domingo, 15 de setembro de 2024

Terça-Feira da 24ª semana do Tempo Comum

Sto. Alberto, Patriarca de Jerusalém, Legislador de nossa Ordem
Sta. Hildegard de Bingen, virgem e doutora da Igreja
800 anos da estigmatização de São Francisco de Assis
 
1ª Leitura (1Cor 12,12-14.27-31a):
Irmãos: Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim sucede também em Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito para constituirmos um só corpo; e a todos nos foi dado a beber um só Espírito. De facto, o corpo não é constituído por um só membro, mas por muitos. Vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte. Assim, Deus estabeleceu na Igreja em primeiro lugar apóstolos, em segundo profetas, em terceiro doutores. Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência, de governar, de falar diversas línguas. Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores? Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar? Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar? Aspirai com ardor aos dons mais elevados.
 
Salmo Responsorial: 99
R. Nós somos o povo de Deus, somos as ovelhas do seu rebanho.
 
Aclamai o Senhor, terra inteira, servi o Senhor com alegria, vinde a Ele com cânticos de júbilo.
 
Sabei que o Senhor é Deus, Ele nos fez, a Ele pertencemos, somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
 
Entrai pelas suas portas, dando graças, penetrai em seus átrios com hinos de louvor, glorificai-O, bendizei o seu nome.
 
Porque o Senhor é bom, eterna é a sua misericórdia, a sua fidelidade estende-se de geração em geração.
 
Aleluia. Apareceu no meio de nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 7,11-17): Naquele tempo, Jesus foi a uma cidade chamada Naim. Os seus discípulos e uma grande multidão iam com ele. Quando chegou à porta da cidade, coincidiu que levavam um morto para enterrar, um filho único, cuja mãe era viúva. Uma grande multidão da cidade a acompanhava. Ao vê-la, o Senhor encheu-se de compaixão por ela e disse: «Não chores!». Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Ele ordenou: «Jovem, eu te digo, levanta-te!». O que estava morto sentou-se e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos ficaram tomados de temor e glorificavam a Deus dizendo: «Um grande profeta surgiu entre nós», e: «Deus veio visitar o seu povo». Esta notícia se espalhou por toda a Judeia e pela redondeza inteira.
 
«Jovem, eu te digo, levanta-te!»
 
Rev. D. Joan SERRA i Fontanet (Barcelona, Espanha)
 
Hoje se encontram duas comitivas. Uma comitiva que acompanha à morte e a outra que acompanha à vida. Uma pobre viúva seguida por seus familiares e amigos, levava o seu filho ao cemitério e de repente, vê a multidão que ia com Jesus. As duas comitivas se cruzam e se param, e Jesus lhe diz à mãe que ia enterrar o seu filho: «Não chores» (Lc 7,13). Todos ficam olhando Jesus, que não permanece indiferente a dor e ao sofrimento daquela pobre mãe, mas, pelo contrário, se compadece e lhe devolve a vida ao seu filho. E, é que encontrar a Jesus é encontrar a vida, pois Jesus disse de si mesmo: «Eu sou a ressurreição e a vida» (Jo 11,25). São Bráulio de Saragoça escreve: «A esperança da ressurreição deve-nos confortar, porque voltaremos a ver no céu a quem perdemos aqui».
 
Com a leitura do fragmento do Evangelho que nos fala da ressurreição do jovem de Naim, poderia salientar a divindade de Jesus e insistir nela, dizendo que somente Deus pode voltar um jovem à vida; mas hoje preferiria salientar a sua humanidade, para não ver Jesus como um ser alheio, como um personagem tão diferente de nós, ou como alguém tão excessivamente importante que não nos inspire a confiança que pode nos inspirar um bom amigo.
 
Os cristãos devemos saber imitar Jesus. Devemos pedir a Deus a graça de ser Cristo para os demais. Tomara que todo aquele que nos veja, possa contemplar uma imagem viva de Jesus na terra! Quem via São Francisco de Assis, por exemplo, via a imagem viva de Jesus. Os santos são aqueles que levam Jesus nas suas palavras e obras e imitam seu modo de atuar e a sua bondade. A nossa sociedade precisa de santos e você pode ser um deles no seu lugar.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Cristo é a encarnação definitiva da misericórdia, seu sinal vivente » (São Joao Paulo II)
 
«O que mexia a Jesus em todas as circunstâncias não era senão a misericórdia, com a qual leia o coração dos interlocutores e respondia a suas necessidades mais reais» (Francisco)
 
«Jesus liga a fé na ressurreição a sua própria pessoa: “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25). (...) Ele dá um sinal disto mesmo e uma garantia, restituindo a vida a alguns mortos e preanunciando assim a sua própria ressurreição» (Catecismo da Igreja Católica, n° 994)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz o episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim.
É esclarecedor o contexto literário deste episódio no capítulo 7 do Evangelho de Lucas. O evangelista quer mostrar como Jesus vai abrindo o caminho, revelando a novidade de Deus que avança através do anúncio da Boa Nova. A transformação e a abertura vão acontecendo: Jesus acolhe o pedido de um estrangeiro não judeu (Lc 7,1-10) e ressuscita o filho de uma viúva (Lc 7,11-17). A maneira como Jesus revela o Reino surpreende aos irmãos judeus que não estavam acostumados com tão grande abertura. Até João Batista ficou perdido e mandou perguntar: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” (Lc 7,18-30). Jesus chegou a denunciar a incoerência dos seus patrícios: "Vocês parecem crianças que não sabem o que querem!" (Lc 7,31-35). E no fim, a abertura de Jesus para com as mulheres (Lc 7,36-50).
 
