segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Quarta-feira da 18ª semana do Tempo Comum

Dedicação da Basílica de Santa Maria, em Roma

1ª Leitura (Jr 31,1-7): «Naquele tempo – diz o Senhor – serei o Deus de todas as tribos de Israel e elas serão o meu povo». Assim fala o Senhor: «O povo que escapou à espada foi favorecido no deserto: Israel vai chegar ao seu repouso». De longe o Senhor apareceu-lhe, dizendo: «Amei-te com amor eterno; por isso tive compaixão de ti. Hei de edificar-te novamente e serás reconstruída, virgem de Israel. Voltarás a adornar-te com os teus tamborins, para tomar parte em danças festivas. De novo plantarás vinhas nos montes da Samaria e aqueles que as plantarem colherão os seus frutos. Porque virá um dia em que as sentinelas gritarão sobre os montes de Efraim: ‘Levantai-vos! Subamos a Sião, ao encontro do Senhor, nosso Deus’». Assim fala o Senhor: «Soltai brados de alegria por causa de Jacob, aclamai a primeira das nações. Fazei ouvir os vossos louvores e proclamai: ‘O Senhor salvou o seu povo, o resto de Israel’».

Salmo Responsorial: Jr 31

R. Como o pastor guarda o seu rebanho, assim nos guarda o Senhor.

Escutai, ó povos, a palavra do Senhor e anunciai-a às ilhas distantes: Aquele que dispersou Israel vai reuni-lo e guardá-lo como um pastor ao seu rebanho.

O Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos do seu dominador. Regressarão com brados de alegria ao monte Sião, acorrendo às bênçãos do Senhor.

A virgem dançará alegremente, exultarão os jovens e os velhos. Converterei o seu luto em alegria e a sua dor será mudada em consolação e júbilo.

Aleluia. Apareceu entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.

Evangelho (Mt 15,21-28): Naquele tempo, Jesus foi para a região de Tiro e Sidônia. Uma mulher Cananeia, vinda daquela região, pôs-se a gritar: «Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente atormentada por um demônio!». Ele não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram: «Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós». Ele tomou a palavra: «Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante de Jesus e começou a implorar: «Senhor, socorre-me!». Ele lhe disse: «Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos». Ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!». Diante disso, Jesus respondeu: «Mulher, grande é tua fé! Como queres, te seja feito!». E a partir daquela hora, sua filha ficou curada.

«Mulher, grande é tua fé»

Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Sant Hipòlit de Voltregà, Barcelona, Espanha)

Hoje, frequentemente, escutamos expressões como já não existe mais fé! e o dizem pessoas que pedem às nossas comunidades o batismo de seus filhos ou a catequese das crianças ou o sacramento do matrimônio. Essas palavras refletem uma visão negativa do mundo, mostra o convencimento de que em qualquer tempo passado as coisas eram melhores do que agora e que estamos no fim de uma etapa em que não há nada novo a dizer, nem tampouco nada de novo a fazer. Evidentemente são pessoas jovens que, em sua maioria, veem com certa tristeza que o mundo mudou muito, desde o tempo de seus pais, que talvez vivessem uma fé mais popular, a qual eles não se souberam ajustar. Esta experiência os deixa insatisfeitos e sem capacidade de reação quando, na verdade, quem sabe, não estão às portas de uma nova etapa que deveriam aproveitar.

Esta passagem do Evangelho chama a nossa atenção para aquela mãe Cananeia que pede uma graça para sua filha, reconhecendo em Jesus o Filho de Davi: «Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente atormentada por um demônio!» (Mt 15,22). O Mestre é surpreso: «Mulher, grande é tua fé!», e não pode fazer outra coisa senão atuar em favor daquelas pessoas: «Como queres, te seja feito!» (Mt 15,28), ainda que isto não pareça estar em seus planos. Apesar da realidade humana, a graça de Deus sempre se manifesta.

