sexta-feira, 15 de julho de 2022

XVI Domingo do Tempo Comum

Bta. Teresa de Sto. Agostinho e 15 companheiras, virgens de nossa Ordem e mártires
Bto. Inácio de Azevedo e 39 companheiros, mártires

1ª Leitura (Gn 18,1-10a): Naqueles dias, o Senhor apareceu a Abraão junto do carvalho de Mambré. Abraão estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Ergueu os olhos e viu três homens de pé diante dele. Logo que os viu, deixou a entrada da tenda e correu ao seu encontro; prostrou-se por terra e disse: «Meu Senhor, se agradei aos vossos olhos, não passeis adiante sem parar em casa do vosso servo. Mandarei vir água, para que possais lavar os pés e descansar debaixo desta árvore. Vou buscar um bocado de pão, para restaurardes as forças antes de continuardes o vosso caminho, pois não foi em vão que passastes diante da casa do vosso servo». Eles responderam: «Faz como disseste». Abraão apressou-se a ir à tenda onde estava Sara e disse-lhe: «Toma depressa três medidas de flor da farinha, amassa-a e coze uns pães no borralho». Abraão correu ao rebanho e escolheu um vitelo tenro e bom e entregou-o a um servo que se apressou a prepará-lo. Trouxe manteiga e leite e o vitelo já pronto e colocou-o diante deles; e, enquanto comiam, ficou de pé junto deles debaixo da árvore. Depois eles disseram-lhe: «Onde está Sara, tua esposa?». Abraão respondeu: «Está ali na tenda». E um deles disse: «Passarei novamente pela tua casa daqui a um ano e então Sara tua esposa terá um filho».

Salmo Responsorial: 14
R. Quem habitará, Senhor, no vosso santuário?

O que vive sem mancha e pratica a justiça e diz a verdade que tem no seu coração e guarda a sua língua da calúnia.

O que não faz mal ao seu próximo, nem ultraja o seu semelhante, o que tem por desprezível o ímpio, mas estima os que temem o Senhor.

O que não falta ao juramento mesmo em seu prejuízo e não empresta dinheiro com usura, nem aceita presentes para condenar o inocente. Quem assim proceder jamais será abalado.

2ª Leitura (Col 1,24-28): Irmãos: Agora alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja. Dela me tornei ministro, em virtude do cargo que Deus me confiou a vosso respeito, isto é, anunciar-vos em plenitude a palavra de Deus, o mistério que ficou oculto ao longo dos séculos e que foi agora manifestado aos seus santos. Deus quis dar-lhes a conhecer em que consiste, entre os gentios, a glória inestimável deste mistério: Cristo no meio de vós, esperança da glória. E nós O anunciamos, advertindo todos os homens e instruindo-os em toda a sabedoria, a fim de os apresentarmos todos perfeitos em Cristo.

Aleluia. Felizes os que recebem a palavra de Deus de coração sincero e generoso e produzem fruto pela perseverança. Aleluia.

Evangelho (Lc 10,38-42): Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda, pois, que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».

«No entanto, uma só é necessária»

Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona, Espanha)

Hoje, vemos um Jesus tão divino quanto humano: está cansado da viagem e deixa-se acolher por esta família que tanto ama, em Betânia. Aproveitará a ocasião para nos dizer o que é “o mais importante”.

Na atitude destas duas irmãs era costume ver duas maneiras de viver a vocação cristã: a vida ativa e a vida contemplativa. Maria, «sentou-se aos pés do Senhor»; Marta, atarefada com muitas coisas e ocupações, sempre servindo e contente, mas cansada (cf. Lc 10,39-40.42). —«Calma», diz-lhe Jesus, «é importante o que fazes, mas é necessário que descanses, e mais importante ainda que descanses estando comigo, olhando-me e escutando-me». Dois modelos de vida cristã que temos de coordenar e integrar: viver tanto a vida de Marta como a de Maria. Temos de estar atentos à Palavra do Senhor, e vigilantes, já que o barulho e o movimento do dia a dia escondem – frequentemente - a presença de Deus. Porque a vida e a força de um cristão só se mantêm firmes e crescem se ele permanecer unido à verdadeira vide, de onde lhe vem a vida, o amor, a vontade de continuar em frente... E de não olhar para trás.

À maioria, Deus chamou a ser como “Marta”. Mas não podemos esquecer que o Senhor quer que sejamos cada vez mais como “Maria”: Jesus Cristo também nos chamou a “escolher a melhor parte” e a não deixar que ninguém no-la roube.