* Lucas 7,11-12: O encontro das duas procissões. “Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade ia com ela”. Lucas é como um pintor. Com poucas palavras consegue pintar o quadro tão bonito do encontro das duas procissões: a procissão da morte que sai da cidade e acompanha a viúva que leva seu filho único para o cemitério; a procissão da vida que entra na cidade e acompanha Jesus. As duas se encontram na pequena praça junto à porta da cidade de Naim.
 
* Lucas 7,13: A compaixão entra em ação
“Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: Não chore!" É a compaixão que leva Jesus a falar e a agir. Compaixão significa literalmente “sofrer com”, assumir a dor da outra pessoa, identificar-se com ela, sentir com ela a dor. É a compaixão que aciona em Jesus o poder, o poder da vida sobre a morte, poder criador.
 
* Lucas 7,14-15: "Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!" Jesus se aproxima, toca no caixão e diz: "Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!" O morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe”. Às vezes, na hora de um grande sofrimento provocado pelo falecimento de uma pessoa querida, as pessoas dizem: “Naquele tempo, quando Jesus andava pela terra havia esperança de não perder uma pessoa querida, pois Jesus poderia ressuscitá-la”. Elas olham o episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim como um evento do passado que apenas suscita saudade e uma certa inveja. A intenção do evangelho, porém, não é suscitar saudade nem inveja, mas sim ajudar-nos a experimentar melhor a presença viva de Jesus em nós. É o mesmo Jesus, capaz de vencer a morte e a dor da morte, que continua vivo no meio de nós. Ele está hoje conosco e, diante dos problemas e do sofrimento que nos abatem, ele nos diz: “Eu lhe ordeno: levante-se!”
 
* Lucas 7,16-17: A repercussão. “Todos ficaram com muito medo, e glorificavam a Deus, dizendo: "Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo." E a notícia do fato se espalhou pela Judéia inteira, e por toda a redondeza”  É o profeta que foi anunciado por Moisés (Dt 18,15). O Deus que nos veio visitar é o “Pai dos órfãos e o protetor das viúvas” (Sl 68,6; cf. Judite 9,11).
 
Para um confronto pessoal
1) Foi a compaixão que levou Jesus a ressuscitar o filho da viúva. Será que o sofrimento dos outros provoca em nós a mesma compaixão? O que faço para ajudar o outro a vencer a dor e criar vida nova?
2) Deus visitou o seu povo. Percebo as muitas visitas de Deus na minha vida e na vida do povo?

sábado, 14 de setembro de 2024

17 de setembro

 Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém
Legislador de Nossa Ordem
 
Nasceu em meados do século XII, em Castro de Gualteri, diocese de Parma, Itália. Pediu sua admissão entre os cônegos regulares da Santa Cruz de Mortara e aí se tornou Prior, no ano de 1180. Foi nomeado Bispo de Bobbio em 1184 e, a seguir, de Vercelli em 1191. Transferido para o Patriarcado de Jerusalém em 1205, com a palavra e com o exemplo, mostrou-se autêntico pastor a serviço da paz. Durante seu patriarcado (1206-1214), reuniu em comunidade os eremitas do Monte Carmelo e escreveu-lhes uma Regra. Devendo repreender e depor por má conduta o administrador do Hospital do Espírito Santo, foi morto por ele no dia 14 de setembro de 1214, em São João de Acre.
 
INVITATÓRIO
R. Vinde, adoremos o Senhor, legislador supremo!
 
LAUDES
Hino
Deus nos chamou à santidade,
A ser louvador de sua glória,
Em Jesus, o Verbo Encarnado,
Que se inseriu em nossa História.
 
Aspirando seguir a Cristo,
Deixemos nele o homem velho,
Que o seu Espírito nos guie,
Para vivermos o Evangelho.
 
A Deus unidos no Amor
E servindo à Humanidade,
Seguiremos a nossa Regra,
Chegaremos à santidade.
 
Que Santo Alberto por nós rogue,
Pra que na santa solidão,
Fiéis ao Espírito de Cristo,
Sempre nos mova a sua unção.
 
Assim louvaremos o Pai
Por seu Filho, nosso Senhor,
Com o Espírito Paráclito
Que em nós derrama o seu amor.
 
Ant.1 – Dai-me o saber, e cumprirei a vossa Lei e de todo coração a guardarei.
 
Salmos do Primeiro Domingo.
 
Ant.2 – A Palavra de Cristo, com toda a sua riqueza habite em vós; do fundo dos vossos corações cantai a Deus.
 
Ant.3 – Esta é uma estrada boa e santa; ide por ela!
 
Leitura breve - Hb 13,7-9a
Lembrai-vos dos vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus e, considerando o fim da sua vida, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e por toda a eternidade. Não vos deixeis enganar por qualquer espécie de doutrina estranha.
 
