejo do povo daquele tempo e continua sendo o grande desejo de todos os povos de todos os tempos: viver em paz, sem medo, servindo a Deus e ao próximo, em santidade e justiça, todos os dias da nossa vida. Este é o alto da montanha, o ponto de chegada, que apareceu no horizonte com o nascimento de João (Lc 1,73-75).
 
* Agora, a atenção do cântico se dirige para João, o menino que acabou de nascer. Ele será o profeta do Altíssimo, pois irá à frente do Senhor para preparar-lhe o caminho e anunciar ao povo o conhecimento da salvação pelo perdão dos pecados (Lc 1,76-77). Aqui temos uma alusão clara à profecia messiânica de Jeremias que dizia: “Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: "Procure conhecer a Javé". Porque todos, grandes e pequenos, me conhecerão, oráculo de Javé, pois vou perdoar suas culpas e não me lembrarei mais de seus pecados” (Jer 31,34). Na Bíblia, “conhecer” é sinônimo de “experimentar”. É o perdão e a reconciliação que nos fazem experimentar a presença de Deus.
 
* Tudo isso será fruto da ação misericordiosa do coração do nosso Deus e se realizará plenamente com a vinda de Jesus, o sol que virá do alto para iluminar todos que estão nas trevas e na sombra da morte e guiar nossos passos no caminho da Paz (Lc 1,78-79).
 
Para um confronto pessoal
1. Às vezes é bom ler o cântico como se fosse pela primeira vez para poder descobrir nele toda a novidade da Boa Nova de Deus.
2. Você já experimentou alguma vez a bondade de Deus? Você já experimentou alguma vez o perdão de Deus?

sábado, 21 de dezembro de 2024

SEMANA SANTA DO NATAL: 23 de dezembro

1ª Leitura (Mal 3,1-4.23-24):
Assim fala o Senhor Deus: «Vou enviar o meu mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim. Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais. Ele aí vem – diz o Senhor do Universo –. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda, quem resistirá quando Ele aparecer? Ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata, e eles serão para o Senhor os que apresentam a oblação segundo a justiça. Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos de outrora. Eu vos enviarei o profeta Elias, antes de chegar o dia grande e terrível do Senhor. Ele reconduzirá o coração dos pais a seus filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que Eu não venha ferir de maldição a terra».
 
Salmo Responsorial: 24
R. Erguei-vos e levantai a cabeça: está perto a vossa redenção.
 
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador.
 
O Senhor é bom e reto, ensina o caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
 
Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos. O Senhor trata com familiaridade os que O temem e dá-lhes a conhecer a sua aliança.
 
Aleluia. Ó Rei das Nações e Pedra Angular da Igreja, vinde salvar o homem que formastes do pó da terra. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,57-66): Quando se completou o tempo da gravidez, Isabel deu à luz um filho. Os vizinhos e os parentes ouviram quanta misericórdia o Senhor lhe tinha demonstrado, e alegravam-se com ela. No oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. A mãe, porém, disse: «Não. Ele vai se chamar João». Disseram-lhe: «Ninguém entre os teus parentes é chamado com este nome!» Por meio de sinais, então, perguntaram ao pai como ele queria que o menino se chamasse. Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: «João é o seu nome!» E todos ficaram admirados. No mesmo instante, sua boca se abriu, a língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judéia. Todos os que ouviram a notícia ficavam pensando: «Que vai ser este menino?» De fato, a mão do Senhor estava com ele.
 
«Que vai ser este menino? De fato, a mão do Senhor estava com ele»
 
Rev. D. Miquel MASATS i Roca (Girona, Espanha)
 
Hoje, na primeira leitura lemos: «Isto diz o Senhor: ‘Eis que estou enviando o meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente’» (Mal 3,1). A profecia de Malaquias cumpre-se em João Batista. É um dos principais personagens da liturgia do Advento, que nos convida a prepararmo-nos com oração e penitência para a vinda do Senhor. Tal como reza a oração da coleta da missa de hoje: «Concede aos teus servos, que reconhecemos a proximidade do Nascimento de teu Filho, experimentar a misericórdia do Verbo que se dignou encarnar da Virgem Maria e habitar entre nós».
 