Ele lembra-nos que o mais importante não é o que possamos fazer, mas a Palavra de Deus que ilumina as nossas vidas e assim, pelo Espírito Santo, também as nossas obras serão impregnadas do seu amor.

Descansar no Senhor só é possível se gozarmos da sua presença real perante a Eucaristia. Oração diante do sacrário! É o maior tesouro que os cristãos têm. Recordemos o título da última encíclica de S. João Paulo II: A Igreja vive da Eucaristia. O Senhor tem muitas coisas para nos dizer, mais do que pensamos. Procuremos sempre momentos de silêncio e de paz para encontrar Jesus e n’Ele nos reencontrarmos a nós próprios. Jesus convida-nos hoje a fazer uma opção: escolher «a melhor parte» (Lc 10,42).

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Marta, bendita sejas pelos teus bons serviços; quando chegares à porta celestial tudo isto já não existirá: lá só haverá o que Maria escolheu» (Santo Agostinho)

«A palavra de Cristo é claríssima: nenhum desprezo pela vida ativa, muito menos pela generosa hospitalidade; apenas a chamada clara ao facto de que a única coisa verdadeiramente necessária, é ouvir a Palavra do Senhor que é eterna e dá sentido à nossa atividade cotidiana» (Bento XVI)

«Meditar no que se lê leva a assimilá-lo, confrontando-o consigo mesmo. Abre-se aqui um outro livro: o da vida. Passa-se dos pensamentos à realidade (...). Trata-se de praticar a verdade para chegar à luz: «Senhor, que quereis que eu faça» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.706)

Por vezes, andamos demasiado inquietos.

P. Américo, no site Domus Iesu

Escutar a Palavra de Deus - Com a Parábola do Samaritano (semana passada), podemos ter sido levados a concluir, com demasiada pressa, que não é necessário mais nada senão amar o próximo, fazendo por ele algo em concreto. É isso o que se ouve dizer. Pois bem, continuando a leitura do texto de Lucas, de alguma forma temos a resposta a essa dificuldade (leitura evangélica de hoje).

Um dia, Jesus entra na casa de Marta e de Maria, ambas irmãs de Lázaro. Marta anda ocupada, como aliás lhe compete em virtude da hospitalidade que era apanágio em qualquer casa desse tempo, com o seu trabalho ordinário. Nisso, como é óbvio, não há «condenação» nenhuma. Por seu lado, a sua irmã, Maria, sentada aos pés do Senhor, escuta o que Ele diz (como se compreende facilmente, escutar as pessoas é também uma parte importante da hospitalidade).

Por um lado, Marta é o símbolo daquele super-trabalho que torna as pessoas escravas das coisas humanas e não dá tempo para escutar o grande mistério de Deus que nos circunda. Por outro lado, Maria, ao contrário, é a que escuta a Palavra. Certo, deverá também ela fazer alguma coisa (e eu vou partir do suposto que, depois de escutar o Mestre, também foi ajudar a irmã), mas, nesse caso, o seu agir já não será apenas um simples trabalho, mas o pôr em prática o que escutou. Não sei se é forçar demais a nota, mas, no fundo, é isso que de qualquer atividade faz uma atividade cristã: «tudo o que fizerdes, fazei-o em nome do Senhor Jesus» (cf. Col 3,17).

Repito o que disse acima. Geralmente há a tendência para pôr em oposição a postura de Marta e Maria, como a ação contra a contemplação. Mas será esta perspectiva correta? Já dei a entender que não. De resto, devemos recordar-nos que estamos num contexto de experiência do Antigo Testamento. Ou seja, contrariamente ao mundo grego, Israel não conhece o ideal da contemplação pura. Por isso, nessa linha, não é possível imaginar Maria como a expressão da pessoa que deixa por completo o mundo das coisas. A sua atitude, no contexto de Israel, é a do crente que escuta a Palavra de Deus para depois a ir pôr em prática na vida concreta.

Uma conotação feminista - Embora possa parecer estranho, seja-me permitido acrescentar algo a esta reflexão. Não é costume (se calhar, até talvez seja considerado pouco sério) levantar o problema do feminismo ao considerar este episódio. Pois bem, acho que, não obstante isso, é uma reflexão que vale a pena fazer. No fundo, talvez tenha mais razão de ser do que a mera contraposição entre Marta e Maria. No contexto social vigente em Israel nessa altura (e não só), a mulher era considerada como um crente de segunda categoria. Não tomava parte oficial no culto da sinagoga nem podia dedicar-se sequer à «escuta» e ao estudo da Lei. Pois bem, como é por demais evidente, esta passagem do Evangelho de Lucas reflete uma atitude completamente diversa.

