sexta-feira, 5 de junho de 2020

Sábado IX do Tempo Comum


1ª Leitura (2Tim 4,1-8): Caríssimo: Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina. Tempo virá em que os homens não suportarão mais a sã doutrina: mas, desejosos de ouvir novidades, escolherão para si uma multidão de mestres, ao sabor das suas paixões, e desviarão os ouvidos da verdade, voltando-se para as fábulas. Tu, porém, sê prudente em tudo, suporta os sofrimentos, trabalha no anúncio do Evangelho, cumpre bem o teu ministério. Quanto a mim, já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda.

Salmo Responsorial: 70
R. A minha boca proclamará a vossa salvação.

A minha boca está cheia do vosso louvor, cantando continuamente a vossa glória. Não me rejeiteis na minha velhice, não me abandoneis quando me abandonarem as forças.

Em Vós, Senhor, hei de esperar sempre e multiplicarei os vossos louvores. A minha boca proclamará a vossa justiça, dia após dia a vossa infinita salvação.

Meu Deus, hei de narrar os vossos feitos grandiosos, recordarei, Senhor, a vossa justiça sem igual. Desde a juventude, ó Deus, Vós me ensinastes e até hoje anunciei sempre os vossos prodígios.

Eu louvarei com a harpa a vossa fidelidade, cantar-Vos-ei ao som da cítara, ó Santo de Israel.

Aleluia. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.

Evangelho (Mc 12,38-44): Ao ensinar, Jesus dizia: «Cuidado com os escribas! Eles fazem questão de andar com amplas túnicas e de serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros assentos na sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes. Mas devoram as casas das viúvas, enquanto ostentam longas orações. Por isso, serão julgados com mais rigor. Jesus estava sentado em frente do cofre das ofertas e observava como a multidão punha dinheiro no cofre. Muitos ricos depositavam muito. Chegou então uma pobre viúva e deu duas moedinhas. Jesus chamou os discípulos e disse: «Em verdade vos digo: esta viúva pobre deu mais do que todos os outros que depositaram no cofre. Pois todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver».

«Chegou então uma pobre viúva e deu duas moedinhas»

Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)

Hoje como no tempo de Jesus, os seus devotos —e ainda mais os “profissionais” da religião— podem sofrer a tentação de uma espécie de hipocrisia espiritual, manifestada nas atitudes vaidosas, justificadas pelo fato de sentirmo-nos melhor que os outros: por alguma razão somos crentes, praticantes... os puros! Pelo menos no interior da nossa consciência, às vezes nos sentimos assim; sem chegar, porém a “fazer que rezamos” e ainda menos a “devorar os bens dos demais”.

No contraste evidente com os mestres da lei, o Evangelho apresenta-nos o gesto simples, insignificante, de uma mulher viúva que suscitou a admiração de Jesus: «Chegou então uma pobre viúva e deu duas moedinhas» (Mc 12,42). O valor do donativo era quase nulo, mas a decisão daquela mulher era admirável, heroica: deu tudo o que tinha para viver.

Neste gesto, Deus e os demais passavam diante dela e das suas próprias necessidades. Ela permanecia totalmente nas mãos da Providência. Não tinha outra coisa onde apoiar-se, porque voluntariamente havia deixado tudo ao serviço de Deus e da atenção dos pobres. Jesus — que o viu — valorou o esquecimento de si mesmo, e o desejo de glorificar a Deus e de socorrer os pobres, como o donativo mais importante de todos os que haviam feito.

