terça-feira, 13 de setembro de 2016

14 de setembro: Exaltação da Santa Cruz

Evangelho (Jo 3,13-17): Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele».

«A fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho é uma profecia, isto é, uma olhada no espelho da realidade que nos introduz em sua verdade, mais além do que nos dizem nossos sentidos: a Cruz, a Santa Cruz de Jesus Cristo, é o Trono do Salvador. Por isso, Jesus afirma que «deve que ser levantado o Filho do homem» (Jo 3,14).

Bem sabemos que a cruz era o suplício mais atroz e vergonhoso de seu tempo. Exaltar a Santa Cruz não deixaria de ser um cinismo se não fosse porque ai está o Crucificado. A cruz, sem o Redentor, é simples cinismo; com o Filho do Homem é a nova árvore da sabedoria. Jesus Cristo, «oferecendo-se livremente à paixão» da Cruz abriu o sentido e o destino de nosso viver: subir com Ele à Santa Cruz para abrir os braços e o coração ao Dom de Deus, num intercâmbio admirável. Também aqui nos convém escutar a voz do Pai desde o céu: «Este é meu Filho (...), em quem me comprazo» (Mc 1,11). Encontrarmos crucificados com Jesus e ressuscitar com Ele: Eis aqui o porquê de tudo! Há esperança, há sentido, há eternidade, há vida! Nós os cristãos não estamos loucos quando na Vigília Pascal, de maneira solene, quer dizer, no Pregão Pascal, cantamos, louvando o pecado original: «Oh! Culpa tão feliz, que tem merecido a graça de tão grande Redentor», que com sua dor tem imprimido sentido à mesma dor.

«Olhai a árvore da cruz, foi sacrificado o Salvador do mundo: vem e adoremos» (Liturgia da sexta-feira Santa). Se conseguirmos superar o escândalo e a loucura de Cristo crucificado, não há nada mais que adorá-lo e agradecer-lhe seu Dom. E procurar decididamente a Santa Cruz em nossa vida, para termos a certeza de que, «por Ele, com Ele e Nele», nossa doação será transformada, nas mãos do Pai, pelo Espírito Santo, em vida eterna: «Derramada por vós e por todos os homens para o perdão dos pecados».

Comentário do Pe.  Tomaz Hughes, SVD

Essa festa litúrgica tem destaque maior nas Igrejas do Oriente, onde é comparada com a Festa de Páscoa. A sua celebração tem as suas origens ligadas à dedicação das basílicas constantinianas construídas nos lugares tradicionalmente identificados com Calvário e o Santo Sepulcro.

O título “Exaltação da Santa Cruz” chama a atenção, pois destaca o grande paradoxo da nossa fé - foi exatamente através da Cruz, o mais terrível entre os suplícios, que veio a salvação. Humanamente falando, a morte de Jesus na cruz significava o fracasso total da sua vida e missão, mas, de fato, escondia a vitória de Deus sobre o mal, da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado - uma vitória que se manifestaria ao terceiro dia, na Ressurreição. No mistério pascal da vida-morte-ressurreição de Jesus verifica-se o que proclama Paulo na Primeira Carta aos Coríntios: “Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante.” (1Cor 1, 27s).

Torna-se muito importante resgatar uma sadia teologia e espiritualidade da Cruz. De um lado temos que superar uma pregação errada que identificava a Cruz com qualquer sofrimento, como se o sofrimento em si fosse um valor positivo. Quantas pessoas sofreram injustiças a vida toda, aguentando situações quase insuportáveis, por causa de tal pregação que levava à passividade diante das injustiças e opressões. No fundo, faziam de Deus um sádico! Do outro lado, na sociedade de hoje, a Cruz não está muito popular, pois o sacrifício, a autodoação em favor de outros, está na contramão da sociedade hedonista e consumista. Até dentro da Igreja muitas vezes há uma busca da Ressurreição e vitória, sem que se mencione que o triunfo de Jesus veio através de uma vida de doação que o levou à cruz - e como consequência dessa coerência, à Ressurreição.

A festa de hoje celebra a Cruz, não o sofrimento. Jesus não nos salvou porque sofreu três horas na cruz - ele nos salvou porque a sua vida foi totalmente fiel à vontade do Pai. Por causa dessa fidelidade, as suas opções concretas o colocaram em conflito com as estruturas de dominação sócio-político-religiosas, o que causou o seu assassinato judicial. A morte de Jesus foi muito mais do que uma tentativa de eliminar alguém que incomodasse! Era tentativa de aniquilar o seu movimento, a sua pregação, a visão de Deus e do projeto de Deus que Ele ensinava. A Cruz então se tornava o símbolo de doação total através de uma vida de fidelidade absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de coerência, consequência lógica da fidelidade à vontade de Deus.

Assim, Jesus deixa bem claro nas páginas dos Evangelhos que a Cruz é a característica do discípulo/a. “Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga.” (Mc 8, 24). Jesus não nos convida a buscar o sofrimento, mas a carregar a cruz - consequência de uma religião que é vivencial, que acarreta ações e atitudes coerentes com o Deus em que acreditamos, e que traz em seu bojo as sementes de conflito com todo poder opressor, pois “os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos” (Is 55, 8).

Paulo descobriu que pregar Cristo sem a Cruz era esvaziar a evangelização. Assim declara à comunidade de Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado.” (1Cor 2, 2). A Cruz de Cristo é inseparável da sua vida, pois é a consequência dela. Mas, a Cruz também não se separa da Ressurreição, pois ela é o resultado de tal coerência e fidelidade. A festa de hoje nos desafia para que respondamos ao convite de Jesus para carregar a nossa cruz numa vida de discipulado e missionariedade, continuando a sua missão ao mundo. Pois, como diz o nosso texto hoje, “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3, 17).

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