sábado, 8 de abril de 2017

Domingo de Ramos - Evangelho da Procissão

«Bendito o que vem em nome do Senhor»

Por José Luís e Anabela Tavares da Silva, fma

A liturgia deste Domingo está dividida em dois grandes momentos: o primeiro o momento é o da aclamação a Jesus quando entra em Jerusalém e o segundo momento o da Paixão. Neste domingo os cristãos são convidados a deixar-se envolver por estes dois acontecimentos que manifestam o grande projeto de salvação que Deus tem para cada um. Um projeto de Amor. O texto que é proposto para meditação ao longo da Grande Semana, a Semana Santa, é o da entrada triunfal em Jerusalém que em nada tira a meditação e reflexão para o Evangelho da Paixão. O Evangelho da entrada em Jerusalém marca o início do grande ato litúrgico que vamos viver. Os preparativos de Jesus com a colaboração dos discípulos, a entrada e a aclamação com mantos e ramos de árvores, supostamente de oliveira, e cânticos colocam-nos num cenário em que o messianismo é reconhecido, por uns, na pessoa de Jesus. Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor é a confirmação das profecias, dos oráculos através dos quais o povo esperava e reconhecia a chegada daquele que daria estabilidade e salvaria Israel. Contudo, conforme vamos entrando nos acontecimentos, apercebemo-nos de que poucos entenderam e acolheram qual o messianismo de Jesus. Demasiado agarrados à Lei e prescrições, não souberam acolher a novidade para a qual estavam chamados, não souberam abrir as suas mentes e o seu coração para uma renovação espiritual. Demasiado agarrados às coisas exteriores não deram o passo para acolherem o poder salvífico de Deus que liberta o homem da escravidão do pecado.

Evangelho segundo S. Mateus (21, 1-11) - «Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, junto ao Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide à povoação que está em frente e encontrareis uma jumenta presa e, com ela, um jumentinho. Soltai-os e trazei-os. E se alguém vos disser alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles, mas não tardará em devolvê-los.” Isto sucedeu para se cumprir o que o profeta tinha anunciado: “Dizei à filha de Sião: Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, o folho de uma jumenta.” Os discípulos partiram e fizeram como Jesus lhes ordenara: trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram-lhes em cima as suas capas e Jesus sentou-se sobre elas. Numerosa multidão estendia as capas pelo caminho; outros cortavam ramos de árvores e espalhavam-nos pelo chão. E, tanto as multidões que vinham à frente de Jesus como as que O acompanhavam, diziam em altos brados: “Hosana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. “Quem é Ele?”- perguntavam. E a multidão respondia: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia. ”»

Meditação

«Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, junto ao Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide à povoação que está em frente.»

Falta pouco tempo para que se cumpra a obra de salvação para a qual Jesus de Nazaré veio ao mundo. Consciente disso vai para Jerusalém a fim de celebrar a última Páscoa, a Sua Páscoa. Para dar esse passo predispõe os seus discípulos para que colaborem nos preparativos.

Jerusalém, a cidade santa, o centro da fé monoteísta, o lugar de culto a YHWH. Na zona do monte das Oliveiras, deve-se ver bem toda a sua extensão. Não é um lugar desconhecido da Judeia como Belém, lugar onde Jesus nasceu, nem uma pequena cidade perdida na Galileia como Nazaré, onde Jesus cresceu. É a Jerusalém que Jesus olhou e até chorou sobre ela durante o seu percurso terreno. Jerusalém, o lugar do primeiro discurso de Jesus aos 12 anos. E será este lugar que acolherá as suas últimas palavras e verá o cumprimento da sua missão.

Chegados a Betfagé – o nome da cidade significa “casa do figo imaturo/verde”- Jesus ordena a dois dos seus discípulos que realizem alguns gestos dos quais eles não compreendem o significado. Ainda têm de crescer na confiança em Jesus, mesmo na incompreensão, eles são úteis para a realização do seu projeto. São como o nome da cidade “figos não amadurecidos”, como a multidão: não estão suficientemente maduros para receber o Messias na sua missão libertadora a nível espiritual. E nós como acompanhamos tudo isto? Qual a nossa colaboração?

«… e encontrareis uma jumenta presa e, com ela, um jumentinho. Soltai-os e trazei-os. E se alguém vos disser alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles, mas não tardará em devolvê-los.” Isto sucedeu para se cumprir o que o profeta tinha anunciado: “Dizei à filha de Sião: Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, o folho de uma jumenta.”»

Os discípulos obedecem a uma ordem um pouco particular da parte de Jesus. Ele sabe onde mandar-lhes para que encontrem o que é indispensável para entrar em Jerusalém. Devem simplesmente obedecer à sua palavra e dizer aos donos dos animais que não é um homem qualquer que precisa deles, mas é o “Senhor”. E em Jerusalém já muitas profecias teriam sido anunciadas por vários profetas acerca do messianismo, mas o de Jesus não era político… era salvífico e os gestos que O acompanharão revelarão a autenticidade do mesmo, cheio de glória, de humildade e de serviço.

Jesus conhecia bem as profecias. E agiu assim para que se cumprissem as profecias antigas. Como a Sua vinda (nascimento) em Belém, assim os seus últimos passos em Jerusalém são o sinal de tudo o que o Antigo Testamento tinha pré-anunciado. Surge a profecia de Isaías “Dizei à filha de Sião: Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, o filho de uma jumenta.” - para reforçar e valorizar o cumprimento das mesmas. De facto a identidade de Jesus é perfeitamente reconhecível nos modos de ser e de se apresentar. Este é um excerto que nos faz viver um momento de revelação. A Filha de Sião tem de rejubilar com a entrada triunfal do seu Rei. Também nós nos devemos alegrar pelo triunfo espiritual e salvífico do nosso Rei, Jesus Cristo, que sempre usou como poder a força do amor, na humildade de se reconhecer como servo de todos.