O nascimento de Precursor fala-nos da proximidade do Natal. O Senhor está próximo!; preparemo-nos! Questionado pelos sacerdotes vindos de Jerusalém sobre quem era, ele respondeu: «Eu sou a voz de quem grita no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor! ’”» (Jo 1,23).
 
«Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo» (Ap 3,20), lê-se na antífona da comunhão. Devemos fazer exame e analisar como estamos nos preparando para receber a Jesus no dia de Natal: Deus quer nascer principalmente nos nossos corações.
 
A vida do Precursor ensina-nos as virtudes que necessitamos para receber com proveito a Jesus; fundamentalmente, a humildade de coração. Ele reconhece-se instrumento de Deus para cumprir a sua vocação, a sua missão. Como diz Santo Ambrósio: «Não te glories por te chamarem filho de Deus —reconheçamos a graça sem esquecer a nossa natureza—; não te envaideças se serviste bem, porque apenas cumpriste aquilo que tinhas a fazer. O sol faz o seu trabalho a lua obedece; os anjos cumprem a sua missão. O instrumento escolhido pelo Senhor para os gentios diz: ‘Eu não mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus’ (1Cor 15,9)».
 
Busquemos tão só a glória de Deus. A virtude da humildade nos disporá a preparar-nos devidamente para as festas que se aproximam.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Isabel sentiu a proximidade de Maria, João a proximidade do Senhor; a mulher ouviu a saudação da mulher, o filho sentiu a presença do Filho, elas proclamam a graça, eles logram que suas madres se aproveitem de este dom» (Santo Ambrósio)
 
« João anunciará a alguém Maior que ia de vir depois de ele. Tem sido enviado para preparar o caminho a esse misterioso Outro; toda sua missão está orientada a Ele: se anunciava algo realmente grande» (Bento XVI)
 
«João é “mais do que um profeta” (Lc,26). Nele, o Espírito Santo conclui a tarefa de “falar pelos profetas”. João encerra um ciclo dos profetas inaugurado por Elias. Anuncia a iminência da consolação de Israel, é a “voz” do Consolador que vem (Jo 1,23). Como fará o Espírito de verdade, “ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz” (Jo 1,7). Aos olhos de João Espírito realiza, assim, as “pesquisas dos profetas” e o desejo dos anjos» (Catecismo da Igreja Católica, n° 719)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Nos capítulos 1 e 2 do seu evangelho, Lucas descreve o anúncio e o nascimento de dois meninos, João e Jesus, que vão ocupar um papel importante na realização do projeto de Deus.
O que Deus iniciou no AT começa a ser realizado por meio deles. Por isso, nestes dois capítulos, Lucas evoca muitos fatos e pessoas do AT e ele chega a imitar o estilo do AT. É para sugerir que com o nascimento destes dois meninos a história faz a grande curva e inicia a realização das promessas de Deus por meio de João e de Jesus e com a colaboração dos pais Isabel e Zacarias e Maria e José.
 
* Existe certo paralelismo entre o anúncio e o nascimento dos dois meninos:
1. O anúncio do nascimento de João (Lc 1,5-25) e de Jesus (Lc 1,26-38)
2. As duas mães grávidas se encontram e experimentam a presença de Deus (Lc 1,27-56)
3. O nascimento de João (Lc 1,57-58) e de Jesus (Lc 2,1-20)
4. A circuncisão na comunidade de João (Lc 1,59-66) e de Jesus (Lc 2,21-28)
5. O canto de Zacarias (Lc 1,67-79) e o canto de Simeão com a profecia de Ana (Lc 2,29-32)
6. A vida oculta de João (Lc 1,80) e de Jesus (Lc 2,39-52)
 
* Lucas 1,57-58: Nascimento de João Batista. “Completou-se para Isabel o tempo do parto e ela deu à luz um filho. Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido bom para Isabel, e se alegraram com ela”. Como tantas mulheres do AT, Isabel era estéril: Como Deus teve piedade de Sara (Gn 16,1; 17,17; 18,12), de Raquel (Gn 29,31) e de Ana (1Sam 1,2.6.11) transformando a esterilidade em fecundidade, assim Ele teve piedade de Isabel, e ela concebeu um filho. Grávida, Isabel escondeu-se durante cinco meses. Quando, depois de cinco meses, o povo pôde verificar no corpo dela como Deus tinha sido bom para Isabel, todos se alegraram com ela. Este ambiente comunitário em que todos se envolvem com a vida dos outros, tanto na alegria como na dor, é o ambiente em que João e Jesus nasceram, cresceram e receberam a sua formação. Um ambiente assim marca a personalidade das pessoas pelo resto da sua vida. É este ambiente comunitário que mais nos falta hoje.
 
