terça-feira, 14 de julho de 2020

SOLENE COMEMORAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO


A Ordem carmelita celebra hoje a solenidade da Virgem Maria, Mãe do Carmelo, a quem deve tudo o que é.

A Sagrada Escritura exalta a beleza do monte Carmelo, onde o profeta Elias, ardendo de zelo pelo Deus vivo, defendeu a pureza da fé de Israel. Neste monte, junto à fonte que tinha o nome do profeta, estabeleceram-se alguns eremitas nos finais do séc. XII, os quais, no início do século seguinte, tendo recebido de S. Alberto, Patriarca latino de Jerusalém, uma fórmula de vida, aí construíram um oratório dedicado à Mãe de Deus, ficando assim juridicamente constituídos com o título de “Santa Maria do Monte Carmelo”. Desde então experimentaram a proteção maternal da sua Senhora, a Virgem puríssima, a quem chamaram “Irmã”, primeiramente na prática da vida contemplativa e mais tarde no dom aos irmãos das riquezas recolhidas na íntima comunhão com Deus na prática da vida fraterna. Por isso começaram a intitular-se: “Irmãos de Santa Maria do Monte Carmelo”.

Esta invocação mariana, que exprime o conjunto dos benefícios recebidos da nossa Padroeira, começou a celebrar-se com toda a solenidade no séc. XIV em Inglaterra, expandindo-se rapidamente por toda a Ordem, até que, em 1606, Paulo V a reconheceu como festa principal da Confraria do Santo Escapulário e o Capítulo Geral de 1609 a declarou como sendo a festa principal e mais solene da Ordem.

I LEITURA (1 Reis 18, 42b-45a) - Naqueles dias, Elias foi ao cimo do monte Carmelo, prostrou-se em terra e pôs a cabeça entre os joelhos. Depois disse ao seu servo: «Sobe e olha em direção ao mar». O servo subiu, olhou e disse: «Não há nada». Elias ordenou-lhe: «Volta sete vezes». À sétima vez, o servo exclamou: «Do lado do mar vem subindo uma nuvenzinha, tão pequena como a palma da mão». Elias ordenou-lhe: «Vai dizer a Acab: «Manda atrelar os cavalos e desce, para que a chuva te não detenha». Num instante o céu se cobriu de nuvens, soprou o vento e caiu uma forte chuvada.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 14(15), 1.2-3.4
R: Chamai-nos, ó Virgem Maria, e seguiremos os vossos passos.

Quem habitará, Senhor, no vosso santuário,
quem descansará na vossa montanha sagrada?
O que vive sem maldade e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração,

O que não usa a língua para levantar calúnias
e não faz o mal ao seu próximo
nem ultraja o seu semelhante.
O que tem por desprezível o ímpio
mas estima os que temem o Senhor.

II LEITURA (Gal 4, 4-7): Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abbá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.

SEQUÊNCIA
Flor do Carmelo,
Videira florescente,
Esplendor do Céu,
Virgem Mãe, singular.
Doce Mãe,
Mas sempre Virgem,
Aos teus filhos
Dá teus favores,
Ó Estrela do mar.

Aleluia Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.

EVANGELHO (Jo 19, 25-27):  Naquele tempo, estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predileto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa.


Jesus não nos deixa desamparados

Nos mais diversos meios de comunicação não é difícil encontrar algum noticiário sobre mães que abandonam filhos e filhos que abandonam a casa dos pais. O abandono, em suas variadas expressões, é hoje uma ferida no coração de muitas pessoas. Abandonar alguém é sinal de descuido, de não-acolhida. Sentir-se abandonado é perder o sentido da vida.
No evangelho que ouviremos, Jesus no alto da cruz manifesta o maior testemunho de amor: morrendo, sem culpa nenhuma, perdoa as nossas culpas e nos oferece a sua Mãe para ser também a “nossa Mãe”. O amor verdadeiro é entrega total. No gesto de Jesus na cruz nós entendemos duas grandes entregas: a entrega dele mesmo e a entrega da sua Mãe. Maria participa do projeto de amor do Pai no Filho. Ela, que ungida pelo Espírito Santo deu a luz ao Senhor e Redentor de todo gênero humano, agora é acolhida por nós como Mãe: “Mãe de Deus e Mãe da Igreja”.

O Catecismo da Igreja nos ensina que “a Virgem Maria é reconhecida e honrada como a verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Ela é verdadeiramente ‘Mãe dos membros de Cristo’ – a Igreja, porque cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que formam o grande Corpo, cuja Cabeça é Jesus Cristo”. Tudo isso pra dizer que Jesus, mesmo na cruz, não nos abandonou. Ele nos amou até o fim e, como se não bastasse, nos ofereceu a sua Mãe, para que também nós pudéssemos sentir a sua materna proteção. Como filhos de Deus, devemos nos sentir acolhidos nos braços da Mãe. Ela é linda, ela nos ama muito.

Reflexão

* Hoje, solenidade de Nossa Senhora do Carmo, o evangelho próprio da Missa para a nossa Ordem, traz a passagem em que Maria, a Mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes pois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:

* João 19, 25: As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz
Assim diz o Evangelho: “A Mãe de Jesus, a irmã da Mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a Mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apoia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Márcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.

* João 19,26-28: O Testamento ou a Vontade de Jesus
As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua Mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à Mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua Mãe." Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completo sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto.

* Maria no Novo Testamento
De Maria se fala pouco no NT, e ela mesma fala menos ainda. Maria é a Mãe do silêncio. A Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28):
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!" (Lc 1,34)
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)
3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!" (Lc 1,46-55)
4ª Palavra: "Meu filho porque nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48)
5º Palavra: "Eles não tem mais vinho!" (Jo 2,3)
6ª Palavra: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)
7ª Palavra:  O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25-27)

Para um confronto pessoal
1) Maria ao pé da Cruz. Mulher forte, silenciosa. Como é minha devoção a Maria, a mãe de Jesus?
2) Na Pietà de Miguelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo em torno de 50 anos. Perguntado porque tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Miguelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Apaixonada por Deus! Existe paixão por Deus em mim?

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