domingo, 31 de outubro de 2021

2 de novembro: Comemoração de todos os fiéis defuntos


1ª Leitura (Job 19, 1.23-27a): Job tomou a palavra e disse: «Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar».

Salmo Responsorial: 26

R. Espero contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos.

O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é o protetor da minha vida: de quem hei de ter medo?

Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me. A vossa face, Senhor, eu procuro: não escondais de mim o vosso rosto.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia no Senhor.

2ª Leitura (Rom 2 Cor 4, 14–5,1): Como sabemos, irmãos, Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele. Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia. Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.

Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.

Evangelho (Lc 23,33.39-43): Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar. Ele lhe respondeu: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso

«Construís os túmulos dos profetas! No entanto, foram vossos pais que os mataram»

Frei. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho recorda o fato fundamental do Cristianismo: a morte e ressurreição de Jesus. Façamos nossa, agora, a oração do Bom Ladrão: Jesus, lembra-te de mim (Lc 23, 42). A Igreja não reza pelos santos como ora pelos defuntos, que dormem no Senhor, mas encomenda-se às orações daqueles e reza por estes, diz Sto. Agostinho num Sermão. Pelo menos uma vez por ano nós, os cristãos, questionamo-nos sobre o sentido da nossa vida e sobre o sentido da nossa morte e ressurreição. É no dia da comemoração dos fiéis defuntos, da qual Sto. Agostinho nos apontou a diferença em relação à festa de Todos os Santos.

Os sofrimentos da Humanidade são os sofrimentos da Igreja e têm em comum, sem dúvida, o fato de todo o sofrimento ser de algum modo privação de vida. Por isso a morte de um ser querido nos causa uma dor tão indescritível que nem a fé sozinha consegue aliviá-la. Assim, os homens sempre quiseram honrar os defuntos. Na verdade, a memória é uma forma de fazer com que os ausentes estejam presentes, de perpetuar a sua vida. Mas os mecanismos psicológicos e sociais, com o tempo, amortecem as recordações. E se, humanamente, esse fato pode levar à angústia, os cristãos, graças à ressurreição, têm paz. A vantagem de nela crermos é que nos permite confiar em que, apesar do esquecimento, voltaremos a encontrar-nos na outra vida.

Uma segunda vantagem de crermos consiste em que, ao recordar os defuntos, rezamos por eles. Fazemo-lo no nosso interior, na intimidade com Deus, e cada vez que rezamos juntos, na Eucaristia: não estamos sós perante o mistério da morte e da vida, antes o compartilhamos como membros do Corpo de Cristo. Mais ainda: ao ver a cruz, suspensa entre o céu e a terra, sabemos que se estabelece uma comunhão entre nós e os nossos defuntos. Por isso S. Francisco proclamou agradecido: Louvado sejas, Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal.

Comemoração dos Fieis Defuntos

Dom Henrique Soares da Costa

Hoje, a Igreja recolhe-se em oração pelos seus filhos que já partiram desta vida. Para os cristãos, não se trata de um simples dia de saudade, mas de oração pelos fiéis de Cristo que já partiram para a Casa do Pai na firme esperança da ressurreição.

Vêm à nossa mente e ao nosso coração tantas perguntas: Que é a morte? Que é a vida que termina com a morte? O que há após a morte? São interrogações que devemos responder à luz da fé.

Num mundo que já não crê e não tem quase nada a dizer sobre a vida e sobre a morte, a Palavra de Deus nos ilumina: “Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros, que não têm esperança” (1Ts 4,13). O cristão não pode encarar a morte como os pagãos; nós temos uma esperança, e ela se chama Jesus Cristo, Aquele que disse “Eu sou a Ressurreição, Eu sou a Vida” (Jo 11,25)!