* Lucas 1,59: Dar o nome no oitavo. “No oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias”. O envolvimento da comunidade na vida da família de Zacarias, Isabel e João é tanto que os parentes e vizinhos chegam a interferir até na escolha do nome do menino. Querem dar ao menino o nome do pai: Zacarias!” Zacarias quer dizer: Deus se lembrou. Talvez quisessem expressar a gratidão a Deus por Ele ter se lembrado de Isabel e de Zacarias e por ter-lhes dado um filho na velhice.
 
* Lucas 1,60-63: O nome dele será João! Mas Isabel intervém e não permite os parentes tomarem a dianteira na questão do nome. Lembrando o anúncio do nome pelo anjo a Zacarias (Lc 1,13), ela diz: "Não! Ele vai se chamar João". Num lugar pequeno como Ain Karem na serra da Judéia, o controle social é muito forte. E quando uma pessoa sai fora dos costumes normais do lugar, ela é criticada. Isabel não seguiu os costumes do lugar e escolheu um nome fora dos padrões normais. Por isso, os parentes e vizinhos reclamam: "Você não tem nenhum parente com esse nome!" Os parentes não cedem com facilidade e fazem sinais ao pai para saber dele como quer que o menino seja chamado. Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: "O nome dele é João." Todos ficaram admirados, pois deviam ter percebido algo do mistério que Deus que envolvia o nascimento do menino. É esta percepção que o povo teve do mistério de Deus presente nos fatos tão comuns da vida, que Lucas quer comunicar a nós, seus leitores e leitoras. Na sua maneira de descrever os acontecimentos, Lucas não é como o fotógrafo que só registra o que os olhos podem ver. Ele é como quem usa o Raio-X que registra aquilo que os olhos não podem ver. Lucas lê os fatos com o Raio-X da fé que revela o que o olhar comum não percebe.
 
* Lucas 1,64-66: A notícia do menino se espalha. “No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judéia. E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: "O que será que esse menino vai ser?" De fato, a mão do Senhor estava com ele”. A maneira de Lucas descrever os fatos evoca as circunstâncias do nascimento de pessoas que no AT tiveram um papel importante na realização do projeto de Deus e cuja infância já parecia marcada pelo destino privilegiado que iam ter: Moisés (Ex 2,1-10), Sansão (Jz 13,1-4 e 13,24-25), Samuel (1Sam 1,13-28 e 2,11).
 
* Quanto mais conhecimento você conseguir acumular do Antigo Testamento, mais evocações vai descobrir nos escritos de Lucas. Os dois primeiros capítulos do seu Evangelho não são histórias no sentido em que nós hoje entendemos a história. Funcionam mais como espelho para ajudar os leitores e leitoras a descobrir que João e Jesus tinham vindo realizar as profecias do Antigo Testamento. Lucas quer mostrar como Deus, através dos dois meninos, veio atender às mais profundas aspirações do coração humano. De um lado, Lucas mostra que o Novo realiza o que o Antigo prefigurava. De outro lado, ele mostra que o novo ultrapassa o antigo e não corresponde em tudo ao que o povo do Antigo Testamento imaginava e esperava. Na atitude de Isabel e Zacarias, de Maria e José, Lucas apresenta um modelo de como se converter e acreditar no Novo que está chegando.
 
Para um confronto pessoal
1. O que mais me cativou na maneira de Lucas descrever os fatos da vida?
2. Como leio os fatos da minha vida? Como fotografia ou como raio-X?

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

SEMANA SANTA DO NATAL: IV Domingo do Advento

1ª Leitura (Miq 5,1-4):
Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».
 
Salmo Responsorial: 79
R. Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.
 
Pastor de Israel, escutai, Vós estais sobre os Querubins, aparecei. Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio.
 
Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós.
 
Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes. Nunca mais nos apartaremos de Vós, fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.
 
2ª Leitura (Hb 10,5-10): Irmãos: Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado». E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei. Depois acrescenta: «Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade». Assim aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre.
 
Aleluia. Eis a escrava do Senhor: faça-se em mim segundo a vossa palavra. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,39-45): Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!».
 
«Feliz aquela que acreditou!»
 
Mons. Ramon MALLA i Call Bispo Emérito de Lleida (Lleida, Espanha)
 
Hoje é o último Domingo deste tempo de preparação da chegada - o Advento - de Deus a Belém. Por ser em tudo igual a nós, quis ser concebido - como qualquer homem - no seio de uma mulher, a Virgem Maria, mas pela obra e graça do Espírito Santo, pois era Deus. Brevemente, no dia de Natal, celebraremos com alegria o seu nascimento.
 
O Evangelho de hoje apresenta-nos duas personagens, Maria e a sua prima Isabel, as quais nos indicam a atitude que devemos ter no nosso espírito para contemplar este acontecimento. Deve ser uma atitude de fé, de uma fé dinâmica.
 
Isabel com sincera humildade, «ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “(…) Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1,41-43). Ninguém lhe tinha contado; apenas a fé, o Espírito Santo, tinha-lhe mostrado que a sua prima era mãe de seu Senhor, de Deus.
 
Conhecendo agora a atitude de fé total por parte de Maria, quando o Anjo lhe anunciou que Deus a tinha escolhido para ser a sua mãe terreal Isabel não se recatou de proclamar a alegria que a fé dá. Põe-no em relevo dizendo: «Feliz aquela que acreditou!» (Lc 1,45).
 
É, pois, numa atitude de fé que devemos viver o Natal. Mas, à imitação de Maria e Isabel, com fé dinâmica. Em consequência, como Isabel, se for necessário, não nos devemos conter ao expressar o agradecimento e o gozo de ter fé. E, como Maria, ainda a devemos manifestar com obras. «Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel» (Lc 1,39-40) para felicitá-la e ajudá-la, ficando cerca de três meses com ela (cf. Lc 1,56).
 
Santo Ambrósio aconselha-nos que, nestas festas, «tenhamos todos a alma de Maria para glorificar o Senhor». É certo que não nos faltarão ocasiões para partilhar alegrias e ajudar os necessitados.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«João agitou-se de alegria e Maria se alegra com seu espírito. Isabel ficou cheia do Espírito depois de conceber; Por outro lado, Maria o era antes de conceber, porque se dizia dela: 'Bem-aventurada aquela que creste!'» (Santo Ambrósio)
 
«Quando Maria entra em casa de Isabel, a sua saudação é cheia de graça. Neste encontro o protagonista silencioso é Jesus. Maria o carrega em seu seio como um tabernáculo, e o oferece a nós como o presente mais sagrado. Onde quer que Maria chegue, Jesus se faz presente» (Bento XVI)
 
«‘Santa Maria, Mãe de Deus, roga por nós (...)’. Com Isabel, ficamos maravilhados e dizemos: ‘De onde vem a mim a mãe do meu Senhor?’ (Lc 1,43). Por nos dar seu filho Jesus, Maria é a mãe de Deus e nossa mãe; A ela podemos confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como orou por si mesma: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Confiando na sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus: 'seja feita a tua vontade'» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.677)
 
“Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor”.
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
* O Evangelho de hoje fala da visita de Maria a sua prima Isabel. Elas conheciam-se visto serem primas.
Neste encontro, quer uma quer outra, descobrem um mistério que ainda não conheciam e que as enche de grande alegria. Quantas vezes nos acontece na nossa vida encontrarmos pessoas que conhecemos, mas que nos surpreendem de novo pela sabedoria que possuem e pelo testemunho de fé que nos dão?! É assim que Deus se revela e nos faz conhecer o mistério da sua presença na nossa vida.
 