Tudo indica que a opção fundamental e salvadora tem lugar no núcleo da própria consciência, quando decidimos abrir-nos a Deus e viver em disposição ao próximo; o valor da eleição não vem pela qualidade ou a quantidade da obra feita, senão pela pureza da intenção e a generosidade do amor.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

São Norberto, Bispo
* No evangelho de hoje estamos chegando ao fim da longa instrução de Jesus aos discípulos. Desde a primeira cura do cego (Mc 8,22-26) até à cura do cego Bartimeu em Jericó 10,46-52), os discípulos caminharam com Jesus para Jerusalém, recebendo dele muitas instruções sobre a paixão, morte e ressurreição e as consequências para a vida do discípulo. Chegando em Jerusalém, estiveram presentes aos debates de Jesus com os comerciantes no Templo (Mc 11,15-19), com os sumos sacerdotes e escribas (Mc 11,27 a 12,12), com os fariseus, herodianos e saduceus (Mc 12,13-27), com os doutores da lei (Mc 12,28-37. Agora, no evangelho de hoje, após uma última crítica fortíssimo contra os escribas (Mc 12,38-40), Jesus encerra a instrução aos discípulos. Sentado em frente ao cofre de esmolas do Templo, ele chama a atenção deles para o gesto de partilha de uma pobre viúva. É neste gesto que eles devem procurar a manifestação da vontade de Deus (Mc 12,41-44).

* Marcos 12,38-40: A crítica aos doutores da Lei.
Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento ganancioso e hipócrita de alguns doutores da lei. Estes tinham gosto em circular pelas praças em longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! E Jesus termina: “Essa gente vai receber um julgamento mais severo!”

* Marcos 12,41-42. A esmola da viúva.
Jesus e os discípulos, sentados em frente ao cofre de esmolas do Templo, observavam como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo mundo trazia alguma coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio. Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade pública. E os pobres que mais precisavam da ajuda dos outros eram os órfãos e as viúvas. Estas não tinham nada. Dependiam em tudo da ajuda dos outros. Mas mesmo sem ter nada, elas faziam questão de partilhar. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do templo. Poucos centavos, apenas!

* Marcos 12,43-44. Jesus aponta onde se manifesta a vontade de Deus.
O que vale mais: os dez centavos da viúva ou os mil reais dos ricos? Para os discípulos, os mil reais dos ricos eram muito mais úteis para fazer a caridade do que os dez centavos da viúva. Eles pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dito a Jesus: “O senhor quer que vamos comprar pão por duzentos denários para dar de comer ao povo?” (Mc 6,37) De fato, para quem pensa assim, os dez centavos da viúva não servem para nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva que é pobre lançou mais do que todos que ofereceram moedas ao Tesouro”. Jesus tem critérios diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina onde eles e nós devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e na partilha. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo diz: “Pobre não deixa pobre morrer de fome”. Mas às vezes, nem isso é possível. Dona Cícera que veio do interior da Paraíba, Brasil, para morar na periferia da capital, João Pessoa, dizia: “No interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha para dividir com o pobre na porta. Agora que estou aqui na cidade grande, quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque não tenho nada em casa para dividir com ele!” De um lado: gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco que tem.

* Esmola, partilha, riqueza. A prática da esmola era muito importante para os judeus. Era considerada uma “boa obra”, pois dizia a lei do Antigo Testamento: “Nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do templo, seja para o culto, seja para os necessitados, os órfãos ou as viúvas, eram consideradas como uma ação agradável a Deus. Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os bens pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores desses bens, para que haja vida em abundância para todas as pessoas. A prática da partilha e da solidariedade é uma das características das primeiras comunidades cristãs: “Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35; 2,44-45). O dinheiro da venda, oferecido aos apóstolos, não era acumulado, mas “distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b; 2,45). A entrada de pessoas mais ricas nas comunidades fez com que a mentalidade da acumulação entrasse na comunidade e bloqueasse o movimento da solidariedade e da partilha. Tiago adverte estas pessoas: “Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças.” (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou tudo o que tinha, o necessário para viver (Mc 12,41-44).

Para um confronto pessoal
1. Como é que os dois centavos da viúva podem valer mais que os mil reais dos ricos? Olhe bem o texto e diga por que Jesus elogiou a viúva pobre. Qual a mensagem deste texto para nós hoje?
2. Quais as dificuldades e alegrias que você já encontrou na sua vida ao praticar a solidariedade e a partilha com os outros?

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