Responsório breve
R. Sobre ti, Jerusalém, * coloquei sentinelas R. Sobre ti.
v. Para anunciarem, dia e noite, o nome do Senhor. * Coloquei.
Glória ao Pai. R. Sobre ti.
 
Cântico evangélico (1Mc 2,27)
Ant. "Acompanhe-me quem tiver zelo pela Lei e quiser manter a Aliança!" Então muitos, que amavam a justiça e o direito, desceram para o deserto.
 
Preces
Louvemos o Senhor Jesus, Pastor e Guia das nossas almas, e nele colocando a nossa esperança, supliquemos-lhe confiantemente:
 
R. Protegei, Senhor, o vosso povo!
 
Recebei, Senhor, os nossos anseios e projetos
- como primícias deste novo dia. R.
 
Fazei, Senhor, que nos deixemos guiar pela nossa Regra,
- a fim de proclamarmos o vosso amor diante dos homens. R.
 
Fazei que vos amemos de modo a vos possuirmos
- e que pratiquemos o bem, e a nossa vida vos glorifique. R
 
Concedei-nos fidelidade à vossa Lei,
- para que, guardando-a no coração, perseveremos até o fim. R.
 
Ensinai-nos o caminho, que conduz ao alto do Carmelo,
- para que vos sirvamos de coração puro e consciência reta. R.
 
(intenções livres)
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, que por intermédio de Santo Alberto nos destes uma evangélica Fórmula de Vida, concedei-nos, por sua intercessão, viver sempre na contemplação de Jesus Cristo e servi-lo com fidelidade até a morte.  Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 
VÉSPERAS
Hino
No decorrer deste dia
O Céu pareceu mais perto
Do Carmelo em alegria,
Por Festejar Santo Alberto.
 
Virtuoso Patriarca
De palavra benfazeja,
Presença que deixou marca
Em tempos duros da Igreja.
 
Legislador santo e prudente,
Que tesouro nos deixaste!
Quem sempre o tiver presente
Tem tudo quanto lhe baste.
 
Na Pátria celestial,
Desse lugar onde habitas,
Protege de todo mal
A Ordem dos Carmelitas!
 
Glória a vós, Pai de bondade,
E a Jesus Cristo Senhor,
E por toda a eternidade!
Com o Espírito de Amor.
 
Ant1. Indicai-me o caminho a seguir, pois a vós eu elevo a minha alma.
 
Do comum dos pastores, exceto:
 
Ant2. Filho, guarda os meus preceitos e a minha lei como a menina dos teus olhos.
 
Ant3. É justo o Senhor em seus caminhos; é santo em todas as obras que Ele faz.
 
Leitura breve - Tg 1,22,25
Sedes praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Aquele, porém, que se debruça sobre a Lei da Liberdade, agora levada à perfeição, e nela persevera, não como um ouvinte distraído, mas praticante do que ela ordena, esse será feliz.
 
Responsório breve
V. lnclinai o meu coração * para as vossas leis. R. lnclinai.
R. E dai-me a vida pelos vossos mandamentos. * Para as
vossas. Glória ao Pai. R. lnclinai.
 
Cântico evangélico
Ant. A Palavra de Cristo estabeleça morada em vós abundantemente; cantai a Deus de todo coração; e sede agradecidos.
 
Preces
Glorifiquemos a Cristo, que reconciliou o mundo com Deus e suscitou Santo Alberto para nos oferecer da parte de Deus uma Regra de Vida; peçamos-Lhe com fé.
 
R. Lembrai-vos, Senhor, desta vossa família!
 
Senhor Jesus, em cujo obséquio abraçamos a vida religiosa,
- fazei que vos sirvamos com um coração puro e uma consciência reta. R.
 
Vós, que nos concedeis superiores para nos servirem e orientarem para vós,
- fazei que vos reconheçamos nas suas palavras e nos seus exemplos. R.
 
Vós, que nos chamastes para meditarmos dia e noite na vossa Lei,
- fazei que a vossa palavra habite abundantemente em nós, na boca e no coração. R.
 
Vós, que nos recomendais o silêncio, onde possamos encontrar-vos,
- fazei-nos compreender que é no silêncio e na esperança que se encontra a nossa força. R.
 
Vós, que denominais a vida do homem sobre a terra como um exercício para a guerra,
- dai coragem aos tímidos, levantai os decaídos, e derramai em todos o vosso Espírito. R.
(intenções livres)
 
Lembrai-vos de todos os que em vida associastes à vossa família,
- para que eternamente vos louvem no monte da vossa glória. R.
 