* O texto do Evangelho deste 4º Domingo do Advento não inclui o Cântico de Maria (Magnificat) (Lc 1, 46-56) e apresenta apenas a descrição da visita de Maria a Isabel (Lc 1, 39-45). Neste breve comentário tomamos a liberdade de incluir também o Cântico de Maria porque ajuda a compreender melhor toda a grandeza da experiência que as duas mulheres tiveram no momento da visita. O Cântico revela que a experiência que Maria teve no momento da saudação de Isabel ajuda-a a perceber a presença do mistério de Deus, não só na pessoa de Isabel, como também na sua própria vida e na história do seu povo.
 
* No Evangelho de Mateus a infância de Jesus centra-se à volta da figura de José, Pai putativo de Jesus. É através de “José, esposo de Maria” (Mt 1, 16) que Jesus chega a ser descendente de David, capaz de realizar as promessas feitas a David. No Evangelho de Lucas, pelo contrário, a infância de Jesus centra-se à volta da pessoa de Maria, “esposa de José” (Lc 1, 27). Lucas não fala muito de Maria mas o que diz é de grande profundidade e importância. Apresenta Maria como modelo das comunidades cristãs. A chave para olhar deste modo Maria é a Palavra de Jesus a respeito da sua mãe: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 28). No modo como Maria se comporta com a Palavra de Deus, Lucas vê a atitude mais correta por parte da comunidade para se relacionar com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, interiorizá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, ainda que muitas vezes não seja compreendida e faça sofrer. Esta é a visão de fundo dos capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas, que falam de Maria, a Mãe de Jesus. Ou seja, quando Lucas fala de Maria, pensa nas comunidades cristãs do seu tempo que viviam dispersas nas cidades do império romano. Maria é o modelo da comunidade fiel. E, fiel a esta tradição bíblica, o último capítulo da Lumen Gentium do Vaticano II, que fala da Igreja, representa Maria como modelo da Igreja.
 
* O episódio da visita de Maria a Isabel indica outro aspecto muito próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o Cântico de Maria (Magnificat), formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma liturgia solene. Fazendo assim, Lucas evoca um duplo ambiente: o ambiente orante em que Jesus nasce e cresce na Palestina, e o ambiente litúrgico e celebrativo em que as comunidades cristãs vivem a sua fé. Ensina a transformar uma visita de Deus em serviço aos irmãos.
 
* Lucas 1, 39-40: Maria vai visitar a sua prima Isabel. Lucas coloca o acento na prontidão de Maria para responder às exigências da Palavra de Deus. O anjo anuncia-lhe que Isabel está grávida e imediatamente Maria põe-se a caminho para verificar o que o anjo lhe anunciou. Sai de sua casa para ajudar uma pessoa que tem necessidade de ajuda. De Nazaré até às montanhas da Judeia são quase mais de cem quilómetros. Não havia nessa época nem autocarros nem comboios. Maria escuta a Palavra de Deus e põe-na em prática da forma mais eficaz.
 
* Lucas 1, 41-44: A saudação de Isabel. Isabel representa o Antigo Testamento que termina e Maria representa o Novo que começa. O Antigo Testamento acolhe o Novo Testamento com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar todas as esperanças das pessoas. No encontro entre as duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz saltar de alegria o menino no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana, como é, duas mulheres, que fazem uma visita para se ajudarem. Visita, alegria, gravidez, filhos, ajuda mútua, casa, família: é nisto que Lucas quer que as comunidades (e todos nós) sintam e descubram a presença do Reino. Até hoje, as palavras de Isabel, fazem parte da oração mais conhecida e mais recitada em todo o mundo: Ave Maria.
 
* Lucas 1, 45: O elogio de Isabel feito a Maria. “Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor”. É a mensagem de Lucas às comunidades: acreditar na Palavra de Deus, que tem a força de realizar o que nos diz. É a Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, no seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé. O elogio que Isabel faz a Maria é completado com o elogio que Jesus faz a sua mãe: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 28).
 
* Lucas 1, 46-56: O Cântico de Maria. Com toda a probabilidade, este Cântico era conhecido e cantado nas comunidades cristãs. Ensina como se deve rezar e cantar. É também uma espécie de termómetro que mostra o nível de consciência das comunidades da Grécia para as quais Lucas escreve o seu Evangelho. Mesmo hoje, através dos cânticos que se ouvem e cantam nas comunidades é possível ver o nível de consciência das mesmas.
 
