sexta-feira, 27 de setembro de 2024

XXVI Domingo do Tempo Comum

SÃO MIGUEL, SÃO GABRIEL (Anjo da Guarda da nossa Ordem) e SÃO RAFAEL.
 
1ª Leitura (Num 11,25-29):
Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido na tenda; e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!».
 
Salmo Responsorial: 18
R. Os preceitos do Senhor alegram o coração.
 
A lei do Senhor é perfeita, ela reconforta a alma. As ordens do Senhor são firmes, dão a sabedoria aos simples.
 
O temor do Senhor é puro e permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
 
Embora o vosso servo se deixe guiar por eles e os observe com cuidado, quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros? Purificai-me dos que me são ocultos.
 
Preservai também do orgulho o vosso servo, para que não tenha poder algum sobre mim: então serei irrepreensível e imune de culpa grave.
 
2ª Leitura (Tg 5,1-6): Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança. Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.
 
Aleluia. A vossa palavra, Senhor, é a verdade; santificai-nos na verdade. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 9,38-43.45.47-48): João disse a Jesus: Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não andava conosco. Jesus, porém, disse: Não o proibais, pois ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois falar mal de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor. Quem vos der um copo de água para beber porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. E quem provocar a queda um só destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem uma grande pedra de moinho ao pescoço e o lançassem no mar. Se tua mão te leva à queda, corta-a! É melhor entrares na vida tendo só uma das mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva à queda, corta-o! É melhor entrar na vida tendo só um dos pés do que, tendo os dois, ser lançado ao inferno. Se teu olho te leva à queda, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus tendo um olho só do que, tendo os dois, ir para o inferno, onde o verme deles não morre e o fogo nunca se apaga.
 
«Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois falar mal de mim»
 
Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, conforme ao modelo atual de quem faz televisão, contemplamos a Jesus colocando vermes e fogo ai aonde devemos evitar ir: o inferno, onde o verme deles não morre e o fogo nunca se apaga. (Mc 9,48). É uma descrição do estado que pode ficar uma pessoa quando não dirigiu a sua vida aonde queria. Poderíamos compará-lo ao momento em que, dirigindo nosso carro, tomamos a estrada errada, pensando que vamos bem e, vamos a parar em algum lugar desconhecido, sem saber onde estamos e onde não queríamos estar. Deve-se evitar ir, seja como for, mesmo que tenhamos que nos desprender de coisas aparentemente irrenunciáveis: sem mãos (cf. Mc 9,43), sem pés (cf. Mc 9,45), sem olhos (cf. Mc 9,47). É preciso querer entrar na vida ou no Reino de Deus, mesmo nem que seja sem algo de nos mesmos.
 
Possivelmente, este Evangelho nos leva a refletir para descobrir o quê temos, por muito nosso que seja, que não nos permite ir a Deus, e ainda mais, que nos distancia dele.
 
Jesus mesmo, nos orienta para saber qual é o pecado no que nos fazem cair nossas coisas (mãos, pés e olhos). Jesus fala dos que escandalizam aos pequenos que nele creem (cf. Mc 9,42). Escandalizar é distanciar alguém do Senhor. Por tanto, valoremos em cada pessoa a sua proximidade com Jesus, a fé que tem.
 
Jesus nos ensina que não faz falta ser dos Doze ou dos discípulos mais íntimos para estarmos com Ele: Quem não é contra nós, está à nosso favor, (Mc 9,40). Podemos entender que Jesus salva tudo. É uma lição do Evangelho de hoje: há muitas pessoas que estão mais perto do Reino de Deus do que pensamos, porque fazem milagres em nome de Jesus. Como confessou Santa Teresinha do Menino Jesus: O Senhor não me poderá premiar segundo minhas obras (...). Pois bem, eu confio que me premiará segundo as suas.
 
Quem não é contra nós é por nós.
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal
 
* Jesus vai, com paciência, tentando formar os discípulos na lógica do Reino.
O texto que a liturgia deste Domingo nos propõe como Evangelho é mais uma instrução que Jesus dirige aos discípulos no sentido de lhes mostrar os valores que eles devem interiorizar. Marcos juntou aqui uma série de “ditos” de Jesus, inicialmente independentes entre si e pronunciados em contextos diversos.
 
