sábado, 20 de dezembro de 2014

IV Domingo do Advento

«Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. »

O Evangelho proposto para esta semana é o da Anunciação. Trata-se de uma narração do encontro inesperado de Maria com o Anjo Gabriel que lhe anuncia o projeto de salvação por parte de Deus, que a envolve em primeiro lugar. O episódio revela-nos quem são as personagens, qual o conteúdo do anúncio, quais as reações que tal anúncio provocou na jovem de Nazaré e que resposta foi dada.

É incrível que a Encarnação, o acontecimento fundamental para a salvação da humanidade, tenha sido anunciado de um modo tão discreto a uma jovem.

É bonito pensar que em alguns lugares, talvez mais nas aldeias, de manhã cedo, ao meio-dia e ao entardecer, os sinos das Igrejas ainda tocam dando sinal para as “Ave Maria”, a oração do Ângelus. A saudação do Anjo tornou-se uma oração tradicional que ilumina os dias. E Maria, depois deste acontecimento, tornou-se a ícone da fé da Igreja, daqueles que acreditam na Palavra de Deus, na sua força, nas suas promessas e se sentem, pessoalmente, envolvidos e chamados a colaborar para que “venha o Seu Reino”.

Deus faz-se homem e vem habitar conosco: isto muda o nosso modo de ver Deus e o homem. Muda o nosso modo de existir: nos é proposta uma Aliança, uma “coabitação” que nos interessa e nos leva a tomar uma posição. Na resposta da fé está o nosso risco, a possibilidade de nos realizarmos, atuando o projeto de Deus, para além de toda a esperança humana. Conscientes da nossa pobreza e dos nossos limites, mas com plena confiança, como Maria, no amor omnipotente, somos chamados a dizer o nosso “sim” ao Senhor, na oração e na vida.

Textos: 2 Sam 7, 1-5.8-12.14.16; Rom 16, 25-27; Lc 1, 26-38

Evangelho (Lc 1, 26-38) - «Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres”. Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: “Não temas, Maria, porque encontraste graça diante do Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim”. Maria disse ao Anjo: “Como será isto, se eu não conheço homem?” O Anjo respondeu-lhe: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível”. Maria disse então: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.”

Meditemos no Mistério mais importante da história: A Encarnação do Verbo de Deus no seio de uma jovem chamada Maria de Nazaré.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Acabamos de escutar esse Mistério no evangelho de hoje: um menino foi concebido, de mãe solteira, já prometida em casamento, mas não casada. E esse filho não tem pai. Ponto final! Foi concebido um menino; o filho é de outro. Aborto? Mas a mãe é mulher demais, mãe demais e crê demais como para assassinar o filho e o filho é filho demais porque é Filho de Deus, que não se deixaria assassinar impunemente. E esse filho não tem pai; nem conhecido nem desconhecido nem suspeitado. Simplesmente não tem pai. Surpresa? Aliás, nem geração espontânea nem inseminação artificial nem menino à prova de teste. Caso único de partenogênese humana na história da biologia cientifica. Ponto final! Creiamos, admiremos, agradeçamos e adoremos o Mistério.

Em primeiro lugar, temos que encaixar este Mistério. As pessoas perderam o sentido do poderoso, do sagrado e do divino. Por isso existem tantos que rejeitam os mistérios. Isso é interessante, pois essas pessoas tomam café da manhã, almoçam, merendam e jantam com mistérios: a eletricidade na televisão, os átomos e moléculas, o amor e a vida. Por que elas comungam com estes mistérios com minúsculo e não se admiram diante do grande Mistério da Encarnação que tanta alegria deveria produzir, ao saber que Deus quer armar a sua tenda entre nós? Em alguns que negam este Mistério é porque não encaixa nas suas mentes compostas só de matéria cinza e dizem que é irracional: não encaixa no seu coração onde só cabe ele sozinho como a história do gigante egoísta; não encaixa na sua vontade porque este mistério pede muita mudança de vida e dizem que é chato. Maria nos dá exemplo de como encaixar esse Mistério: abrindo os ouvidos da alma, refletindo com serenidade no que implicava esse mistério e abrindo-se a esse Mistério, deixando-se possuir por ele.

Em segundo lugar, temos que crer neste Mistério. Crer é muito mais que entender. É mais, é ir além do mero entender, confiando na Palavra de Deus que não engana, nem decepciona. Crer é entregar o cheque em branco a Deus para Ele escrever o que Ele quiser, porque sempre será para a nossa salvação e felicidade. Maria nesses segundos ou minutos de silêncio reflexivo de discernimento, antes de dar o seu “sim, creio”, repassaria toda a história de fidelidade de Deus no Antigo Testamento, desde Abraão até o último profeta... e deixou que uma imensa paz a invadisse e também um contentamento interior e uma grande certeza, a fé em Deus. Diz-nos santo Agostinho: “Cheia de fé concebeu Cristo na sua mente antes que no seu seio, ao responder: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra” (Lc 1,35)”. Antes de habitar o Filho de Deus no seio de Maria, sem dúvida já “morava Cristo pela fé no coração” (Ef 3,17) de quem, pela fé, “concebeu antes na sua mente que no seu ventre virginal”. “Na alma a fé, y no ventre Cristo”. Assim “Maria foi mais feliz por receber a fé de Cristo do que por conceber a carne de Cristo” “já que não teria nenhum proveito a divina maternidade de Maria, se não tivesse sido mais feliz por levar Cristo no seu coração que na sua carne”.

Finalmente, temos que viver este Mistério e segundo este Mistério. Logicamente este Mistério não pode ficar só no nível intelectual e afetivo. Tem que invadir a nossa vida, tocar e transformar a nossa vida. São João Paulo II na sua primeira viagem ao México em 1979 ao tratar da fé, vista em Maria, disse: “Coerência, é a terceira dimensão da fidelidade. Viver de acordo com o que se crê. Ajustar a própria vida ao objeto da própria adesão. Aceitar incompreensões, perseguições antes que permitir rupturas entre o que se vive e o que se crê: esta é a coerência. Aqui se encontra, talvez, o núcleo mais íntimo da fidelidade... E só pode chamar-se fidelidade uma coerência que dura ao longo de toda a vida. O fiat de Maria na Anunciação encontra a sua plenitude no fiat silencioso que repete ao pé da cruz. Ser fiel é não trair nas trevas o que se aceitou publicamente”. Por isso, que se abre a este Mistério da Encarnação tem que viver as consequências da sua fé: uma fidelidade nas boas e nas más, nos momentos duros e nos momentos alegres.

Para refletir:
1. Já encaixei este Mistério ou ainda tenho as portas fechadas como narra a poesia de José Maria Pemán sobre o estalajadeiro:
“O Evangelho começa diante de uma porta
de uma pousada em Belém e um estalajadeiro.
Não terá um quarto para esta noite?
Nenhuma cama livre; tudo cheio.
E Deus seguiu adiante.
Que pena, estalajadeiro!”
2.Já cri neste Mistério no profundo do meu ser e me enche de alegria?
3. Estou vivendo conforme este Mistério?

Para rezar: Por ser um Mistério incompreensível, ajoelho-me e vos adoro, Senhor. Por ser um Mistério de imensa beleza, extasio-me e vos agradeço, Senhor. Por ser um Mistério inefável, presto-vos a minha boca para levar este Mistério por todas as partes onde eu for.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org



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