sexta-feira, 8 de setembro de 2023

XXIII Domingo do Tempo Comum

São Nicolau de Tolentino, presbítero da OSA
 
1ª Leitura (Ez 33,7-9):
Eis o que diz o Senhor: «Filho do homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel. Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte. Sempre que Eu disser ao ímpio: ‘Ímpio, hás de morrer’, e tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida».
 
Salmo Responsorial: 94
R. Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.
 
Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos a Deus, nosso Salvador. Vamos à sua presença e dêmos graças, ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
 
Vinde, prostremo-nos em terra, adoremos o Senhor que nos criou. Pois Ele é o nosso Deus e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
 
Quem dera ouvísseis hoje a sua voz: «Não endureçais os vossos corações, como em Meriba, no dia de Massa no deserto, onde vossos pais Me tentaram e provocaram, apesar de terem visto as minhas obras».
 
2ª Leitura (Rom 13,8-10): Irmãos: Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.
 
Aleluia. Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 18,15-20): «Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, de modo que toda questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles».
 
«Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós!»
 
Prof. Dr. Mons. Lluís CLAVELL (Roma, Itália)
 
Hoje, o Evangelho propõe-nos que consideremos algumas recomendações de Jesus aos seus discípulos de então e de sempre. Na comunidade dos primeiros cristãos também havia faltas e comportamentos contrários à vontade de Deus.
 
O versículo final oferece-nos a chave para resolver os problemas que se apresentam na Igreja ao longo da história: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles» (Mt, 18,20). Jesus está presente em todos os períodos da vida da sua Igreja, seu “Corpo místico” animado pela ação incessante do Espírito Santo. Somos sempre irmãos, quer a comunidade seja grande, quer seja pequena.
 
«Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão» (Mt, 18,15). Que bonita e leal é a relação de fraternidade que Jesus nos ensina! Perante uma falta contra mim, ou contra outro, hei de pedir ao Senhor a sua graça para perdoar, para compreender e, finalmente, para tratar de corrigir o meu irmão.
 
Hoje não é tão fácil como quando a Igreja era menos numerosa. Mas, se pensamos as coisas em diálogo com o nosso Pai Deus, Ele nos iluminará para encontrar o tempo, o lugar e as palavras oportunas para cumprir o nosso dever de ajudar. É importante purificar o nosso coração. São Paulo anima-nos a corrigir o próximo com retidão de intenção: «Irmãos, no caso de alguém ser surpreendido numa falta, vós que sois espirituais, corrigi esse tal, em espírito de mansidão, mas não descuides de ti mesmo, para não seres surpreendido, tu também, pela tentação» (Gal 6,1).
 
O afeto profundo e a humildade nos levarão a procurar a suavidade. «Fazei-o com mãos maternais, com a infinita delicadeza das nossas mães, quando nos curavam as feridas, grandes ou pequenas, provocadas pelas nossas brincadeiras e pelas nossas quedas da infância» (São Josemaria). Assim nos corrige a Mãe de Jesus e nossa Mãe com inspirações para amar mais a Deus e aos irmãos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nos casos mais graves, é melhor rezar a Deus com humildade do que lançar uma torrente de palavras, porque elas ofendem quem as ouve, sem servir para nada aos culpados» (S. João Bosco)
 
« É preciso, antes de mais, evitar o clamor da crónica e os mexerico na comunidade. Esta é a primeira coisa a ser evitada, evitando palavras que podem ferir e matar o irmão» (Francisco)
 
«As palavras ligar e desligar significam: aquele que vós excluirdes da vossa comunhão, ficará também excluído da comunhão com Deus; aquele que de novo receberdes na vossa comunhão, também Deus o acolherá na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.445)
 
Ele está no meio de nós
 
José Antonio Pagola
 
Ainda que as palavras de Jesus, recolhidas por Mateus, sejam de grande importância para a vida das comunidades cristãs, poucas vezes atraem a atenção dos comentadores e pregadores. Esta é a promessa de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles”.
 
Jesus não está a pensar em celebrações de massas como as da Praça de São Pedro, em Roma. Ainda que sejam, somente, dois ou três, ele está no meio deles. Não é necessário que esteja presente a hierarquia; não é necessário que sejam muitos os reunidos.
 
O que importa é que “estejam reunidos”, não dispersos, nem em confronto: que não vivam desqualificando-se uns aos outros. O decisivo é que se reúnam “em seu nome”: que escutem o seu chamamento, que vivam identificados com o seu projeto do Reino de Deus. Que Deus seja o centro do seu pequeno grupo.
 
Esta presença viva e real de Jesus é a que deve animar, guiar e sustentar as pequenas comunidades dos seus seguidores. É Jesus quem há-de alentar a sua oração, as suas celebrações, projetos e atividades.  Esta presença é o “segredo” de toda a comunidade cristã viva.
 