Pai nosso
 
Oração
 Senhor, que por intermédio de Santo Alberto nos destes uma evangélica Fórmula de Vida, concedei-nos, por sua intercessão, viver sempre na contemplação de Jesus Cristo e servi-lo com fidelidade até a morte.  Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Segunda-feira da 24ª semana do Tempo Comum

Santos Cornélio, papa, e Cipriano, bispo, mártires
 
1ª Leitura (1Cor 11,17-26.33):
Irmãos: Ao dar-vos as minhas instruções, não posso louvar as vossas assembleias, que, em vez de serem proveitosas, se tornam prejudiciais. Em primeiro lugar, ouço dizer que há entre vós divisões, quando vos reunis em assembleia; e em parte, acredito nisso. Na verdade, é preciso que haja divisões entre vós, para se manifestarem aqueles que resistem a esta prova. Quando vos reunis em comum, já não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se adianta a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome, outro fica embriagado. Será que não tendes as vossas casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e envergonhais aqueles que são pobres? Que vos direi? Devo louvar-vos? Nisto não vos louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha. Portanto, irmãos, quando vos reunis para comer a ceia do Senhor, esperai uns pelos outros.
 
Salmo Responsorial: 39
R. Anunciai a morte do Senhor, até que Ele venha.
 
Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos; não pedistes holocaustos nem expiações, então clamei: «Aqui estou».
 
«De mim está escrito no livro da Lei que faça a vossa vontade. Assim o quero, ó meu Deus, a vossa lei está no meu coração».
 
Proclamarei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.
 
Alegrem-se e exultem em Vós todos os que Vos procuram. Digam sempre: «Grande é o Senhor» os que desejam a vossa salvação.
 
Aleluia. Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito; quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 7,1-10): Quando terminou de falar estas palavras ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. Havia um centurião que tinha um servo a quem estimava muito. Estava doente, à beira da morte. Tendo ouvido falar de Jesus, o centurião mandou alguns anciãos dos judeus pedir-lhe que viesse curar o seu servo. Quando eles chegaram a Jesus, recomendaram com insistência: «Ele merece este favor, porque ama o nosso povo. Ele até construiu uma sinagoga para nós». Jesus foi com eles. Quando já estava perto da casa, o centurião mandou alguns amigos dizer-lhe: «Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Por isso, nem fui pessoalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e meu servo ficará curado. Pois eu, mesmo na posição de subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens, e se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e se digo a meu escravo: ‘Faze isto!’, ele faz». Ao ouvir isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia e disse: «Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei uma fé tão grande». Aqueles que tinham sido enviados voltaram para a casa do centurião e encontraram o servo em perfeita saúde.
 
«Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei uma fé tão grande»
 
Fr. John A. SISTARE (Cumberland, Rhode Island, Estados Unidos)
 
Hoje somos confrontados com uma questão interessante. Porque o Centurião do Evangelho não foi pessoalmente ter com Jesus, mas preferiu mandar mensageiros com o pedido de cura para seu servo? O Centurião nos responde essa pergunta na passagem do Evangelho. «[...] nem fui pessoalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e meu servo ficará curado». (Lc 7,7).
 
O Centurião possuía a virtude da fé, acreditava que Jesus poderia fazer esse milagre se estivesse de acordo com sua divina vontade. A fé permitiu ao Centurião acreditar que onde quer que Jesus esteja, ele poderia curar o servo doente. O Centurião acreditava que nenhuma distância poderia impedir ou deter o Cristo de fazer sua obra de salvação.
 
Em nossas próprias vidas, somos chamados a ter esse mesmo tipo de fé. Há momentos em que somos tentados a pensar que Jesus está distante e não ouve nossas orações. Entretanto, a fé ilumina nossas mentes e corações, para que acreditemos que Jesus está sempre ao nosso lado para nos ajudar. Em verdade, a presença curativa de Jesus na Eucaristia é um lembrete de que Jesus está sempre conosco. Santo Agostinho, com os olhos da fé, acreditava nesta realidade: «O que vemos é o pão e o cálice; isso é o que nossos olhos nos mostram. Mas o que nossa fé nos obriga a aceitar é que o pão é o Corpo de Cristo e o cálice é o Sangue de Cristo».
 
A Fé ilumina nossas mentes para que possamos enxergar a presença de Cristo em nosso meio. Como o Centurião, dizemos, «Não sou digno de que entreis em minha morada» (Lc 7,6). Da mesma forma, nos humilhamos diante de Nosso Senhor e Salvador e Ele ainda se aproxima para nos curar. Deixemos Jesus entrar em nossa alma, em nossa morada, para curar e fortalecer nossa fé para que possamos continuar nosso caminho em direção à Vida Eterna.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Sabemos, pelas obras que são fruto da caridade, se a fé é viva ou morta. A fé viva é excelente porque, estando unida à caridade e vivificada por ela, é firme e constante. Faz muitas e boas obras, pelas quais merece ser louvada dizendo: "Oh, que fé tão grande!» (S. Francisco de Sales)
 
«O nosso tempo requer cristãos que cresçam na fé através da familiaridade com a Sagrada Escritura e os sacramentos. Pessoas que sejam quase um livro aberto que narra a experiência da vida nova no Espírito» (Bento XVI)
 
«Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 150)
 
Reflexão
 
* O capítulo 7 do Evangelho de Lucas nos ajuda a acolher o chamado aos gentios para aderir à fé no Senhor Jesus.
A figura do centurião abre o caminho para todos aqueles que querem aderir à fé de Israel e depois encontrar e conhecer o rosto do Pai em Jesus. Na meditação deste Evangelho, também é feita a proposta de nos abrirmos à fé ou fazer forte a nossa confiança na Palavra do Senhor. Tentemos, então, seguir, com o coração, os passos deste centurião romano, pois nele estamos presentes também nós.
 
