sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sábado XXVIII do Tempo Comum

Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir.
Evangelho (Lc 12,8-12): Naquele tempo, o Senhor disse aos seus discípulos: Eu vos digo: todo aquele que se declarar por mim diante do povo, o Filho do Homem também se declarará a favor dele diante dos anjos de Deus. Aquele, porém, que me renegar diante do povo será renegado diante dos anjos de Deus. Todo aquele que falar uma palavra contra o Filho do Homem será perdoado. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado.  Quando vos conduzirem diante das sinagogas, magistrados e autoridades, não vos preocupeis com os argumentos para vos defender, nem com o que dizer. Pois nessa hora o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer.

«Aquele que se declarar por mim diante do povo, o Filho do Homem também se declarará a favor»

P. Alexis MANIRAGABA (Ruhengeri, Ruanda)

Hoje, o Senhor desperta nossa fé e esperança nele. Jesus nos antecipa que teremos que comparecer ante o exército celestial para sermos examinados. E aquele tenha se declarado a favor de Jesus aderindo a sua missão «também o Filho do homem se declarará por Ele» (Lc 12,8). Tal confissão pública se realizará em palavras, em atos e durante toda a vida.

Esta interpelação à confissão é ainda mais necessária e urgente em nossos tempos, nos que há pessoas que não querem escutar a voz de Deus nem seguir seu caminho de vida. No entanto, a confissão de nossa fé terá a um forte seguimento. Portanto, não sejamos confessores nem por medo de um castigo, que será mais severo para os apóstatas, nem pela abundante recompensa reservada aos fiéis. Nosso testemunho é necessário e urgente para a vida do mundo, Deus mesmo nos pede, tal como disse São Juan Crisóstomo: «Deus não se contenta com a fé interior; Ele pede a confissão exterior e pública, e nos move assim a uma confiança e a um amor maior».

Nossa confissão é sustentada pela força e pela garantia de seu Espírito que está ativo dentro de nós e que nos defende. O reconhecimento de Jesus Cristo ante seus anjos é de vital importância já que este feito nos permitirá vê-lo cara a cara, viver com Ele e ser inundados de sua luz. Ao mesmo tempo, o contrário não será outra coisa que sofrer e perder a vida, ficar privado da luz e despojado de todos os bens. Peçamos, pois, a graça de evitar toda negação nem que seja por medo ao suplício ou por ignorância; pelas heresias, pela fé estéril e pela falta de responsabilidade, ou porque queremos evitar o martírio. Sejamos fortes, o Espírito Santo está conosco! E «com o Espírito Santo está sempre Maria (…) e Ela tem feito possível a explosão missionária produzida em Pentecostes» (Papa Francisco).

«O Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer»

+ Rev. D. Albert TAULÉ i Viñas (Barcelona, Espanha)

Hoje ressoam outra vez as palavras de Jesus convidando-nos a reconhece-lo diante dos homens. Todo aquele que se declarar por mim diante do povo, o Filho do Homem também se declarará a favor dele diante dos anjos de Deus (Lc 12,8). Estamos num tempo, em que na vida pública reivindica-se a laicidade, obrigando os crentes a manifestar sua fé somente no âmbito privado. Quando um cristã, um presbítero, um bispo, o Papa..., diz alguma coisa publicamente, porém seja cheia de sentido comum, incomoda, somente porque vem de quem vem, como se nós, não tivéssemos direito - como todo o mundo - a dizer o que pensamos. Por mais que lhes incomode, não podemos deixar de anunciar o Evangelho. Igualmente, o Espírito Santo vos ensinará o que deveis dizer (Lc 12,12). São Cirilo de Jerusalém, afirmava que o Espirito Santo, que habita em aqueles que estão bem-dispostos, inspira-lhes como doutor aquilo que vão dizer.

As agressões que fazem aos cristãs, têm uma gravidade diferente, já que não é o mesmo falar mal de um membro da Igreja (às vezes com razão, por causa de nossas deficiências), que agredir a Jesus Cristo (se o veem somente em sua dimensão humana), ou injuriar ao Espirito Santo, já seja blasfemando, já seja negando a existência e os atributos de Deus.

Também se refere ao perdão da ofensa, até mesmo quando o pecado é leve, é preciso uma atitude prévia que é o arrependimento. Se não houver arrependimento, o perdão é inviável, já que a ponte está quebrada por um lado. Por isso, Jesus diz que existem pecados que nem Deus perdoará, se não existe por parte do pecador a atitude humilde de reconhecer seu pecado (cf. Lc 12,10).