Nós, cristãos, não podemos reunir-nos nos nossos grupos e comunidades, hoje, de qualquer maneira: por costume, por inércia ou para cumprir umas obrigações religiosas. Sejamos muitos ou poucos, o importante é que nos reunamos em seu nome, atraídos pela sua pessoa e pelo seu projeto de fazer um mundo mais humano.
 
Devemos reavivar a consciência de que somos comunidades de Jesus. Reunimo-nos para escutar o seu Evangelho, para manter viva a sua recordação, para contagiar-nos com o seu Espírito, para acolher em nós a sua alegria e a sua paz, para anunciar a sua Boa Notícia.
 
O futuro da fé cristã dependerá, em boa parte, do que fizermos nas nossas comunidades concretas, nas próximas décadas. Não basta aquilo que possa fazer o Papa Francisco no Vaticano. Não podemos, tampouco, depositar a nossa esperança num grupo de sacerdotes que venham a ser ordenados nos próximos anos. A nossa única esperança é Jesus Cristo!
 
Somos nós que devemos centrar as nossas comunidades cristãs na pessoa de Jesus como a única força capaz de regenerar a nossa fé desgastada e rotineira, o único capaz de atrair os homens e mulheres de hoje, o único capaz de engendrar uma fé nova nestes tempos de incredulidade. A renovação das instâncias centrais da Igreja é urgente. Os decretos de reformas, necessários. Porém, nada é tão decisivo quanto o voltar, com radicalidade, para Jesus Cristo.
 
* Ajudar-nos a sermos melhores - Nós, que cremos, deveríamos escutar hoje, mais do que nunca, o chamamento de Jesus para nos corrigirmos e ajudarmos, mutuamente, a ser melhores. Jesus convida-nos, sobretudo, a atuar com paciência e sem precipitação, aproximando-nos de maneira pessoal e amigável daqueles que estão a agir de modo errado. “Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão”.
 
Quanto bem pode fazer uma crítica amiga e leal, uma observação oportuna, um apoio sincero depois de nos termos desorientado. Todo o homem é capaz de sair do pecado e voltar à razão e à bondade. Porém, necessita, com frequência, de encontrar-se com alguém que o ame de verdade, que o convide a interrogar-se e que lhe infunda um desejo novo de verdade e de generosidade.
 
Talvez, o que mais muda muitas pessoas não são as grandes ideias nem os belos pensamentos, mas o facto de ter-se encontrado na vida com alguém que tenha sabido aproximar-se delas amigavelmente, ajudando-as a renovarem-se.
 
Depois desta instrução sobre a correção fraterna, Mateus acrescenta três “ditos” de Jesus (cf. Mt 18,18-20). O primeiro (vers. 18) refere-se ao poder, conferido à comunidade, de “ligar” e “desligar”. Entre os judeus, a expressão designava o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido e para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus; aqui, significa que a comunidade (algum tempo antes – cf. Mt 16,19 – Jesus dissera estas mesmas palavras a Pedro; mas aí Pedro representava a totalidade da comunidade dos discípulos) tem o poder para interpretar as palavras de Jesus, para acolher aqueles que aceitam as suas propostas e para excluir aqueles que não estão dispostos a seguir o caminho que Jesus propôs.
 
O segundo (vers. 19) sugere que as decisões graves para a vida da comunidade devem ser tomadas em clima de oração. Assegura aos discípulos, reunidos em oração, que o Pai os escutará.
 
O terceiro (vers. 20) garante aos discípulos a presença de Jesus “no meio” da comunidade. Neste contexto, sugere que as tentativas de correção e de reconciliação entre irmãos, no seio da comunidade, terão o apoio e a assistência de Jesus.
 
* Palavra para o caminho - O texto do Evangelho, tirado do capítulo 18 de Mateus, dedicado à vida da comunidade cristã, diz-nos que o amor fraterno exige também um sentido de responsabilidade recíproca, pelo que, se o meu irmão comete uma falta contra mim, devo usar de caridade para com ele e, antes de tudo, falar-lhe pessoalmente, recordando-lhe que quanto disse ou fez não é bom. Este modo de agir chama-se correção fraterna: ela não é uma reação à ofensa de que se foi vítima, mas é movida pelo amor ao irmão. Santo Agostinho comenta: «Aquele que te ofendeu, ao ofender-te, causou em si mesmo uma ferida grave, e não te preocupas tu pela ferida de um teu irmão? ... Deves esquecer a ofensa que recebeste, mas não a ferida de um teu irmão» (Discursos 82, 7) (Bento XVI).

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