* Nos primeiros versículos deste texto, João (desta vez o porta-voz do grupo) queixa-se pelo facto de terem encontrado alguém a “expulsar demónios” em nome de Jesus, embora não pertencesse ao grupo dos discípulos; considerando um abuso a utilização do nome de Jesus por parte de alguém que não fazia parte da comunidade messiânica, os discípulos procuraram impedi-lo de atuar.
 
* A atitude dos discípulos mostra, antes de mais, arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar Jesus e a sua proposta, presunção de serem os donos exclusivos do bem e da verdade. Mas, por detrás da reação dos discípulos, deve estar também uma grande preocupação com a concretização dos projetos pessoais de prestígio e grandeza que quase todos eles alimentavam. Pouco tempo antes, eles tinham estado a discutir uns com os outros acerca de quem seria o maior e de quem iria herdar os postos mais importantes no Reino que, com Jesus, ia nascer; agora, eles estão inquietos e preocupados, porque apareceu alguém de fora do grupo que pretende atuar em nome de Jesus e que pode, num futuro próximo, disputar-lhes os lugares.
 
* Jesus procura levar os discípulos a ultrapassar esta visão sectária e egoísta da missão. Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus atuar fora das fronteiras da Igreja. A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que atuam em favor da libertação dos irmãos.
 
* Na segunda parte do nosso texto, temos outros “ditos” onde são usadas imagens fortes, expressivas, hiperbólicas, bem ao gosto dos pregadores da época, destinadas a impressionar profundamente os ouvintes. Não são expressões para traduzir à letra; mas são expressões que pretendem marcar a necessidade de fazer escolhas acertadas, de optar com radicalidade pelos valores do Reino.
 
* O primeiro desses “ditos” é um aviso àqueles que “escandalizam” os “pequeninos”. Os “pequeninos” de que Jesus fala são os membros da comunidade que estão numa situação de dependência, de debilidade, de necessidade. Os membros da comunidade do Reino devem, portanto, abster-se de qualquer atitude que possa afastar alguém (especialmente os pequenos, os débeis, os pobres) da adesão a Jesus e ao caminho que Ele veio propor. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é algo verdadeiramente inadmissível e impensável (a quem fizer isso, “melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar”).
 
* O segundo “dito” de Jesus refere-se à absoluta necessidade de arrancar da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção por Cristo e pela sua proposta. Quando Jesus fala em cortar a mão (a mão é, nesta cultura, o órgão da ação, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) ou de cortar o pé ou de arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos), está a sublinhar, com toda a veemência, a necessidade de atuar, lá onde as ações más do homem têm origem e eliminar na fonte as raízes do mal. Estando em jogo o destino último do homem, não se pode protelar ou adiar “cortes”.
 
* Há ainda, neste segundo “dito”, referências sucessivas a um castigo na “Geena”, “onde o verme não morre e o fogo não se apaga”, para aqueles que recusarem cortar com as atitudes e os sentimentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A palavra “Geena” deriva do aramaico gêhinnam, hebraico gê-hinnom, que é o nome de um vale situado a sul de Jerusalém, lugar pagão onde se realizava o culto a Moloch, onde os ímpios Acaz e Manassés tinham sacrificado os seus filhos (2 Crónicas 28,3; 33,6). O piedoso rei Josias, no decurso da sua reforma religiosa, acabou com estes cultos pagãos, e destinou este lugar para queimar as entranhas dos animais. É daqui que vem o espetáculo tétrico da putrefacção, vermes, fumo, fogo, (Jeremias 7,31-34; 19,1-13; 32,35), «vermes que não morrem, fogo que não se apaga» (Marcos 9,44.46.48), que fornecerão a linguagem adequada para dizer o inferno. Nesse vale era queimado o lixo produzido pelos habitantes de Jerusalém. Era considerado, portanto, um lugar maldito, impuro, tenebroso, que convinha evitar.
 
* Jesus usa aqui a imagem do “Gê-hinnon”, para falar de uma vida perdida, frustrada, destruída, maldita, sem sentido. É como se, em lugar de viver num lugar livre e feliz, estivesse condenado a viver no “Gê-hinnon”.
 
* Palavra para o caminho: “Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado” (Santa Teresa de Jesus).

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