A fé não é patrimônio de uns quantos, nem tampouco é propriedade dos que se creem bons ou dos que o foram, ou de quem tem esta etiqueta social ou eclesial. A ação de Deus precede a ação da Igreja e, o Espírito Santo está atuando já em pessoas que não havíamos suspeitado que nos trouxessem uma mensagem de parte de Deus, uma solicitação em favor dos mais necessitados. Diz São Leão: «Amados meus, a virtude e a sabedoria da fé cristã são o amor a Deus e ao próximo: nada falta a nenhuma obrigação de piedade a quem procura dar culto a Deus e a ajudar a seu irmão».

Reflexão

Contexto. O pão dos filhos e a grande fé de uma mulher cananeia é a questão apresentada por esta passagem do capítulo 15 de Mateus, que propõe ao leitor do seu Evangelho um posterior aprofundamento da fé em Cristo. O episódio é precedido por uma iniciativa dos escribas e fariseus chegados de Jerusalém, que causam um encontro de curta duração com Jesus, até que ele se afastou com os seus discípulos para se retirar à região de Tiro e Sidônia.

Enquanto ia pelo caminho, é alcançado por uma mulher que vem de lugares pagãos. Mateus apresenta esta mulher com o nome de "cananeia", que aparece no Antigo Testamento com toda a sua dureza. No livro do Deuteronômio, os habitantes de Canaã são vistos como um povo cheio de pecado e por consequência um povo mau e idólatra.

Dinâmica da história. Enquanto Jesus desenvolvia sua atividade na Galileia e está a caminho de Tiro e de Sidônia, uma mulher se aproxima dele e começa a incomodá-lo com um pedido de ajuda para sua filha doente. A mulher aborda Jesus com o título de "filho de Davi", um título que soa estranho na boca de um pagão e poderia se justificar pela extrema necessidade em que vivia aquela mulher. Poderia se pensar que esta mulher já acreditava de alguma forma na pessoa de Jesus como o salvador final, mas se exclui visto que só no v. 28 aparece reconhecido seu ato de fé, precisamente por Jesus.

No diálogo com a mulher, parece que Jesus mostra a mesma distância e desconfiança que existia entre o povo de Israel e os pagãos. Por um lado, Jesus manifesta à mulher a prioridade de Israel em relação à salvação, e diante do insistente pedido de sua interlocutora, Jesus parece tomar distância, uma atitude incompreensível para o leitor, mas na intenção de Jesus expressa um alto valor pedagógico. A primeira súplica "Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de Davi", Jesus não responde. À segunda intervenção, desta vez pelos discípulos que o convidam para atender a mulher, apenas expressa uma rejeição que sublinha a distância secular entre o povo escolhido e os povos pagãos (vv. 23b-24). Mas, devido a insistência da mulher que se prostra ante Jesus, segue uma resposta difícil e misteriosa: "Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos" (v. 26). Ela vai além da dureza das palavras de Jesus e apega a um pequeno sinal de esperança: a mulher reconhece que o plano de Deus que Jesus realiza inicialmente afeta o povo escolhido e Jesus pede a observância deste prioridade; a mulher explora esta prioridade, a fim de apresentar um motivo forte para o milagre: “os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos” (v. 27). A mulher superou a prova de fé: "Ó mulher, grande é tua fé!" (v. 28); na verdade, à humilde insistência de sua fé, Jesus responde com um gesto de salvação.

Este episódio dirige a todo leitor do Evangelho um convite para ter uma atitude de "abertura" para todos, crentes ou não, ou seja, disponibilidade e aceitação sem reserva para qualquer pessoa.

Para um confronto pessoal

1. A palavra Deus convida-o a romper seu fechamento e seus esquemas pequenos. Você é capaz de acolher todos os irmãos que vêm até você?

2 Você está ciente de sua pobreza para ser capaz, como a cananeia, de confiar na palavra salvadora de Jesus

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