* Talvez um primeiro aspecto, que emerge da leitura do trecho, é a situação de sofrimento em que se encontra o centurião. Tento ouvir mais atentamente todas as palavras que iluminam esta realidade. Cafarnaum, cidade de fronteira, fora de mão, à margem, cidade onde a bênção de Deus parece difícil de chegar. A doença grave; a morte iminente de um ente querido.
 
* Mas vejo imediatamente que o Senhor entra nesta situação, para compartilhá-la, para vivê-la com sua presença amorosa. Sublinho todos os verbos que confirmam esta verdade: "pedindo-lhe para ir", "foi com eles", "não era muito distante." É maravilhoso ver este movimento de Jesus, que vai para aquele que o chama, que o busca e lhe pede salvação. Assim Ele faz com cada um de nós.
 
* Mas, para mim, é muito útil entrar em contato com a figura do centurião, que aqui é um pouco como o meu mestre, meu guia no caminho da fé. "Tendo ouvido falar de Jesus." Ele recebeu o anúncio, ouviu a boa notícia e a guardou em seu coração, se não a deixou fugir, não fechou os ouvidos e a vida. Lembrou-se de Jesus e agora o busca.
 
* "Mandou." Por duas vezes ele executa essa ação, primeiro para enviar a Jesus os anciãos do povo, pessoas importantes, depois para enviar alguns de seus amigos. Lucas usa dois verbos diferentes e isso ajuda-me ainda mais para perceber que algo aconteceu neste homem, havia uma mudança: ele foi gradualmente se abrindo para o encontro com Jesus. Mandar os amigos é um pouco como enviar a si mesmo. "Para pedir-lhe para vir e salvar." Dois belíssimos verbos que expressam a intensidade de seu pedido a Jesus. Quer que Jesus venha, que se aproxime, que entre em sua pobre vida, que venha visitar a sua dor. É uma declaração de amor, de grande fé, porque é como se lhe dissesse: “Eu sem você não posso mais viver. Venha!” Ele não pede uma salvação qualquer, a cura superficial, como nos faz entender o verbo que Lucas escolhe. Na verdade, aqui se fala de uma salvação transversal, capaz de atravessar toda a vida, toda a pessoa e capaz de levar a pessoa  mais, mais além de qualquer obstáculo, dificuldade ou prova, além de até mesmo a morte.
 
* "Não sou digno". Duas vezes Lucas coloca nos lábios do centurião estas palavras, que ajudam a compreender a grande mudança acontecida dentro dele. Ele se sente indigno, incapaz, insuficiente, como eles expressam os dois termos gregos aqui utilizados. Talvez a primeira conquista na caminhada de fé com Jesus é esta: a descoberta de nossa grande necessidade dele, da sua presença e consciência cada vez mais certa que sozinhos não podemos fazer nada, porque somos pobres, somos pecadores. Mas justamente por isso somos amados de modo infinito!
 
* "Dize uma palavra." Aqui está o grande salto, o grande passo para a fé. O centurião agora acredita de uma maneira clara, serena, confiante. Enquanto Jesus caminhava em direção a ele, ele também estava fazendo seu caminho interior, estava mudando, estava se tornando um novo homem. Antes aceitou a pessoa de Jesus e depois a sua palavra. Para ele é o Senhor e, como tal, a sua palavra é eficaz, verdadeira, poderosa, capaz de operar o que ele diz. Todas as dúvidas desabam; só resta é a fé e a confiança certa na salvação em Jesus.
 
Para um confronto pessoal
1) Faço minha a oração do centurião dirigida a Jesus para vir e salvá-lo? Eu estou pronto para expressar ao Senhor que tenho necessidade dele?
2) E se eu abro o meu coração à oração, à invocação, se convido o Senhor para vir, qual é a atitude profunda do meu coração? Há também em mim, como no centurião, a consciência de ser indigno/a?

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

XXIV Domingo do Tempo Comum

Nossa Senhora das Dores
 
1ª Leitura (Is 50,5-9a):
O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra e sei que não ficarei desiludido. O meu advogado está perto de mim. Pretende alguém instaurar-me um processo? Compareçamos juntos. Quem é o meu adversário? Que se apresente! O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?
 
Salmo Responsorial: 114
R. Andarei na presença do Senhor sobre a terra dos vivos.
 
Amo o Senhor, porque ouviu a voz da minha súplica. Ele me atendeu, no dia em que O invoquei.
 
Apertaram-me os laços da morte, caíram sobre mim as angústias do além, vi-me na aflição e na dor. Então invoquei o Senhor: «Senhor, salvai a minha alma».
 
Justo e compassivo é o Senhor, o nosso Deus é misericordioso. O Senhor guarda os simples: estava sem forças e o Senhor salvou-me.
 
Livrou da morte a minha alma, das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés. Andarei na presença do Senhor, sobre a terra dos vivos.
 
2ª Leitura (Tg 2,14-18): Irmãos: De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação? Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhes disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé.
 