Ou seja, o verdadeiro tipo de cristão (que escuta e põe em prática a palavra de Jesus) reflete-se, neste caso, numa figura feminina, precisamente a de Maria. Talvez não ficasse mal à Igreja acolher a obrigação (se ainda o não fez) de refazer também esta leitura a esta nova luz, sobretudo quando se fala tanto da «valorização» da mulher. Não basta falar apenas de «valorização»; é preciso demonstrar a validade dessa preocupação com factos concretos.

Um hóspede misterioso - Para além do tema da escuta da Palavra, a liturgia contempla também o tema da hospitalidade. A hospitalidade é um verdadeiro ato religioso nas antigas civilizações. Para Israel, esse gesto, sobretudo após a grande libertação do cativeiro egípcio, tem um significado todo especial. A hospitalidade tornou-se uma das obrigação mais sérias. O hóspede é como que o símbolo do próprio Deus que se manifesta para salvar o indivíduo e o povo do poder do «inimigo», para o conduzir à Terra Prometida. O hóspede, nesse contexto, é sempre alguém que exige uma atenção especial.

E Jesus, neste capítulo, não é proposto como um hóspede ordinário. É que Ele exige toda a atenção ao essencial da sua mensagem e da sua pessoa. Acolher Jesus é «escutá-lo» de verdade, pôr-se em atitude de receptividade, de acolhimento. É escutando-o que se entra em comunhão com Deus e se fica transformado. Mais, Jesus apresenta-se sempre como um «estrangeiro» que rompe com todas as seguranças e exige a renúncia e a dedicação totais. É aquele que lança as bases das relações humanas em alicerces de puro e indefectível amor.

Acolhimento: virtude cristã - A hospitalidade cristã não se limita ao seu significado literal. Ela deve ser acolhimento, na fé, da presença dos outros na própria vida (cf. Mt 25,35-36) e através da rejeição dum «outro» totalmente oposto a nós, que é o inimigo. Esse será o sinal privilegiado, o teste, de fidelidade ao mandamento do amor sem fronteiras.

O Concílio Vaticano II, no documento que fala sobre o papel do cristão (leigo) no mundo, recorda a este propósito: «Hoje, urge a obrigação que nos tornemos generosamente próximos de cada homem, servindo com atos quem passa ao nosso lado, seja ele ancião abandonado por todos, seja ele trabalhador estrangeiro injustamente desprezado, quer seja o imigrante ou a criança nascida duma união ilegítima, que sofre imerecidamente por um pecado que não cometeu, quer seja ainda o esfomeado que é uma chamada de consciência, recordando as palavras do Senhor: "quanto tiverdes feito a um dos mais pequenos dos meus irmãos, tê-lo-eis feito a mim" (cf. Mt 25,40)» (Gaudium et Spes=Alegria e Esperança, 27).

A solidão e o anonimato - Talvez as situações de solidão e anonimato sejam os campos em que os cristãos, nos dias que correm, mais tenham que demonstrar a sua capacidade de acolhimento. De facto, uma característica da civilização urbana é precisamente o anonimato. E as estruturas sociais, por outro lado, por motivos que não vem para o caso explicar, provocam como que a privatização da vida familiar, com o consequente «certificado» de solidão, alienação e angústia. Esses efeitos arrastam consigo o desinteresse pelos outros.

O individualismo é uma característica humana que se acentua mais com as atuais formas de ser e de estar na civilização urbana. Ora, como princípio, essa situação está contra as exigências evangélicas. Nestas circunstâncias, qual deverá ser o comportamento dos cristãos? Não nos podemos limitar a dar uma resposta teórica e generalizada. Mas parece-me claro que os cristãos devem estar presentes em todos os movimentos que apelem para a construção duma sociedade e duma comunidade aberta ao diálogo, superando o egoísmo, promovendo uma autêntica educação à sociabilidade.

Para isso, mesmo que seja necessário ser contracorrente, os cristãos devem empenhar-se no favorecimento de tudo quanto concorra para que o amor, transformado pelo Espírito de Jesus, se desenvolva entre todos os membros da sociedade, a começar pela família. Nesse sentido, têm também obrigação de apoiar todos os movimentos juvenis (e não obstaculizá-los, como infeliz e geralmente acontece) que favoreçam a solidariedade, o auxílio aos outros e o empenho em prol do bem comunitário.

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