Recordemos algumas certezas fundamentais da nossa fé:

(1) Deus é a Vida, é fonte de Vida, é o Vivificante; criou tudo para a Vida. Ele não é o autor da morte, não entende nada de morte, não tem parte com a morte (cf. Sb 1,13-15). Pelo contrário, a morte é a separação do Deus vivo, como as trevas são a separação da luz do sol. “Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez imagem de Sua própria natureza; foi por inveja do Diabo que a morte entrou no mundo: experimentam-na aqueles que lhe pertencem” (Sb 2,23s). Deus pensou para nós somente o bem e a felicidade com Ele! Isto é a Vida! O homem, ao fechar-se desde o princípio, para o Deus da Vida, desarrumou-se, desaprumou-se e passou a experimentar sua vida como uma morte: desequilíbrio, dor, egoísmo, solidão, medo, doença, falta de sentido e, finalmente, a morte física... O salário do nosso pecado foi uma situação de morte, de infelicidade, de incoerência e tristeza, que culmina com a morte física. Basta olhar o mundo ao nosso redor!

(2) Isto não significa que, se não tivéssemos pecado, viveríamos aqui para sempre. Deus não nos criou para vivermos aqui indeterminadamente: “O Senhor tirou o homem da terra e a ela faz voltar novamente. Deu aos homens número preciso de dias e tempo determinado” (Eclo 17,1s). Deus nos deu um número preciso de dias, um tempo de vida neste mundo. Mas, uma coisa é certa: sem o pecado, vivendo na amizade com Deus e na harmonia com os outros e o mundo, nossa morte não teria o gosto amargo de Morte. Se hoje a morte tem um aspecto trágico, é porque está ligada ao pecado, ao nosso afastamento de Deus. Por isso a morte nos mete medo e, muitas vezes, é sentida como uma ameaça de cair no nada.

(3) Mas, Deus não nos abandonou à morte: Ele nos enviou o Seu Filho, em tudo igual a nós, menos no pecado. Ele tomou sobre Si as nossas dores, viveu nossa vida mortal, de incertezas, de tristezas, de angústias, de morte. Morrendo de nossa morte, Ele foi ressuscitado pelo Pai na força do Espírito Santo. Morrendo da nossa morte, Ele nos deu a possibilidade e a graça de morrer como Ele e com Ele ressuscitar da morte: “Eu sou a ressurreição! Quem crê em Mim, ainda que esteja morto viverá!” (Jo 11,25). Desde o Batismo, unidos a Cristo morto e ressuscitado, alimentados pelo Seu corpo e sangue na Eucaristia, sabemos que “nem a morte nem a vida nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Cristo” (Rm 8,38s).

Esta é a nossa esperança: vivermos unidos a Cristo já agora e, após a nossa morte, ressuscitar Nele e com Ele, nele e como Ele! Como o Senhor foi glorificado no Seu corpo e na Sua alma pela potência do Espírito Santo, assim também nós seremos glorificados: logo após a nossa morte, na nossa alma, nunca mais sentiremos o medo, a tristeza, a dor, o pranto e, no fim dos tempos, também no nosso corpo mortal seremos glorificados: “semeado corruptível, ressuscitará corpo incorruptível; semeado desprezível, ressuscitará reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,42-44). Sermos glorificados significa entrar na plenitude de Cristo, na alegria de Cristo, na eternidade de Cristo! Isto, para nós, é o Paraíso: estar para sempre com o Senhor!

Irmãos, Irmãs, rezemos hoje pelos nossos queridos que já morreram; rezemos por todos os fiéis que já partiram para o Cristo: que recebam o perdão de seus pecados e entrem na plenitude de Deus. A Sagrada Escritura diz que “é um santo e piedoso pensamento rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados” (2Mc 12,46). Que nosso carinho e nossa saudade sejam acompanhados pela nossa piedosa oração, cheia de esperança na ressurreição.

Mas, pensemos também na nossa vida, no destino que estamos dando à nossa existência, pois nosso encontro com o Senhor é preparado no dia-a-dia, nos pequenos momentos de nosso caminho neste mundo. São Bernardo de Claraval afirmava que nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Pois bem! Estejamos atentos para viver de tal modo, que nossa vida seja uma amizade com Deus que começa aqui e se consumará na Glória!

Voltemos nosso olhar e nosso pensamento para Cristo, Vencedor da nossa morte. As palavras do Prefácio da missa de hoje são tão consoladoras: Em Cristo “brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos Céus, um corpo imperecível”. Que o Senhor realize a nossa esperança e que nós vivamos de tal modo, que sejamos dignos dela!

            Descanso eterno dai-lhes, Senhor!

            Da Luz perpétua, o resplendor!

            Que suas almas descansem em paz.

            Assim seja!

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