Aleluia. Toda a minha glória está na cruz do Senhor, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 8,27-35): Jesus e seus discípulos partiram para os povoados de Cesaréia de Filipe. No caminho, ele perguntou aos discípulos: «Quem dizem as pessoas que eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Batista; outros, Elias; outros ainda, um dos profetas». Jesus, então, perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou?». Pedro respondeu: «Tu és o Cristo». E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém. E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar. Falava isso abertamente. Então, Pedro, chamando-o de lado, começou a censurá-lo. Jesus, porém, voltou-se e, vendo os seus discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai para trás de mim, satanás! Pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!». Chamou, então, a multidão, juntamente com os discípulos, e disse-lhes: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará».
 
«Se alguém quer vir após mim (...) tome a sua cruz e siga-me!»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje em dia nos encontramos com situações similares à descrita nesta passagem evangélica. Se agora mesmo, Deus nos perguntasse «quem dizem os homens que eu sou?» (Mc 8,27), teríamos que informar-lhes sobre todo tipo de respostas, inclusive pitorescas. Bastaria com dar uma olhada no que se diz, e no que se comenta, nos mais variados meios de comunicação. Só que... já se passaram mais de vinte séculos de tempo da Igreja. Depois de tantos anos, condoemo-nos e -com Santa Faustina- nos queixamos diante de Jesus: «Por que é tão pequeno o número dos que te conhecem?».
 
Jesus, naquela ocasião da confissão de fé feita por Simão Pedro, «E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém» (Mc 8,30). Sua condição messiânica devia ser transmitida ao povo judeu com uma pedagogia progressiva. Mais tarde chegaria o momento fundamental em que Jesus Cristo declararia -de uma vez e para sempre- que Ele era o Messias: «Eu sou» (Lc 22,70). Desde então, já não há escusa para não lhe declarar nem lhe reconhecer como o Filho de Deus vindo ao mundo para nossa salvação. Mais ainda: todos os batizados têm esse gozoso dever sacerdotal de predicar o Evangelho por todo o mundo e a toda criatura (cf. Mc 16,15). Esta chamada à predicação da Boa Nova é tanto mais urgente se levamos em consideração que sobre Ele continuam proferindo todo tipo de opiniões equivocadas, inclusive blasfêmias.
 
Mas o anúncio de sua messianidade e da chegada do seu Reino passa pela Cruz. Efetivamente, Jesus Cristo «E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito» (Mc 8,31), e o Catecismo nos lembra que «a Igreja avança em sua peregrinação através das persecuções do mundo e dos consolos de Deus» (n. 769). Eis aqui, pois, o caminho para seguir a Cristo e dá-lo a conhecer: «Si alguém quer vir após mim (...) tome sua cruz e siga-me» (Mc 8,34).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O triunfo da cruz iluminou todos aqueles que sofriam da cegueira do pecado, libertou-nos a todos dos laços do pecado, redimiu todos os homens. Por isso, não devemos envergonhar-nos da cruz do Salvador» (São Cirilo de Jerusalém)
 
«Deus escolhe o caminho da transformação dos corações através do sofrimento e da humildade. E nós, como Pedro, devemos converter-nos sempre de novo» (Bento XVI)
 
«(…) Os sofrimentos de Jesus tomaram a sua forma histórica concreta, pelo facto de Ele ter sido ‘rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas’ (Mc 8,31), que ‘O entregaram aos pagãos para ser escarnecido, flagelado e crucificado’ (Mt 20,19)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 572)
 
«Quem dizem os homens que Eu sou?»
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
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O texto do Evangelho do 24º Domingo do Tempo Comum, Ano B, apresenta-nos o primeiro anúncio feito aos discípulos da paixão e morte de Jesus e a tentativa de Pedro de eliminar a cruz e o ensinamento de Jesus acerca das consequências da cruz para a vida dos seus discípulos.
 
* Pedro não entende a proposta de Jesus sobre a cruz e o sofrimento. Ele aceitava Jesus Messias mas não um Messias sofredor. Estava condicionado pela propaganda do governo da época que falava do Messias mas só em termos de rei glorioso. Pedro parecia um cego. Não via nada e queria que Jesus fosse como ele desejava e imaginava. Hoje também nós acreditamos em Jesus mas nem todos o entendemos do mesmo modo. Quem é Jesus para mim? Qual é hoje a imagem mais difundida que as pessoas têm de Jesus? Há hoje uma propaganda que pretende interferir no nosso modo de ver Jesus? Quem sou eu para Jesus?
 
* De Marcos 8, 27 até Marcos 10, 45 há uma longa instrução de Jesus dirigida aos seus discípulos. Tanto no início como no final desta instrução, Marcos coloca a cura de dois cegos: 8,22-26 e Marcos 10,46-52. No início a cura do cego não foi fácil e Jesus teve que o curar em duas fases. Também foi difícil a cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que explicar longamente o significado da cruz para que os seus discípulos a aceitassem a realidade, porque era a cruz que provocava a sua cegueira. A cura do cego Bartimeu é fruto da fé em Jesus. Este acontecimento sugere o ideal do discípulo: acreditar em Jesus e aceitá-lo como é, e não como eu o quero ou o imagino.
 