«Os discípulos partiram e fizeram como Jesus lhes ordenara: trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram-lhes em cima as suas capas e Jesus sentou-se sobre elas.»

Jesus, provavelmente, insere-se num dia solene para o povo hebreu. Os discípulos foram e fizeram tudo como Jesus dissera. Em seguida colocam as capas em cima dos animais e Jesus senta-se sobre elas, deste modo está preparado para entrar na cidade ao mesmo tempo humilde e triunfal renovando o significado daquela celebração solene que será festejada por muitos que ouviram as suas palavras e assistiram aos seus milagres. Entram todos na grande Jerusalém.

O burro/ jumento é um animal típico de um rei que vem em paz. De facto o Messias não entra em Jerusalém montado num valente cavalo nem num carro de guerra. O Messias não vem para conquistar nada mas para servir. Para Ele nada de tronos e vestes liturgicamente majestosas, mas simples mantos, capas ocasionais. A capa para as pessoas simples é uma peça de roupa de casa, um bem primário. Os discípulos oferecem ao Senhor tudo o que têm. E Jesus senta-se graças à iniciativa deles que com simplicidade honram o seu Senhor como se de uma verdadeira entronização de tratasse. Jesus monta um animal que serve as pessoas nas tarefas do quotidiano, próprio para levar pesos… como fará Ele ao carregar com os nossos pecados.

«Numerosa multidão estendia as capas pelo caminho; outros cortavam ramos de árvores e espalhavam-nos pelo chão.»

Os discípulos fizeram o melhor que podiam, e deram o que de melhor tinham para introduzir o Seu Mestre na cidade. Já em Jerusalém, é a vez da multidão se aproximar e participar deste evento. Também ela oferece as capas, os mantos, cortam ramos de árvores e estende-os no chão para que Jesus passe. Desta forma criam um trajeto, um percurso acolhedor e solene para Jesus. O cenário é de festa.

A festa das Tendas, dia em que talvez Jesus tenha chegado a Jerusalém, era caracterizada pela procissão ao Templo com solenes aclamações e a agitação de ramos de árvores, possivelmente de oliveira. Recordavam o longo período nômade, as noites passadas ao relento tendo somente o céu sobre a testa e uma grande confiança em Deus que socorre e salva. Esta festa ou o fazer festa acaba por ter uma cotação com prospectivas messiânicas: Deus caminha pelas estradas do homem, está em Jerusalém, mais próximo do Templo e da Lei. Ele é o Ungido. E quem acompanha Jesus não é um exército que mostra as suas armas, mas os seus discípulos e a gente simples e que festeja a sua chegada e O acolhe.

«E, tanto as multidões que vinham à frente de Jesus como as que O acompanhavam, diziam em altos brados: “Hosana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!»

A multidão que precede e segue o Mestre, e não deixemos de pensar que ali próximo se encontram os discípulos, festeja e grita com brados de alegria, reconhecendo Jesus como um enviado de Deus. As pessoas afirmam que é “Bendito”, um enviado de Deus. Ali, na sua atitude festiva, declaram que Jesus é da descendência de David. Diz-se que Ele não é apenas um enviado, mas o próprio Messias.

Neste acontecimento, segundo o evangelista Mateus, encontramos uma enorme multidão que rodeia Jesus, os jumentinhos e os discípulos. Todos cantam “Hosana”- quer dizer salva-nos- uma palavra que parece ser um forte grito litúrgico para o povo hebreu. A profecia de Zacarias pré-anunciava a vinda de um rei pacífico que deveria reinar sobre Jerusalém. Nem a inumerável multidão nem os discípulos têm consciência de que tudo se está para cumprir em Jesus: as profecias e promessas antigas, a mensagem evangélica, a salvação do mundo. Será que nos dias de hoje este acontecimento possibilita a abertura de consciências e de corações para a vida que Deus quer partilhar conosco?

«Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. “Quem é Ele?”- perguntavam. E a multidão respondia: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia. ”»

As pessoas que estavam à beira da estrada antes da entrada na cidade encontravam-se serenas com a passagem de Jesus e sobre o que se dizia acerca d’Ele. O mesmo não se passou com os habitantes de Jerusalém que ao ouvirem tanta aclamação ficaram estupefatos e interrogavam a multidão acerca da verdadeira identidade daquele que vinha montado num jumento e aclamado “Hosana”. Os que seguem Jesus e entraram com Ele afirmam que se trata de um galileu e de um profeta de nome Jesus.

É neste último versículo do texto bíblico que nos apercebemos da hostilidade que levará as pessoas a condenarem Jesus à morte. Quem não caminhou ao Seu lado não está disposto a acolhê-l’O. Nessas pessoas surgem interrogativos acerca da oportunidade de festejar um personagem assim tão insignificante. Afinal, de Nazaré poderá vir algo de bom? Como é possível que todos aclamem este aqui? O que sabem acerca d’Ele? Da sua vida? Cansados de tanta gritaria e irritados com outros tantos profetas que mexem com os ânimos de Jerusalém não parecem estar à procura de um Messias, mas sim de tranquilidade e normalidade. Para eles basta adorar a Deus no Templo feito por mãos humanas, onde se confunde muitas vezes a oração com o comércio.

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