* Lucas 1, 46-50: Maria começa por proclamar a mudança acontecida na sua vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso canta cheia de felicidade: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem”. Para poder valorizar toda a grandeza destas palavras muito conhecidas, convém recordar que se trata de uma jovem, talvez com 15 ou 16 anos, pobre, de uma aldeia desconhecida da Palestina, periferia do mundo, mas com clara consciência da sua condição e da sua missão, tanto dela como das outras pessoas. Maria imita o cântico de Ana, mãe do profeta Samuel (1Sam 2, 1-10).
 
* Lucas 1, 51-53: Imediatamente Maria canta a fidelidade de Yahvé para com o seu povo e proclama a mudança que o braço forte de Yahvé estava a realizar em favor dos pobres e dos esfomeados. A expressão “braço de Deus” recorda a libertação do Êxodo. Esta mudança acontece devido à força salvadora de Yahvé: dispersa os soberbos (Lc 1, 51), derruba os poderosos dos seus tronos e exalta os humildes (Lc 1, 52). Aqui aparece o nível de consciência dos pobres do tempo de Jesus e das comunidades do tempo de Lucas que cantavam este cântico e provavelmente sabiam-no de memória. Vale a pena compará-lo com os cânticos que hoje cantam as comunidades nas igrejas. Será que perdemos a consciência política e social que se manifesta no Cântico de Maria? Nos anos 70 do século passado, por ocasião da celebração militar da Páscoa, uma ditadura militar de um país da América do Sul censurou este Cântico de Maria porque foi considerado subversivo. Mesmo hoje a consciência de Maria, Mãe de Jesus, continua a incomodar.
 
* Lucas 1, 54-55: Finalmente recorda que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão da sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova não é uma recompensa pela observância da lei, mas uma expressão da bondade e da fidelidade de Deus às suas promessas. Era o que Paulo ensinava nas suas cartas aos Coríntios e aos Romanos.
 
* Lucas 1 e 2: fim do Antigo Testamento e começo do Novo Testamento. Nos dois primeiros capítulos do Evangelho de Lucas tudo gira à volta de dois nascimentos: o de João e o de Jesus. Estes capítulos fazem-nos sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles o ambiente é de louvor e de ternura. Desde o princípio até ao fim, louva-se e canta-se a misericórdia de Deus que, finalmente, irrompe para realizar as suas promessas, e as cumpre em favor dos pobres, os anawin, daqueles que sabem esperar a sua vinda: Isabel, Zacarias, Maria, José, Simeão, Ana, os pastores e os três reis magos.
 
* Os primeiro e segundo capítulos do Evangelho de Lucas são muito conhecidos mas pouco meditados com profundidade. Lucas escreve imitando os escritos do Antigo Testamento. É como se os dois primeiros capítulos do seu Evangelho fossem os últimos do Antigo Testamento, abrindo deste modo a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são o limiar entre o Antigo e o Novo Testamento. Lucas pretende mostrar a Teófilo que as profecias estão a realizar-se. Jesus cumpre o Antigo e dá início ao Novo.
 
* Estes dois capítulos não são história no sentido como hoje entendemos a história. Funcionavam muito mais como um espelho no qual os destinatários do Evangelho, os cristãos convertidos do paganismo, descobriam que Jesus veio cumprir as promessas do Antigo Testamento e a responder às mais profundas aspirações do coração humano. Eram também o símbolo do que estava a acontecer nas comunidades do tempo de Lucas. As comunidades vindas do paganismo nasceram das comunidades de judeus convertidos. Mas serão diferentes. O Novo não corresponde de todo ao que o Antigo imaginava e esperava. Era “sinal de contradição” (Lc 2, 34), causava tensões e era fonte de muita dor. Na conduta de Maria, Lucas apresenta um modelo de como se deve reagir e perseverar no Novo.


Para reflexão (do site da Diocese de Leiria-Fátima)
«Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha…»
Com o coração cheio de alegria espiritual e desejosa de confirmar o dom extraordinário da maternidade de Isabel, Maria vai ao encontro dela, diligente, sem perda de tempo. 
  • Vou ao encontro dos outros para partilhar os dons que recebi e reconhecer os que há neles?
  • Tenho interesse e vou à Eucaristia dominical, para encontrar o Senhor e os irmãos na fé?
 
«Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio.»
Maria saúda Isabel, comunicando-lhe uma alegria espiritual, de que o filho é o primeiro a captar e a dar sinal. O encontro com os outros produz emoções e efeitos espirituais.
  • Tenho tido alguma experiência espiritual nos encontros com pessoas verdadeiramente de Deus?
  • O encontro com os irmãos na Missa e a comunhão eucarística animam e fortalecem a minha vida?
 
«Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre».
A presença e as palavras de Maria atraem sobre Isabel o dom do Espírito Santo, que a leva a elogiar Maria e bendizer o fruto do seu ventre. Na comunidade cristã das origens e ainda hoje, o anúncio do Evangelho comunica também o dom do Espírito Santo.
  • Invoco com frequência e acolho o Espírito Santo? Que frutos produz na minha vida?
  • Acredito que é o Espírito Santo, invocado em cada Eucaristia, que transforma o pão e o vinho no corpo e sangue de Jesus e os fiéis cristãos numa comunidade fraterna?
 
«Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?».
Isabel manifesta espanto e faz uma profissão de fé, reconhecendo Maria como a Mãe do seu Senhor.
  • Sou capaz de reconhecer e aproveitar os bens e dons espirituais de que os outros são portadores?
  • Qual a minha relação pessoal com Maria, a Mãe do Senhor?
 
«Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
Isabel elogia a fé de Maria, uma fé disponível e ativa que acolhe a ação de Deus na própria vida e colabora com ela.
  • Vivo a alegria da fé, da pertença e do encontro na comunidade cristã?
  • Acredito que as palavras de Jesus em cada Eucaristia também se cumprem, de modo que é a Ele que encontramos e recebemos?
 
– Ao longo desta semana, vou estar mais atendo aos irmãos e procurar o encontro com eles, para nos escutarmos, partilharmos e fazermos juntos alguma coisa em favor dos outros, particularmente neste Natal.
 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

SEMANA SANTA DO NATAL: 21 de dezembro

1ª Leitura (Ct 2,8-14):
Eis a voz do meu amado! Ele aí vem, transpondo os montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a uma gazela ou ao filhinho da corça. Ei-lo detrás do nosso muro, a olhar pela janela, a espreitar através das grades. O meu amado ergue a voz e diz-me: «Levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem. Já passou o inverno, já se foram e cessaram as chuvas. Desabrocharam as flores sobre a terra; chegou o tempo das canções e já se ouve nos nossos campos a voz da rola. Na figueira começam a brotar os primeiros figos e a vinha em flor exala o seu perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem. Minha pomba, escondida nas fendas dos rochedos, ao abrigo das encostas escarpadas, mostra-me o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. A tua voz é suave e o teu rosto é encantador».
 
Salmo Responsorial: 32
R. Alegrai-vos, justos, no Senhor, cantai-Lhe um cântico novo.
 
Louvai o Senhor com a cítara, cantai-Lhe salmos ao som da harpa. Cantai-Lhe um cântico novo, cantai-Lhe com arte e com alma.
 
O desígnio do Senhor permanece eternamente e os projetos do seu coração por todas as gerações. Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus, o povo que Ele escolheu para sua herança.
 
A nossa alma espera o Senhor, Ele é o nosso amparo e protetor. N’Ele se alegra o nosso coração, em seu nome santo pomos a nossa confiança.
 
Aleluia. Ó Emanuel, nosso rei e legislador, esperança das nações e salvador do mundo: vinde salvar-nos, Senhor, nosso Deus. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,39-45): Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!».
 
«Feliz aquela que acreditou!»
 
Rev. D. Àngel CALDAS i Bosch (Salt, Girona, Espanha)
 
Hoje, o texto do Evangelho corresponde ao segundo mistério gozoso: a «Visitação de Maria à sua prima Isabel». É realmente um mistério! Uma explosão silenciosa de um júbilo profundo, como a história nunca nos tinha narrado! É a alegria de Maria, que acaba de conceber por obra e graça do Espírito Santo. A palavra latina “gaudium” exprime um júbilo profundo, íntimo, que não explode para fora. Apesar disso, as montanhas de Judá cobriram-se de gozo. Maria exultava como uma mãe que acaba de saber que espera um filho. E que Filho! Um Filho que, já antes de nascer, peregrinava por caminhos pedregosos que conduziam até Ain Karen, aconchegado no coração e nos braços de Maria.
 