* Nos anos 70, quando Marcos escreve, a situação da comunidade não era fácil. Havia muito sofrimento, as cruzes eram muitas. Seis anos antes, em 64, o imperador Nero decretara a primeira perseguição, causando a morte a muitos cristãos. No ano 70, na Palestina, Jerusalém era destruída pelos romanos. Noutros países a tensão entre judeus convertidos e judeus não convertidos começava a aparecer e crescia. Mas a dificuldade maior era a cruz de Jesus. Os judeus pensavam que um crucificado não podia ser o Messias tão esperado por todos, porque a lei afirmava que aquele que fosse crucificado deveria ser considerado como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).
 
* Marcos 8, 22-26: Cura do cego. Levam a Jesus um cego e pedem que o cure. Jesus cura-o mas a cura não acontece logo de imediato. Primeiro Jesus condu-lo para fora da aldeia, coloca-lhe saliva nos olhos, impõe-lhe as mãos e diz-lhe: “Vês algo?” O homem respondeu: “Vejo homens que se parecem como árvores que andam!” Via só uma parte. O que eram árvores via como pessoas e o que eram pessoas via como árvores. Só numa segunda tentativa é que Jesus cura o cego e proíbe-o de entrar na aldeia. Jesus não quer uma propaganda fácil. Esta descrição da cura do cego é uma introdução à instrução que será dada depois aos discípulos, porque na realidade eram cegos. E a cegueira dos discípulos é curada por Jesus mas não logo de início. Eles aceitam Jesus como Messias, mas só como Messias glorioso. Viam só uma parte. Não queriam o compromisso da cruz. Trocavam as árvores por pessoas!
 
* Marcos 8, 27-30. VER: a descoberta da realidade. Jesus pergunta: “Quem dizem as pessoas que eu sou?”. Eles respondem indicando as diversas opiniões das pessoas: “João Baptista”, “Elias, ou um dos profetas”. Jesus quer a resposta deles: “E vós quem dizeis que eu sou?” Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Messias!” Ou seja: “O Senhor a quem as pessoas esperam”. Jesus está de acordo com Pedro mas proíbe-o de falar disto. Qual a razão da proibição? Porque, cada um a seu modo, esperava a vinda do Messias, segundo a classe e a posição social que ocupava: alguns esperavam-no como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Parecia que ninguém o esperava como o Messias servo anunciado por Isaías (Is 42,1-9).
 
* Marcos 8, 31-33. JULGAR: esclarecimento da situação e primeiro anúncio da paixão. Jesus começa a ensinar que Ele é o Messias servo anunciado por Isaías, e que será preso e morto no exercício da sua missão de justiça (Is 49,4-9; 53,1-12). Pedro fica cheio de medo e chamando Jesus à parte desaconselha-o a seguir por essa via. E Jesus responde a Pedro: “Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens”. Pedro pensava que tinha dado a resposta certa. Embora tenha pronunciado a palavra justa contudo ao dizer “Tu és o Cristo” mas não dá a esta palavra o significado justo. Pedro não entende Jesus. É como o cego de Betsaida. Trocava as pessoas por árvores. A resposta de Jesus foi duríssima. Chama a Pedro de Satanás. Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador; aquele que afasta os outros do caminho de Deus, da sua missão. Literalmente Jesus diz: “Coloca-te atrás!”. Ou seja, Pedro deve caminhar atrás de Jesus, deve seguir Jesus e aceitar a trajetória ou a direção indicada por Jesus. Mas Pedro queria ser ele a indicar a direção. Queria um Messias à sua medida e ao seu desejo.
 
* Marcos 8, 34-37. AGIR: condições para o seguimento. Jesus tira conclusões que são válidas para hoje mesmo: “Quem quiser vir após mim tome a sua cruz e siga-me!”. Naquele tempo a cruz era a pena de morte com que o império romano sentenciava os condenados. Tomar a cruz e carregá-la no seguimento de Jesus significava aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. Indicava uma ruptura radical e total. Como diz São Paulo na Carta aos Gálatas: “Quanto a mim, jamais me gloriarei a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gal 6,14). A cruz não é fatalismo nem sequer uma exigência do Pai. A cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus para revelar a Boa Notícia de que Deus é Pai e, por tanto, todos devem ser aceites e tratados como irmãos. Por causa deste anúncio revolucionário, foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova maior de amor: dar a vida pelo próprio irmão!
 
* Entre as curas dos cegos (Mc 8,22-26 e Mc 10,46-52), encontra-se uma longa instrução de Jesus dada aos seus discípulos para os ajudar a entender o significado da cruz e as consequências para a vida (Mc 8,27 a 10,45). Parece um documento, uma espécie de catecismo, feito pelo próprio Jesus. Fala da cruz na vida do discípulo. É uma espécie de esquema de instrução:
Mc 8,22-26: Cura de um cego.
Mc 8,27-38: Primeiro anúncio da Paixão.
Mc 9,1-29: Instrução sobre o Messias servo.
Mc 9,30-37: Segundo anúncio da Paixão.
Mc 9,38 a 10,31: Instruções sobre a conversão.
Mc 10,32-45: Terceiro anúncio da Paixão.
Mc 10,46-52: Cura de um cego.
 