Reflexão

O contexto. 
No capítulo 11, que precede a nossa história, Lucas, no caminho de Jesus para Jerusalém, mostra a sua intenção de revelar as profundezas do agir misericordioso de Deus e, ao mesmo tempo, a profunda miséria que se encontra no coração do homem, e particularmente nos que têm a missão de ser testemunhas da Palavra e da ação do Espírito Santo no mundo. Jesus apresenta esses fatos com uma série de reflexões que surtem efeito no leitor: ser atraído pela força da sua Palavra até o ponto de sentir-se julgado e despojado dentro das pretensões de grandeza que perturbam o homem (9,46). Além disso o leitor se identifica com várias atitudes que o ensinamento de Jesus suscita: antes de tudo se reconhece no discípulo no seguimento a Jesus e no envio diante dele como mensageiro do reino; no que tem dúvidas para segui-lo; no fariseu ou o doutor da lei, escravos de suas próprias interpretações e estilo de vida. Em síntese, o percurso do leitor pelo capítulo 11 é caracterizado deste encontro com o ensinamento de Jesus que revela a intimidade de Deus, o coração misericordioso de Deus, mas também a verdade do seu ser como homem. No entanto, no capítulo 12 Jesus contrapõe ao juízo pervertido do homem a benevolência de Deus, que dá sempre de modo superabundante. Está em jogo a vida do homem. Deve-se prestar atenção à perversão do julgamento humano, ou melhor, à hipocrisia que distorce os valores para promover apenas o seu próprio interesse e vantagens, em vez de ter um interesse na vida, aquela que é recebida de graça. A palavra de Jesus lança ao leitor um apelo sobre como lidar com a questão da vida: o homem será julgado por seu comportamento diante das ameaças. É necessário preocupar-se não tanto com os homens que podem "matar o corpo", mas ter no coração o temor de Deus que julga e corrige. Jesus não promete a seus discípulos que serão protegidos das ameaças e perseguições, mas lhes assegura a ajuda de Deus nos momentos de dificuldade.

Saber reconhecer Jesus. 
O compromisso corajoso em reconhecer publicamente a amizade com Jesus comporta como consequência a comunhão pessoal com ele quando ele vier para julgar o mundo. Ao mesmo tempo, "aquele que me nega", o que tem medo de confessar e reconhecer publicamente a Jesus, se condena sozinho. O leitor é convidado a refletir sobre a importância crucial de Jesus na história da salvação: é preciso se decidir estar com Jesus ou contra ele e sua palavra de graça; desta decisão, reconhecer ou negar a Jesus depende a nossa salvação. Lucas evidencia que a comunhão oferecida por Jesus no tempo presente aos seus discípulos será confirmada e alcançará a perfeição no momento de sua vinda na glória (“quando vier na sua glória, na do Pai e dos santos anjos”: 9,26). O apelo às comunidades cristãs é muito evidente: mas se se é exposto às hostilidades do mundo, é indispensável dar um testemunho corajoso de Jesus, de comunhão com Ele e não se envergonhar de ser e se mostrar cristão.

A blasfêmia contra o Espírito Santo. 
Blasfemar é aqui entendido por Lucas como o falar ofensivo ou falar contra. Este verbo foi aplicado a Jesus quando em 5,21 ele tinha perdoado os pecados. A questão levantada nesta passagem pode apresentar alguma dificuldade para o leitor: é menos grave blasfêmia contra o Filho do homem do que a contra o Espírito Santo? A linguagem de Jesus pode parecer um pouco forte para o leitor do Evangelho de Lucas: ao longo do evangelho vê-se Jesus mostrando a atitude de Deus que vai em busca do pecador, que é exigente, mas que sabe esperar o momento do retorno a Ele ou o amadurecimento do pecador. Em Marcos e Mateus, a blasfêmia contra o Espírito Santo é a falta de reconhecimento do poder de Deus nos exorcismos de Jesus. Mas em Lucas mais precisamente significa a rejeição consciente e livre de Espírito profético que atua nas obras e ensinamento de Jesus, ou seja, a rejeição ao encontro com o agir misericordioso e salvífico do Pai. A falta de reconhecimento da origem divina da missão de Jesus, a ofensa direta à pessoa de Jesus, podem ser perdoadas, mas aquele que nega o Espírito Santo trabalhando na missão de Jesus não será perdoado. Não se trata da oposição entre a pessoa de Jesus e do Espírito Santo, ou dum contraste ou símbolo de dois períodos distintos da história, o de Jesus e da comunidade pós-pascal, mas em última análise, o evangelista trata de demonstrar que negar a pessoa de Cristo equivale a blasfemar contra o Espírito Santo.

Para um confronto pessoal
1) Você está ciente de que de ser cristão comporta dificuldades, perigos e riscos, a ponto de arriscar a própria vida para testemunhar a amizade pessoal com Jesus?
2) Você se vergonha de ser cristão? Você prefere o julgamento dos homens, sua aprovação, ou o fato de não perder sua amizade com Cristo?

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