quinta-feira, 14 de julho de 2022

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DO CARMO

I Leitura (1 Reis 18, 42b-45a) - Naqueles dias, Elias foi ao cimo do monte Carmelo, prostrou-se em terra e pôs a cabeça entre os joelhos. Depois disse ao seu servo: «Sobe e olha em direção ao mar». O servo subiu, olhou e disse: «Não há nada». Elias ordenou-lhe: «Volta sete vezes». À sétima vez, o servo exclamou: «Do lado do mar vem subindo uma nuvenzinha, tão pequena como a palma da mão». Elias ordenou-lhe: «Vai dizer a Acab: «Manda atrelar os cavalos e desce, para que a chuva te não detenha». Num instante o céu se cobriu de nuvens, soprou o vento e caiu uma forte chuvada.

Salmo Responsorial Salmo 14(15), 1.2-3.4
R: Chamai-nos, ó Virgem Maria, e seguiremos os vossos passos.

Quem habitará, Senhor, no vosso santuário,
quem descansará na vossa montanha sagrada?

O que vive sem maldade e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração.

O que não usa a língua para levantar calúnias
e não faz o mal ao seu próximo
nem ultraja o seu semelhante.

O que tem por desprezível o ímpio
mas estima os que temem o Senhor.

II Leitura (Gal 4, 4-7): Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abbá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.

SEQUÊNCIA
Flor do Carmelo,
Videira florescente,
Esplendor do Céu,
Virgem Mãe, singular.
Doce Mãe,
Mas sempre Virgem,
Aos teus filhos
Dá teus favores,
Ó Estrela do mar.

Aleluia Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.

Evangelho (Jo 19, 25-27):  Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predileto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa.

Jesus não nos deixa desamparados

Nos mais diversos meios de comunicação não é difícil encontrar algum noticiário sobre mães que abandonam filhos e filhos que abandonam a casa dos pais. O abandono, em suas variadas expressões, é hoje uma ferida no coração de muitas pessoas. Abandonar alguém é sinal de descuido, de não-acolhida. Sentir-se abandonado é perder o sentido da vida.

No evangelho que ouviremos, Jesus no alto da cruz manifesta o maior testemunho de amor: morrendo, sem culpa nenhuma, perdoa as nossas culpas e nos oferece a sua Mãe para ser também a “nossa Mãe”. O amor verdadeiro é entrega total. No gesto de Jesus na cruz nós entendemos duas grandes entregas: a entrega dele mesmo e a entrega da sua Mãe. Maria participa do projeto de amor do Pai no Filho. Ela, que ungida pelo Espírito Santo deu a luz ao Senhor e Redentor de todo gênero humano, agora é acolhida por nós como Mãe: “Mãe de Deus e Mãe da Igreja”.

O Catecismo da Igreja nos ensina que “a Virgem Maria é reconhecida e honrada como a verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Ela é verdadeiramente ‘Mãe dos membros de Cristo’ – a Igreja, porque cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que formam o grande Corpo, cuja Cabeça é Jesus Cristo”. Tudo isso pra dizer que Jesus, mesmo na cruz, não nos abandonou. Ele nos amou até o fim e, como se não bastasse, nos ofereceu a sua Mãe, para que também nós pudéssemos sentir a sua materna proteção. Como filhos de Deus, devemos nos sentir acolhidos nos braços da Mãe. Ela é linda, ela nos ama muito.

Que Ela, Maria, nos confirme na nossa vocação cristã e nos aumente o gosto de saborear as coisas espirituais e, que sob a sua guia e proteção, possamos subir aos cumes mais elevados da montanha que é Cristo, seu Filho!

Deixo-me olhar por Maria reconhecendo-a como minha Mãe

Maria, pelo sim dado a Deus na anunciação, arriscou uma vida no amor, dilatando cada dia mais o seu coração até nele caberem todos aqueles que são amados por Deus sem qualquer exceção. O mistério da cruz transformou-a na Mãe dos discípulos de seu filho, que têm como missão anunciar o evangelho.

Maria está junto à cruz. É o momento mais doloroso de toda a sua vida porque é também o momento mais incompreensível da vida de Jesus, o seu Filho. Naquele cenário, o olhar da mãe e do Filho encontram-se no olhar do discípulo perdido na desilusão pelo final de um projeto que sonhara com Jesus. No discípulo encontram-se o amor de Deus revelado na cruz e o amor da Mãe que conhece a ternura de Deus revelada em seu Filho. Não foram necessárias muitas palavras para a Mãe compreender até onde deve chegar o amor por seu filho e João levou-a para casa porque a partir daquela hora, a Mãe do seu divino Mestre seria o amparo no seu caminho de mensageiro do amor revelado na Cruz.

Hoje revejo-me no discípulo amado de Jesus. Nos cenários de cruz do nosso tempo e nos cenários de cruz da minha própria vida, há sempre dois olhares sobre mim, o de Jesus que por amor se entrega e o da Mãe que me adota como seu filho e me protege nas incertezas do caminho. Hoje não posso senão responder como João, recebendo-a em minha casa, mais por mim, porque ela vem preencher a minha solidão e animar-me na certeza de ser amado incondicionalmente pelo seu Filho.

Reflexão de Frei Carlos Mesters, OCarm

* Hoje, solenidade de Nossa Senhora do Carmo, o evangelho próprio da Missa para a nossa Ordem, traz a passagem em que Maria, a Mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no Calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes pois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:

* João 19, 25: As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz. Assim diz o Evangelho: “A Mãe de Jesus, a irmã da Mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a Mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apoia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Márcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.

* João 19,26-28: O Testamento ou a Vontade de Jesus. As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua Mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à Mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua Mãe." Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completo sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto.

Para um confronto pessoal
1) Maria ao pé da Cruz. Mulher forte, silenciosa. Como é minha devoção a Maria, a mãe de Jesus?

2) Na Pietá de Michelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo em torno de 50 anos. Perguntado porque tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Michelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Apaixonada por Deus! Existe paixão por Deus em mim?

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