Alegria na alma e no rosto de Isabel, e no menino que salta de regozijo nas suas entranhas. As palavras da prima de Maria hão de atravessar os tempos: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» (cf. Lc 1,42). A recitação do rosário como fonte de alegria, é uma das novas perspectivas descobertas por são João Paulo II na sua Carta apostólica sobre O Rosário da Virgem Maria.
 
A alegria é inseparável da fé. «Como mereço que a mãe do meu Senhor me venha visitar?» (Lc 1,43). A alegria de Deus e de Maria difundiu-se por todo o mundo. Para a receber, basta abrir-se pela fé à ação permanente de Deus na nossa vida, e fazer caminho com o Menino, com Aquela que acreditou, e pela mão enamorada e forte de São José. Pelos caminhos da terra, pelo asfalto ou pelos paralelepípedos ou por terrenos lamacentos, um cristão leva sempre consigo duas dimensões da fé: a união com Deus e o serviço aos outros. Tudo bem unido: com uma unidade de vida que impeça uma solução de continuidade entre uma coisa e outra.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Desde o momento em que soube, Maria, com o jubilo do seu desejo, dirigiu-se para as montanhas. Cheia de Deus, como não iria dirigir-se rapidamente para as alturas? A lentidão no esforço é estranha à graça do Espírito» (Santo Ambrósio)
 
«A visita de Maria e Isabel leva ao encontro entre Jesus e João no Espírito Santo. Jesus é o mais jovem, aquele que virá depois. Mas é a Sua proximidade o que faz saltar João no seio materno e enche do Espírito Santo, Isabel» (Bento XVI)
 
«Isabel é a primeira, na longa sequência das gerações, a declarar Maria bem-aventurada: «Feliz d'Aquela que acreditou...» (Lc 1, 45); Maria é «bendita entre as mulheres», porque acreditou no cumprimento da Palavra do Senhor (...). Pela sua fé, Maria tornou-se a mãe dos crentes, graças a quem todas as nações da terra recebem Aquele que é a própria bênção de Deus: Jesus, «fruto bendito do vosso ventre» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.676)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Lucas acentua a prontidão de Maria em servir, em ser serva.
O anjo falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta apressadamente para ir ajudá-la. De Nazaré até a casa de Isabel são bem mais de 100 quilômetros, quatro dias de viagem, no mínimo! Não havia ônibus nem trem. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.
 
* Isabel representa o Antigo Testamento que estava terminando. Maria representa o Novo que está começando. O Antigo Testamento acolhe o Novo com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar a expectativa do povo. No encontro das duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito. A criança estremece de alegria no seio de Isabel. Esta é a leitura de fé que Isabel faz das coisas da vida.
 
* A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar mutuamente. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: é nisto que Lucas quer que as comunidades e nós todos percebamos e descubramos a presença de Deus.
 
* Isabel diz a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” Até hoje, estas palavras fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado no mundo inteiro, que é a Ave Maria.
 
* "Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer". É o elogio de Isabel a Maria e o recado de Lucas para as comunidades: crer na Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus tem força para realizar tudo aquilo que ela nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio da virgem, no seio do povo pobre que a acolhe com fé.
 
* Maria e Isabel já eram conhecidas uma da outra. E no entanto, neste encontro, elas descobrem, uma na outra, um mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que elas nos dão. Algo parecido já aconteceu com você? Já encontrou pessoas que te surpreenderam? O que nos impede de descobrir e de viver a alegria da presença de Deus em nossa vida?
 
* A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às Comunidades: não se fechar sobre si mesma, mas sair de si, sair de casa, e estar atenta às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajudar os outros na medida das necessidades.
 
Para um confronto pessoal
1. Colocando-me na posição de Maria e Isabel: sou capaz de perceber e experimentar a presença de Deus nas coisas simples e comuns da vida de cada dia?
2. O elogio de Isabel para Maria: “Você acreditou!” O marido dela teve problema em crer no que o anjo lhe dizia. E eu?