* Como se vê, a instrução é composta por três anúncios da Paixão. O primeiro é Mc 8,27-38, o segundo Mc 9,30-37 e o terceiro Mc 10,32-45. Entre o primeiro e o segundo há uma série de instruções que aclaram a conversão que deve acontecer na vida dos que aceitam Jesus como Messias servo (Mc 9,38 a 10,31). O conjunto da instrução tem como pano de fundo a caminhada da Galileia até Jerusalém, desde o lago até à cruz. Jesus caminha para Jerusalém (Mc 8,27; 9,30.33; 10, 1.17.32), onde encontrará a cruz. Em cada um destes três anúncios, Jesus fala da sua paixão, morte e ressurreição como fazendo parte do seu projeto: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e depois ser morto e, três dias depois ressuscitará” (Mc 8,31; 9,31; 10,33).
 
* Cada um destes três anúncios da paixão é acompanhado por gestos e palavras de incompreensão por parte dos discípulos. No primeiro, Pedro não quer a cruz e critica Jesus (Mc 8,32). No segundo, os discípulos não entendem Jesus, têm medo e querem ser grandes (Mc 9,3-34). No terceiro, têm medo e procuram promoções (Mc 10,35-37). E isto porque nas comunidades para as quais Marcos escreve o seu Evangelho havia muitas pessoas como Pedro: não queriam a cruz! Eram como os discípulos: não entendiam a cruz, tinham medo e queriam ser os maiores; viviam no temor e queriam ser promovidos. Cada um destes três anúncios deixa uma palavra de orientação por parte de Jesus, criticando a falta de compreensão dos discípulos e ensinando como deve ser o seu comportamento. Assim, no primeiro anúncio, Jesus exige dos que querem segui-lo, carregar a cruz atrás dele, perder a vida por amor a Ele e ao seu evangelho, não se envergonhar d'Ele nem da sua palavra (Mc 8,34-38). No segundo, exige que se façam servos de todos, receber as crianças, os pequenos, como se fosse ao próprio Jesus (Mc 9,35-37). No terceiro, exige beber o cálice que Ele beberá, não imitar os poderosos que exploram os demais, mas imitar o Filho do Homem que não veio para ser servido mas para servir e dar a vida em resgate de muitos (Mc 10,35-45)
 
* A compreensão total do seguimento de Jesus não se obtém através da instrução teórica mas pelo empenhamento prático, caminhando com Ele pelo caminho do serviço, da Galileia até Jerusalém. Quem insista em manter a ideia de Pedro, ou seja, a do Messias glorioso sem a cruz, não entenderá nem assumirá o comportamento do verdadeiro discípulo. Continuará cego, trocando as pessoas pelas árvores (Mc 8,24). Porque sem a cruz é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus.
 
* O caminho do seguimento é o caminho da dedicação, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação, da dor, sabendo que haverá ressurreição. A cruz não é um acidente de percurso mas faz parte do caminho. No mundo organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço não podem existir senão crucificados. Quem dá a vida pelos outros, incomoda aqueles que vivem agarrados aos privilégios, e sofre.
 
* Seguir Jesus não é obrigatório. É uma decisão livre de cada um. Porém temos de levar a sério Jesus. Se quisermos segui-lo na sua tarefa apaixonante de fazer um mundo mais humano, digno e feliz, temos de estar dispostos a duas coisas. Primeiro, renunciar a projetos ou planos que se opõem ao reino de Deus. Segundo, aceitar os sofrimentos que nos podem vir por seguir Jesus e identificar-nos com a sua causa. Nós cristãos temos de responder, com sinceridade, a esta pergunta interpeladora de Jesus: “e vós, quem dizeis que eu sou?”. Ibn Arabi escreveu que “aquele que foi tomado por essa enfermidade chamada Jesus, já não se pode curar”.
 
* Quantos cristãos poderiam, hoje, intuir, a partir de sua experiência pessoal, a verdade que encerram estas palavras?

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

14 de setembro

 Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos
Patrono do nosso Sodalício
 
Tudo como na Liturgia das Horas no dia 14 de setembro
 
Mesmo dia 14 de setembro
Venerável João de São Sansão
Religioso de nossa Ordem
 
João Moulin era seu verdadeiro nome. Nasceu em Sens (França) no ano de 1571, e, apesar de dificuldade de sua cegueira. Ingressou no Carmelo de Dol em 1606, assumindo o nome de Frei João de São Sansão. Participou ativamente da reforma de Touraine. Conhecedor da vida dos santos, formou um grupo de discípulos de grande cultura e vida espiritual. Morreu como um santo em 1636. Deixou grande número de escritos místicos, que ele mesmo ditava, e os quais não foram todos editados ainda.  É característico é o seu ensino sobre a oração aspirativa.
 
ORAÇÃO
Ó Pai de misericórdia, que vos alegrais em revelar aos pequenos e aos simples os segredos de vosso Reino e manifestastes vossa sabedoria divina a vosso servo João de São Sansão; concedei-nos, por sua intercessão, a graça de viver sempre na escuta atenta à vossa Palavra, e caminhar para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, vosso Filho. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.